domingo, 7 de outubro de 2018

O buraco em forma de deus



Alguns religiosos consolam-se com a ideia de que todos os seres humanos têm um "buraco em forma de deus" no seu coração / alma / vida / cérebro.

A ideia é que deus criou-nos e projectou-nos com um buraco em forma de deus, na esperança de que sentiríamos a necessidade dele nas nossas vidas e o buscaríamos.

Essa ideia remonta pelo menos a Pascal, mas foi alimentada recentemente pela disciplina da neuroteologia. Esta é uma disciplina científica relativamente nova, que estuda o que realmente está a acontecer no cérebro durante as experiências religiosas. Com certeza, a neuroteologia descobre que nossos cérebros são capazes de experiências numinosas, sejamos nós religiosos ou não. Quer acreditemos num deus ou não.

Se olharmos para fora da neuroteologia, encontramos evidências do buraco em forma de deus da antropologia. Com certeza, onde quer que vás no mundo, encontrarás pessoas com convicções religiosas. Isso vale para as nações mais avançadas tecnologicamente e para as pequenas comunidades que vivem na selva brasileira. Na verdade, existem algumas excepções, mas é verdade que as crenças religiosas são quase omnipresentes.

Os religiosos, frequentemente, vêem esses factos como evidência de que deus existe, e que nós fomos feitos para buscar deus.

Mas será essa uma conclusão razoável?

Vamos começar com neuroteologia. É justo dizer que a neuroteologia conclui que todos nós, ou quase todos nós, somos capazes de ter experiências religiosas. Essas experiências são profundamente emocionais. Elas podem provocar mudanças na vida. As pessoas, frequentemente, descrevem sentimentos de união com o universo ou com deus - elas perdem o sentido do "eu" e sentem que se tornam parte de algo maior - talvez até algo infinito ou eterno.

Mas aqui está o interessante - há muitas maneiras de desencadear essas experiências. Meditação, campos magnéticos, drogas ou pensar num deus. Até a epilepsia pode fazê-lo. Os cristãos podem fazer isso, pensando em Jesus; Os muçulmanos podem fazer isso, pensando em Allah; Os hindus podem fazê-lo, pensando em Vishnu ou em muitos outros deuses. Isso exclui a possibilidade de que um deus, agindo de fora de ti, esteja a fazer com que tu tenhas esses sentimentos. Isso mostra que algo dentro de ti - o teu cérebro, esteja a causá-los.

Então, o buraco em forma de deus revela-se maleável. Ele pode mudar de forma: de um buraco onde Jesus se encaixa perfeitamente, para um que se ajusta confortavelmente a Vishnu, Allah ou Odin. De facto, o buraco é perfeitamente ajustável a qualquer deus em que acredites - tu até podes inventar um deus, que ele vai-se encaixar!

Será que deus fez intencionalmente este buraco que muda de forma, para se ajustar a si mesmo e a outros deuses, também? Será que ele decidiu fazê-lo de modo a se encaixar em quaisquer deuses inexistentes que os humanos possam sonhar? Ou será que estamos, simplesmente, a olhar para uma aptidão que os cérebros humanos desenvolveram por algum motivo?

É verdade, ainda não sabemos exactamente por que essa aptidão evoluiu, ou se é apenas um subproduto acidental de outras aptidões que realmente precisamos.

Mas uma coisa é evidente, o buraco em forma de deus, certamente não é indício da obra de deus, a menos que deus tenha um senso de humor verdadeiramente diabólico!


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

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