domingo, 30 de abril de 2017

O ateísmo está se tornando uma identidade



Alguns crentes insistem em apontar o ateísmo contemporâneo como uma “nova religião” ou uma “nova crença”. Os ateus em geral negam isso e alegam que o ateísmo é apenas uma posição filosófica cética em relação a existência de Deus.

Mas então como explicar o enorme aumento da divulgação da ideia de ateísmo por meio de livros, filmes, palestras e discussões de todo o tipo sobre ateísmo. Também é estranho o aparecimento de tantas reivindicações ateístas pelo Estado laico e por respeito aos ateus.

O que de fato significa isso?

Creio que a resposta é a palavra IDENTIDADE.

O ateísmo nunca foi, não é nem nunca será uma “religião”. Isso é descabido. Mas o ateísmo vem se tornando uma Identidade. A pós-modernidade tende a multiplicar as identidades pela demanda cada vez maior de liberdades individuais.

No passado, ateus se conformavam em assumir uma posição sóbria e discreta perante a imensa maioria dos crentes. Hoje isso vem mudando. Ninguém mais quer ser “diferente” ou “viver num armário”. Todos reivindicam sua IDENTIDADE.



sábado, 29 de abril de 2017

As criaturas de Deus provam a existência de Deus?



Meu amigo: "Herege, Deus não pode ser visto, não pode ser tocado, não está em nenhum lugar específico e não é substância ou matéria em qualquer forma, mas sabemos que Deus existe através das criaturas que ele criou".
Eu: "Tu começas por dizer coisas com as quais podemos concordar. O deus em quem tu acreditas:

- É invisível
- Não pode ser tocado
- Não está em nenhum lugar específico
- Não é feito de matéria

Tu vais notar que essas propriedades do teu deus são também as propriedades das coisas que não existem de todo.

É verdade que há coisas que existem que não podem ser vistas ou tocadas, mas não sabemos que é possível que a inteligência não esteja em nenhum lugar específico e toda a inteligência que já observámos resulta da matéria organizada de forma complexa. Como o nada poderia ter inteligência? Como o nada poderia ser organizado? Não fazemos ideia.
Ao definires o teu deus dessa maneira, tu estás a impor uma tarefa difícil. Não só o teu deus tem todas as propriedades das coisas que não existem, tem também as propriedades que devem torná-lo impossível de existir!

Isso não prova que o teu deus não existe, mas o torna em algo do qual devemos ser EXTREMAMENTE céticos, pois precisamos de evidências muito claras e inequívocas para sermos convencidos de que tal ser existe fora da ficção.
A tua evidência é que "sabemos que Deus existe através das criaturas que criou". Vamos examinar essa lógica. Sabemos que as criaturas existem, mas não sabemos como a primeira coisa auto-reprodutiva veio a existir. Quais serão as possíveis causas?

Meia dúzia de mecanismos naturais ainda não comprovados, já foram propostos. Talvez um deles seja mostrado como verdadeiro, ou talvez outro mecanismo ainda não proposto seja mostrado como verdadeiro. Nós ainda não sabemos. Teremos de esperar para descobrir.

Tu propões um mecanismo sobrenatural. Tu propões um mecanismo invisível, indetectável, feito de nada ou coisa nenhuma.
Então, ao pensar sobre a causa dos primeiros auto-replicadores, temos algumas opções para escolher. Honestamente, ainda não sabemos qual foi realmente o responsável, então em que devemos acreditar agora? 
Existe apenas uma conclusão racional: ainda não sabemos qual mecanismo foi o responsável.

Tu rejeitas a conclusão racional. Tu acreditas com total confiança que um mecanismo invisível, indetectável, feito de nada, foi o responsável e isso é uma conclusão completamente injustificada.

Há algo mais que tu deves pensar. Todos os mecanismos naturais propostos baseiam-se em processos químicos que podemos replicar e com os quais sabemos trabalhar. Teu mecanismo que propões, baseia-se num ser invisível, indetectável, feito de nada, que nós não sabemos que existe e pode até ser impossível existir.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Cristianismo ou Islão?



Cristãos e muçulmanos adoram o mesmo deus, o deus de Abraão. Se o Islão é verdadeiro, Jesus era um mentiroso. Se o cristianismo é verdadeiro, Maomé era um mentiroso. 
Então, em qual dos dois mais confias?

Aquele que afirmou que Deus era seu pai? Aquele que afirmou ter morrido por três dias? Aquele que amaldiçoou uma figueira por não dar frutos fora de época? Aquele que reivindicou que as estrelas cairiam para a terra? Aquele que disse aos seus seguidores para beberem veneno?

Ou o outro? Aquele que acreditava que pedras e árvores podiam falar? Aquele que acreditava que o sol se punha num tanque lamacento com água? Aquele que possuía escravos? Aquele que afirmou que o primeiro homem (Adam) tinha 90 metros de altura? Aquele que afirmou ter longas conversas com um anjo? Aquele que se casou com uma criança de nove anos?

Não é uma escolha muito interessante, pois não?


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

quarta-feira, 26 de abril de 2017

A verdadeira história de Derek!


Cerca de 80 anos atrás, um bebé nasceu em circunstâncias humildes em Baabda, no Líbano. Ele chamava-se Derek. Eu não sei qual data exata em que nasceu, mas sei que o seu pai o treinou como um mecânico de automóveis e, já como um adolescente, ele começou a ganhar a vida arranjando carros.

Embora ele tenha recebido uma educação mínima e provavelmente nunca tenha sequer aprendido a escrever, Derek foi um orador maravilhoso. Quando ele começava a contar histórias, uma multidão logo se reunia à sua volta, ansiosa para ouvir o que ele tinha a dizer. Inicialmente, ele contava histórias baseadas na moral, mas logo passou a dizer às pessoas como elas poderiam tornar as suas vidas melhores.

Um dia, uma multidão ouvia-o atentamente quando uma moça esfarrapada saltou para a frente da multidão e ela chamou-o: 
"Derek, por favor, ajude-me! Meu mestre obrigou-me a dormir com ele e quando a minha senhora descobriu, ela me pôs uma faca nos olhos e agora estou cega, não posso sequer trabalhar". 
Derek segurou a sua mão gentilmente e puxou a cabeça para o peito. "Abra seus olhos para que possas ver", sussurrou-lhe. Ela abriu os olhos e o seu rosto se iluminou, "Eu posso ver!" - gritou ela, enquanto grandes lágrimas rolavam pelo seu rosto abaixo.

Depois desse incidente, a reputação de Derek cresceu tal, como também as multidões que vieram para o ouvir falar. Ele fez coisas ainda mais incríveis. Um dia, uma esposa chorosa ajudada pelos seus cinco filhos, trouxe o seu marido morto para Derek. Ele tinha morrido há dois dias e a mulher estava fora de si em tristeza. Derek falou algumas palavras calmas e o homem começou a se mexer como se estivesse acordando dum sono profundo. Logo depois ele estava de pé, rindo e brincando com a multidão surpresa e alegre.

Derek tinha um segredo extraordinário para contar aos seus seguidores, mas esperou até que sua reputação fosse bem alta antes de lhes contar o segredo. Ele disse que todos conheciam o seu pai Robbie, mas Robbie não era o seu verdadeiro pai. O seu verdadeiro pai não morava no Líbano, de fato ele nem sequer morava neste planeta. Seu pai morava na constelação Andrómeda, a 97 anos-luz da Terra. Algumas pessoas não acreditaram nessa revelação, mas muitas o fizeram, e isso aumentou enormemente a reputação estelar de Derek.

A crescente popularidade de Derek não agradou a todos. Em particular, preocupava aos líderes religiosos que pensavam que Derek estava levando as pessoas a desviarem-se, de modo que começaram a pregar contra ele. Derek predisse que iriam atrás dele e assim o fizeram. Numa noite quente, uma multidão formou-se e cresceu em tamanho e raiva enquanto andavam procurando por ele. Quando Derek ouviu falar da multidão, em vez de se esconder, saiu para conversar com eles. Mas a sua voz poderosa e as palavras doces não acalmaram a multidão. Eles bateram-lhe com bastões do tipo de beisebol e atacaram-no com facas. Quando a multidão se dispersou, Derek estava irreconhecível. As partes do seu corpo estavam espalhadas pela estrada e o seu sangue escorreu pelas valetas.

Os seguidores angustiados recolhiam as pedaços que conseguiam encontrar e as deixavam cair num saco de plástico. Era o melhor que podiam fazer. Mas este não é o fim da história. Enquanto os seguidores chorosos se sentavam olhando o maldito saco de plástico, começaram a ver movimentos. Dentro do saco algo estava acontecendo.

De repente, o saco explodiu e Derek pulou, ainda danificado e coberto de sangue, mas vivo e sorridente! Ele lhes falou algumas palavras e depois disse adeus a cada um deles individualmente. Quase 500 pessoas testemunharam este milagre. Finalmente, ele olhou para cima e disse que estava indo para casa para junto do seu pai, mas ele haveria de regressar. Ele voou para o céu como um foguete e desapareceu de vista!
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Eu acho que ninguém que  está lendo esta história, pensa que ela é verdadeira. É extravagante e a única evidência que tem é a minha história escrita anos após os acontecimentos por alguém que não estava lá. Não há nenhuma outra evidência de que Derek existiu, e muito menos que qualquer um dos eventos descritos acima realmente aconteceu.

Podemos dizer EXATAMENTE o mesmo sobre a existência de Jesus e os eventos da sua vida. Na verdade, temos uma evidência ligeiramente melhor para Derek do que temos para Jesus. Pelo menos tu conheces-me, eu que sou o autor da história, mas não temos ideia de quem escreveu as histórias de Jesus.

Pergunto-me então, por que tantas pessoas acreditam na história de Jesus, mas ninguém acredita na história de Derek? Qual é a diferença? A diferença é que tu foste ensinado para acreditar na história de Jesus e isso faz toda a diferença no mundo.

Mas isso não faz com que seja verdadeira.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

domingo, 23 de abril de 2017

O que é que os ateus sabem que os teístas não sabem...




Se tu tens sido um crente ao longo da vida, deves estar ciente de que os ateus sabem algumas coisas que tu desconheces. Na verdade, eles sabem um monte de coisas que tu não conheces. Eles sabem como é:

  •  não acreditar em Deus.
  •  não acreditar em Satanás (ou anjos, demónios, bruxas, etc).
  •  não acreditar que eles estão sendo observados 24 horas por dia/7 dias por semana.
  •  nunca se preocupam com o que lhes acontece depois de que eles morrem.
  •  não se sentem forçados a dar desculpas a um deus da Idade do Ferro com a típica moral da Idade do Ferro.
  •  nunca se sentem obrigados a confiar na fé para acreditar em coisas que são simplesmente ridículas.
  •  nunca se sentem culpados por fazer coisas inofensivas que são proibidas por um deus antiquado.
  •  não sentem necessidade de rejeitar, evitar ou odiar certas pessoas porque Deus disse que assim deveria ser feito.
  •  assumir total responsabilidade pelas suas ações sem culpar Satanás ou demónios.

E não vamos esquecer mais uma coisa: a maioria dos ateus que conheço já foram profundamente religiosos, então eles também sabem como é ser crente como tu.

E eles sabem muito bem o que preferem.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

quarta-feira, 19 de abril de 2017

A verdade sobre os ateus




Antes de conheceres qualquer ateu, tu podes acreditar nas histórias que ouves sobre eles. Tu podes acreditar que eles são imorais, amorais ou apenas são o mal. Tu podes acreditar que eles estão perdidos e sem rumo, ou são pessoas monótonas, sem alegria, sem esperança, sem amor e sem felicidade nas suas vidas. Mas uma vez que os conheces, e dificilmente podes evitá-los se gastares algum tempo nas redes sociais, tu irás perceber que a caricatura feita aos ateus, está completamente errada.

Os ateus e ateias são apenas pessoas comuns com esposas, maridos e famílias. Eles têm trabalhos normais e geralmente são pessoas felizes e positivas, que têm feito o bem na vida.

Irás descobrir que os ateus não estão envolvidos numa grande conspiração com Satanás para ferir crentes ou desafiar Deus. Na verdade, vais perceber que os ateus acham Satanás e Deus igualmente inacreditáveis.

Tira um tempo para conversar com os ateus e é provável perceberes que eles são dirigidos não pelo ódio, mas sim pelo amor. Eles vêem como a religião prejudica as pessoas ao redor do mundo e querem impedir isso. Um crente fanático pode conduzir o seu carro a alta velocidade ao longo dum passeio cheio de pessoas provocando mortes e feridos. Um ateu fanático não o prejudicará. Uma pessoa religiosa estará muito mais segura numa sala cheia de ateus fanáticos do que ela estaria numa sala cheia de pessoas com crenças religiosas e fanáticas.

Crer em Deus pode transformar a realidade do avesso. Os crentes muitas vezes dizem que Deus é amor, mas lê qualquer livro do Velho Testamento e verás que o oposto é que é verdadeiro. Os crentes frequentemente assumem que os ateus estão sem rumo, infelizes e são detestáveis, mas conversa com eles e verás que essa ideia está também do avesso.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell


domingo, 16 de abril de 2017

A inacreditável bíblia




Há tanto na Bíblia que é tão idiota, que tem de ser considerado como metáfora, alegoria ou poesia. O problema é que a Bíblia não nos diz quais as partes que são literais e quais as que não o são. Temos de decidir por nós mesmos e, como consequência, temos a situação absurda de que alguns cristãos acreditam que ela é 100% literal enquanto alguns acreditam que ela é quase 100% alegoria.

Os literalistas geralmente assumem esta posição, não porque a Bíblia possa ser defendida como totalmente literal, mas porque entendem que ao afastar-se dos 100% literal é como entrar num declive escorregadio. Se se desconsiderar as partes que exigem que se suspenda a descrença, não haverá muito mais que reste.

Há também um elefante branco na sala para aqueles que acreditam que a Bíblia é quase 100% de alegorias. Eles estão apenas a uns centímetros de distância da conclusão de que Deus também é apenas uma alegoria. Na verdade, eles têm que invocar a fé para reter Deus em tudo, pois não pode ser feito em bases racionais.

Sério, que utilidade tem um livro que pode ser interpretado de forma diferente pelos seus próprios apoiantes? Na verdade, de que serve um livro que nos faça crer que existe um ser ultra-mega-inteligente, invisível e mágico, quando o livro em si é amplamente ininteligível e inacreditável?


Traduzido e adaptado de Bill Flavell



sábado, 15 de abril de 2017

No que crêem os padres e pastores cultos?



Acho bastante estranho que as pessoas comuns pensem que padres e pastores que foram formados por universidades e que tem vários cursos superiores na Europa ou nos EUA de fato acreditem em Adão e Eva, Arca de Noé, Céu, Inferno, Anjo da Guarda, o Diabo e coisas assim.

A verdade é que eles consideram essas coisas como infantis e as levam apenas em conta de um substrato folclórico e nada mais.

Padres e pastores lêem Freud, Marx, Foulcault, Sartre e Kant.

Ou alguém de fato pensa que eles só lêem catecismo e estórias sobre as vidas dos santos?


Texto de Lauro Augusto Monteclaro César Júnior

sexta-feira, 14 de abril de 2017

O grande enigma dos crentes




Num dos meus últimos posts, "SATANÁS: UM PECADOR OU UM SALVADOR?", foi sugerido que a visão convencional de que o Satanás é o vilão, poderia estar completamente errada. As evidências mostram claramente que Deus era um monstro maligno enquanto que as ações de Satanás podem ser vistas como uma tentativa de se opor a Yahweh na tentativa de fazer um mundo melhor.

Esta visão é uma interpretação credível da escritura e não pode ser falsificada para que todos os crentes que tenham a mente aberta, possam a aceitar como uma possibilidade. E isto levanta algumas questões interessantes para eles.

Se eu estiver certo e se o bem finalmente triunfar sobre o mal, tu não serás julgado por Deus quando morreres, serás julgado sim, mas por Satanás. O que Satanás procurará quando decidir sobre o teu destino eterno? Uma coisa é certa, ao proclamares a tua crença e amor no vilão Yahweh, terás um grande problema. O que poderia ser mais condenável do que gastares a tua vida orando e adorando um monstro genocida?

E quanto à fé? Será que Satanás terá uma visão, por mais ténue que seja, de que tu acreditavas numa avalanche de coisas idiotas sem bases ou evidências algumas? Não sei se Satanás acharia que essas pessoas seriam uma companhia agradável para passar a eternidade.

É provável que Satanás até fique horrorizado com o modo como alguns crentes, por ordem de Yahweh, trataram tão mal as pessoas LGBT.

Quando Satanás olha para o que te motivou, eu suspeito que ele ficará desapontado ao descobrir que tu não te mexeste para ajudar pessoas por achares certo, mas sim para caíres nas graças do vilão Yahweh.

Eu acho que é provável que Satanás olhe mais favoravelmente para as pessoas que fizeram o bem porque queriam ajudar os outros e que avaliavam evidências para chegar às suas crenças - pessoas como os ateus. Acho que Satanás colocará os ateus na primeira classe e outros serão relegados a lugares menores.

Há uma coisa que os crentes podem esperar. Eu não consigo imaginar que Satanás com o seu bom coração, deseje torturar pessoas para todo o sempre, e assim sou da opinião que ele vai abolir o inferno cruel e injusto de Deus. Em vez disso, ele poderá optar por deixar os crentes viverem pobres mas com o suficiente no seu pós vida, trabalhando como servos de ateus e gays que estarão na primeira classe. Os crentes serão cozinheiros, jardineiros, empregadas domésticas, trabalhadores dos esgotos, limpadores de retretes e assim por diante.

Isto representa um grande enigma para os crentes: eles correrão o risco de continuar bajulando o vilão Yahweh, adorando-o e confiando na fé, ou irão rever as suas crenças através do filtro da razão e irão procurar fazer o bem no mundo por si mesmos?

A decisão é deles.


Ps.: Para evitar dúvidas ou mal entendidos, trata-se tudo de uma possibilidade hipotética de um deus hipotético e de seu inimigo hipotético.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Porquê muçulmanos, porquê?



Quando os muçulmanos emigram do seu país islâmico natal, por que é que eles escolhem ir para um país que os irá ofender constantemente? Porquê ir para um país que permite que as mulheres se vestem como elas quiserem, ou que protegem os direitos dos gays, ou que permitem que o álcool e a carne de porco sejam vendidos em todos os lugares?

Porquê ir para países onde as pessoas se riem das religiões enquanto adoram cães e gostam de os manter como seus animais de estimação? Porquê ir para países onde bater na sua esposa ou forçá-la a ter relações sexuais, são delitos e onde as mulheres têm os mesmos direitos que os homens?

Há muitos países islâmicos para onde uma família muçulmana poderia emigrar, onde eles iriam se sentir confortáveis com a cultura. Mas poucos, mesmo muito poucos muçulmanos escolhem países islâmicos. Porquê?

Ps.: Obviamente que estou me referindo aos muçulmanos que escolheram livremente emigrar, não me refiro aos refugiados que se deslocam sob coação.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell


quarta-feira, 12 de abril de 2017

Aquela voz que devia tocar-te até ao coração!



Desculpem, mas eu não consigo perceber isto. Aparentemente, Deus quer que o conheçamos porque ele nos ama e ele quer salvar-nos da tortura eterna que ele entretanto preparou para nós. Mas Deus PODE comunicar diretamente com cada um de nós ou simplesmente com todos nós. 


Imagina isto por um momento: o ser que criou toda a vida tal como o próprio universo, sabe tudo do passado, do presente e do futuro e é mil milhões de vezes mais inteligente do que nós somos, além de que pode falar diretamente até para dentro dos nossos cérebros! Quando a sua voz soar na tua cabeça, saberás quem é e o que ele quer, não poderá haver erro algum ou confusão alguma!

Ninguém que estiver a ouvir Deus irá dizer: "Maldição, o meu zumbido na cabeça está muito brincalhão hoje!", ou "Eu gostava de parar de ter estes sonhos.", ou mesmo: "Sim, meu Senhor Thor, a tua palavra é uma ordem para mim. Vou para o oeste e atacar os cristãos na terra de Breteyne".

Não, a partir do momento que a voz começa a falar contigo, tu irás parar tudo o que estás a fazer, o tempo vai parar e todos os outros sons e pensamentos serão bloqueados: tu estarás na presença da grandeza e vais SABER quem está a falar contigo. 

Só que isso ainda nunca aconteceu.

Pensem na Índia. Em toda a Índia existem vastas áreas de terra onde vivem centenas de milhões de pessoas e nenhuma delas acredita no Deus abraâmico. Se Deus falar com eles, eles parecem, TODOS eles, parecem não lhe dar mais importância do que um zumbido nos ouvidos ou um simples sonho.

Com o país mais populoso do mundo, a China, passa-se o mesmo assim como no Japão, na Coreia e em muitos outros pequenos países.

O grande continente africano tinha sido o mesmo até que os missionários europeus levaram o cristianismo há pouco mais de 100 anos. Antes disso, os africanos ignoraram a tentativa de Deus de se comunicar com eles. TODOS o ignoraram.

Só posso pensar em duas coisas possíveis para explicar estes fatos:

  1.  Deus escolhe não amar ou salvar milhares de milhões de pessoas (mas pode mudar de ideias, como por exemplo, depois de que os missionários cristãos levaram Deus para elas).
  2.  Deus não existe. Muitas pessoas ouvem vozes nas suas cabeças e as atribuem ao deus em que foram criadas para acreditar.

Esqueci alguma coisa?


Ps.: Interessante, eu não acredito em deus algum e nunca ouço vozes estranhas na minha cabeça. E isso também é verdade para milhões de outros ateus.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell


terça-feira, 11 de abril de 2017

Os Físicos na história e deus.



É verdade que, por vezes, os cientistas são religiosos, ou pelo menos supersticiosos. Sir Isaac Newton, por exemplo, foi um espiritualista e alquimista bastante ridículo. Fred Hoyle, um ex-agnóstico que se apaixonou pela ideia do "desígnio", foi um astrónomo de Cambridge que inventou o termo Big Bang. Steven Hawking não é um crente, e quando foi convidado para ir a Roma conhecer o papa João Paulo II pediu que lhe mostrassem os registos do julgamento de Galilei. E fala sem embaraço da hipótese de a Física "conhecer a mente de Deus", o que parece agora tão inofensivo como uma metáfora, como por exemplo quando os Beach Boys cantam, ou eu digo, "só Deus sabe...".

Antes de Charles Darwin ter revolucionado todo o conceito das nossas origens, e Albert Einstein ter feito o mesmo em relação ao começo do Cosmos, muitos cientistas, filósofos e matemáticos adoptavam o que podia ser considerada a posição de ausência e professavam uma ou outra versão do "deísmo", que defendia que a ordem e a previsibilidade do universo pareciam, de facto, sugerir um criador, se bem que não necessariamente um criador com um papel activo nos assuntos humanos. Este compromisso era lógico e racional para o seu tempo, ...

Laplace (1749-1827) foi o brilhante cientista francês que levou o trabalho de Newton ainda mais longe e demonstrou, através de cálculos matemáticos, como as operações do sistema solar eram as de corpos a girar sistematicamente num vácuo. Mais tarde, quando começou a estudar as estrelas e as nebulosas, postulou a ideia do colapso e implosão gravitacionais, ou o que agora chamamos alegremente o "buraco negro". Num livro em cinco volumes intitulado Celestial Mechanics, ele expôs tudo isto e, como muitos homens da sua época, também estava intrigado com o planetário, um modelo articulado do sistema solar visto, pela primeira ver, de fora. Estes modelos são agora lugares-comuns, mas na época foram revolucionários e o imperador pediu para conhecer Laplace e para receber um conjunto dos livros ou (os relatos diferem) uma versão do planetário. 

Pessoalmente, desconfio que o coveiro da Revolução Francesa preferiu o brinquedo aos livros: era um homem com pressa e tinha conseguido que a igreja batizasse a sua ditadura com uma coroa. De qualquer modo, e ao seu estilo infantil, exigente e imperioso, quis saber porque é que a figura de deus não aparecia nos cálculos inovadores de Laplace. E aqui têm a resposta fantástica, sublime e ponderada. "Je n'ai pas besoin de cette hypothèse". (*) Laplace ia tornar-se marquês e talvez pudesse ter dito de forma mais modesta, "Resulta bastante bem sem essa ideia, Majestade". 
Mas declarou simplesmente que não precisava dela.


(*) "Não preciso dessa hipótese."


Christopher Hitchens in "deus não é grande".

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Satanás: um pecador ou um salvador?




Satanás pode ser a pessoa mais incompreendida em toda a mitologia. Milhões de cristãos temem e desprezam Satanás enquanto adoram e amam a Deus, mas será isso justo?

OK, os cristãos acreditam que Deus criou tudo, mas Deus era um assassino implacável. Ele era injusto, era frequente andar a matar os inocentes para punir os culpados. Deus era ciumento e tratava os seres humanos como os seus brinquedos, como uma criança arrancando as pernas duma aranha. Deus era um valentão cósmico.

Deus não queria que os seres humanos tivessem conhecimento do bem e do mal, mas agora pensem no que isso nos teria levado se não tivesses esse conhecimento. Sem esse conhecimento, qualquer coisa seria aceitável: genocídio, violações (estupro), abuso de crianças... O que é que há de errado com essas coisas? Esse seria o nosso mundo se não entendêssemos a diferença entre o bem e o mal.

Satanás era um anjo rebelde, mas ele era rebelde por boas razões. Ele entendeu como Deus era mau e queria fazer um mundo melhor. Satanás ajudou os humanos a entender a diferença entre o bem e o mal, mas a resposta perversa de Deus foi simplesmente de amaldiçoar todos os descendentes de Adão para todo o sempre, e tornar as suas vidas curtas e dolorosas.

Deus matou dezenas de milhões de seres humanos e animais com as suas birras e mau carácter. Já Satanás matou apenas dez indivíduos e eles foram mortos como uma aposta com Deus e com a permissão de Deus. E nunca esqueças: Deus, não Satanás, inventou e criou o inferno, o mais terrível lugar de tortura jamais planeado!

É verdade que a Bíblia diz coisas ruins sobre Satanás. Ela diz que ele é um mentiroso e tenta as pessoas a fazerem o mal. Mas, se Deus é o cara mau que inspirou a Bíblia, o que podias esperar que ele dissesse sobre o "bom rapaz"? Se calhar devia-se acrescentar o "assassinato de carácter" à longa lista dos crimes de Deus...

Deus cometeu muitos erros, mas ele conseguiu fazer uma coisa bem: ele conseguiu enganar mais de dois mil milhões de cristãos a pensar que Satanás é o vilão da estória quando afinal o vilão sempre foi Deus.

Que confusão! Bom trabalho, só que é apenas mitologia.



Traduzido e adaptado de Bill Flavell





Ano Zero e o Abade que sabia demais




Nos últimos anos assistiu-se a uma das polémicas mais vazias e patéticas de que há memória: a data de início do milénio. Os únicos vencedores desta polémica foram provavelmente as produtoras de champanhe ou as agências de viagens, que venderam a preços inacreditáveis pacotes de viagens para «ser o primeiro a saudar o milénio»… em dois anos seguidos. Peço desculpa ao leitor por recordar uma vez mais o núcleo da questão: o calendário da era cristã, estabelecido no século VI por um «ignorante monge cristão», Dionysius Exiguus, não continha o ano zero; o ano do nascimento de Jesus era por definição o ano 1 da era cristã. Consequentemente, o segundo milénio terminou em 2000, e o terceiro milénio teve o seu início em 1 de Janeiro de 2001.

Esta questão parece incontroversa. No entanto, o assunto foi debatido ad nauseam por todo o tipo de pessoas — na maior parte das vezes curiosos muito mal informados. Entrados no ano 2001, tudo isto foi rapidamente esquecido e a memória colectiva reteve os seguintes factos, hoje quase lenda urbana: o ano zero não existiu, «ignorado ou esquecido pelo estúpido monge Dionysius Exiguus». O problema resumiu-se a um erro devido à ignorância de Dionysius, um bárbaro que nem o conceito de zero conhecia.

Pobre Dionysius Exiguus! O seu único pecado foi saber demasiada Matemática, não só em comparação com os seus contemporâneos, como sobretudo em comparação com os verdadeiros bárbaros: aqueles que, não fazendo a menor ideia das subtilezas matemáticas do seu trabalho, surgem 1500 anos depois a declará-lo ignorante «por não conhecer o zero». Mal podia imaginar o sábio Dionysius o que o esperava: o seu conhecimento e estudo matemáticos apedrejados, 1500 anos depois, por uma horda de vândalos totalmente ignorantes do seu extraordinário trabalho!

Dionysius Exiguus (Dinis o Pequeno) foi um erudito e sofisticado monge cítio que cedo foi para Roma. Entre muitas das suas realizações conta-se a redacção da Lei Canónica. No ano 241 Diocletiani (de Diocleciano, de acordo com o calendário então vigente) foi-lhe encomendado pelo Papa João I um estudo delicado: terminando as tabelas relativas ao cálculo do Domingo de Páscoa dali a sete anos, a tarefa de Dionysius era a de construir as tabelas relativas aos noventa e cinco anos subsequentes.

Tratava-se de uma tarefa computacionalmente complexa. O Concílio de Niceia de 325 decretara a seguinte regra: o Domingo de Páscoa é o primeiro domingo após a primeira lua cheia depois do equinócio de Primavera. Assim, Dionysius tinha de determinar as posições e fases da Lua por um período superior a cem anos, o que era bastante complexo; este cálculo tinha o nome de computus.

Em primeiro lugar, é necessário acertar os calendários solar e lunar. Dionysius utilizou a regra Metónica: 235 meses lunares correspondem a 19 anos solares. A duração média de cada mês lunar é ligeiramente superior a 29,5 dias; há 114 meses com 29 dias, 114 meses com 30 dias e 7 meses «embolísmicos», que para acertar os calendários têm também 30 dias. Como calcular a data do Domingo de Páscoa? Suponhamos, que num dado ano a Lua está no dia 2 do seu ciclo a 21 de Março. A próxima lua cheia será a 2 de Abril e, portanto, o Domingo de Páscoa será o domingo imediatamente a seguir. O que acontece no ano seguinte? Como o ano solar é 11 dias mais longo do que o lunar, a Lua estará no ano seguinte no dia 13 do seu ciclo a 21 de Março. Assim, a lua cheia seguinte é a 22 de Março, e a Páscoa será no domingo imediatamente a seguir — ou seja, no único domingo entre 22 e 28 de Março.

A diferença entre o dia do ciclo lunar no ano corrente e no ano de referência tinha o nome de «epacto». No exemplo acima o epacto é 11. No terceiro ano o epacto será 22, pelo que a Lua estará no dia 24 do seu ciclo a 21 de Março. No quarto ano o epacto é 33 — o que é mais do que um ciclo lunar. Temos portanto de subtrair 30 (um ciclo lunar corrigido por ter havido entretanto um mês embolísmico); assim, neste ano o dia lunar a 21 de Março é 5. Desta forma, a lua pascal é a 30 de Março — e a Páscoa no domingo seguinte.

Tudo isto são cálculos intrincados mas relativamente triviais. Contas de somar e subtrair — aritmética, em suma. O grande mérito de Dionysius está na intuição matemática que teve para simplificar as suas contas. Designando o ano de referência por ano 1, é fácil encontrar uma regra que fornece o epacto no ano N: como se acrescentam 11 dias por ano, subtraindo múltiplos de 30, essa regra é

Epacto(N) = (N – 1) x 11 (mod 30)

onde a operação (mod 30) fornece o resto da divisão por 30. Por exemplo, o epacto no ano 19 é 18 x 11 (mod 30) = 18. Analogamente, no ano 20 (ou seja, passados 19 anos sobre o ano de referência) deveria ser 19 x 11 (mod 30). 29. No entanto, neste ponto é necessário introduzir uma pequena correcção, devida ao facto de os meses embolísmicos quase compensarem, mas não compensarem exactamente, o fenómeno dos anos bissextos: para acertar definitivamente calendários lunar e solar, é necessário introduzir mais um dia — o medieval saltus lunae (razão pela qual em inglês um ano bissexto se chama «ano de salto», leap year). Resultado: o epacto ao fim de 19 anos é 30, e não 29. Ou seja, como o epacto é definido a menos de múltiplos de 30, o epacto ao fim de 19 anos é zero. A observação matemática crucial de Dionysius é a seguinte:

Toda esta mecânica de cálculo seria enormemente simplificada se a contagem dos anos se fizesse a partir de um ano de referência em que o epacto fosse zero, visto que a partir daí voltará a ser zero sempre que o número do ano seja um múltiplo de 19. Além disso, o epacto no ano N dessa era poderá calcular-se de forma imediata sem saber o epacto nos anos anteriores, através de

Epacto(N) = [11 x N (mod 19)] (mod 30)

Ou seja, Dionysius estava a propor redefinir a contagem dos anos de tal forma que o primeiro ano da sua tabela tivesse epacto zero. Isso só aconteceria se ele diferisse do primeiro ano da era que Dionysius se propunha definir por um múltiplo de 19.

Mas há mais. Já que se vai redefinir a contagem dos anos numerando-os da forma matematicamente mais conveniente, que se faça um trabalho completo. Os anos bissextos ocorrem de quatro em quatro anos; ou seja, a cada quatro anos há que acrescentar um dia ao ano. Isto sugere fortemente, mais uma vez para simplificar o cálculo, que se redefina a contagem dos anos por forma a que o ano seja bissexto sempre que o seu número de ordem na nova era seja divisível por 4. Isso evitaria confusões sobre que anos devem ser bissextos: por muito iletrados que fossem os seus sucessores, deveriam pelo menos ser capazes de dividir por 4. Ora o primeiro ano na sua tabela, 248 Diocletiani, deveria precisamente ser um ano bissexto. 

Conclusão de Dionysius: o novo sistema de numeração dos anos deve ser tal que esse ano seja a) múltiplo de 19, para simplificar o cálculo dos epactos; b) múltiplo de 4, para simplificar a determinação de anos bissextos. Como 19 é primo, o mínimo múltiplo comum a 4 e 19 é 76. Assim, por considerações meramente matemáticas, Dionysius precisava de impor que o ano em questão fosse, na nova era, um múltiplo de 76.

O que tomar como referência da nova era? A resposta, para um monge cristão, era óbvia: o nascimento de Jesus Cristo. Embora ninguém soubesse o ano exacto de nascimento de Cristo, sabia-se que esse acontecimento tinha ocorrido há cerca de meio milénio. Um cálculo trivial mostra que os múltiplos de 76 mais próximos de 500 são 456, 532 e 608. Conclusão: Dionysius adoptou a solução matemática mais próxima da realidade, e afirmou sem grandes explicações que nas suas tabelas passava a designar o ano 248 Diocletiani por «anno domini 532» (como se fosse do conhecimento geral que Cristo tinha nascido 532 anos antes).

A construção de Dionysius encarna o verdadeiro espírito matemático. Sendo-lhe pedido para calcular tabelas para 95 anos, não só resolveu esse problema como construiu um sistema que simplificava bastante futuras soluções, como ainda resolveu, como subproduto, o problema da determinação de anos bissextos. Se hoje temos uma regra simples para determinar que anos são bissextos, a Dionysius o devemos.

E foi este o nascimento da era cristã. Curiosamente, não envolveu nenhum tipo de argumentos teológico-filosóficos, especulações religiosas ou reconstituições históricas sobre a vida de Jesus e acontecimentos subsequentes. Nada disso: o ano 1 da era cristã é aquele que é por razões puramente matemáticas. Uma solução muito elegante e muito mais científica do que seria de esperar em pleno século VI.

Dionysius Exiguus não era um «ignorante monge medieval que não conhecia o zero». Pelo contrário: a sua preocupação matemática foi precisamente acertar a nomenclatura dos anos com o epacto zero. Nas suas «tabelas novas» para o cálculo das grandezas relevantes surge explicitamente: Anni Domini DXXXII: (…) epactae nula. Ou seja, no ano 532 da nova era, o epacto é zero. Dionysius conhecia o conceito de zero. Por outro lado, quantas dos aprendizes de feiticeiro que 1500 anos depois o culpam pela inexistência de um «ano zero» saberiam fazer os seus complexos cálculos?

Note-se, por mera curiosidade, que 1 de Janeiro de 1 é no calendário proposto por Dionysius a suposta data de circuncisão de Jesus, que teria nascido a 25 de Dezembro do ano anterior. Assim, Jesus teria completado 1 ano no ano 1, 2 anos no ano 2, etc. — que é exactamente a convenção utilizada por todos nós.

Dionysius nunca explicitou a existência do ano 0, porque isso era completamente irrelevante para os seus cálculos e para as tabelas que lhe tinham sido encomendadas pelo Papa; mas é de crer que a sua existência era tão clara para ele como para nós.

A suposição de que a era antes de Cristo terminaria com o ano I a. C. é um mito de origem indeterminada mas muito posterior a Dionysius; há quem a coloque no século XVII. Mas é da responsabilidade de espíritos incapazes do mais elementar raciocínio matemático. Não era o caso de Dionysius Exiguus, o abade que sabia demais.

Curiosamente, a mesma discussão vazia sobre a existência ou não de um «ano zero» no nosso calendário colocou-se já na passagem do século XIX para o XX. Pelos vistos, voltará provavelmente a colocar-se na próxima passagem de século… Por outro lado, isto significa que do ponto de vista histórico o ano 0 definitivamente não assinala o nascimento de Cristo. Na realidade, a história mostra que Cristo terá nascido entre 7 e 4… antes de Cristo. O Evangelho segundo São Mateus afirma que Cristo nasceu durante o reinado de Herodes (recordemos a famosa «degola dos inocentes»), e este morreu quatro anos antes do «ano zero». Dionysius, obviamente conhecia estes factos, tendo pois perfeita consciência de que Cristo não teria nascido na data que estava a propor para o início da contagem dos anos.

Para Dionysius Exiguus, à boa maneira matemática, isto era completamente irrelevante: o trabalho que lhe foi encomendado pelo Papa era o de determinar as tabelas para as datas da Páscoa.

Nada nos seus trabalhos mostra que ele se tenha interessado minimamente em determinar o ano preciso do nascimento de Cristo — e muito menos que tenha tido a intenção de fazei depender disso a solução do problema matemático que lhe foi proposto.

Pelo contrário: o seu interesse seria provavelmente minimizar a questão, não fosse alguém levantar a lebre e destruir a sua elegante solução matemática. Parafraseando o físico Paul Dirac, se os factos não estão de acordo com a teoria, tanto pior para os factos.

O significado histórico de chamar ao início da era cristã «Ano 1» é igual ao significado físico de afirmar que o potencial eléctrico da Terra é zero ou que o potencial gravítico é zero no infinito: nenhum. E foi assim que, no dia de 1 de Janeiro de 2001, a Matemática ditou que o mundo celebrasse a passagem de exactamente 2000 anos sobre… nenhum acontecimento histórico em particular.


in Da Falsificação de Euros aos Pequenos Mundos, de Jorge Buescu

domingo, 9 de abril de 2017

O homem não tem o livre arbítrio



1
. ― Pois, quem tem livre arbítrio faz o que quer. Ora, o homem não faz o que quer como se vê pela Escritura (Rm 7, 19): Porque eu não faço o bem que quero; mas faço o mal, que não quero. 
Logo, o homem não tem livre arbítrio.

2. Demais. ― Quem é livre pode querer e não querer, operar ou não. Ora, isso está no poder do homem, conforme a Escritura (Rm 9, 16): Não pertence ao que quer, o querer, nem ao que corre, o correr. 
Logo, o homem não tem livre arbítrio.

3. Demais. — É livre quem é causa de si, como diz Aristóteles. E não é livre o que é movido por outro. Ora, Deus move a vontade, conforme a Escritura (Pr 21, 1): O coração do rei se acha na mão do Senhor, e (Fl 2, 13): Ele o inclina para qualquer parte que quiser; e: Deus é o que opera em vós o querer e o perfazer. 
Logo, o homem não tem livre arbítrio.

4. Demais. ― Quem é livre é senhor dos seus atos. Ora, o homem não o é, como diz a Escritura (Jr 10, 23): Não é do homem o seu caminho, nem é do varão o andar e o dirigir os seus passos. 
Logo, o homem não tem livre arbítrio.

5. Demais. ― O Filósofo diz: Tal é um ser, tal é o seu fim que se propõe. Ora, não por nós mesmos, mas pela natureza, é que somos o que somos. 
Logo, vem da natureza, e não do livre arbítrio, o buscarmos um determinado fim. 



Deus fez isto e deus fez aquilo...



Milhares de milhões de pessoas acreditam em deus porque acreditam que deus fez alguma coisa. E que essa alguma coisa pode ter sido tão extraordinária como criar o universo a partir do nada, ou tão complexa como criar seres humanos, ou tão boa como curar uma criança doente, ou tão útil como encontrar um espaço de estacionamento num local lotado.

Mas essas pessoas viram deus fazer alguma dessas coisas? Ou deus explicou como é que ele fez o que fez? Houve alguma testemunha? Deus deixou alguma evidência que inequivocamente o ligou a esses atos?

Claro que a resposta a todas estas perguntas é sempre a mesma. É sempre NÃO. Não há nada que ligue deus a esses eventos.

Mesmo que tu orasses para que algo acontecesse e isso aconteceu, isso não significa que foi deus quem fez acontecer, pois há sempre outras possíveis explicações. Mesmo se tu não podes pensar numa explicação, pode haver sempre uma explicação que tu não tens conhecimento.

Então, quando tu pensas que deus fez alguma coisa, tu tens apenas uma hipótese, e nenhuma pessoa sensata acredita numa hipótese até que ela seja mostrada como verdadeira. Mas essa hipótese NUNCA FOI demonstrada, e é por isso que eu não acredito que deus tenha feito o que quer que seja.

E nem tu deves!


Traduzido e adaptado de Bill Flavell



sábado, 8 de abril de 2017

Expliquem-me lá outra vez....



Alto, deixa-me perceber isso direito: os cristãos acreditam que há um ser invisível e indetectável, que é feito de nada e está em toda parte ao mesmo tempo, que criou realmente o universo inteiro a partir do nada e que pode ver e ouvir cada ser humano no planeta a cada segundo de cada dia e lembra-se do comportamento de cada um.

Eles acreditam que podem falar magicamente com este ser feito de nada, e pedir-lhe favores que o ser lhes pode conceder ou não conceder.

Eles acreditam nisso tão fortemente que muitos deles falam sobre isso várias vezes ao dia, todos os dias. Eles constroem grandes edifícios especiais para que possam se reunir e cantar para esse ser que eles acreditam que gosta de ouvir cantar, e em especial, gosta de ser adorado.

Para manter este ser apaziguado, essas pessoas (mesmo as pessoas muito pobres) muitas vezes dão uma parte substancial do seu ordenado ao longo de toda a sua vida, para aqueles que dirigem os grandes edifícios e que dizem que têm um canal de comunicação prioritário e especial para esse ser indetectável feito de nada.

E eles têm outra razão para dar seu dinheiro, tempo e devoção a este ser. Eles acreditam que quando morrerem, quando suas ondas cerebrais ficarem permanentemente na horizontal e o cérebro deixar de funcionar, quando o metabolismo e circulação parar, o corpo e o cérebro começarem a desfazer-se em compostos químicos simples, depois de tudo isso, esse ser indetectável feito de nada vai magicamente restaurá-los à vida, uma vida que nunca irá terminar, mesmo que o universo se extinga.

Por que é que eles acreditam em tudo isso? Porque há 2.500 - 3.000 anos atrás, algumas tribos hebraicas supersticiosas, escreveram um livro sobre as suas aventuras com esse ser indetectável feito de nada (aparentemente o ser era detectável então, mas não é agora). O livro é evidentemente um livro de superstição, magia, mitos, moral da Idade do Ferro e de ignorância científica, mas muitos cristãos preferem acreditar que ele é a verdade sagrada.

Agora, digam-me novamente por que é que acreditar em tudo isso não é uma doença mental?


Traduzido e adaptado de Bill Flavell