sábado, 26 de outubro de 2019

O personagem Jesus Cristo



Nos primeiros três séculos, a diversidade de perspectivas sobre quem era Jesus e o que significava ser cristão eram enormes, tanto que no consenso atual dos historiadores e teólogos recomenda-se falar nos cristianismos primitivos, (no plural).

O NOVO TESTAMENTO
O cânone do novo testamento demorou a ser estabelecido, até porque o cânone do Judaísmo, o antigo testamento, ainda não estava definido.
É possível que o cânone judaico só tenha sido definido no século II.
No início, os cristãos consideravam os livros sagrados judaicos.

O PRIMEIRO AUTOR CRISTÃO
A primeira epístola aos Tessalonicenses, escrita por Paulo provavelmente no ano 51, foi o primeiro texto de autor cristão, cita trechos do Pentateuco e dos profetas israelitas. Da vida de Jesus, Paulo só fala da última ceia, que foi crucificado e ressuscitou, e cita um ou outro ensinamento de Jesus. Não se sabe porque ele não fez a biografia de Jesus. As biografias de Jesus só foram escritas a partir do ano 65, quando Paulo já tinha encerrado a sua carreira apostólica.

COMUNIDADE DE JERUSALÉM
Há citações de que inicialmente os apóstolos originais, de Jesus e membros da família do Nazareno fundaram a comunidade cristã da Judeia, que pode ter acabado entre os anos 66 e 70.
As igrejas fundadas por Paulo veneravam o grupo de Jerusalém. Com o fim deste grupo acaba qualquer autoridade central.

CRISTOLOGIAS
Com o fim desta autoridade central houve uma explosão de diversidade de doutrina sobre quem afinal era Jesus. Cada doutrina é chamada de cristologia, segundo Chevitarese, são quatro cristologias convivendo entre os anos 50 a 60.

a) Para Paulo, Jesus era o Cristo porque ressuscitou.
b) Para o evangelho de Marcos, quem fez Jesus se tornar o Cristo foi o batismo por João Batista.
c) Os evangelhos de Mateus e Lucas consideram que Jesus se tornou o Cristo a partir do seu nascimento.
d) Enquanto João vê Cristo como pré-existente no próprio mundo.

Ainda deve-se considerar que fragmentos dos evangelhos judaicos – cristãos citados por autores posteriores como Jerónimo (347-420) havia pelo menos três evangelhos da mesma linha, o Evangelho dos Nazarenos, o Evangelho dos Ebionitas e o Evangelho segundo os hebreus, que apresentava a ideia que Jesus não era divino e segunda pessoa da santíssima trindade.
O Evangelho dos Nazarenos, que parece uma versão do evangelho de Mateus, acreditava que Jesus era um ser humano especialmente bom, adotado por deus no momento do batismo.
O Evangelho dos Ebionitas fala que houve um certo homem chamado Jesus, que tinha cerca de 30 anos de idade. E foi ele quem nos escolheu.
Por outro lado, o bispo cipriota Epifânio de Salamina, morto em 403, regista que leu no Evangelho dos Ebionitas que Jesus era uma espécie de anjo encarnado – inferior a deus, mas não totalmente humano.

BIBLIOTECA PERDIDA
Em 1945, foi encontrada uma jarra selada enterrada, que continha treze códices de papiro embrulhados em couro. Os códices contêm textos sobre cinquenta e dois tratados maioritariamente gnósticos, três trabalhos pertencentes à Corpus Hermeticum e uma tradução parcial de A República de Platão. Muitos gnósticos acreditavam que Jesus não era o mesmo deus do antigo testamento, e sim, filho ou primeiro ministro do verdadeiro deus supremo.

IDEIAS EXISTENTES NA FORMAÇÃO DO CÂNONE
Marcion de Sinope rejeitava o deus sanguinário dos Judeus, e diferenciava o bondoso pai de Jesus. Ele achava que Jesus não era um humano de verdade, rejeitava o nascimento de Jesus e o cumprimento de profecias do antigo testamento na vida do Messias.

EVANGELHOS CANÓNICOS
Bispos e pensadores cristãos, como Irineu de Lyon, começaram a defender a definição de um cânone, mas este debate não parecia ter um fim, até que o cristianismo passou a ser a religião oficial do império Romano e o Imperador Constantino passa a promover a uniformização do cristianismo, e a determinação de um cânone único e coerente, o que deixou de fora dezenas de textos de cristãos judeus, gnósticos e outros "hereges". Mas Constantino não concluiu o seu projeto.
A primeira lista dos livros do novo testamento tal como é hoje, foi do ano de 367, determinada pelo bispo Atanásio de Alexandria.

A INFÂNCIA DE JESUS
Os autores dos evangelhos canónicos quase nada falam da infância e adolescência de Jesus. Jesus só aparece bebezinho e depois aos 12 anos numa passagem triunfal no Templo de Jerusalém.
Os primeiros cristãos tentavam imaginar, como era Jesus antes da vida pública.
Então foram escritos os evangelhos da infância, como o de Tomé. Especialistas como Bart Ehrman, professor de história do cristianismo antigo da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill (EUA), consideram que estes trechos são midrash (textos inventados para completar narrativas, comum entre os judeus).
Um trecho de Tomé relata que Jesus estava moldando passarinhos com barro num sábado, dia santo judaico. Um judeu chama a atenção de Jesus e o menino bate palmas e as aves saem voando.
Estes textos são questionáveis, retratam um menino Jesus usando poderes milagrosos de forma fantasiosa. Num trecho, um menino começou a desfazer umas represas que ele tinha feito nas margens de um riacho. Jesus irritou-se e fez o menino secar completamente. Noutro trecho um menino passou correndo e esbarrou no seu ombro, Jesus ameaçou o menino que caiu e morreu. Noutro os aldeões vão reclamar dele com José e eles ficaram cegos e ele amaldiçoou um de seus professores. Noutro ele ressuscita um amiguinho que caiu do telhado da casa. Fez madeira crescer milagrosamente para que José terminasse seus trabalhos de carpintaria.
Especialistas como o franco alemão Oscar Culmann(1902-1999), chegam a agradecer a deus pela não inclusão dos evangelhos da infância no novo testamento.

EVANGELHOS GNÓSTICOS
Para alguns seguidores de Jesus, Tomé (gémeo, em aramaico) apelido Dídimo (gémeo) ou Dídimo Judas Tomé, autor do evangelho de Tomé, era gémeo de Cristo.
Também nas narrativas canónicas, Jesus pede aos apóstolos que lhe digam quem ele é. Tomé lhe disse: "Mestre a minha boca é totalmente incapaz de dizer o que és".
Disse então Jesus. "Não sou teu mestre, pois bebeste e te embriagaste da fonte borbulhante que eu mesmo guardo".
O evangelho de Tomé representa ideias gnósticas, que o conhecimento secreto transmitido por Jesus é o responsável pela salvação e não a fé na morte e ressurreição, pois ali nem se fala em paixão de Cristo, ele é sempre descrito como o "Jesus vivente".
O evangelho de Tomé cita que Pedro fala: "Maria tem de nos deixar, pois as mulheres não são dignas de viver".
Jesus contradiz: "Eis que eu a guiarei para torná-la masculina, para que também ela se torne espírito vivente, como vós que sois homens, pois toda mulher que se fizer homem entrará no reino dos céus".
Outro texto narra: A companheira do Salvador é Maria de Magdala. O salvador amava-a mais do que a todos os discípulos, e ele a beijava com frequência na sua boca (os termos em destaques estão ilegíveis no original).

O DOCUMENTO Q
Há uma ideia que nos primórdios do cristianismo havia um documento hoje perdido contendo os chamados lógia (declarações) de Cristo, o documento Q, que parece ter dado origem ao Evangelho de Tomé e aos Evangelhos de Mateus e de Lucas.

CONCLUSÃO
O personagem Jesus Cristo construído a partir desta descrição histórica, certamente não é a verdadeira pessoa, o Jesus que deu origem ao cristianismo.


Texto de Djair Lima

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Quando os judeus tinham crença noutros deuses




A Bíblia está repleta de referências a outras divindades além de Yahweh: os profetas não negaram a existência desses deuses, eles simplesmente não achavam que os judeus deveriam adorá-los.

Existe apenas um Deus, de acordo com o dogma religioso judaico. Não existe outro. Tendemos a supor que nossos antepassados ​​devotadamente acreditavam no mesmo. Mas a verdade é que a Bíblia também mostra, repetidas vezes, que esse não era o sistema de crença predominante entre os antigos israelitas.

Os diferentes escribas que escreveram a maior parte do cânon bíblico acreditavam que o mundo incorpóreo era povoado por uma multidão de deuses, mas que os hebreus não deviam adorar nenhuma dessas outras divindades, apenas Yahweh. Isto é explicitamente declarado no segundo Mandamento: "Não terás outros deuses além de mim" (Êxodo 20: 3).

O versículo "Quem entre os deuses é semelhante a ti, Senhor? Quem é semelhante a ti?"(Êxodo 15:11), é ainda mais explícito sobre outros deuses que existem junto com Yahweh.

Entre os livros da Bíblia, encontramos referências a muitos outros deuses, às vezes com referências explícitas aos milagres realizados por eles. Esses deuses geralmente são membros do panteão dos deuses semitas ocidentais, aqueles adorados por pessoas que falam línguas intimamente relacionadas ao hebraico.

Sem dúvida o mais importante desses deuses foi Ba'al ("mestre"), que é mencionado cerca de 90 vezes na Bíblia. Ba'al era um título honorífico do deus Hadad, da mesma maneira que "Adonai" ("meu mestre") é um título honorífico para o Senhor.



Obviamente, Ba'al não é o único deus do panteão semítico ocidental a ser mencionado na Bíblia. O pai de Ba'al, Dagon, o deus da colheita, também aparece, novamente em histórias destinadas a mostrar a superioridade de Yahweh sobre ele.

Em 1 Samuel, capítulo 5, somos informados de que, depois que os filisteus capturaram a Arca da Aliança, eles a levaram ao Templo de Dagon em Ashdod. Mas isso resultou na destruição milagrosa de sua estátua de culto. Yahweh vence novamente.

O pai de Dagon era El, o chefe do panteão semita ocidental. O nome Israel mostra que El era originalmente o deus tutelar de Israel (está bem ali no nome!), Mas com o tempo, Yahweh tomou o lugar de El: “Quando o Altíssimo (El Elyon) dividiu a herança entre as nações, quando separou os filhos de Adão, estabeleceu os limites do povo de acordo com o número dos filhos de Israel. Pois a porção do Senhor (Yahweh) é o seu povo; Jacó é a herança de sua herança”(Deuteronômio 32: 8-9).

Neste texto antigo, podemos ver que El e Yahweh ainda eram vistos como duas divindades separadas, com Yahweh subordinado a El. Mas, com o passar do tempo, El e Yahweh se combinaram: as duas divindades começaram a ser vistas como a mesma.

Em Êxodo 6:3, Deus diz a Moisés: "Apareci a Abraão, a Isaque e a Jacó, pelo nome de Deus Todo-Poderoso (El Elyon), mas pelo meu nome Jeová não lhes era conhecido". Assim, os antigos só conheciam Deus como El, mas, com o passar do tempo, descobriram que El era apenas outro nome de Javé.

El tinha um consorte, a deusa Asherah, e quando Yahweh tomou o lugar de El, Asherah se tornou consorte de Yahweh. É-nos dito que a Asherah foi adorada no templo mais antigo de Jerusalém - não explicitamente, mas nos disseram definitivamente que os símbolos dela foram removidos do templo, então eles precisavam estar lá em primeiro lugar (1 Reis 15:13 e 2 Reis 23:14).

Foi apenas no final do período do Primeiro Templo, durante o reinado do rei Josias (a segunda metade do século 7 a.C.) que os objetos de culto de Asherah foram retirados do templo de maneira bastante dramática. Há várias referências às reformas monoteístas de Josias, como: "Josias despedaçou as colunas sagradas, derrubou os postes sagrados e cobriu os locais com ossos humanos." (2 Reis 23:14, Nova Versão Internacional)

Na verdade, El era o pai de muitos deuses além de Dagon, vários dos quais foram explicitamente mencionados na Bíblia.

Mot, a personificação da morte, é descrito em várias passagens como uma divindade. Diz-se que em Jó 18:13 ele tem um filho, e em Habacuque 2:5 nos dizem que ele abre bem a boca e engole almas.

Outro filho de El era o próprio mar, chamado Yam (a palavra ugarit e hebraica para "mar"), embora a Bíblia chame o deus "Raabe". Por exemplo, Jó 26:12 diz que Deus "divide o mar com seu poder, e pelo seu entendimento ele fere Raabe." Lendas de um deus da tempestade, como Ba'al, derrotando o mar são muito comuns no antigo Oriente Próximo.

O sol e a lua, o amanhecer e o anoitecer, assim como outros fenômenos naturais, também foram deificados nas antigas religiões semíticas do Ocidente e provavelmente no antigo Israel também, embora isso seja menos aparente na Bíblia.

É provável que Beit Shemesh tenha sido um centro de adoração ao sol, já que o nome do lugar significa literalmente "Casa do Sol". Jericó provavelmente foi em algum momento um centro para a adoração à lua. O nome da cidade em hebraico é "Yerikho"; e a palavra hebraica para lua é Yarekh, que outras línguas semíticas ocidentais usam como o nome do deus da lua.

A Bíblia se refere ao sol e à lua, é claro, geralmente mostrando que Deus tem total controle sobre eles, como é quando ele os pára no céu (Josué 10:13), mas não se refere a eles explicitamente como divindades personificadas.

No entanto, os antigos hebreus os adoravam claramente, como os outros semitas ocidentais. Ezequiel (8:16) relata ter visto pessoas adorando o sol no templo. Podemos inferir isso porque a Bíblia condena especificamente sua adoração, e somos informados de que Josias tomou medidas para impedir o culto no final do período do Primeiro Templo, na segunda metade do século VII AEC. Essas ações incluíam a remoção de objetos de culto do próprio templo (2 Reis 23:11).

A Bíblia também conta que os antigos hebreus adoravam um deus chamado Moloch, que estava associado aos amonitas e ao sacrifício de crianças. Este culto também foi marcado por Josias na mesma reforma (por exemplo, 2 Reis 23:10).

Os livros históricos da Bíblia foram escritos por um grupo “adeptos de Yahweh” e, portanto, são profundamente críticos da adoração de outros deuses em Judá. Ainda assim, é claro pela descrição deles que o politeísmo era a norma no período do Primeiro Templo. Foi somente durante a reforma do rei Josiah que o "único partido de Yahweh" realmente assumiu o controle e começou a tirar outros deuses da mente da Judeia.

Mas note que eles não alegaram que outros deuses não existiam. Eles apenas declararam que sua adoração era proibida por Yahweh, ou como diz Êxodo 34:14: "Pois não adorarás outro deus: porque o Senhor, cujo nome é ciumento, é um Deus ciumento".

Aparentemente, foi apenas durante o exílio babilônico (cerca de 586 aC a 500 aC) e o período seguinte do Segundo Templo (500 aC a 70 dC), que o judaísmo progrediu da crença de que Yahweh é o único deus que deveria ser adorado, à crença que ele é o único deus que existe. Ou seja, nasceu o monoteísmo.


Autoria de Elon GiladColaborador do Haaretz

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Ateu que respeita...



O que será um "ateu que respeita"?

Um ateu que fica calado, enquanto os crentes podem dizer tudo o que quiserem acerca daquilo em que acreditam? 
Será um ateu amorfo que respeita a liberdade de expressão dos crentes (e sim, deve respeitar) mas tem de auto-censurar a sua própria liberdade de expressão?
Ateu bom é ateu calado, como os ateus de antigamente que, se dissessem algo, eram torturados e mortos?

Lamento, mas não estamos na Idade Média (embora alguns países e mentalidades ainda pareçam estar). A liberdade de expressão é igual para todos.

Não gostam de ser confrontadora por pessoas que denunciam as fantasias em que acreditam? Experimentem acreditar em coisas menos fantasiosas.


Texto de Rui Batista

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Deus poderá ser real mas intangível?



Considere a matemática, como é que ela existe. 

Ela não é algo que tu possas ver ou tocar. É um conjunto de regras sobre como podes entender e manipular quantidades. As regras foram descobertas por tentativas e erro, mais o intelecto humano. Depois de descobri-las, testámos-las para verificar se elas funcionam de forma confiável, uma e outra vez. E eles funcionam.

A matemática foi descoberta de forma independente, em momentos diferentes e em diferentes partes do mundo, mas sempre foram descobertas as mesmas regras. Não existe uma parte da matemática que seja verdadeira para uma sociedade, mas falsa para outra.

Poderíamos imaginar uma vida inteligente surgindo em outro planeta, a anos-luz de distância e sendo completamente diferente de nós. Mas não podemos imaginar que eles possam encontrar um conjunto diferente de regras de matemática.

Então a matemática é real? Sim. Existe matemática? Se a matemática é real, ela deve existir, mas é claramente intangível.

Alguns crentes argumentam que Deus é assim: real mas intangível. O problema é que, quando pessoas diferentes inventam deuses, elas inventam deuses completamente diferentes que fazem coisas diferentes e exigem coisas diferentes de nós. Essa é a pista que precisamos concluir que Deus não é real, mas intangível.

Deus é imaginário e intangível.


Texto de Bill Flavell

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Deus e a Física



Vivemos num enorme calhau gigante e instável, calhau esse que se lança em torno de um imenso forno a energia nuclear, a 11000 Km/hora. O calhau está a girar simultaneamente no seu próprio eixo, de modo que todos estamos sujeitos a velocidades de rotação de até 1600 Km/hora. O próprio calhau possui uma fina crosta de matéria sólida repousando sobre um núcleo fundido de rocha, ferro e outros metais que estão sempre em movimento e a temperaturas de até 6000°C (mais quente que a superfície do Sol).

O calhau é rodeado por uma camada de 480 Km de altura de gases, constantemente sendo aquecidos pelo forno nuclear e resfriados ao se afastarem dele. Isso faz com que os gases se movam continuamente. A evaporação de grandes massas de água significa que os gases contêm cerca de 1,8 x 10^17 litros de água.

O surpreendente é o quão tranquilo este sistema dinâmico e enfurecido nos parece a maior parte do tempo. Mas a tranquilidade é pontuada, em intervalos, por uma enorme violência. Essa violência vem na forma de inundações, furacões, terremotos, tsunamis, vulcões e muito mais. Quando esses eventos ocorrem, alguns de nós podem perecer, às vezes milhares de nós sucumbem mesmo.

Essas mortes não são determinadas por Deus, mas pela física. Não podemos parar esses eventos mantendo nossas mãos unidas e orando: não há deuses capazes de causar esses desastres e ninguém capaz de os evitar. A Terra mata cristãos, muçulmanos, judeus, hindus e ateus com igual indiferença.

O que podemos fazer é aprender a prever quando esses horrores irão ocorrer e encontrar uma maneira de escapar deles. Com a ajuda de supercomputadores, já somos muito bons em prever o curso dos furacões e, muitas vezes, podemos dar um aviso antecipado de tsunamis. Mas há muito mais a aprender.

Enquanto vivermos neste planeta, estaremos à sua mercê. O melhor que podemos fazer é aprender o suficiente para nos mantermos seguros. Estamos por nossa conta. É muito melhor aceitar isso e trabalhar no problema do que imaginar que temos um amigo invisível que pode magicamente nos manter seguros.

O histórico deste calhau fala por si.

Texto de Bill Flavell

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Procurando terra firme...



Muitas pessoas usam uma lógica falha para concluir que o universo deve ter um criador inteligente. (Se ainda achas que essa lógica é válida, sente-te à vontade para explicar o motivo abaixo, mas ela já foi completamente refutada e arrasada, que eu nem vou perder tempo a discutir isso aqui).

Na maioria dos casos, essas mesmas pessoas também acreditam que o criador tem um elenco de amigos sobrenaturais, incluindo vários tipos de anjo, diabo, espíritos, querubins e demónios. Nenhum desses seres é necessário para a criação do universo e eles não são argumentos aconselhados pela lógica falha que leva a um criador inteligente.

O problema é que, uma vez que aceitas um criador sobrenatural, tens que aceitar um reino sobrenatural, e neste reino tudo poderia existir e qualquer coisa poderia acontecer. O sobrenatural também permite aos humanos poderes extraordinários, como serem bruxos, médiuns ou profetas.

Aceitando um reino sobrenatural, perdemos imediatamente e completamente a nossa capacidade de distinguir o factível do absurdo, pois nada é absurdo demais para esse reino e nada pode ser descartado. Estamos assim perdidos. As nossas ferramentas mais importantes, a lógica e as evidências, são impotentes e inúteis.

Mas lembra-te, chegamos aqui através de uma lógica falha. Retira essa lógica defeituosa e não há razão para acreditar num reino sobrenatural. Podemos novamente confiar na lógica e na evidência, e podemos distinguir o factível do absurdo.

Isso nos dá o nosso mundo de volta. Nós redescobrimos assim terra firme para nos apoiarmos.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell