segunda-feira, 28 de setembro de 2020

O crente inteligente não é um mito




Há-os, de facto.
Todavia, trata-se de pessoas com algumas peculiaridades no que se refere à sua capacidade intelectual.
São pessoas com a capacidade inata e/ou adquirida de realizar raciocínios lógicos e intelectualmente complexos.
Muitos desses crentes inteligentes são, inclusivamente, pessoas que pesquisam informação em livros ou na internet.

E conseguem expor argumentos que são, aparentemente, bastante racionais. Mas...

A capacidade de realizar raciocínios lógicos e intelectualmente complexos faz-se acompanhar da capacidade de suspender esses raciocínios para uma área particular, aceitando que existe uma circunstância em que a racionalidade e a lógica podem ser ignoradas por completo.
Concedem a si próprios a possibilidade de estabelecer um critério de excepção quando se trata da sua crença.
No que respeita à sua crença, consideram válido que se suspenda, flexione ou até que se inverta a lógica.
E as pesquisas que fazem, em livros e na internet, são alvo de filtragem criteriosa para poderem fazer "cherry picking" das partes que lhes interessam para tentar justificar, de forma pseudo-racional, a sua crença.
Se não conseguirem dissecar partes aproveitáveis para defender a sua crença, não têm pejo nenhum em interpretar tendenciosamente ou mesmo distorcer a informação a seu favor.
E, no que concerne à apresentação de argumentos, nunca apresentam argumentos seus. Afinal, são inteligentes mas só até certo ponto. Limitam-se a apresentar argumentos arcaicos e requentados que já foram refutados inúmeras vezes.
Quando são refutados de novo, entram em modo negacionista e tentam apresentar desculpas pontuais para remendar o argumento.
É, normalmente, nesta altura em que começam a meter os pés pelas mãos porque não conseguem defender aquilo que foi inventado por outros e cuja estrutura intelectualmente desonesta já foi desmontada várias vezes.

Por fim, os crentes inteligentes são particularmente perigosos para a humanidade porque são figuras de respeito perante os outros crentes menos inteligentes que os admiram e consideram que, pelo facto de eles aparentarem ser inteligentes, servem para justificar a validade da crença de ambos.

Portanto, em resumo, há crentes inteligentes.
E são minimamente inteligentes para tentarem racionalizar a sua crença.
Não não o suficiente para conseguirem sustentar a tentativa de racionalização da sua crença.
E, definitivamente, não suficientemente inteligentes para perceberem que acreditam numa mentira.

Texto de Rui Batista

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