domingo, 9 de outubro de 2016

Era uma vez uma cidade...




 Era uma vez num país muito distante que se situava num deserto quentíssimo, país esse que nem se sabia onde se situava num mapa mundi.
Nesse país, o rei de que se dizia não ter idade, também se dizia que tinha muitos e variados conhecimentos em vários ramos das filosofias e ciências, e que decidiu construir uma imensa cidade.

Esse rei desenhou, projetou e construiu as estradas, ruas e avenidas, parques e jardins, estabelecimentos comerciais, químicos e industriais, casas, prédios e arranha-céus.
Nem sempre construiu bem à primeira, nem sempre construiu com o intuito de ser em definitivo. Construía um bairro que depois deitava abaixo para edificar uma central elétrica, para depois depois voltar a deitar abaixo e apenas tornar tudo num enorme aterro.

A cidade foi crescendo, crescendo sem parar, enorme, com cada vez mais e mais bairros, milhares e milhares deles, milhões de quarteirões, cada quarteirão gigante era constituído por centenas de casas e prédios de todos os tamanhos. A maior parte dos prédios tinha vários dezenas de pisos abaixo do solo, e muitos mais acima dele. Dezenas, centenas de andares, perfurando e rasgando as nuvens que pela cidade deslizavam.

Mas havia algo de estranho na cidade. Não tinha gente alguma em lado algum. Ninguém a habitava. Sempre assim foi, completamente vazia. Uma cidade imensurável sendo construída continuamente durante tantos anos que já ninguém sabe quantos são. Uma cidade completamente idealizada para pessoas que afinal, nunca as teve.

Talvez nunca tivesse ninguém porque devido ao local onde a cidade foi criada, é tão quente, mas tão quente e seco, que qualquer pessoa que atravesse uma rua, morreria imediatamente tal o calor que se faz sentir em todo o lado da cidade.

Após muitos anos de construções, mesmo muitos e ainda em construção acelerada, o rei decidiu que num certo bairro perdido na cidade, num determinado quarteirão, numa pequena casa limítrofe das centenas que por lá estão, num pequeno quarto dessa casa, colocou uns macaquinhos brancos.

Esses m
acaquinhos não eram macacos comuns, eram espertos e aprendiam. Tão espertos que o rei ensinou-lhes algumas coisas, deu-lhes ordens. As ordens eram poucas e básicas: deveriam prestar culto ao rei e a mais ninguém; a um dia da semana, esses macaquinhos estavam proibidos de fazer seja o que for e apenas poderiam adorar o rei; ou proibir os pequenos macacos de cobiçar as macacas dos outros macacos.

Os 
macaquinhos por lá ficaram nesse pequeno quarto dessa casa daquele bairro, foram se multiplicando, fazendo pela sua vidinha, naquela incomensurável cidade deserta.


Os leitores que aqui chegaram perguntar-se-ão qual o sentido deste conto, e faz sentido fazer essa pergunta. Porque o conto anda à volta duma cidade estupidamente gigante que apenas alberga uns macaquinhos
 espertos.
E isso não faz sentido.
Não faz mesmo sentido algum. É estúpido.

Ahh, a cidade tem nome. E o seu nome é Universo.
E agora pergunto aos leitores:

Criar uma cidade brutalmente enorme apenas para uns macaquinhos adorarem o rei, faz sentido?
Criar um Universo estupidamente enorme apenas para uns humanos adorem um deus, faz sentido?


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