sexta-feira, 30 de março de 2018

Os nossos parentes mais próximos



Nós somos Homo Sapiens
Nós somos os membros mais recentes, e só os sobreviventes, do género taxonómico Homo que, por sua vez, é um membro da família taxonómica Hominidae - os Grandes Macacos. Eu me referirei a nós como humanos modernos.

Nesta parte, eu não tento defender a evolução humana ou revisar as evidências disponíveis para todos nós. Ao invés, eu desenharei esboços de alguns dos nossos parentes mais próximos para colocar a nossa espécie num contexto ao longo de dois milhões e meio de anos. O caminho evolutivo tomado pela família humana não é completamente aceite por todos os paleontólogos e biólogos, mas a maioria concorda com o que eu vou escrever aqui e concorda que isto é, em linhas gerais, muito provavelmente como tudo isto aconteceu. 

Uma coisa que eu acho que todos concordam, é que há muito que ainda não sabemos, e certamente terá sido mais complexo do que eu sugiro aqui. Completar a árvore genealógica da nossa espécie é um trabalho que está em andamento. Fizemos progressos substanciais nos últimos 50 anos impulsionados por novas descobertas de fósseis, ferramentas, sepulturas, arte, locais de culinária e assim por diante. E nós desenvolvemos novas maneiras de entender esses achados, tais como técnicas de datação vastamente melhoradas, a capacidade de sequenciar nosso ADN e o ADN do nosso parente extinto mais próximo (Homo neanderthalensis), técnicas de raio-x que nos permitem ver dentro de fósseis e até mesmo estimar a taxa de crescimento individuais de vida e técnicas de análise química que nos ajudam a descrever o ambiente em que um indivíduo viveu tal como a sua dieta.

Na nossa árvore genealógica, os nossos pais eram os Homo Heidelbergensis, os nossos avós eram Homo Erectus e os nossos bisavós eram os Homo Habilis. Nós nunca conhecemos os nossos bisavós, eles morreram antes de nascermos, mas nós compartilhámos o planeta com os nossos pais e avós até que eles falecessem.

Não posso falar sobre nossa grande família sem mencionar os nossos primos próximos, os Homo Neanderthalensis. Nós vivemos com eles como vizinhos por 30 mil anos ou mais. Aprendemos com eles e eles aprenderam conosco, em algumas longas noites de verão tivemos até mesmo breves negócios com eles. Infelizmente, nem sempre fomos gentis com eles e agora já eles se foram. 
Eu sinto falta deles. Eu gostaria que eles ainda estivessem conosco. .

HOMO HABILIS (nossos bisavós)
Viveram cerca 2,4 milhões até 1,4 milhões de anos atrás, na África Oriental e Austral. O H. habilis era filho duma espécie de australopiteco, possivelmente o Australopithecus Afarensis, mas adquiriu adaptações para andar ereto e várias outras características que se assemelham a humanos modernos, como uma testa mais vertical, pequenas cristas nas sobrancelhas, face e dentes menores e uma protuberância da mandíbula menos saliente. Além disso, a sua capacidade cerebral aumentou em quase 50%, para uma média de 680 centímetros cúbicos. Com base nessas e em outras características, o H. habilis é classificado como o membro mais antigo do nosso género Homo.
Apesar dessas adaptações, o H. habilis manteve a anatomia do braço e da mão que teria permitido que fosse um alpinista proficiente. É provável que os nossos bisavós tenham utilizado o solo e as árvores para ganhar a vida. H. habilis era um produtor prolífico de ferramentas de pedra afiada para cortar e raspar. Muitos paleontólogos os consideram os primeiros fabricantes de tais ferramentas. H. habilis compartilhou o seu mundo com várias espécies australopitecas e com algumas espécies de Homo, como o Homo erectus e Homo rudolfensis.

HOMO ERECTUS (nossos avós)
Viveram cerca 1,9 milhões a 143 mil anos atrás, tornando-os a mais longa espécie sobrevivente do Homo (eles sobreviveram quase 10 vezes mais do que os humanos modernos até hoje). Eles espalharam-se pela maior parte da África e pelo leste da Ásia. Há evidências anatómicas claras de que o H. erectus andou ereto e era menos proficiente em subir as árvores do que o H. habilis. O H. erectus tinha um cérebro maior que o H. habilis (média de 930 centímetros cúbicos) e fez avanços importantes na fabricação de ferramentas de pedra. Há evidências de que o H. erectus cuidou de indivíduos idosos e fracos e dominou o uso do fogo. Na África Oriental, o H. erectus co-existiu com várias espécies humanas primitivas, incluindo Homo Rudolfensis, Homo Habilis e Paranthropus Boisei. 
No final de sua existência, o H. erectus coexistiu com o Homo Sapiens. 
Seu tetra, tetra, tetra .... tetravô pode ter conhecido um!

HOMO HEIDELBERGENIS (nossos pais)
Viveram cerca 700.000 a 200.000 anos atrás. Eles se espalharam do leste e sul da África para a Europa e a Ásia. H. heidelbergensis tinha um cérebro maior que o H. erectus (média cerca de 1.206 centímetros cúbicos), que é quase tão grande quanto os dos humanos modernos. Eles usaram ferramentas de pedra semelhantes ao H. erectus, mas introduziram a lança como uma arma. Eles caçaram grandes animais e foram as primeiras espécies conhecidas a construir os seus próprios abrigos a partir de madeira e pedra. Eles cozinhavam comida e tinham uma altura similar aos humanos modernos. 
Há algumas evidências de que H. heidelbergensis praticava sacrifícios humanos que podem ser evidências de religiões antigas. Há evidências de que alguns H. heidelbergensis migraram da África, há cerca de 400 mil anos, e espalharam-se para a Europa e a Ásia. Muitos paleontologistas consideram que os Denisovans (na Ásia) e o Homo Neanderthalensis (na Europa), evoluíram a partir destes H. heidelbergensis migrados. Os humanos modernos evoluíram do H. heidelbergensis que permaneceu na África.

HOMO NEANDERTHALENSIS (nossos primos)
Viveu de 200.000 a 30.000 anos atrás (a primeira data ainda é controversa devido às semelhanças entre H. neanderthalensis e crânios muito mais antigos encontrados no sul da Europa). Eles se espalharam por toda a Europa e para o sudoeste e a Ásia central.
H. neanderthalensis tinha um cérebro ligeiramente maior que os humanos modernos (média de 1.450 centímetros cúbicos). Eles fizeram pinturas rupestres e obras de arte esculpidas. Eles tinham o gene FOXP2 que, juntamente com outras características do cérebro, sugere fortemente que eles tinham uma forma de linguagem. Eles eram caçadores de grandes animais e cozinhavam legumes e carne. Há evidências de que eles usavam roupas, faziam abrigos e enterravam seus mortos (e às vezes faziam ornamentos simbólicos para os enterrar com eles). 
Alguns de nós menosprezamos o H. neanderthalensis e os tratamos com desdém, mas não devemos. Os H. neanderthalensis eram inteligentes e tinham uma cultura complexa. Eles podem ter sido tão espertos quanto os humanos modernos, mas não podemos ter a certeza. Nós sabemos que eles sobreviveram a alguns dos climas mais duros pelos quais humanos viveram, como a última Era Glaciar. Nós não sabemos ainda por que os neandertais foram extintos, existem várias hipóteses. Uma hipótese sugere que eles ficaram extintos porque não usaram a divisão de trabalho que os humanos modernos desenvolveram. Nos grupos humanos modernos, os machos caçavam presas perigosas e as fêmeas cuidavam das crianças. Mas homens e mulheres neandertais caçavam juntos e as mulheres foram mortas. Uma pequena sociedade pode se dar ao luxo de perder alguns dos seus homens, mas não pode se dar ao luxo de perder mulheres em idade reprodutiva, especialmente quando os tempos são difíceis. 
Às vezes a tua cultura pode te matar.

HOMO SAPIENS
Os humanos modernos apareceram pela primeira vez na África Oriental há cerca de 200 mil anos e provavelmente evoluíram do Homo Heidelbergensis. Nós somos os sobreviventes e mudámos o planeta para melhor ou para o pior. 
Claro, não tinha que ser assim. E se nos faltasse a divisão do trabalho na caça enquanto que os nossos primos de H. neanderthalensis a tivessem inventado? Talvez, eu estivesse escrevendo este artigo, não como um Homo Sapiens, mas como um Homo Neanderthalensis? Talvez um Homo Neanderthalensis pudesse ter sido o primeiro a andar na Lua? Nós não podemos saber. Tudo o que podemos dizer é que a nossa história na Terra tem sido longa e complicada e o acaso desempenhou o seu papel ao nos entregar a coroa como a única espécie sobrevivente do Homo. 

Vamos fazer bom uso disso.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

quinta-feira, 29 de março de 2018

Ora, é só mais uma teoria...



Você já deve ter ouvido esse tipo de colocação vinda de crentes. A Evolução? Há, é só uma teoria. A Relatividade? É apenas uma teoria. O Big Bang? Trata-se de uma teoria, só isso. E assim por diante.

Certa vez discutindo isso com um crente me ocorreu perguntar o seguinte: Uma vez que uma teoria for COMPROVADA ela seria “promovida” ao quê, exatamente? Não obtive resposta.

Mas a resposta existe e é bem simples. Seria uma REVELAÇÃO. De preferência uma passagem da Bíblia tirada covenientemente do contexto.

Aí sim, pode ser levada à sério. Uma revelação é uma verdade por si mesma e não admite contestação.

Em resumo: Um conjunto de proposições apresentada por vários gênios das ciências e que foi corroborada pelos mais sofisticados métodos de aferição, é só uma TEORIA.

Já um texto da Idade do Bronze e interpretado por um pastor que estudou teologia por correspondência é uma REVELAÇÃO e, portanto, deve ser considerada verdade. 


segunda-feira, 26 de março de 2018

Entendendo o significado de "Ateísmo"



Etimologicamente, a palavra ateu é formada pelo prefixo a — que denota ausência — e pelo radical grego theós — que significa Deus, divindade ou teísmo; ou seja, a palavra ateu pode significar sem deus ou sem teísmo. Como a imprecisão desse primeiro significado o torna impróprio para representar a noção de descrença ateística, usa-se como base a acepção teísmo, que significa crença na existência de algum tipo de deus ou deuses de natureza pessoal. Nesse caso, chegamos a uma definição mais coerente e clara de indivíduo ateu: aquele que não acredita na existência de qualquer deus ou deuses. Assim, quando queremos uma palavra que representa tal perspectiva, usamos o termo ateu ligado ao sufixo ismo, que, na língua portuguesa, é usado com o significado de doutrina, escola, teoria ou princípio artístico, filosófico, político ou religioso. Deste modo, chegamos a uma definição bastante nítida do que é ateísmo: estado de ausência de crença na existência de qualquer deus ou deuses.

Há várias modalidades de ateísmo, as quais diferem fundamentalmente quanto à atitude do indivíduo para com a ideia de uma divindade. Vale lembrar que tais classificações são meramente didáticas, feitas apenas para delinear as circunstâncias mais comuns em que o ateísmo pode ser encontrado. 
As duas modalidades-tronco são: 1.0) ateísmo implícito; 2.0) ateísmo explícito.

1.0) O ateísmo implícito, como o próprio nome indica, é a variedade de ateísmo que existe tacitamente. Nesse caso, o ateísmo não se fundamenta na rejeição consciente e deliberada da ideia de deus, baseada em conceitos filosóficos e/ou científicos, mas simplesmente existe enquanto um estilo de vida que não leva em consideração a hipótese da existência de algum deus para se guiar. 
O ateísmo implícito pode ser dividido em ateísmo natural e ateísmo prático. 
1.1) O ateísmo natural é o estado de ausência de crença devido à ignorância ou à incapacidade intelectual para posicionar-se ante a noção de existência de uma divindade. Nessa categoria entram todos os indivíduos que nunca tiveram contato com a ideia de um deus; por exemplo, alguma tribo, grupo ou povo que se encontre isolado da civilização e que seja alheio à ideia de um deus. Também se enquadram nessa categoria os indivíduos incapazes de conceber a ideia de um deus, seja isso por imaturidade intelectual ou por deficiências mentais; por exemplo, poderíamos citar crianças de pouca idade; pessoas que sofrem de alguma enfermidade mental incapacitante também se enquadram nessa categoria. 
1.2) O ateísmo prático enquadra aqueles que tiveram contato com a ideia de deus, ou seja, que conhecem as teorias sobre as divindades, mas não tomam qualquer atitude no sentido de negá-la, rejeitá-la ou afirmá-la, permanecendo, deste modo, neutros sobre o assunto. Os integrantes dessa categoria comumente se classificam como agnósticos, isto é, aqueles que julgam impossível saber com certeza se há ou não uma divindade. Sob essa ótica, devido a essa impossibilidade, afirmam que seria inútil qualquer esforço intelectual no sentido de comprovar ou refutar a existência de um deus. Qualquer pessoa que tem conhecimento da existência das religiões e de suas teorias, mas vive sem se preocupar se há ou não algum deus, ou julga impossível sabê-lo com certeza, sem rejeitar ou afirmar explicitamente a ideia de deus, é classificada como pertencente ao ateísmo prático.

2.0) O ateísmo explícito é a rejeição consciente da ideia de deus. A causa dessa rejeição frequentemente é fruto de uma deliberação filosófica; contudo, não é possível fazer qualquer espécie de generalização quanto à causa específica da descrença, pois cada pessoa julga individualmente quais razões são válidas ou inválidas para corroborar ou refutar a ideia da existência de um deus. 
O ateísmo explícito pode ser dividido em duas outras categorias. 
2.1) O ateísmo negativo ou cético é a descrença na existência de deus(es) devido à ausência de evidências em seu favor. Essa variedade também pode ser encontrada sob a denominação de posição cética padrão, pois reflete um dos axiomas mais fundamentais do pensamento cético, que é: não devemos aceitar uma proposição como verdadeira se não tivermos motivos para fazê-lo; ou, em sua versão lacônica: sem evidência, sem crença. O ateu dessa categoria limita-se a encontrar motivos para justificar sua rejeição da ideia de deus, por vezes esforçando-se em demonstrar por que as supostas provas da existência divina são inválidas, mas sem se preocupar com a negação da possibilidade da existência de um deus. 
2.2) O ateísmo positivo ou crítico é a variedade mais difícil de ser defendida, pois é uma descrença que envolve a negação da possibilidade de existência de um deus. Os ateus dessa categoria tipicamente se intitulam racionalistas e seguem o princípio de que o ataque é a melhor defesa; ou seja, literalmente atacam a ideia de deus, evidenciando as contradições e as incongruências presentes nesse conceito, empenhando-se em demonstrar, através de argumentos racionais, por que a existência de um deus — como definido pelas religiões — é logicamente impossível. 

Texto retirado do livro FUNDAMENTOS DO ATEISMO, de Andre Cancian.

sexta-feira, 23 de março de 2018

Culto aos deuses: Um ato de amor, temor ou corrupção?




Por que precisamos “subornar” os deuses para alcançar o que desejamos?

É possível construir uma sociedade mais justa quando os deuses dessa mesma sociedade precisam de suborno para agirem? Pior ainda: como confiar em um ser que se deixar manipular de acordo com o tipo de oferenda recebida ou invés de agir para acabar com as mazelas desse povo? Há algum tipo de moral, ética ou decência nos deuses, ou eles apenas trabalham para quem pagar mais? Por que apesar de assumirem que deus é universal e ama a todos, por que as pessoas o invocam para propósitos particulares e egocêntricos? Qual o real objetivo de prestar cultos e fazer oferendas a seres completos, eternos, imortais, imateriais e que de nada precisam? Não seria esse tipo de relação, um meio de levar vantagens sobre outras pessoas? Uma forma disfarçada de corrupção? Os deuses realmente precisam de culto, ou estamos apenas tentando corrompe-los?

Muitos de nós temos a falsa impressão de que rotulando pejorativamente as pessoas que não gostamos, temos inveja ou não a compreendemos ainda, estamos tendo o domínio sobre esses indivíduos. Entre ofertar flores e tacar pedras em nossos semelhantes ficamos na maioria das vezes com a segunda opção. Já com os deuses agimos de modo diferente, por que nos foi ensinado que eles tem super poderes e podem nos servir ou nos presentear de alguma forma. Na maioria das vezes aquilo que aborrecemos em nós mesmos costumamos refletir nos outros como forma de distorcer a realidade sobre o que possivelmente somos.

Do mesmo modo, tantos outros acreditam que criando adjetivos surreais ou de honrarias para outra pessoas poderemos manipulá-los ao nosso favor. Pessoas dissimuladas sabem que essa segunda forma, a de se fazer de vítima, de coitadinho, de enaltecer o outro, de inflar seu ego para depois seduzi-lo ou conduzi-lo para algum propósito quase sempre funciona muito bem, ou pelo menos parece funcionar.

Apesar de assumirmos que os deuses nos veem o tempo inteiro e sabem de tudo, incluindo o que havemos de pensar, temos a cada de pau de dobrarmos os joelhos e contarmos mentiras a eles, dizendo ser o que não somos, apontando sempre o outro como causador dos nossos problemas, e já apontando a solução que na maioria das vezes resulta na punição do outro e recompensa nossa. A maiorias das pessoas se tornam mentirosas e hipócritas cada vez que fazem uma prece. Parece ser de modo proposital que as orações comecem com bajulações, como se o enaltecer inicial das atribuições divinas deixassem os deuses mais flexíveis aos nossos pedidos egoístas.

As maiores injustiças que se temos notícias nas relações cotidianas estar sempre relacionadas a casos de alguém que soube atuar como vítima, enquanto se jogava aos pés de outras pessoas fazendo-as acreditarem que estas eram superiores a elas mesmas e podiam dar solução para um problema que nunca existiu. Depois de envolver tantas pessoas em conflitos desnecessários, pessoas assim, deixam transparecer suas reais intenções, demonstrando que ao invés de vítimas, eram elas na verdade as causadoras dos males quais tanto acusavam as outras.

A bajulação é uma arma dos fracos e alimentos dos tolos. O dissimulado faz dela sua chave diária para o sucesso. Entre o que se corrompem e o que se deixa corromper há sempre um pacto silencioso com interesses indecentes de ambas as partes.

Todo caso de corrupção no judiciário, na política, legislativo ou nas corporações que também se tem noticiado, percebemos em todas elas, a nefasta relação de “amizade” entre alguém que deseja “encurtar caminhos” ou se apropriar de algo ilegalmente, e outra pessoa que estar em situação de poder, capaz de conceder aquilo que o outro deseja. A moeda inicial a ser ofertada é sempre o maximizar de atributos existentes, ou a atribuição de qualidades surreais com intuitos sedutores, em outras palavras, a bajulação. Agirão assim até estarem ambos envolvidos numa cumplicidade e culpabilidade sem limites, passando depois disso a eliminar qualquer tipo de prova que possa incriminar os envolvidos, inclusive a aniquilação total de uma das partes desse acordo sinistro. Sem provas, sem crimes! Esse é sempre o lema dos que entram por esse caminho.

Quanto a relação com os deuses, esse seria nosso modelo máster de corrupção qual se temos notícias. Um ritual de culto ocidental, em sua grande maioria não passa de uma forma individual ou massiva do que tem sido relações corruptivas disfarçada santidade barata. Enquanto a forma culto oriental ensinar o homem a domar a si mesmo como sendo a maior de todas as conquistas, o modelo de culto ocidental ensina a tentar dominar os outros, nem que tenha de subornar os deuses para esse propósito.

O modo como os ocidentais se relacionam com o sagrado é sempre voltado para esses dois objetivos: para obter favores dos deuses, ou para se esquivar da ira destes. Quem diz que ama a deus, não sabe nem o que estar dizendo. Retire de sua relação com deus o medo dele castiga-lo e a ganancia em obter favores exclusivos e me diga o que resta. Se realmente sobrar alguma coisa além disso, perceberás que a necessidade de culto é dispensável tanto para o que cultua, quanto para o ser cultuado.

Adorar e ser adorado é uma profunda evidencia de um estado medíocre de ser, principalmente do que se considerando completo se deixar cultuar. Um ser evoluído não vê necessidade de culto para obter o que se deseja do mesmo modo que um ser completo se sentiria enojado com palavras e atos sem atirados em sua direção. Nosso “mundo real” temos a clara demonstração que os maiores abusos cometidos provem sempre daquele que almeja ser idolatrado. O que o idolatra será sempre cumplice de todas as suas ações em troca de migalhas adquiridas ao longo da caminhada.

O modelo de culto ocidental estar sempre voltado em agradar aos deuses para que ele se deixe manipular ao nosso bel prazer ou estamos preocupados em agradá-los para que ele não nos castigue ainda em vida e nem condene nossas almas eternamente. Os modelos de cultos cristãos mais atrativos das últimas décadas tem sido exatamente os que ensinam as pessoas a ofertarem “voluntariamente” dinheiro aos deuses em troca de benefícios, e quanto maior for o valor investido, maior suas chances de ser alcançado por eles.

Como se fosse em um grande consorcio com 7.5 bilhões de pessoas concorrendo, além de animais, insetos e plantas para serem agraciadas por esse mesmo deus, você pode receber sua benção pela ordem aleatória dos sorteios, ou pode “dar um lance” para sua benção chegar antecipada. Caso você morra sem receber o que deseja ainda em vida, eles inventaram um modo “inteligente” de te confortar dizendo que o seu galardão já foi providenciado nos céus já que você não conseguiu ser sorteado aqui na terra. Afinal se deus fizer ele é deus, se não fizer continua sendo deus do mesmo jeito, amem irmãos?

Os membros dessas igrejas que chegam a vender tudo o que tem e depositar na “casa de deus” são justamente aquelas que enaltecem as relações partidaristas, onde você paga uma certa quantia para deus, e pode usá-lo infinitamente como bem entender. Você pode por deus na parede e exigir o que é seu- é o que eles ensinam! Essas pessoas não querem justiça, a paz mundial, o amor entre os povos, equilíbrio interior ou equilíbrio da natureza. Eles são dominados por desejos egoístas e alto destrutivos que só os tornarão pessoas ainda piores do que eram antes de se sujeitarem a tais ritos.

Quanto mais “santos” se tornam, mais medíocres se tornarão! Quanto maior for o seu grau de comunhão com deus, mais perigoso ou perturbado esse indivíduo será! Esse modelo de crença é uma réplica da versão de Aladim e a lâmpada mágica, só que com número ilimitados de desejos.

Diferente da lâmpada de Aladim em que alguém esfregava a lâmpada e o gênio saia sem cobrar nada, pronto a realizar o desejo de quem o despertou, o deus cristão funciona á base de suborno. Ao invés de você esfregar a lâmpada para que ele te atenda, você tem de esfregar suas mãos nos bolsos para lhe dar dinheiro sendo que de nada ele precisa, esfregar os joelhos e a cara no chão implorando que ele ouça seu pedido sendo que ele tudo já sabe mesmo antes de você pensar o que vai pedir, ou esfregar suas genitálias onde um dos seus representantes “ungidos” achar mais conveniente, para que seu pedido seja atendido ainda de forma mais rápida. Há algum modelo de relação mais corrupta do que essa? Literalmente nesses lugares você vale o quanto tem!

Usar de hipocrisia, má fé ou bajulações para conseguir o que se quer é ensinado nos ritos religiosos desde muito cedo em quase todas as religiões mas o cristianismo parece superar outras crenças que segue o mesmo modelo. Diga coisa fabulosas sobre o deus a que você serve ou acredita e certamente ele irá se empolgar e te dar o que você quer, desde algo simples até a morte de seus inimigos. Dizer palavras surreais aos ouvidos desse deus é algo extremamente excitante para ele, como se ele tivesse esquecido quem é e quais suas obrigações com os seus filhos, já que diz ser o pai de todos.

Boa parte dos livros religiosos estão repletos de exemplos desse tipo, onde se você não o adorar os deuses não irão fazer nada por você. Na bíblia há centenas de histórias de pessoas que conseguiram promover carnificinas, promover terror, espalhar o caos, tomar a esposa e patrimônio alheios e ainda pagar de heróis. A receita desse sucesso? Prestaram culto a esse deus e foram “vitoriosos”! O segredo é louvar, adorar e lhe render culto! Entende? Depois insistem em dizer que toda bondade procede dele...

Apesar de a maioria dos religiosos afirmarem categoricamente que seu deus é um ser justo, decente, honrado e de caráter ilibado, na prática diária dos ritos litúrgicos e no estilo de vida de seus admiradores se demonstra outra coisa. Pelo modo como se relacionam com este ser por meio dos ritos litúrgicos, poderíamos chegar à conclusão de que não há uma criatura mais malévola, corrupta, imoral, insensível e sem dignidade alguma como é o caso de certos deuses cultuado. Um deus que apoia quem “paga mais”, quem oferta mais ou quem bajula mais não é digno de confiança algum! Ele pode estar do seu lado ou contra você, só depende de quem fez a maior oferta a ele.

O deus cultuado por judeus, cristãos e mulçumanos por exemplo, “trabalha” pra essas três religiões simultaneamente, para as dezenas ou centenas de ramificações que cada uma dessas religiões tem, e ainda pode inclusive prestar serviço particular para membros de uma mesma igreja quando estes chegam a se ofender entre eles mesmos ou entre outros.

Todos podem usá-lo como arma de defesa ou ataque quantas vezes quiser, como bem entender. O pagamento que ele cobra é louvor, adoração, bajulações e falsidade ideológica de quem contrata seus serviços. Todos eles dizem entre si: “o deus a quem eu sirvo, vai tomar minhas dores e vingar a minha causa”. Mas todos não servem ao mesmo deus? Como isso é possível? Deus vai aniquilar ele mesmo para satisfazer o desejo idiota de um de seus servos? Ou o estão se referindo ao próprio ego como deuses, ou estão assumindo que são capazes de corromperem ao deus que chamam de universal para interesses espúrios e particulares.

Muitos evangélicos (principalmente os pentecostais), quando se sentem ofendidos de alguma forma, diferentemente do que Jesus ensinou, abrem campanhas de jejuns, orações, ou fazem propósitos para que aquele “ofensor” seja prejudicado. Eles invocam o seu deus com mais profundidade do que de costume com o intuito apenas de causar males aquela pessoa que o deixou chateado. As vezes o motivo da ofensa foi apenas o simples fato de alguém se recusar a receber um panfleto informativo em dias de evangelismo do grupo, ou simplesmente dizer que não acredita em deus nenhum. Só isso e nada mais! Quando ouvires de um crente a frase: “vou ter pôr no joelho”, seria o mesmo que ouvir dizer “vou fazer macumba pra você” ou ainda “vou pagar para deus te matar”!

Nesse quesito de se apropriar da ideia de um ser universal para fins particulares, outros ritos religiosos não ficam de fora e fazem coisas semelhantes. Em fins de semana, em encruzilhadas de vários recantos desse imenso Brasil encontramos oferendas de dinheiro, comida, bebida e animais sacrificados a entidades africanas. O intuito? Levar vantagem sobre alguém ou cobrar vingança!

Tomar o conjugue alheio, destruir matrimônios, rogar pragas e desejar toda sorte de males estão entre os principais pedidos feitos a essas divindades por meio dos intermediadores que os representam. Para todo tipo de objetivo há um preço a ser pago, e o que deseja aquela “graça” não mede esforços para ofertar o que a “divindade” deseja.

Como o passar dos anos, os deuses africanos tiveram suas personalidades fundidas a deuses da cultura cristã, e hoje o que difere em certos casos um rito de oferenda de um culto evangélico e um ritual de um culto africano é apenas o local onde esse intento foi realizado. A intenção na maioria dos casos é a mesma.

Nesse mesmo perfil, mulçumanos e judeus se reúnem diariamente em templos diferentes para pedirem por meio de tradições orais ou escritas a aniquilação um dos outros. Os maiores festivais religiosos desses, comemorados por ambas as partes são sempre relembrando situações do passado em que conseguiram causar o maior número de mortes ou sofrimento a “infiéis”. O dano alheio é quase sempre o motivo de celebração e regozijo entre os seguidores do deus de Abraão. A páscoa por exemplo, uma festa judaica de quase 4 mil anos, celebra a destruição de uma civilização inteira por um deus encolerizado que ao invés de usar a diplomacia para resolver conflitos como fazem muitos povos, preferiu mostrar todo o seu furor desnecessário destruindo a tudo e a todos, incluindo bebês inocentes, pessoas indefesas e até animais, plantas, solo e rios. Um deus poderoso ou um ser descontrolado?

Todos esses ritos religiosos que citei, ensinam ainda que de modo indireto que os deuses são seres sem honra, sem caráter, sem amor, corruptíveis manipuláveis, como se fossem matadores de alugueis ou mercenários que trabalham de acordo com o valor negociado, não importa quem vai ser prejudicado ou “abençoado”.

De Caim até os dias de hoje, as pessoas tentam subornas os deuses para que eles fiquem do seu lado, ou simplesmente por que temem morrer caso não o reverencie como eles ordenam. Uma demissão em massa dos deuses criados pela humanidade quem sabe seria o passo mais formidável que poderíamos dar como espécie.

Bajule-os, enalteça-os, engrandeça-os, faça-lhes oferendas de dinheiro, serviços ou produtos e eles irão te “abençoará” mais ainda. Aquilo que somos ensinado a chamar de “amar aos deuses” não passa de falsidade ideológica. Precisamos corromper o ego de alguma divindade ou de seus representantes para sermos desse modo atendidos de alguma maneira. A única maneira possível de realmente cultuar algum tipo de criador seria de certo modo respeitando a criatura, promovendo a equidade entre os povos, combatendo as injustiças e mazelas sociais. Se existe por acaso alguma forma inteligente de prestar culto a um ser superior, esse modelo seria o ideal.

O comportamento de falsidade ideológica que nós é ensinado pelo modo como nos relacionamos com os deuses é refletido em nosso convívio social nos mais diversos pontos. Nas urnas é onde ela mais se reflete. As pessoas costumam votar em um candidato não pelo bem coletivo que esse causará, mas pelo bem particular, pelas promessas de campanha, pelo modo como esse candidato prometera beneficiar tal eleitor, sua família ou seu grupo em particular.

Lembrem-se que para a maioria dos tais, político bom é o que beneficie a determinado individuo ou grupo, não importa quantos males causou a outros. Político ruim será sempre o que trabalha em favor da maioria e de modo aberto por meio de suas palavras e ações afirmam não ter queridinho algum. Um político desse último tipo corre um sério risco de ser morto ou demitido pelo povo, do mesmo modo que as pessoas demitiriam qualquer deus, que publicamente anunciasse que ama a todos por igual, sem exceção e jamais se deixaria ser manipulado para o mal. Se por acaso deus, pessoalmente dissesse: “não sou corruptível, ninguém me compra, ninguém me usa”! No outro dia nem seria mais considerado como deus.

Fomos ensinados que precisamos bajular nossos “superiores”, servimos de tapetes, sofrermos humilhações ou sofrermos todo tipo de abuso para se chegar a determinado lugar. Bajulações, delações, traições, injúrias, falsidade, calúnias e crimes premeditados são os métodos mais comuns para graduação na maioria dos grupos sociais. Nas grandes corporações empresariais e militares, nos sistemas educacionais, no universo da moda, das artes ou da música sempre encontraremos história de abusadores e de pessoas que se deixaram abusar para serem promovidas a algo. Depois repetem os mesmo atos quando ocupam as posições que desejavam. O modo doentio de se relacionar com os deuses, reflete em todas as áreas de nossas vidas. Há sempre pessoas prontas a mistificar, demonizar, endeusar, perseguir, maltratar ou bajular algo ou alguém em troca de favores reais ou místicos.

Isso é um câncer social. Não há como construir relações justas com as pessoas, se desde cedo nos relacionamos de forma corrupta com os deuses. Precisamos decidir se a falsidade ideológica aprendida pelas nossas relações com os deuses ou a diplomacia ensinada por humanos pecadores irá reger nossas ações. O resultado de nossas escolhas definirá nosso modo de vida e o que seremos no futuro. Quem é completo de nada precisa. Nunca esqueçamos disso! Saúde e sanidade a todos.

Texto escrito em 18/2/18

Texto de Antônio F. Bispo, graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

quarta-feira, 21 de março de 2018

O pior argumento do mundo para a existência de deus?



Permite-me oferecer-te um argumento ridículo.

ARGUMENTO 1

P1) O universo existe.
P2) O universo não conseguiu criar-se a si próprio.
P3) Algo extremamente poderoso e fora do universo deve ter feito isso.
Logo,
C1) O Super-Homem existe.

Se duvidas disto, repara que há provas. O Super-Homem é extremamente poderoso e sua história é relatada em mais de 12 000 edições da Action Comics a partir de 1938.

Não é difícil ver que esta lógica é ridícula e é por isso que ninguém a usa. Mas, e que tal a seguinte versão com a mesma lógica?

ARGUMENTO 2

P1) O universo existe.
P2) O universo não conseguiu criar-se a si próprio.
P3) Algo extremamente poderoso e fora do universo deve ter feito isso.
Logo,
C1) Yahweh existe.

Se duvidas disto, repara que há provas. Yahweh é extremamente poderoso e sua história é relatada em 39 livros escritos durante um período de quase 1 000 anos a partir de cerca de 3 500 anos atrás.

Este argumento é igualmente ridículo, mas é usado por milhões de pessoas.

Há vários problemas com este argumento, mas eu quero concentrar-me em apenas um. Ambos os argumentos fazem surgir um personagem assim do nada e afirmam que ele criou o universo. Nada nas premissas deste argumento nos leva ao agente que supostamente se dizia ser o responsável.

As premissas não mostram que o Super-Homem ou Yahweh sequer existem - obviamente, se eles não existirem, eles não poderiam ter criado o universo. Não importa que os autores da bíblia dissessem que o "Senhor" fez isso - eles podem simplesmente ter inventado isso. 
Nós não temos como saber. 
Também não importa que os autores da Action Comics não mencionassem que o Super-Homem fez isso. Eles podem ter omitido isso por razões que não conhecemos.

Isto são argumentos circulares. Eles começam assumindo que existe um agente específico e, em seguida, conectam esse agente à conclusão final. Assim cometeste uma falácia lógica.

O argumento poderia muito bem ser melhorado da seguinte forma:

ARGUMENTO 3

P1) O universo existe.
P2) O universo não conseguiu criar-se a si próprio.
P3) Algo extremamente poderoso e fora do universo deve ter feito isso.
Logo,
C1) Precisamos descobrir o que foi.

Assim está melhor, mas ainda tem umas premissas que não podemos ter a certeza de que são verdadeiras... 

Mas vamos deixar isso por enquanto. O meu melhor conselho é que não deves te aproximar deste argumento - ele fede!


PS.: Por favor, não reclames por eu não ter usado a versão mais forte deste argumento. Eu sei. Simplifiquei-o por brevidade. Eu só queria explicar a circularidade de que as outras versões mais fortes também sofrem.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

Isto não é um teste!




Os cristãos dizem que a vida na Terra é apenas uma prova para ver quem fica apto para o céu. A morte de uma criança é apenas uma prova, um terremoto é um teste. O cancro, defeitos congênitos, tsunamis, vulcões, tornados, malária e o ébola, são todos testes.

Deus tem todo um arsenal de testes para nós e algumas pessoas são testadas várias vezes, mas há outras que nunca são testadas.

O que os cristãos não nos dizem é por que razão, um Deus infinitamente amoroso e omnisciente, precisa de colocar os humanos através de um sofrimento incalculável para encontrar as respostas que ele conhecia de qualquer maneira.

Há uma explicação muito mais simples que não exige apologética, nem ginástica mental nem suspensão de descrença. Nós somos apenas uns seres pequenos e frágeis numa rocha instável e indiferente, rodeada por uma atmosfera caótica que atravessa um universo hostil. Nós evoluímos juntos com uma série de outras formas de vida, muitas das quais podem nos prejudicar.

E é por isso que coisas más nos acontecem. Simples.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

segunda-feira, 19 de março de 2018

O Jesus mítico e impostor



Observando a crítica dos teólogos cristãos, vemos que eles pregam um exclusivismo fanático. Enquanto dizem que os deuses dos povos orientais são míticos, elevam o seu a um patamar inquestionável. Essa perspectiva exclusivista levou alguns estudiosos a considerar o Cristianismo perigoso. Se Jesus é meramente outro deus em meio a muitos outros do mundo antigo, apenas um profeta que esposou as filosofias e morais que estava em voga antes de seu tempo, por que somente ele deve ser considerado verdadeiro em vez de um mito também? E pior, o Cristianismo afirma que ele não era apenas um profeta, mas também o Deus único do Universo.

Em vista do contexto religioso e histórico em que Jesus, o Messias, foi formado, não resta dúvida que ele é o resultado psicológico de um povo vivendo numa era apocalítica. Poucas pessoas questionam se Jesus foi realmente um personagem histórico nascido entre 7 e 4 a.C., em Israel, que ele morreu na cruz e ressuscitou dentre os mortos.

Todavia, as razões para esses eventos levam a uma encruzilhada nas tradições religiosas. Quando se examina o Jesus do qual o Cristianismo fala, percebe-se que ele fica destituído de ambientação histórica. As profecias e o cumprimento delas na vida de Jesus, de forma distinta dos ensinamentos do Budismo e do Hinduísmo, parecem verdades para o homem ocidental. Ainda assim, nos escritos de outras religiões, descobrimos crenças muito parecidas com aquelas apresentadas nos evangelhos canônicos. Algumas tradições afirmam que, nas cordilheiras do Himalaia, a partir dos 12 anos, Jesus recebeu “orientação espiritual” dos lamas tibetanos e retornou a Jerusalém logo depois de completar trinta anos. Ele, depois disso, fez milagres e profecias, mas escapou da crucifixão e retornou à Índia, onde viveu na Caxemira, e seu túmulo está lá até hoje. 

Na literatura hindu, a tradição insiste que Jesus visitou a Índia durante o reinado do rei Shalivahan. De acordo com esses relatos, Jesus disse que ele se chamava Yuz Asaf e passou a ser conhecido como Isa Masih, ou Jesus, o Messias. Encontra-se essa afirmação em escritos que, supostamente datam do ano 115 da nossa era.

Algumas lendas dizem que, depois da morte de Judas na cruz (o verdadeiro crucificado), Jesus foi a Damasco por um período de dois anos, onde ocorreu o encontro com Paulo. Afirma-se que ele pregou para o rei de Nisibis, no sudeste da Turquia. 

Outra perspectiva é que Jesus viajou para o Afeganistão onde fez milagres, enquanto outras lendas afirmam que ele e sua mãe foram para o Paquistão, fundamentando-se no Sura 23:50 do Alcorão onde está escrito que Maria foi enterrada nesse local, no cume de uma montanha. 

Alguns ditos de Jesus estariam em inscrições próximas de Caxemira, na Índia, e houve especulação de que esses ditos pudessem ser “logias” mencionadas no século II por Papias, discípulo de João. Um mito comum é que a história de Jesus, na realidade, é a história recontada de Krishna. Parte dessa crença fundamenta-se na opinião de alguns Pais da Igreja que não consideravam a religião ensinada por Jesus como nova e única. 

O primeiro historiador da igreja, Eusébio de Cesareia, escreveu: “A religião de Jesus Cristo não é nova nem estranha”. E Agostinho de Hipona alega: “Isso, em nossa época, é a religião cristã, não que não fosse conhecida em tempos antigos, mas recebeu esse nome recentemente”. Em acréscimo a isso, de acordo com o Hinduísmo, Krishna, o oitavo avatar ou manifestação do deus Vishnu, possui mais de cem pontos de comparação com a vida de Jesus. 

Mas, se isso for verdade, então a maioria das crenças essenciais cristãs sobre Jesus terá de ser abandonada, se aceitarmos a anterioridade de 900 anos dos fatos sobre Krishna. Em vista destes fatos, parece que o Cristianismo está em uma situação difícil, sendo apenas uma religião fundamentada em traços de outras religiões da Antiguidade. Há um importante contraste, entretanto, entre a religião de Krishna e a Bíblia: a primeira tem uma ênfase panteísta, ao passo que a última afirma haver uma distinção entre Deus e o mundo; a perspectiva do Hinduísmo é filosófica e ética, enquanto a perspectiva cristã pretende ser histórica. 

Para mim, não faz a menor diferença se ele nunca existiu, mas notem que a historicidade de Jesus é essencial para a “salvação eterna” prometida para o cristão, e esse é o ponto psicológico da aceitação do mito cristão. Apesar da enorme “coincidência” ente os ensinamentos de Jesus e Buda (que viveu 500 antes), o último ensinamento da senda óctupla do Budismo é a “concentração correta” - a intensificação do fator mental presente em todo estado de consciência, uma tentativa deliberada para elevar a mente ou a consciência a um nível mais purificado -, mas Jesus nunca ensinou esse tipo de meditação, antes o objetivo dele não era para que lutássemos para alcançar um estado de supraconsciência, mas sim que o conheçamos e o sigamos, numa clara demonstração de persuasão para a dominação. 

O texto bíblico relata-nos que Jesus era o Cordeiro de Deus que veio tirar o pecado do mundo (um plágio do deus Mitra). A segunda vinda de Jesus, minha última consideração, é visto como o juiz vindouro que virá buscar sua igreja para si mesmo na ressurreição e, conforme meu entendimento das Escrituras, quando ele vier estabelecerá o reino prometido a Davi e a Israel. Na primeira parte de sua segunda vinda, ele resgata sua noiva; e, na parte final, ele vem para julgar e reinar sobre a Terra. Como as várias religiões do mundo têm posições contraditórias em relação à natureza de Deus, ao pecado, à salvação e às outras crenças, todas elas (inclusive o Cristianismo) não podem estar corretas sobre o que é verdade. 

A lei básica da Lógica é chamada de a lei da não contradição. Duas proposições opostas uma à outra não podem ser as duas verdadeiras ao mesmo tempo. Não posso tomar algo por verdade, se isso já não for verdade; posso descobrir que algo é ou não verdade e aceitar ou rejeitar essa verdade. Aquilo que aceitamos como verdade sobre a “palavra de deus” exclui todas as outras possibilidades sobre a afirmação da verdade que criamos. 

Quando colocamos várias religiões lado a lado, descobrimos um número excessivo de perspectivas contraditórias, uma em oposição à outra. Não é possível que todas elas sejam verdadeiras, mas Jesus afirmou “que ele era a verdade, o caminho e a vida”, e que ninguém vem ao Pai exceto por intermédio dele. Essa perspectiva é estreita e exclusiva. 

O Cristianismo, conforme tradicionalmente se acreditou por dois mil anos, é perigoso, destrutivo e aviltante. Acreditar que Jesus é o único Salvador do mundo, que ele é Deus em carne e que é necessário crer nele para ter a vida eterna, é um ponto de vista prejudicial. O Cristianismo, no entanto, nunca foi aceito unanimemente e, tampouco, essa abordagem será bem-sucedida no futuro.

O teu deus é real?



Eis algo que todos sabem: os seres humanos adoraram milhares de deuses mas todos eles não podem ser reais, logo a maioria devem ter sido inventados. Mas o deus que tu acreditas será um dos deuses inventados? 

Existe uma maneira simples de descobrir.

Os homens que inventaram os deuses geralmente se questionaram sobre os grandes mistérios do mundo, como de que forma o universo veio a ser o que é, e então eles inventaram histórias fantásticas e mágicas explicando como é que os seus deuses criaram tudo. Essas histórias da Criação são uma boa prova. Se uma história da Criação é contrariada pelo que sabemos sobre a formação do universo, então deve ser sido inventada.

E, se uma história da Criação é inventada, também é o seu personagem principal. Afinal, um deus real dificilmente conseguiria manter as fantásticas e mágicas mentiras sobre como ele criou o universo.

Então, se dizem que o teu deus criou a Terra antes do resto do universo, ou a Terra antes do Sol, ou que criou o universo nalguns dias, ou que criou o universo à apenas alguns milhares de anos atrás, então sabes que estás perante uma história da Criação inventada. O que significa também que o teu Deus foi igualmente inventado.

Não é difícil descobrir, pois não?


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

sábado, 17 de março de 2018

Por que gostamos de nos iludir? (Parte 2)



Num "relacionamento com deus" cada um pode criar para si o cenário que deseja.

Depois de terem suas mentes cauterizadas e totalmente estimuladas pelas fantasias criadas ou auto sugeridas pelos seus líderes, os indivíduos que fazem parte dos agrupamentos religiosos podem cometer os mais diversos males a si mesmos por anos a fio sem nem se dar conta do que estão fazendo. Pior ainda é quando cultivam a ilusão de que perdendo sua a vida aqui por amor a cristo, achá-la-á no paraíso.

Toda irracionalidade auto destrutiva ou autodepreciativa é louvável nesses recintos pois esse é o sinal máximo de que o indivíduo estar sendo guiado por deus ou trabalhando em favor dele. Por isso ofertam dinheiro, tempo precioso, obediência incondicional e em vários casos a própria sexualidade aos seus líderes para “agradarem” ainda mais a deus por estar agradando quem o representa. A ilusão de que ajuntar-se a outras pessoas de mesma linha de pensamento os tornam melhores que todas as demais pessoas no mundo, pode ser quem sabe o fator principal que motiva tais atitudes. Sou melhor que você e isso me conforta! É o que muitos nesses recintos gritariam se pudessem.

Quanto maior for o nível de ilusão sustentada ou produzida por um indivíduo nesses recintos, maior será a áurea de mistério, poder e autoridade envolta nesse mero mortal. A capacidade de criar nos outros cenários mentais paradisíacos, descrições surreais do inferno ou de fazer premonições sobre a vida dos outros, pode fazer com que pessoas fiquem fabulosamente ricas nesses recintos e passem a influenciar inclusive fora dos limites daquele recinto. A capacidade de confabular, iludir, ludibriar e mentir de modo intencional pode ser considerado como um dom de deus nesses lugares. Louco é quem tenta provar o contrário. “Os mistérios de deus é loucura para os homens”! Eles dizem prontamente usando a própria bíblia como defesa.

As igrejas chegam ao clímax, quando entre esses, alguns afirmam publicamente no meio do frenesi coletivo, que estão vendo anjos, demônios, chave de vitória, laço de morte sendo cortado ou qualquer coisa que sirva para inchar ainda mais o ego daquele que desesperadamente busca no mundo das fantasias seu abrigo seguro.

Assim, quando passam a fazer parte dos agrupamentos religiosos, esses indivíduos não percebem que estão sendo explorados por gente igualmente iludidas ou mal intencionadas. Na verdade, eles não consideram exploração se a performance naquele ambiente pelo “Ilusionista” acrescentou algo a mais no mundo das ilusões desses indivíduos. Alguns deles estão nesses recintos esperando uma “benção” há mais de 4 décadas sem desistirem, pois diariamente nas reuniões o líder faz projetar na mente destes, o cenário que eles desejam. Já disse na parte um desse texto, que na maioria dos casos nosso cérebro não distingue o real e o imaginário, só a razão o faz.

Não há nada mais “broxante” nesse modelo de culto religioso, quando em uma pregação um pregador desavisado trás os ouvintes de volta ao mundo real, o mundo onde você é responsável pelos seus atos e não os seres misticamente criados como bode expiatório ou objeto de desejo.

Em nossa sociedade por exemplo, há indivíduos que preferem manter relações “amorosas” com brinquedos sexuais infláveis por esses não serem capazes de corresponder, criando assim a ideia de que eles mesmos estão sempre estar por cima, dominando a situação. Do mesmo modo, muitos se relacionam com o deus cristão por que esse nunca respondeu pessoalmente, pois se pudesse fazê-lo e impor sua vontade diretamente sem o auxílio de terceiros perderia seguidores de imediato. A maioria de nós “gostamos” do outro até o ponto em que o outro estar calado. Quando o outro fala e emite opinião própria passamos a desprezá-lo ou odiá-lo. Deus só é bom para a maioria dos cristãos por nada fala, apenas houve em silencio suas projeções. Se deus falasse não prestava e deixaria de ser deus.

As pessoas consideram como loucas ou pervertidas pessoas que conversam com plantas, seres inanimadas ou “se casam” com brinquedos sexuais infláveis, mas consideram como pessoas de fé e cheias de deus, indivíduos que se trancam em um quarto, conversam com o invisível chorando e implorando por algo que na maioria das vezes eles mesmos poderiam resolver.

Do mesmo modo ninguém considera também como sendo um ato de perversão sexual ou até mesmo uma pretensão de orgias sexual coletiva, quando beatas enclausuradas, cada uma delas dizendo estarem reservando sua sexualidade para casar com jesus assim que deixarem esse corpo. Aqui na terra, para os que seguem tais linhas de raciocínio, ver o próprio corpo nu ou somente pensar em uma parte do corpo nu do outro, é motivo de mais de uma semana de duras penitencias. No céu, todas essas senhoras juntas intentam possuir o corpo de um mesmo homem e isso não tem problema algum nem para elas, nem para quem apoia essa causa. Não há pecado algum nisso.

Do mesmo jeito que muitos apoiam o aborto só se o pai for um homem pobre, o desejo da carne, só é pecado a depender com quem se faz ou quem você deseja. O pecado cristão, além de ser fantasioso pode ser estendido ou reduzido de acordo com as necessidades para manter cada grupo unido ou separado. Tudo é possível de acontecer na mente de um indivíduo onde deus e o diabo compartilham eternamente o mesmo trono, se reversando como mocinho e bandido o tempo inteiro.

Dizem que as pessoas procuram a deus quando vão a igreja, mas isso não é verdade. Se deus fosse “destilado” e apresentado letra-a-letra, ponto-a-ponto como a bíblia o revela de fato, por uma explicação racional e os efeitos dessa crença ´pudessem se exposto sem represália ao longo da história, todos iriam repudiá-lo, aborrecê-lo ou despreza-lo.

Por sorte a maioria dos indivíduos não leem a bíblia e os pouco que a leem não são capazes de assimilarem por si mesmo o seu conteúdo, por que cada congregação cristã já tem os textos específicos para basear sua fé e manter o grupo unido. Por sorte, deus pode adquirir o formato que cada um mentalmente fantasiar. Verdades afastam pessoas das igrejas. Ilusões enchem-nas aos milhares de adeptos. A fé nesses casos é apenas uma capacidade avançada de manter-se iludido, com o ego confortável, enquanto a realidade da vida passa diante de seus olhos.

A exemplo das igrejas neopentecostais, os ouvintes pagam por bugigangas ungidas para ser tornarem supostamente abençoados por deus ao invés de fazerem outro tipo de investimento mais proveitoso como aprender sobre educação financeira e alimentar, para evitar ficarem doentes e “quebradas” a vida inteira. Poderiam também fazer uma faculdade, praticar esportes, fazer um tratamento estético ou qualquer outra coisa que melhorasse sua autoestima, para que deixassem de se sentirem importantes apenas sendo capacho de gente de mentalidade medíocre ou mal intencionada. Os poucos bem intencionados nesses grupos não te oprimem nem te sufocam.

Então essas pessoas pagam para que lhes digam que tem seus corpos possuídos por demônios quando cometem erros, ao invés de assumirem suas próprias falta de caráter. Pagam para que lhes façam acreditar que tem poderes especiais ou “dons do espírito”, e que são melhores que todas outras pessoas do mundo todo, só por que diariamente frequentam determinado grupo e praticam determinados ritos, mas no fundo no fundo sabem que são iguais a todas as outras, e que nas horas difíceis recorrem também aos sistemas jurídicos, médicos e comerciais disponíveis na sociedade como qualquer mortal o faz.

Os que se dizem ou se acham estar acima de todos, na liderança, como intermediadores dos seres mentalmente criados e dos ritos combinados, também gostam de manter a ilusão de que são realmente maiores e melhores que todos os demais, e que de fato tem algum tipo de permissão divinamente concedida para explorar, abusar, manipular ou oprimir a todos que um dia entram por aquelas portas e “aceitaram a jesus”.

Vale notar que o que acontece nos círculos litúrgicos afeta tão profundamente a vida dos integrantes, que antes pessoas autônomas, senhoras de si mesmas, com extraordinária capacidade de resolução de problemas pessoais e coletivos, depois que “aceitam a jesus”, tais pessoas passa a permitir que suas vidas sejam conduzidas por líderes, que em certos casos possuem caráter explicitamente duvidoso, interesseiro e manipulador.

Tanto esses que tinham o controle de suas vidas, quanto os tantos outros que vive de forma desatenta sem planejamento, agora passam a viver constantemente pedindo ou recebendo permissão das lideranças eclesiásticas para todo tipo de procedimento na vida, inclusive para coisas simples do dia a dia como o que comer, o que beber, o que vestir, com quem conversar, o que estudar, e inclusive como e quantas vezes ter relação sexual com o próprio conjugue.

Considero que não haja no mundo uma humilhação tão profunda ou uma falta de juízo tão grande quanto ver uma pessoa de postura ilibada, de caráter integro, que sempre manteve autodisciplina mesmo não estando sendo religioso ou monitorado por outros e agora se deixar conduzir por um sujeito que em certos casos abriu uma igreja justamente para se aproveitar da ingenuidade coletiva, desejando o dinheiro, o serviço, obediência cega, o sexo e a submissão total dos congregados. Não conheço um castigo tão profundo que alguém possa impor a si mesmo. Esse castigo, eles chamam de graça alcançada, favor imerecido, remissão de pecados....

Acredito que entre tantos arrependimentos que os que se libertaram de uma igreja possuem, o maior de todos eles seja o de ter se submetido a gente sem caráter só para não ser perseguido pelo grupo, não ser considerado rebelde ou para parecer “gente boa” diante do grupo. Na maioria dos casos, esse tipo de obediência foi exatamente o que causou o estopim para uma mudança de vida, vendo-a como ela é de fato. Quando alguém para e pensa: eu pagava 10% de tudo que ganhava e ainda prestava reverencia e obediência um cara pior do que eu, preguiçoso, que não gostava de trabalhar, mandão, arrogante, de caráter duvidoso, que me humilhava em público, que se metia em todos os assuntos de minha vida, que assediava sexual ou moralmente minha esposa e filhos e ainda por cima era proibido de me rebelar...PUTA QUE PARIU...que besteira eu fiz na vida! É o que todos os libertos dizem com certeza.

Esse é sem dúvida o pior estágio em que uma criatura racional pode chegar: de se ser voluntariamente submisso a pessoas que veem na venda de indulgencias um negócio altamente lucrativo, trabalhar para que esse tipo de comercio cresça e ainda por cima se submeter cegamente a esse tipo de líder, se deixando ser orientado por esse, insultado em público, perseguido e humilhado toda vez que decide recobrar a sanidade.

Esse é literalmente o estágio em que a evolução de nossa espécie é bloqueada de maneira violenta para depois o sujeito entrar em involução. É vergonhoso, humilhante e ultrajante ver pessoas de bem se deixando conduzir por líderes lascivos, gananciosos, manipuladores, com tendência a todo tipo de luxuria as custas dos fiéis e mesmo assim ainda achar que estão fazendo bem a si mesmo. O pior é que todos que tentam alertá-los dessa falta de sanidade são severamente hostilizados pelos líderes e demais membros do grupo.

Desse modo, quando uma pessoa paga por algum tipo de serviço ungido numa igreja e algo dar errado, não ocorrendo como elas planejaram, há duas “vantagens” nisso: a primeira é que pode-se facilmente dizer que tudo estava nos planos de deus, e algo só acontece quando deus quer! A segunda é que semelhante a uma criança cheia de moedas diante de uma máquina caça níquel ou de bichinhos de pelúcia, dá pra tentar mais uma vez, e outra vez, até as moedas se esgotarem...

As “moedas” dos crentes é a fé, e essa só acaba quando jesus voltar segundo eles mesmos. Como a vinda de jesus também é uma propaganda meramente comercial para atrair público iludido, essa mesma vinda sempre é adiada a cada novo evento, e assim os donos das “casas comerciais” conseguem fidelizar cada vez mais clientes, que usam a fé como se fosse caça-níqueis, tentando a sorte até jesus voltar...



Texto de Antônio F. Bispo, graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Por que gostamos de nos iludir? (Parte 1)



A manutenção de ilusões nos ritos religiosos como "válvula de escape"


Ficamos deslumbrados quando assistimos a um show de mágica bem executado. Mesmo sabendo que tudo aquilo não é real, que todas as encenações são meros truques bem elaborados pelo mágico, ficamos totalmente maravilhados com o que vemos. Gostamos disso e até pagamos para que o efeito das ilusões provocadas nos traga algum tipo de prazer. De certo modo nosso cérebro não é capaz de distinguir o real do não real. Por isso precisamos fazer uso constante de lógica e da razão identificarmos o real do imaginário.

A criação, aceitação ou manutenção de ilusões fazem parte daquilo que somos até certo ponto, até que o encarar da realidade dos fatos deixe de ser um martírio, algo que nos incomoda e passe a ser algo natural ou prazeroso. A ilusões que criamos ou mantemos são confortáveis para a alma, mas de certo modo podem trazer prejuízos ao corpo ou ao convívio em sociedade, servindo de travas, paredes e muros para a evolução conjunta da raça humana.

Líderes políticos e religiosos mal intencionados não conseguiriam ser quem são ou fazer o que fazem se não fosse pelo fato de que boa parte dos indivíduos de uma sociedade preferem viver antagônicos a realidade dos fatos, nutrindo-se diariamente de fantasias prometidas por aqueles que sabem exatamente o que dizer para manter o povo enfeitiçado. Bajular líderes políticos, religiosos e celebridades ou cultuar seres místicos são os meios mais ensináveis e aprendíveis que muitos adotam, achando que vão se dar bem na vida ou ter sucesso com pouco ou nenhum esforço. Ascenda uma vela a um santo de barro ou faça uma oração a um deus imaginário e tudo se resolve! É o que dizem direta ou indiretamente o tempo inteiro.

Muitos de nós desejamos jamais conhecer os “bastidores da vida”, o modo como alguns “truques de mágicas” são realizados por aqueles que os executam. A grande maioria de nós poderá nutrir uma ira descomunal se por acaso alguém de modo intencional vier a revelar como a vida, as sociedades e os sistemas políticos, religiosos, educacionais e militares funcionam realmente. Alguns mudaram de fase e cresceram exatamente quando flagraram seus pais colocando presentes debaixo da arvore natalina naquela noite mágica cultuada por todos. Para outros porém, esse foi o pior dia de suas vidas pois descobriram que o bom velhinho não existe, e por isso desejam que outras ocasiões como essas jamais aconteçam outra vez, por isso “dormem” o tempo inteiro, para que outras ilusões não venham a se desfazer quando você “acorda no meio da noite”. Para tais pessoas é como se a própria vida deixasse de fazer sentido quando descobre os “segredos dos mágicos”, ou seja, o modo como realmente as coisas são orquestradas. Melhor acreditar que deus e o diabo vivem em eterna dualidade te protegendo ou te perseguindo, e que todo bem ou mal que acontece no mundo são frutos dessas batalhas infinitas do que encarar a dura realidade de que para cada ação existe uma reação, e a falta de reação em determinados casos produzem várias outras reações diferentes.

Filósofos e pensadores liberais, tem sido desde os primórdios das primeiras civilizações os maiores “inimigos do estado”, para os que cujo trono ainda subsiste pela ignorância alheia. Um desses filósofos do passado foi convidado a tomar cicuta, um tipo de veneno extraído de uma planta, por ser acusado de “corromper” os jovens com sua forma diferente de ver o mundo. Regimes democráticos quando são derrubados e substituídos por ditaduras, a primeira coisa a ser feito é executar, prender ou censurar filósofos, sociólogos, jornalistas ou qualquer pessoa que de modo escrito ou verbal venha trazer de volta a racionalidade do povo iludido por uma propaganda enganosa. Somos atraídos por um discurso bem feito e um propaganda bem montada. Não é à toa, que os políticos que mais conseguem se manter em seus cargos por muito mais tempo mesmo não valendo um tostão são exatamente os que controlam ou influenciam meios de comunicação massiva.

Outros indivíduos porém, alimentam-se diariamente do prazer de descobrir, pesquisar, argumentar, construir, descontruir ou desapegar se for necessário de conceitos já formados e inculcado na mente das pessoas, fazendo com que os tais venham a agir de modo robótico o tempo inteiro. Um conhecido cantor brasileiro dizia preferir ser uma metamorfose sem rumo, do que ter uma opinião pronta sobre tudo. Muitas poucas pessoas seguem essa linha de raciocínio.

Tais indivíduos não aquietam-se enquanto não conseguem desvendar os mistérios que envolve uma encenação de um bom “ilusionista” e mesmo assim sua vida não deixará de fazer sentido. Uma grande minoria de nós põe cada vez mais sentido a própria vida desvendando os mistérios do mundo. Para outra grande maioria, manter-se iludido é fundamental para que os tais tenham uma vida normal, livre de perturbações.

Um arqueólogo por exemplo, fica sem fôlego de tanta alegria quando encontra traços de uma civilização que antes era considerada como sendo apenas uma lenda, do mesmo modo que um paleontólogo fica a ponto de explodir de emoção quando encontra uma simples ossada de um animal desconhecido ou um fóssil qualquer de milhões de anos atrás, mesmo sabendo que tal descoberta pode fazer abalar toda a estrutura da qual sua pesquisa foi montada ou até mesmo linhas de pensamento qual a própria biologia em si se baseia. Para tais pessoas, não há problema nenhum em recomeçar do zero se for preciso. Essa é a alegria da vida! Descobrir a realidade e refazer constantemente seus conceitos torna a vida de tais pessoas cada vez mais interessante. 

As religiões por sua vez criam mundo fictícios, com personagens e locais que só existem na cabeça de quem os criou, com padrões morais e espirituais inacessíveis, avessos a própria biologia humana e faz com que as pessoas acreditem que tais ilusões sejam reais, sem falar que quase sempre transformam heróis em vilões, vilões em heróis e a grosso modo os “heróis da fé”, são quase sempre pessoas de caráter ou conduta duvidosa, transformados em ungidos e homens de deus por pessoas iguais a eles ou que sofrem da “síndrome do papagaio” e cuja reputação de tais personagens jamais devem ser questionadas pelos membros, mesmo quando suas ações desfizerem do próprio conceito de fé e justiça pregado por eles mesmos.

Tais indivíduos inseridos nesses sistemas religiosos passam a viver a vida baseado apenas em duas preocupações vitais: agradar a deus e fugir do diabo. O mais frustrante para os que vivem assim é notar, que segundo a própria bíblia, deus é um cara muito aborrecido, de personalidade explosiva, mal resolvido, que se irrita com qualquer coisa, e que de fato é impossível prever com exatidão até que ponto podemos estar agradando-o ou desagradando-o, se levarmos em conta os exemplos citados no próprio “livro sagrado” de como ele recompensava seus servos. A uns eles abençoava mesmo sendo mal, trapaceiro e ganancioso. A outros ele mesmo afirma ter matado, mesmo fazendo o que fora exigido que fosse feito ou por que tiveram dúvidas em certos momentos da caminhada de servidão. Provoque desordens sociais e seja sanguinário e seja louvado como foi Davi e Josué. Procure a ordem social coletiva e o bem de todos e seja punido como foi Coré, Datã e Abirão! É muita confusão...

O conceito de bom e mau é tão confuso quanto o próprio conceito de deus o é na maioria das vezes. Com dinheiro, amizades corrompidas e um bom contador de histórias, o vilão vira mocinho rapidinho em qualquer agrupamento que venere esse deus mesopotâmico quando a história for repassada ao público.
Sendo assim, no nível de mentalidade mantida nos agrupamento religiosos, toda vez que não estamos agradando a deus, é por que automaticamente já estamos sendo usados pelo diabo e passível das punições previstas pela bíblia, pela denominação religiosa qual o indivíduo estar inserido e principalmente pelo grau de arrogância, inveja, ganancia ou ignorância do líder que lhe preside.

Deus nessas casas praticamente nada faz, apenas assiste tudo! Deixa apenas que seus representantes deem vasão as suas maldades ou criatividades e recebe o louvor por isso. Há inclusive dezenas de pregações e cânticos entre esses grupos religiosos afirmando que se ele fizer algo ele é deus e se nada fizer continua sendo deus do mesmo jeito! Muito bom ser deus assim! Qualquer um poderia impetrar para si tais atributos e não faria diferença algum e poderia também ser chamado de deus, já que a inercia parece ser o princípio de sua personalidade.

O fato de um fiel não saber ao certo qual a verdadeira vontade desse deus ou como fugir de suas punições ensinadas por esses grupos, já é por si só uma tortura infinita para as almas dos que ainda em vida se lançam em infernos mentais, preocupando-se até a exaustão em servi-lo e não ser enganado pelo mal. Não se iluda: os dois mil anos de história da igreja provam que para ser considerado santo ou pecador depende mais do seu poder financeiro, de sua influência social e seu grau de submissão as lideranças, do que propriamente por suas ações pessoais.

Não queime seus neurônios se culpando por pecados que nunca cometeu ou se punindo a si mesmo com pesadas penitencias e sacrifícios corporais no intuito de ser considerado santo ou “gente boa” pela igreja. Homicidas, prostitutas, ditadores e genocidas conseguem esses títulos bem mais fáceis que você, inclusive podem ter seus nomes inscritos nos círculos de heróis da fé, de santos canonizados, ou serem enterrados no vaticano ou em qualquer terra santa mesmo passando uma vida inteira cometendo coisas que a igreja condena. Seja honesto, ande em retidão e mantenha elevado padrões morais por ser bom para você mesmo, e não na intenção de ser apreciado pelos que dizem ser representantes dos deus. A maioria deles só dirão algo positivo ao seu respeito se de certa forma puder tirar proveito de ti, caso contrário, você não passará de um “filho cão”, “herege”, “pessoa sem deus” e um “condenado ao inferno” se não se submeteres a ele. Seu grau de justiça ou moralidade não significa nada para eles. Seus recursos sim!

Nessas relações de corrupção, não há méritos e nem conquistas e sim negócios! Você o teme, o reverencia, oferece seus recursos, seu corpo ou seu tempo útil para ele fazer uso e eles te chamam de santo, ungido do senhor ou homem de deus. Você impõe limite e respeito nessa relação e tudo muda!

Toda relação com os deuses por sí só já é uma relação de corrupção, pois pessoas comuns desejam levar vantagens sobre os demais por oferecer sacrifícios aos deuses e seus representantes. Os líderes religiosos costumam manter o mesmo critério em suas relações pessoais também. Você vale o que tem a oferecer. A história que se preocupam com sua alma é apenas outra ilusão vendida por eles.

A cereja do bolo dos que vivem nessa vida louca, preocupados em agradar aos deuses consiste em saber que praticamente toda igreja condena ou rejeita o rito de culto alheio, fazendo com que seus fiéis sejam criaturas eternamente confusas, pois vivem a questionar se estão ou não fazendo o certo de modo certo já que outras pessoas fazem diferente e também dizem estar servindo ao mesmo deus, ou tornando tais pessoas arrogantes o bastantes para julgarem a si mesmas escolhidas e destinadas a um paraíso fictício enquanto todas as demais pessoas no mundo receberão o castigo eterno só por terem se juntado a um grupinho de pessoas de mente medíocre e atribulada, que cumprem determinado rito religioso julgando ser esse o mais certo de todos. Esse modelo de crença, quando não torna o indivíduo paranoico o deixa arrogante, ou os dois ao mesmo tempo.

Nos recintos produzido pela cega fé, é proibido evoluir, mudar de fase, avançar ou querer saber além daquilo que a hierarquia de “ungidos” e gurus dizem ser a verdade absoluta e universal. É proibido olhar por trás das cortinas para ver como tudo acontece. Pessoas de vários segmentos religiosos cristãos por exemplo pagam entre 10 a 30% mensalmente de tudo quanto ganham para serem iludidas e permanecerem na ilusão que são melhores que os outros e vão para um lugar melhor ou que serão ricas sem trabalhar e que terão uma boa saúde mesmo tendo uma vida sedentária e sem educação alimentar apropriada.

Todo o conceito de verdade nesses grupos vem “mastigado” pelos líderes e dado aos fiéis como sendo um pão quentinho que desce dos céus. Mais de 1500 anos de história sobre a idades das trevas produzidas no ocidente justamente por aqueles que diziam ser os guia de acesso aos seres de luz não foi o suficiente para fazer com que nossa sociedade adotasse uma outra postura referente aos líderes religiosos que proíbem o uso da razão, da lógica e do bom senso. A submissão cega a tais pessoas ainda é moeda de troca para ascender em alguns níveis sociais.

Pessoas que dependem desses sistemas para se auto afirmarem, se deixam convencer que são miseráveis pecadoras destinadas a perdição e que homens iguais a eles mesmos (ou em certos casos piores ainda), podem intermediar essa redenção com jesus cristo, um tipo de homem-deus fruto da junção de personalidades de deuses de várias crenças diferentes e que por meio de rituais inúteis e linhas de pensamentos que se contradizem o tempo inteiro podem alcançar perdão de pecados que nunca cometeram.

O que essas pessoas mais temem é de conhecer a realidade e de saberem que elas mesmas são responsáveis por seus destinos e não os deuses. Transferir nossas responsabilidades a seres do imaginário coletivo é uma forma que pessoas não evoluídas encontram para não conduzirem a própria vida e não serem responsáveis por suas ações. Assim, se tornam agressivas ou possessivas cada vez que tem os pés molhados na praia, cujas águas levam ao oceano da verdade e do conhecimento. É bem mais fácil dizer a si mesmas “deus estar no controle de minha vida” do que dizer “sou responsável por minhas ações, meu fracasso ou meu sucesso”! 

CONTINUA...

Texto escrito em 28/1/18

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.