domingo, 3 de novembro de 2019

Nem todas crenças são iguais (ou tem igual valor)



Nem todas as crenças têm o mesmo valor. Se todas crenças tivessem igual valor, então a crença que elas não têm, teria o mesmo valor do que a crença que elas têm!

Nem todas crenças são verdadeiras. É verdade que eu comi ovos hoje ao pequeno almoço, mas não é verdade que eu comi frango. Quer eu deseje ter comido frango ou não, não tem qualquer diferença naquilo que é ou não verdade.

Nem todas crenças são úteis no seu valor. Métodos estatísticos, por exemplo, têm insuficiências. Tem seus limites e erros, mas ainda assim nós conseguimos tirar valor prático deles. O mesmo é verdade acerca da maior parte de coisas do campo académico: embora a informação obtida seja valiosa, elas não contém TODA a verdade, ou até somente aquilo que é correcto.

Nem todas crenças tem "sólida fundação evidencial". Crenças que foram testadas por evidências e experimentos são superiores neste aspecto.

Nem todas crenças têm valor na sociedade. A utilidade de uma crença na sociedade pode ser medida pelo como ela confere benefícios a um maior número à custa de uma ou mais possível minoria.

Nem todas as crenças têm valor a nós mesmos. Há crenças erróneas que nós temos acerca de nós mesmos ou acerca de outros, que são potencialmente perigosas à nossa psique e/ou a relações interpessoais.

Há aqueles que crêem nas explicações científicas, pelas várias razões, inclusive algumas das frisadas acima. Mas crer nas explicações científicas e nas religiosas não é a mesma coisa.

A ciência é um processo gradual, sim, é verdade, mas é um poderoso processo que leva observações empíricas sobre o mundo, combina-as com explicações sistemáticas e depois refina ou joga fora tais explicações quando contradizem as evidências. Palpites educados são chamados de “hipóteses”, explicações muito bem fundamentadas são “teorias” e ocasionalmente, algo se torna uma "lei".

A crença ou fé religiosa, por outro lado, é um animal diferente. Ela, por definição, exige ao crente que aceite algo sem uma razão. Nos tempos antigos, a fé começou como uma série de crenças para explicar o mundo natural. Religiões organizadas dão um passo além disso, pois elas defendem um dogma específico como sendo a verdade.

A religião moderna navega um dilema: geralmente, uma crença religiosa é específica o suficiente para que a ciência possa refutá-la (colocando a religião em risco) ou o suficientemente vaga para que seja infalsificável, o que significa que não pode ser desmentida nem sequer hipoteticamente e, portanto, não é "conhecimento" num sentido de valor.
As religiões modernas mais bem sucedidas, devem ser flexíveis o suficiente para manter pessoas educadas, mas estruturadas o suficiente para preencher papéis sociais de valor.

Fundamentalistas religiosos que se recusam a ser flexíveis, continuam a demonizar a ciência e, propositadamente, espalhando ignorância. Isso tem sido e continua a ser uma fonte de tremendo sofrimento humano.

Se a crença religiosa mais moderada é boa ou ruim, e se as religiões moderadas são sustentáveis ​​a longo prazo, é uma questão para outro dia. Mesmo se alguém fosse tomar o ponto de vista optimista, a fé ainda é limitada pelo conhecimento, mas não é uma fonte de conhecimento. Ela não pode gerar previsões testáveis.

Se a fé é boa, é para propósitos muito diferentes da investigação científica. O seu valor não é igual à ciência. 


Adaptado de campustimes.org; ZACHARY TAYLOR: Not All “Beliefs” Are Made Equal
e Quora; Vários: Isn’t the belief that all beliefs have equal value absurd Why

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