O MITRAISMO
“Se o cristianismo tivesse sido detido em seu crescimento por uma doença mortal, o mundo teria sido mitraista.”
Ernest Renan
Ernest Renan
Diante desta afirmativa, o que temos a dizer? Por que será que este nome tão pouco conhecido pelos cristãos atualmente tem sido tão falado por nós? Resolvemos estudar um pouco mais a fundo sobre este nome a fim de compreendermos as origens do Cristianismo.
Como pode o Cristianismo ter sido influenciado pelo Mitraismo?
Primeiramente, quem foi Mitra?
Mitra é o nome de uma divindade que foi adorada originalmente na Índia (desde 1380 A.C.) e na Pérsia, depois na Grécia e em Roma.
O Mitraismo era uma religião da elite pois só podiam participar homens e os seus cultos eram secretos, realizados em templos subterrâneos nos grandes centros urbanos.
Na Pérsia (Irão), Mitra foi adorado antes do surgimento do Zoroastrismo, uma outra religião monoteísta, fundada na antiga Pérsia pelo profeta Zaratustra. Na Pérsia, Mitra era adorado pelos reis Ciro e Artaxerxes.
Mitra era filho de Anahita e de Aúra-Masda.
Anahita é uma espécie de virgem imaculada, mãe de Deus. Quem adorava Anahita, deveria ter auto-controle, renunciar e resistir à sensualidade. Muito parecido com a castidade das freiras e padres no Cristianismo. Esta caracterísitica também encontramos entre os sacerdotes budistas.
Anahita é Maria para os católicos, Semíramis para os babilónios e judeus, Ísis para os
egípcios, entre outros nomes.
O Mitraísmo, como dito acima, foi antecedido na Pérsia pelo Zoroastrismo que influenciou-o grandemente.
Consequentemente podemos dizer que o Zoroastrismo é o pai do Mitraismo e avô do Cristianismo. Por quê?
Ocorre que o exército romano era adepto do Mitraismo, mas Constantino, embora apreciasse e seguisse o Mitraismo, tinha interesse em criar uma religião nacional e não seguir uma religião importada.
Segundo historiadores, o Zoroastrismo influenciou o Judaismo, o Cristianismo e o Islamismo pois prega a crença no paraíso, na ressurreição, no juízo final e na vinda de um messias. Na Babilónia, durante o cativeiro dos judeus, o Zoroastrismo e o Mitraísmo foram assimilados influenciando os judeus cativos ( 597 A.C).
Na Grécia o Mitraismo começou quando Alexandre e seus homens invadiram a Pérsia (330 A.C.). Lá casaram-se e converteram-se. Quando retornaram, trouxeram não só a cultura como a religião persa. O mitraismo na Grécia influenciou bastante a aristocracia. Segundo estudiosos, o Rei Mitrídate VI Eupator, rei do Ponto, era uma encarnação de Mitra e seu nascimento foi anunciado por um cometa, muito parecido com a estrela-guia que aparece em relatos bíblicos do nascimento de Jesus Cristo.
Mitra também era chamado de a luz do mundo, tal qual Jesus Cristo.
Em Roma, Mitra foi adorado como o Deus dos mistérios, daí a explicação dos cultos serem secretos, uma espécie de "Maçonaria". Haviam mais de 40 templos em Roma.
A Extensão do Mitraismo pelo Mundo
No século III, o Mitraismo começou a perder a sua força devido ao surgimento do Cristianismo. Foram encontrados vestígios do Mitraismo no Egito, na Crimeia, no Eufrates, na Espanha, Portugal, na França, Inglaterra, Roménia, Alemanha, Bulgária, Turquia, Arménia, Síria, Israel e outros países.
No final do século III, Mitra era adorado da Escócia à India, chegando até a China onde era chamado de amigo,como era conhecido na Índia. Ele era o protetor dos homens após a morte e era considerado amigo enquanto estavam vivos.
Em Roma, depois de um tempo o Mitraismo tornou-se tão popular que homens de várias classes sociais quiseram participar, passando a ter novos frequentadores: comerciantes, artistas, pessoas do meio jurídico, do governo e das camadas sociais mais baixas também.
Durante 3 séculos, Mitra foi adorado em Roma. Mitra era conhecido como Sol Invictus, ou seja, era vencedor de todas as batalhas. O Sol é o seu olho e nada lhe escapa. Mitra é o Deus da Luz, da Aurora, guardião que socorre as criaturas, omnisciente e vitorioso, um deus guerreiro. A figura de Mitra e seu pai Aúra-Masda se confundem, tal qual na história de Ninrode e Tamuz, Deus-Pai e Deus-Filho.
Mitra foi frequentemente representado por um jovem, montado num touro segurando uma faca usada para degolar o animal. O touro é um símbolo de força e é encontrado em várias culturas, permanecendo até os dias atuais nas touradas na Espanha e México e nos rodeios nos EUA e Brasil.
Como eram os cultos a Mitra?
Os cultos eram secretos, dentro de templos chamados Mithraeum e a liturgia constava de ofícios e orações, distribuição de pão e vinho ( santa ceia?), acompanhada de fórmulas sagradas, danças e manifestações de êxtase (transe?), orações ao nascer do sol, ao meio dia e ao anoitecer.
Quais eram as datas festivas no Mitraismo?
Haviam festas no sétimo mês do ano e em todos os meses eles reservavam uma semana para dedicação a sete planetas, em cada dia se homenageava um. No dia 25 de Dezembro era comemorado o nascimento de Mitra.
Como eram os templos?
O Mithraeum era geralmente um espaço não muito grande, subterrâneo, com o tecto arqueado dando a impressão de abóboda celeste. Um corredor dividia o templo ao meio e de cada lado do corredor, fileiras de bancos de pedra, tal qual nas igrejas cristãs. No fundo havia ou uma pintura ou uma escultura de Mitra, como se fazem nas igrejas católicas com a figura de Cristo. Também haviam outras esculturas ou pinturas em outras partes do templo.
Sempre próximo aos templos havia uma fonte ou curso de água, ou na falta destes, de um poço.
Como na Maçonaria, os adeptos passavam por níveis ou graus. No mitraismo eram só 7 os níveis ou graus. Os rituais de iniciação possuíam algumas semelhanças com a Maçonaria. Os iniciados tinham que ser submetidos a rituais onde caminhavam de olhos vendados, realizavam testes de resistência física e no fim, morriam simbolicamente.
A transição Mitraísmo – Cristianismo
Só após o III século, o Cristianismo passou a ser a religião adotada pelo Império Romano, o que para a sociedade romana era por várias razões inclusive politicamente melhor. O Cristianismo aceitava mulheres em seus cultos, e os seus cultos não eram secretos, sem dizer que Cristo não era só um amigo como Mitra, ele era o salvador do mundo.
Constantino criou a religião Cristã misturando a Torah com elementos do Mitraismo e de outras religiões antigas para que a sociedade pudesse ter uma religião universal, aceitável por várias religiões. A Maçonaria também foi criada com raízes no Mitraismo e tem caminhado de maneira paralela ao Cristianismo, formando as sociedades secretas e fraternidades que sustentam a elite global.
Vale também ressaltar que Constantino não apreciava o fato de que o Mitraismo fosse uma religião persa e a Pérsia era inimiga de Roma. Constantino, como primeiro Imperador Cristão, usou todo o seu poder para impor o Cristianismo aos homens. O Cristianismo adotou grandes porções do ensinamento do Mitraismo para que o exército romano o apoiasse. Com isso conseguiu impor a ideia de que o Cristianismo era a verdadeira religião e que todos deveriam aceitá-la. Porém, só no reinado de Teodósio (375-395) o Cristianismo tornou-se religião de Estado.
As igrejas e basílicas foram construídas em cima de templos mitráicos subterrâneos, impedindo que as pessoas ali entrassem secretamente.
Veja aqui uma lista de “coincidências” entre Mitra e Jesus Cristo:
O Mitraismo não era uma religião que imitava o Cristianismo e sim o contrário. O culto a Mitra existia muito antes do Cristianismo ter sido criado por Roma. Não podemos acreditar no Novo Testamento pois foi escrito para introduzir um ídolo à humanidade. Cristo é um ídolo. Seu nome foi criado a partir de outros deuses como Krishna (deus hindu) e Esus (deus gaulês).
O Mitraismo foi um engano, assim como o Cristianismo. Duas religiões fabricadas para atender necessidades manipuladoras e políticas de líderes religiosos e de governo.
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