Toda a gente sabe que tu não podes provar uma negativa. Ou será que não sabem?
Na verdade, não sabem. Este é, provavelmente, o erro lógico mais repetido do mundo. Vamos tomar uma simples proposição negativa:
"O meu filho não é uma mulher".
Esta é uma negativa, mas é fácil ver como tu podes provar que é verdade. Então tu PODES provar uma negativa. Quando as pessoas repetem essa lógica popular, acho que elas realmente pretendem dizer que tu não podes provar uma negativa existencial. Toma agora esta proposição negativa:
"O monstro do Loch Ness não existe".
Podes provar isso como sendo verdade? Bem, sim. Em princípio podes, embora possa ser muito difícil de o fazer. Por exemplo, poderias esvaziar o Loch Ness e procurá-lo. Se não o encontrares, terás provado como verdadeira, esta negativa existencial.
Então, o que é que as pessoas querem dizer quando dizem que tu não podes provar uma negativa? Bem, elas certamente não estão a falar sobre coisas que já sabemos que existem - tu, definitivamente, não podes provar que algo que existe, não existe! Elas estão a falar sobre coisas que não existem ou coisas que não podemos ter a certeza que possam existir. Tomemos, por exemplo, esta negativa existencial:
"Fadas não existem".
A razão pela qual não pensamos que as fadas existam, é que ninguém jamais conseguiu capturar uma, ou provar que avistou uma. Mas, é claro, isso não significa que ninguém jamais o fará. Os céticos em relação à existência de fadas, também poderão apontar para o fato das fadas terem sido divulgadas pela primeira vez, em ficção vitoriana, mas, novamente, não prova que não possam existir.
Há duas coisas que podemos fazer nesta situação. Primeiro, é perguntar se o conceito de fada é coerente. Se as fadas tiverem características que sejam contraditórias, elas serão logicamente incoerentes. Por exemplo, se se disser que as fadas só compreendem uma linguagem estranha, própria delas e, ainda assim, que podem falar com todos os seres humanos na Terra, poderemos ver isso como uma contradição, pois uma das afirmações não pode ser verdadeira.
Ou podemos perguntar se as fadas são cientificamente coerentes. Terão elas quaisquer características que poderão ser contrariadas por coisas que sabemos com confiança que são verdadeiras? Por exemplo, se as fadas pudessem voar mais rápido do que a velocidade da luz, elas violariam uma lei de física bem estabelecida, que diz que nada que tenha massa pode atingir a velocidade da luz.
Se se demonstrar que as fadas são incoerentes, poderemos concluir com segurança, que elas não existem. Portanto, esta é outra maneira de provar uma negativa existencial.
A segunda coisa que podemos fazer, é usar o raciocínio indutivo. Se se disser que as fadas são visíveis a olho nu, poderemos perguntar quantas fadas existem e quais são os seus hábitos. Desta forma, poderíamos estimar a frequência com que podem ser observadas. Quanto mais frequentemente as esperamos ver, mas sem o conseguir, mais provável se torna que não existam.
O raciocínio indutivo não pode provar que as fadas não existem sem qualquer dúvida, mas pode provar que elas não existem sem qualquer dúvida razoável - um padrão de prova que é suficiente para condenar uma pessoa num tribunal de justiça.
Então, ao afirmares com malícia que alguém não pode provar uma negativa, não é um sinal de perspicácia filosófica, é um sinal de que tu não pensaste muito sobre isso.
Traduzido e adaptado de Bill Flavell
Nota do tradutor: Este texto pretende explicar porque não se podem provar inexistências.
Embora pareça adaptar-se na perfeição a um público leitor
maioritariamente crente, servirá também para os ateus que possam
eventualmente cair na falácia da inversão do ónus da prova, uma
armadilha usualmente montada pelos crentes.
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