Penso que pouca gente se dá ao trabalho de pesquisar um fato simples sobre os debates entre cépticos, agnósticos, ateus e os religiosos. Trata-se do fato de que por mais que o debate se desenvolva, as “provas” da existência de Deus jamais convencem ninguém que já não esteja antes convencido? Por que é que isso ocorre?
Tenho uma teoria para explicar isso. Em geral as “provas da existência de Deus” apresentadas por teólogos acabam sempre por levar a questão para o terreno das abstrações.
É o caso das mais famosas delas, como o “Argumento Ontológico” de Santo Anselmo, as “Cinco Vias” de São Tomas de Aquino, os “Argumentos Cosmológicos” e assim por diante.
Seria interessante desenvolver esse raciocínio para todas elas, mas isso implicaria num estudo muito mais complexo do que eu pretendo. Então vamos tentar resumir a questão a partir de um dos argumentos que constam nas “Cinco Vias” de São Tomás de Aquino.
Na Suma Teológica podemos ler o seguinte:
“Por cinco vias pode-se provar a existência de Deus. A primeira e mais manifesta é a procedente do movimento; pois, é certo e verificado pelos sentidos, que alguns seres são movidos neste mundo. Ora, todo o movido por outro o é. [...] Se, portanto, o motor também se move, é necessário seja movido por outro, e este por outro. Ora, não se pode assim proceder até ao infinito, porque não haveria nenhum primeiro motor e, por consequência, outro qualquer; pois, os motores segundos não movem, senão movidos pelo primeiro, como não move o báculo sem ser movido pela mão. Logo, é necessário chegar a um primeiro motor, de nenhum outro movido, ao qual todos dão o nome de Deus”.
Em geral, quando um argumento como esse é apresentado, há um intenso debate sobre as diferenças entre os conceitos de movimento para Aristóteles e para Newton. Em seguida examina-se longamente a questão da regressão ao infinito, examinam-se as leis da física relativista, da física quântica, do Big-Bang e por aí vai.
Mas parece ficar de lado o ponto mais importante de todos contido no texto: “Logo, é necessário chegar a um primeiro motor, de nenhum outro movido, ao qual todos dão o nome de Deus”.
Ou seja, essa frase deve ser analisada em duas partes, a saber:
1 - “É necessário chegar a um primeiro motor, de nenhum outro movido” e;
2 - “ao qual todos dão o nome de Deus”.
Devemos notar que independentemente da análise de toda a argumentação, que pode ou não avalizar a primeira afirmação, tudo vai depender no final da afirmação 2, ou seja, do “consenso” de que um conceito abstracto como um “primeiro motor, de nenhum outro movido” é o que “todos dão o nome de Deus”.
Em resumo. Não importa se o argumento em si é válido ou não. Só será uma “prova da existência de Deus” caso a pessoa se inclua entre aqueles que a essa abstração “dão o nome de Deus”. Se não for assim, e esse é o caso dos céticos, agnósticos e ateus, basta que dêem a abstração resultante um outro nome, como por exemplo, “Leis Naturais”, “Lei Moral”, ou simplesmente “Nada”.
Esse é o motivo porque nenhuma prova desse tipo convence ninguém que já não esteja convencido de antemão.
Fonte de autor desconhecido
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