quarta-feira, 5 de abril de 2017

Por que as “provas” da existência de Deus não convencem os ateus?



Penso que pouca gente se dá ao trabalho de pesquisar um fato simples sobre os debates entre cépticos, agnósticos, ateus e os religiosos. Trata-se do fato de que por mais que o debate se desenvolva, as “provas” da existência de Deus jamais convencem ninguém que já não esteja antes convencido? Por que é que isso ocorre?

Tenho uma teoria para explicar isso. Em geral as “provas da existência de Deus” apresentadas por teólogos acabam sempre por levar a questão para o terreno das abstrações.

É o caso das mais famosas delas, como o “Argumento Ontológico” de Santo Anselmo, as “Cinco Vias” de São Tomas de Aquino, os “Argumentos Cosmológicos” e assim por diante.

Seria interessante desenvolver esse raciocínio para todas elas, mas isso implicaria num estudo muito mais complexo do que eu pretendo. Então vamos tentar resumir a questão a partir de um dos argumentos que constam nas “Cinco Vias” de São Tomás de Aquino.

Na Suma Teológica podemos ler o seguinte:

“Por cinco vias pode-se provar a existência de Deus. A primeira e mais manifesta é a procedente do movimento; pois, é certo e verificado pelos sentidos, que alguns seres são movidos neste mundo. Ora, todo o movido por outro o é. [...] Se, portanto, o motor também se move, é necessário seja movido por outro, e este por outro. Ora, não se pode assim proceder até ao infinito, porque não haveria nenhum primeiro motor e, por consequência, outro qualquer; pois, os motores segundos não movem, senão movidos pelo primeiro, como não move o báculo sem ser movido pela mão. Logo, é necessário chegar a um primeiro motor, de nenhum outro movido, ao qual todos dão o nome de Deus”.

Em geral, quando um argumento como esse é apresentado, há um intenso debate sobre as diferenças entre os conceitos de movimento para Aristóteles e para Newton. Em seguida examina-se longamente a questão da regressão ao infinito, examinam-se as leis da física relativista, da física quântica, do Big-Bang e por aí vai.

Mas parece ficar de lado o ponto mais importante de todos contido no texto: “Logo, é necessário chegar a um primeiro motor, de nenhum outro movido, ao qual todos dão o nome de Deus”.

Ou seja, essa frase deve ser analisada em duas partes, a saber:

1 - “É necessário chegar a um primeiro motor, de nenhum outro movido” e;

2 - “ao qual todos dão o nome de Deus”.

Devemos notar que independentemente da análise de toda a argumentação, que pode ou não avalizar a primeira afirmação, tudo vai depender no final da afirmação 2, ou seja, do “consenso” de que um conceito abstracto como um “primeiro motor, de nenhum outro movido” é o que “todos dão o nome de Deus”.

Em resumo. Não importa se o argumento em si é válido ou não. Só será uma “prova da existência de Deus” caso a pessoa se inclua entre aqueles que a essa abstração “dão o nome de Deus”. Se não for assim, e esse é o caso dos céticos, agnósticos e ateus, basta que dêem a abstração resultante um outro nome, como por exemplo, “Leis Naturais”, “Lei Moral”, ou simplesmente “Nada”.

Esse é o motivo porque nenhuma prova desse tipo convence ninguém que já não esteja convencido de antemão.



Fonte de autor desconhecido


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