segunda-feira, 15 de maio de 2017

Os escritos de Josefo e a existência de Jesus




De início podemos citar Filón de Alexandria. Vimos quão grande foi seu papel na "FORMAÇÃO DO CRISTIANISMO". Ele escreveu bastante longamente sobre a "Era de Pilatos", e nos cinquenta tratados que nos restam da sua obra, ele não MENCIONA A EXISTÊNCIA DE JESUS, nem mesmo a do CRISTO (É preciso, com efeito, distinguir estes dois nomes que envolvem duas nações distintas).

O Historiador judeu Flávio Josefo, nascido em 38 em Jerusalém, publicou em 93, as Antiguidades Judaicas em que relata minuciosamente acontecimentos que se desenvolveram na Judéia. Ele não menciona Jesus, mas fala de outros messias: do Samaritano, de Judas, o Gaulonita, de Teudas. Em resumo, de homens que, se comparássemos sua vida, suas ações, sua influência, com as de Jesus que os evangelhos relatam, não representaram mais que um papel secundário. Poder-se-ia objetar que, na obra de Flávio Josefo, mais exatamente no Livro XVIII das Antiguidades Judaicas, encontra-se a seguinte passagem:

1ª - Assaltados sem armas por homens bem preparados, muitos (judeus) pereceram na praça. Os outros fugiram feridos. Assim terminou o motim;

2ª E por esse tempo veio Jesus, um homem sábio, se todavia pode-se dizê-lo um homem. Pois ele era o autor de atos maravilhosos, mestre de homens que recebem com alegria a verdade. Atraiu muitos judeus, bem como muitos gregos. Foi o Cristo. Quando, pela denúncia dos que eram os primeiros entre nós, Pilatos o condenou à cruz, os que haviam amado inicialmente não cessaram de fazê-lo, pois ele lhes apareceu, três dias após, ressuscitado novamente. E as profecias haviam predito isto e dez mil outras maravilhas a respeito dele. Hoje ainda não desapareceu a seita dos cristãos, assim chamados depois dele;

3ª- Ao mesmo tempo, outro golpe terrível atingiu os judeus.


Leiamos esta passagem com cuidado e concluiremos que é apócrifa, pois foi acrescentada e atribuída a Josefo por um FALSÁRIO, TÃO INGÉNUO QUANTO PIEDOSO. Pois, se o historiador judeu pudesse ter redigido a segunda parte, ele teria sido cristão, mas ele não era. 
Como escreveu Voltaire:
"Como? Este judeu obstinado teria dito que Jesus era cristo? Que absurdo fazer Josefo falar como cristão! "

Houve uma interpolação nesse trecho, é a opinião da maior parte dos autores, de todos os que inauguraram a crítica moderna dos textos. É, entre outras, a opinião do Padre Lagrange (da Sociedade de Jesus) e de Monsenhor Battifol, opinião que aceitaremos sem maiores preocupações, uma vez que o hábito não é formado logo na primeira vez. Esta interpolação aparece nitidamente a cortar o relato: a 3ª parte segue naturalmente 1ª parte. 
Se a primeira parte da citação que demos se refere à repressão do motim de Jerusalém, a terceira trata da deportação, para Sardenha, de 4.000 judeus romanos. Notemos, enfim, que esta passagem não se ENCONTRA NO TEXTO DE JOSEFO, atualmente conhecido como o mais antigo, aquele de que dispunha Orígenes - este autor nos relata mesmo que Josefo não acreditava que Jesus fosse o Messias (C. Celso, I, 47) - e que só encontrada depois de Euzébio (320), que menciona na sua História Eclesiástica. 
Esta interpolação grosseira prova quanto pareceu necessário aos Padres da Igreja, aos cristãos, ter sobre a vida de Jesus testemunhos estranhos ao Novo Testamento. 

Na história dos Judeus, Josefo fala ainda, de um Jesus filho de Ananus, que perturbou a Festa dos Tabernáculos, que foi preso e flagelado e depois libertado como louco, foi morto pelos romanos aquando do sítio de Jerusalém. A interpolação relativa a Jesus, filho de José e de Maria, torna-se perceptível ainda por causa desta passagem.

Enfim, sabemos graças a Fotios, Patriarca de Constantinopla no século IX, que outro historiador judeu de nome Justo de Tiberíade, nascido na Galileia e contemporâneo de Josefo, seu rival, autor de Guerra dos Judeus e da Crónica dos reis Judeus, hoje perdidas, não fazia nenhuma menção da vinda do Cristo, dos acontecimentos de sua vida, dos seus milagres e da sua Paixão.

A Mischna, as obras ditas "tanaístas", que também fazem parte da literatura judaica de então, nada falam a respeito.


Texto de Rodrigo Salim

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