sexta-feira, 6 de abril de 2018

E o que deus tem a ver com isso?




Um deus poderoso, cheio de qualidades fantásticas, mas que não se responsabiliza pelo mau que cometem usando seu nome!

No mundo imperfeito de homens “pecadores” as sociedades se organizam e criam leis para que haja harmonia entre as pessoas e a convivência pacifica entre indivíduos que compartilham do mesmo ambiente possa ser cada vez mais possível. Um dos recursos mais utilizados é a punição de indivíduos que infringem essas mesmas regras de convivência causando prejuízos a outras pessoas.

Responsabilizar outros por atos que cometemos faz com que a anarquia venha imperar e voltemos a viver na lei da selva, onde o mais forte sempre leva a vantagem sobre os demais. As injustiças permitidas ou cometidas por aqueles que estão no poder tem sido as principais causas de revoltas em todos os movimentos sociais que se tem registro. De certa forma, esses tipos de abusos tem servido de alavanca para que um sistema definhe e uma nova era venha a surgir na maioria dos casos.

Muitos também dos que hoje conseguiram se libertar dos “caminhos do senhor”, só o fizeram depois de uma guinada para cima que deu em suas vidas, após constatarem na furada que se meteram, enquanto serviam de tapetes para outros limpar os pés ou de banquinho para gente mal intencionada sentar. Foi preciso ser feito de trouxa por anos a fio para que a “fixa viesse cair”, tomar vergonha na cara e mudar para melhor o rumo de suas vidas.

Concordamos que quanto maior for a representatividade social de uma pessoa, mais ilibado terá de ser o seu nível de conduta e mais cobrado este será do povo que o segue e que a permissividade cometida ou praticada por este no que diz respeito ao afrouxamento de leis desencadeia uma série de eventos colaterais catastrófico podendo inclusive destronar o maior mandatário de um povo.

O caos que vem de baixo é bem mais fácil de conter do que o caos que vem de cima, daqueles que criam ou executam as leis. Um fora da lei pobre, iletrado, sem amigos poderosos e sem dinheiro para se defender será sempre um “bandido” que pode ser silenciado pela força física ou coação pessoal. Já um fora da lei culto, com amigos também cultos e poderosos ou com muito dinheiro para se defender será sempre um “doutor” por maior que seja as irregularidades que esse venha cometer e por maior que seja os efeitos colaterais dessas irregularidades cometidas. Essa realidade passa despercebida por muitos de nós, mas o atentar para esse detalhe, faz com que as peças mude no “tabuleiro da vida”.

Então nos perguntamos: a quem devemos recorrer quando as estruturas sociais começam a apodrecer a partir de cima? Nem sempre é fácil encontrar uma solução imediata que seja sensata e venha resolver por completo esse tipo de problema, considerando que a maioria de nós ainda não absorvemos o conceito de sociedade, e estamos preocupados apenas em levar vantagens sobre os outros. Para defendermos nossos conceitos ou projetos egocêntricos cometemos ou permitimos que sejam cometidos os mais diversos tipos de injustiças. Pensamos sempre que desde que “eu ou o meu grupo” estejamos bem, o resto do mundo que se dane! É mais ou menos isso que expressamos ainda que de forma silenciosa.

Esse comportamento é fortemente expressado pelo modo como nos relacionamos com os deuses. Confiando que deus irá nos abençoar se o defendermos a todo o custo, mesmo quando o conceito de divindade estar totalmente equivocado, os fiéis irão continuar defendendo-o, não por que o ame realmente (até por que é impossível expressar amor nesse tipo de relação), mas o fazem pela corrupção, pelo medo, pela ganancia e pela soberba.

Adotam para si divindades com conceitos e qualidades oriundos de deuses de várias épocas e culturas diferentes, para torná-lo ainda mais poderoso e depois isenta-o de qualquer responsabilidade que era de sua competência, atribuindo sempre ao seu arqui-inimigo todas as mazelas do mundo. Esse deus sempre servirá de escudo ou como arma de ataque, só depende a quem ele seja dirigido.

Um deus com vários poderes, várias facetas e várias qualidades, menos a principal delas: a responsabilidade! Isso mesmo! Deuses obsoletos, irresponsáveis, insensíveis, mudos, surdos, cegos e aleijados, por mais que tentem provar o contrário, tudo que dizem a respeito deles não passa de um misto de medo, ganancia, ignorância e irracionalidade.

Eles não se responsabilizam por nada de ruim que seus fiéis venham cometer em seu nome. O deus cristão por exemplo, tudo que de bom acontece no mundo é atribuído a esse deus e o que de mal acontece atribui-se ao diabo, sendo que a esse mesmo deus foi atribuído todo o poder, honra, domínio e glória e que nada acontece sem o seu consentimento.

Como pode isso então? Como pode o mal ser atribuído ao oposto de deus, sendo que tudo já foi planejado pelo próprio deus? A confusão reina numa hora dessas, e enterrar o intelecto é o que todos foram ensinados a fazer com receio de blasfemar contra o espirito santo. Jamais pense sobre deus e seus atributos, você pode estar pecando...Desde o Éden que o conhecimento é o maior inimigo de deus, e não o diabo!

Desde o momento em que uma pessoa passa a fazer parte de um grupo religioso, fica terminantemente proibido comentar sobre qualquer tipo de injustiças vistas ou praticadas em seu grupo, principalmente se essas for cometidas pelo líder maior da organização. Todos os que fazem parte desses agrupamentos sabem que pior do que sofrer abusos e humilhações nessas instituições é ser proibido de comentar sobre estes ou de apontar seus abusadores para outras pessoas de dentro ou fora do grupo. Punições severas estão reservadas a qualquer um que ouse delatar comportamentos extravagantes, maliciosos, indecorosos ou pervertidos dos “homens de deus”, de seus comparsas ou de qualquer um que tenha um dízimo alto ou faça parte da “cúpula sagrada”.

“Entregue nas mão de deus”! “Deus estar vendo tudo”! “Deus vai agir”! “Não faça nada”... 
Pessoas passam anos a fio sofrendo, se martirizando e esperando uma providencia que nunca virá, uma justiça divina que nunca será possível, e uma reparação de erro que só aconteceria se for na base da chantagem. No máximo eles te promovem a alguma coisa na igreja só para te silenciar e inflar seu ego, ou mudam aquele que te causou prejuízo para outra localidade para cometer os mesmos delitos lá também. O manicômio seria o lugar mais provável para aqueles que esperam a “justiça de deus”, por abusos cometidos em sua casa ou que tenham sido praticados usando o seu nome.

Agora a pior, a mais estúpida, a mais irritante, a mais idiota e irracional frase que um pessoa religiosa costuma dizer para defender a inutilidade da onipotência do seu deus sob os abusos cometidos dentro de uma organização religiosa é esta: “e o que deus tem a ver com isso?” Essa frase é como se fosse o tiro de misericórdia dado por aquele que te torturou, quebrou todos os seus ossos, derramou todo o seu sangue, e antes que você dê o último suspiro ele vem te “ajudar” a morrer mais rápido.

Há? Como? O que? ...Em que mundo você estar? Como assim, o que deus tem a ver com isso? Claro que deus tem tudo a ver com isso! Esqueceu que quando convidam alguém para vir “aceitar a jesus” a primeira coisa que dizem é que a partir daquele dia é jesus quem vai guiar, proteger e guardar aquela pessoa até o dia de sua vinda? Esqueceu que foi confiando nesse tipo de conversa fiada que muitas pessoas foram iludidas a permanecerem ali até então? Esqueceu que dizem que é esse mesmo deus quem vai tomar conta desses indivíduos e de toda sua família? Como agora perguntar, o que deus tem a ver com isso quando misérias acontecem a todo instante bem embaixo do nariz dele?

Tudo que acontece com as pessoas dentro de uma das casas de deus é de responsabilidade de deus, ora! Se ele existe e tem todos os poderes surreais a ele atribuídos, ele tem sim tem tudo a ver com isso! A menos que ele seja um irresponsável, que não seja onipotente, onisciente, onipresente, justo, eterno e santo! A menos que sua justiça seja pior que a praticada pelos humanos “pecadores”. A menos que ele não se importe com nada e nem ninguém. A menos que ele nem exista, e a maioria das igrejas não passem de arapucas para atrair e prender pessoas desavisadas, carentes ou desonestas, utilizando-se do medo, ganancia e ignorância delas.

Somente se ele não existisse ou não fosse nada do que a ele se atribui poderíamos isentar deus de suas responsabilidades quanto a proteger seus súditos dentro e fora dos aposentos de sua casa. Sem falar que ele deve proteger não somente os que lhe rendem culto, mas toda humanidade já que se declara senhor de todo o mundo.

Em nossa sociedade “pecadora”, se uma criança é molestada em uma escola, diretores professores ou qualquer um que tenha facilitado ou participado do ato, bem como acobertado os fatos, será duramente responsabilizado por isso. Nas igrejas costumam-se abafar os casos, muda-se de paróquia ou de cidade o que cometeu tal ilicitude, aconselha-se aos que sofrem a entregar tudo “nas mãos do senhor”, põe-se a culpa no diabo, inocenta o malfeitor e depois para salvar o pervertido os fiéis vem com a frase mais idiota do mundo, que parece ser a cereja de um bolo envenenado: “deus não tem nada a ver com isso, viu?”.

Diariamente comunidades dominadas por bandidos e milícias sofrem pagando tributos se quiserem sem manter “em paz”. Tais criminosos fazem ameaças, usam de extorsão, exigem um percentual do que a comunidade produz ou faz vários outros tipos de ameaças para não se voltar contra a própria população que os sustentam. Por mais que consigam extorquir ainda é pouco, querem sempre mais, e mais e mais...nunca estão satisfeitos. Quando delatados e entregues as autoridades constituídas de humanos “pecadores”, tais meliantes tem a devida punição instituída em lei.

O mesmo tipo de extorsão, ameaças de morte e inferno eterno tem acontecido nos últimos 1700 anos nos ritos cristãos, nesse modelo de igreja adotado por Roma e ninguém se dar conta disso. Cruzadas para se apropriar de terras alheias com milhares de mortos, vendas de indulgencia, perseguição a ciência, cultos disfarçados e obediência irrestritas a bispos, papas, padres, pastores e derivados que em certos casos agem como se fossem líderes do crime organizado, tentando cada um deles estabelecer o controle total da vida dos fiéis na região em que atuam. Tudo isso acontecendo embaixo dos “olhos de deus”, usando seu, sua marca, seus “poderes”. E ainda perguntam: “o que deus tem a ver com isso”? Afff...

Nas ultimas 5 décadas um modelo de chantagem emocional tem se acentuado com as igrejas de estilo pentecostal que crescem usando a bíblia como se fosse uma metralhadora para intimidar os não crentes, e “manter na linha” dos que já foram arrebanhados. Usam a bíblia o tempo inteiro para coagir as pessoas aos mais diversos atos desde controlar cada passo de suas vidas até extorquir até o último centavo delas. “E o que deus tem a ver com isso”?

O crescente número de igrejas da “prosperidade”, que além de ameaçar constantemente quem se recusa a contribuir, consagra qualquer tipo de objeto casual ou até mesmo lixo e vendem aos fiéis de forma disfarçada nos cultos, dizendo que quem comprar será abençoado e quem não o fizer não o será, ou será amaldiçoado. Tais modelos de crença ameaçam as pessoas com doenças terminais, desemprego, desunião na família, perca de conjugues, possessão demoníaca, morte física e inferno eterno, caso tais pessoas não venham contribuir “voluntariamente” para a “casa de deus”. “E o que deus tem a ver com isso”?

Cada líder dessas denominações que foram empossados tem uma meta financeira ou territorial a cumprir com seus superiores, e para atingi-las não medem esforço. Um “vale tudo” é o meio adotado por eles para não serem rebaixados em suas funções ministeriais ou perca total de mandato. As únicas coisas que não vale entre eles é esclarecer o povo das idiotices que estão sendo conduzidos a cometerem.

As mesmas práticas de ameaças utilizadas por traficantes e milicianos são efetuadas de certa forma em tais modelos de igrejas, a única diferença é que ao invés de usarem um revolver para intimidar, eles utilizam a bíblia, e ao invés de ameaça-las entregando-as nas mãos de outras milícias, tais líderes religiosos ameaçam entrega-las ao diabo, dizendo que deus não irá protege-los caso eles não contribuam. “E o que deus tem a ver com isso”?

Outra diferença é que milicianos e traficantes são cassados pela justiça por tais atos, enquanto que líderes religiosos que usam esse mesmo método para enriquecimento ilícito recebem incentivos fiscais, apoio das autoridades civis, cargos públicos e até tem participações em uma “bancada evangélica” no congresso! Quando esse assunto é colocado em pauta por gente não alienada, logo vem aquela sagrada pergunta dos que tiveram adestramento de papagaio: “E o que deus tem a ver com isso”?


Texto de Antônio Ferreira Bispo, graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Sem comentários:

Enviar um comentário