sábado, 28 de abril de 2018

Jesus, a sua historicidade pela bíblia - Parte II



Como foi descrito no primeiro texto, tudo o que se sabe da vida de Jesus, resume-se aos evangelhos, sendo que o que há para além deles, deixam profundas dúvidas sobre a sua autenticidade e credibilidade.

Voltando então aos evangelhos, o que podemos então saber sobre o nascimento de Jesus, acontecimento importantíssimo pois deve ser descrito como é que o ser divino é concebido, como foi a sua infância, sua vida antes do início da pregação, a sua pregação, porque foi acusado e executado.

"Tenha sido gerado ou não por uma virgem, o facto, portanto, é que Jesus nasceu. Dado aparentemente simples, dir-se-ia. Acontece, no entanto, que sobre ele não há concordância entre as duas "biografias" de Jesus. Se pegarmos em Lucas, poderemos ler: "E aconteceu naqueles dias que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse (Este primeiro alistamento foi feito sendo Quirino presidente da Síria). E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. E subiu também José da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém (porque era da casa e família de Davi), A fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz. E deu à luz a seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem." (Lucas 2,1-7)

Sabendo-se que o recenseamento foi realizado por Públio Sulpício Quirino, em 6,7 d.C.,como consta na crónica histórica de Flávio Josefo, é evidente que essa foi a data de nascimento de Jesus. Mas, se pegarmos em Mateus, leremos que Jesus nasceu nos finais do reinado de Herodes, o Grande (Mateus 2,1), que morreu em 4 d.C. e que José e Maria se estabeleceram na Galileia depoi do nascimento de Jesus, e não antes. Assim, logo de entrada, temos de situar o nascimento do Messias entre duas datas, afastadas entre si uns dez anos ou mais, e localizar a residência de seus pais em dois pontos opostos da Palestina. Nada mal como resultado: e temos nós apenas dois biógrafos canónicos da infância de Jesus e um só Espírito a "inspirá-los".

Na opinião da maioria dos peritos, Jesus nasceu provavelmente numa data compreendida entre 9 e 5 a.C., no meio judeu da Palestina e viveu em Nazaré, uma modesta cidade da Galileia, onde trabalhou no ofício familiar de carpinteiro-pedreiro, até uma idade compreendida entre os 30 e os 40 anos, altura em que parte ao encontro de João Batista. Pelo ofício que tinha, situar-se-ia provavelmente entre as classes médias palestinas, o que o pôs inevitavelmente em contato com os judeus fariseus e o partido que constituíam, do qual esteve certamente muito próximo, sem, no entanto, ter chegado a militar nele.Parece igualmente evidente que conheceu em profundidade a seita dos essénios e as ideias que professavam, já que algumas delas são axiais no seu discurso político.

Sobre o nascimento e a infância de Jesus, dispomos apenas dos dados que nos são apresentados pela sua "biografia" mítica, dados que obviamente não podemos reter para definição da historicidade do personagem humano. Também desconhecemos por completo a vida que terá levado antes da sua aparição em público como pregador. Ou seja, as escassas referências biográficas de Jesus - segundo as passagens do Novo Testamento que podem ter tidas por presumivelmente históricas -, começam apenas quando, por motivos desconhecidos para os historiadores, Jesus deixa Nazaré, a sua família e o seu meio social e se vai encontrar com João Batista na ribeira do Jordão.

Jesus passou uns tempos com João Batista, chegou até a ser tomado por seu discípulo,(...).
Entretanto, numa data compreendida entre 28 e os finais de 35 d.C., João Batista foi preso e imeditamente executado. Jesus que já se havia afastado do seu círculo, assumiu a continuação da missão de João, ampliando, contudo, o seu âmbito. Deixou de batizar e começou a propagar que o "reino de Deus" não era algo que estivesse por vir, mas que, pelo contrário, já viera.

Sabendo que se dirigia a massas desesperadas, Jesus não só começou a fazer curas - como, aliás, ainda hoje fazemos xamanes-, como a reduzir as exigências da Lei, centrando estas no amor a Deus e ao próximo.

Voltando um pouco atrás na biografia do Jesus histórico, constataremos que em questões particularmente sensíveis não dispomos de qualquer informação. Assim, por exemplo, ignoramos se Jesus foi casado ou ficou sempre solteiro. A Igreja sustenta contra ventos e marés que Jesus foi celibatário e nisso se baseia para impor o celibato obroigatório ao clero. A afirmação da Igreja é uma especulação sem qualquer fundamento. Sabemos igualmente que teve um ambiente familiar normal, com irmãos e irmãs, e que aqueles, conforme afirma Paulo (I Cor 9, 3-5), se encontravam casados. Sabemos ainda que Jesus, como judeu que era, estava submetido à lei judaica e que esta impunha a todos os indivíduos, sem excepção,o casamento. A tradição judia não valorizava o celibato, razão por que é praticamente inimaginável que, dada a cultura de então, um celibatário pudesse alcançar credibilidade ou prestígio social. Na idade em que começou a pregar - a menos que sofresse (ou tivesse sofrido) de alguma deformação física terrível, hipótese em que lhe teria sido impossível ganhar ascendência sobre as massas-, Jesus seria certamente casado e teria seguramente filhos.

Quando deixou Nazaré para começar a sua vida messiânica, deixou igualmente a sua família. É, pois, provável que tenha deixado para trás esposa e filhos, como consta, aliás, que fizeram alguns dos seus discípulos, o que não era nada de anormal nem de socialmente criticável, nos dias de então. Seja como for, especulações à parte, nunca poderemos ter certezas sobre qual terá sido o seu estado civil. É, de facto, paupérrima a informação de que dispomos sobre Jesus.

Depois de ter dedicado algum tempo da sua vida - entre um a três anos- à pregação da sua mensagem, Jesus - numa data compreendida entre o ano 30 e a Primavera do ano 36 - foi preso, acusado do delito de rebeldia face à autoridade imperial romana por se ter autoproclamado "rei dos Judeus" e, consequentemente, executado. É possível que as pressões exercidas pelo Sinédrio judeu, escandalizado com o facto de Jesus reivindicar para si a dignidade messiânica e a realeza davídica, tenham pesado consideravelmente no referido desenlace, na medida em que forçaram e aceleraram a sua detençao. Mas de modo algum, no entanto, quanto à decisão relativa à sua morte.

Na manifesta atitude de resignação com que, tudo leva a crer, Jesus aceitou a inevitabilidade da sua execução, pode ter pesado bastante a sua absoluta convicção de que o fim do mundo e o consequente advento do "reino de Deus", estava para muito breve. Sobre este facto fundamental, a única informação que aduz o Novo Testamento é que Jesus foi crucificado depois da execução de João Batista, durante uma Páscoa, sendo Pôncios Pilatos governador da Judeia e Caifás, sumo sacerdote. Ora, o consenso hoje existente entre os peritos é que foi no ano 35, uma data bastante plausível, para situar a morte de João Batista. Por outro lado, visto que Pôncio Pilatos e Caifás deixaram as suas funções no ano de 36, podemos considerar como bastante plausível a data proposta pelo erudito Hugh J. Schonfield para a crucificação de Jesus, ou seja, a Páscoa do ano de 36.

Se relacionarmos esta data com a data provável do nascimento de Jesus (entre 9 e 5 a.C.), é evidente que este não pode ter morrido aos 33 anos, como defende a tradição, mas numa idade mais avançada e que se situaria entre os 45 e os 41 anos."

Continua....


Extractos do livro Mentiras Fundamentais da Igreja Católica, de Pepe Gonzalez

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