domingo, 29 de abril de 2018

Jesus e a ressurreição - Parte III



Já foram dedicados dois textos à historicidade possível de Jesus usando os evangelhos, a única fonte possível e disponível. E chegamos a um dos pontos chaves da crença cristã, a ressurreição. Eentão, o que temos sobre ela, o que sabemos realmente?

"Quando um profano em mistérios teológicos começa a ler as passagens neotestamentárias que relatam a ressurreição de Jesus – que é o episódio fundamental em que se baseia o cristianismo para demonstrar a divindade de Jesus -, espera encontrar uma série de relatos pormenorizados, sólidos, documentados e, sobretudo, concordantes entre si. Acontece, contudo, que é justamente a impressão contrária que lhe transmitem os textos dos quatro evangelistas. São a tal ponto contraditórios os relatos de Mateus, Marcos, Lucas e João que, se as suas declarações fossem apresentadas num qualquer tribunal de justiça, nenhum juiz poderia aceitar os seus testemunhos como base probatória exclusiva para emitir uma sentença. Basta comparar os relatos que nos apresentam para nos apercebermos da fragilidade da sua estrutura interna e, portanto, da sua escassa credibilidade.

Se resumirmos a cena, tal como a atestam os quatro evangelistas inspirados pelo espírito santo, obteremos o seguinte quadro:

- Em Mateus, as mulheres vão ver o sepulcro; dá-se um abalo de terra; desce do céu um anjo, remove a pedra que tapa a entrada do túmulo e senta-se nela; e deixa os guardas [romanos] “como mortos”.

- Em Marcos, as mulheres (que não só as Marias, dado que Salomé se lhes junta) vão ao túmulo na intenção de ungir o corpo de Jesus; não há abalo de terra; a pedra da entrada já se encontra removida; dentro do túmulo encontra-se um jovem sentado à direita; não há rasto de guardas.

- Em Lucas, as mulheres (as duas Marias e Joana, que substitui Salomé, e “as demais que estavam com ela”) levam unguentos; também não há qualquer abalo de terra nem guardas; aparecem dois homens, aparentemente vindos do exterior do sepulcro; anunciam ás mulheres que Jesus aparecerá aos discípulos em Emaús (e não na Galileia como é afirmado nos dois textos precedentes); Pedro constata de visu a prodigiosa ocorrência.

- Em João, há apenas uma mulher; Maria Madalena, que, no entanto, não vai ao túmulo com a intenção de ungir o corpo; não vê ninguém no sepulcro e corre a avisar não um mas dois apóstolos, que atestam o sucedido; depois disso, enquanto Maria, no exterior do túmulo, chora, aparecem dois anjos sentados, um à cabeceira e outro aos pés, no lugar onde estivera o corpo do crucificado; Jesus aparece à mulher nesse mesmo momento.

Em resumo, os quatro evangelistas coincidem todos em dois pontos apenas: no desaparecimento do corpo de Jesus e nas vestes brancas e luminosas que trazia vestidas o transformista anjo-jovem-dois homens-dois anjos.

Não é preciso ser ateu ou maldoso para chegar à evidente conclusão de que estas passagens não possuem a mais pequena credibilidade. Não há nada que justifique a existência de tantas e de tão graves contradições em textos supostamente escritos por testemunhas diretas, redigidos todos eles num lapso de tempo de uns trinta anos a quarenta anos (entre o primeiro, Marcos, e o último, João), e inspirados por Deus… excepto se se tratar de uma pura elaboração mítica forjada para completar o perfil da personalidade divina de Jesus. Ao assimilá-la ás proezas lendárias dos deuses solares jovens e expiatórios que o haviam precedido, , a figura de Jesus podia competir com o seu mais direto rival de então, Mitra, que tivera um nascimento idêntico ao que lhe será atribuído e que, tal como ele, ressuscitou também ao terceiro dia."

Continua...

Extrato do livro Mentiras Fundamentais da Igreja Católica, de Pepe Gonzalez

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