domingo, 4 de junho de 2017

A construção da verdade por meio de decretos, parte II



Imagine o seguinte: A NASA descobre o planeta LV-1 do mesmo tamanho da Terra que está a cerca de 40 anos luz de nós, orbitando em torno de uma estrela anã e fria, dum tipo de astro conhecido como "anões vermelhos".

Aí então se reúne o “Conselho Mundial de Astronomia Política” para decidir o que é que será dito a imprensa e ensinado nas escolas sobre o tal planeta.

O presidente da entidade, um defensor da globalização, propõe que se declare que o povo do novo planeta não se divide em países, mas tem um único sistema de governo. É imediatamente contestado pelas bancadas nacionalistas que afirmam que com certeza os habitantes de LV-1 se dividem em muitas nações que preservam com tenacidade a sua identidade.

A bancada capitalista resolutamente propõe que o povo de LV-1 segue as leis de mercado, enquanto a bancada socialista se opõe e declara que o povo de LV-1 há muito já estabeleceu um governo proletário.

A bancada católica propõe que o povo de LV-1 acredita em Jesus Cristo e para isso tem um chefe religioso supremo enquanto a bancada evangélica afirma que eles têm sua própria Bíblia e a seguem sem consultar nenhum líder metido a besta.

As bancadas islâmicas e hindus imediatamente protestam que essas conclusões são “ocidentalistas” e que desprezam outros sistemas de crenças.

A bancada brasileira se dispõe a votar com a maioria se receber um valor adequado.

Depois de várias manobras e conchavos, chega-se a uma solução de compromisso e define-se que o povo de LV-1 se divide em grandes blocos de nações e seguem um sistema social democrata. Também se define que seguem uma religião humanista e aberta ao diálogo.

Um solitário professor de biologia lembra de que até o momento não há nenhuma evidência científica de que haja vida inteligente em LV-1, mas é imediatamente retirado do recinto sob vaias e apupos.

E assim é proclamada a verdade científica sobre o povo de LV-1 com a edição de um longo relatório para a imprensa e um resumo a ser incluído obrigatoriamente nos currículos de ciências das escolas de todo o mundo.


Texto de Lauro Augusto Monteclaro César Júnior

2 comentários:

  1. Olha, só os ufólogos ficariam supondo que haveria vida nesse planeta sem antes ter indícios do mesmo. E duvido que a maioria dos políticos sejam ufólogos reprimidos ou coisa do tipo.

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  2. O melhor é pertencer a categoria dos céticos, vez que nossa razão sabe apenas quase nada de quase nada do Universo

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