PARTE 2 DE 3
*Por Antônio F. Bispo
Viver acusando um ao outro de não possuir deus, ou de estar servindo a ele de modo errado é uma característica marcante dos grupos que se dedicam a venerar o deus de Abraão, tido pelos tais como sendo o único e verdadeiro deus criador de todas as coisas. Um único deus, três grandes religiões, milhares de subdivisões e muito sangue derramado ao longo de 6 mil anos para provar quem é mais cheio dele ou quem o agrada mais.
Como já dito antes, para os tais, deus pode ser tanto uma arma de ataque quanto um instrumento de defesa a depender dos interesses envolvidos e das situações de conflitos. Há ainda em tais grupos o que se alegram mais em supor que o outro esteja errado e por assim dizer vão acabar sofrendo prejuízo no futuro, do que cuidar da própria vida. Em certos casos o prazer da desgraça alheia supera o regozijo da própria recompensa caso houvesse.
Nos casos dos grupos cristãos por exemplo, principalmente os que tem surgido nos últimos 100 anos, para cada um deste que se divide, ou estão interessado na lucratividade fácil e manipulação das massas para os mais diversos tipos de mercados, ou estão acusando um ao outro de heresia, de não possuírem deus, o espirito santo, a verdadeira graça divina, a verdadeira liturgia, de não serem realmente salvos e por esse motivo saem, fundam uma nova igreja, mas em questão de dias repetem tudo que faziam nas igrejas anteriores mesmo tendo saído de lá por julgar tais “doutrinas” erradas.
A maioria dos teístas acreditam ter respostas prontas para todas as grandes questões da humanidade, baseados apenas em pressuposições vãs e incoerentes, mas que de certa forma são interpretadas como alto índice de fé e intelectualidade para os de mesma linha de raciocínio. Geralmente são respostas “enlatadas”, prontas para consumo, não pensadas, apenas repetidas de grupo em grupo, de geração em geração, numa tentativa de responder de forma inteligente utilizando-se de premissas tolas. Os que tem respostas prontas para dar o tempo inteiro baseado em palavras vãs, são tidos como sábios pelos integrantes do grupo, mesmo que tal resposta não passe de uma tremenda baboseira.
Como falsos médicos que não sabem realizar um verdadeiro diagnóstico e fazer a recomendação certa para recuperação seus pacientes, tais pessoas tem praticamente a mesma receita para todo tipo de sintoma, não importa onde esteja doendo ou qual a causa do problema. Tem sempre aquela velha e chata frase que faz “brochar” qualquer tentativa de explicação lógica por parte dos que ainda não foram “zumbizados” pela “química da fé”.
É o fim dos tempos! É por que desobedeceu a deus! É por que não deu o dizimo! É por que não estar indo para a igreja! É por que se rebelou contra o ungido do senhor! É FALTA DE DEUS NO CORAÇÃO...Afff! Essa é a pior e a mais irritante de todas elas! Para não gerar conflitos, em certos casos é melhor nem contra argumentar com os tais. Você vai ficar chateado e não vai fazê-los entender a bobagem que estar dizendo por que a programação mental deles mental fora feito para esse fim.
Baseados nessa parametrização de respostas, vão sempre chegar mesma conclusão dos fatos pois são incapazes de fazerem uso de suas faculdades mentais quantos as diversas causas e efeito de uma mesma situação.
Desse modo, quando uma pessoa cristã comete suicídio logo dizem: “é falta de deus no coração”!
Quando um conjugue cristão, cumpridor dos ritos litúrgicos de sua fé desde o berço, inconformado com a separação conjugal ou por descobrir que foi traído por seu parceiro também cristão, acaba tentando tirar a própria vida ou a vida de quantos sejam possível na ocasião e de imediato seus irmãos de fé dirão: “é falta de deus no coração”!
Bandidos cristãos, alguns até membros ativos de comunidades evangélicas, saem todo dia à caça, a fim de praticarem os mais diversos delitos, e antes de saírem, rezam um pai nosso, fazem o sinal da cruz, sobem ao monte para orar, jejuam ou prometem dar o dizimo de todas as suas “conquistas” quando regressarem da caçada e mesmo assim alguns dirão que a atitude deles é falta de deus no coração mesmo sendo estes praticante das liturgias constantemente.
Políticos cristãos dos mais diversos segmentos inclusive da “bancada dos santos”, tem sido alvo das mais diversas investigações referentes a desvio de verbas e utilização indevida da máquina pública. Nesse caso, as ovelhinhas que os puseram lá e tantos outros dizem que isso é falta de deus no coração.
Tem sido publicado quase que diariamente nas mais diversas mídias sociais, casos de líderes religiosos de batina ou paletó acusados ou flagrados cometendo os mais diversos crimes como pedofilia, adultério, formação de quadrilha, apropriação indébita de bens alheios, transporte de armas e entorpecentes e até de homicídios com ocultações de cadáveres, e muitos para justificar, argumentam que os tais só fizeram isso por “falta de deus no coração” ...
Afinal, quem realmente tem deus no coração? Para que serve esse deus? Ele é um conceito, uma ideia, um título que as pessoas recebem após uma certidão de batismo ou de nascimento em países cristãos, ou é apenas um álibi que serve como suporte toda vez que alguém não quer assumir responsabilidade pelos seus atos?
O que caracteriza realmente os atos de uma pessoa que realmente tem deus, já que cada grupo vive acusando um ao outro de não ter deus? Existe alguma fita métrica que possa “medir o grau de armazenamento de deus” na vida de um sujeito para que assim possam dizer se esse tem ou não deus no coração? É o número de vezes que ele vai a uma igreja? O número de bíblia que esse tem em casa? A função eclesiástica que ele ocupa? O nível de subserviência as lideranças eclesiásticas?
Não importa qual das opções que você escolheu, você provavelmente errou em todas elas segundo o ponto de vista de fé do grupo qual você não estar inserido. Você nunca vai estar agradando a deus segundo a visão da “concorrência”. Você nunca será salvo, você sempre será um desviado, um herege, um filho da perdição... No dia em que decidires mudar de grupo, agora então será tudo isso e mais um pouco para o grupo que você acabou de abandonar. Você sempre será um fracassado e errante enquanto estiver no seu grupo religioso e sempre será um desviado e traidor quando fores para um grupo “mais certo” que o seu. Você sempre vai estar errado para a maioria, e certo apenas para o seu pequeno grupo, não importa o que você faça.
Triste fim dos que entregam suas vidas em submissão total aos representantes do deus bíblico! Do nascimento até a sepultura, confusões, ameaças de morte, promessas de castigo e recompensas será o legado dos tais. Vão nascer, crescer e se reproduzirem fazendo besteiras consigo mesmo e uns com os outros em nome do improvável e do invisível.
Agora vejam: moramos em um país onde quase 90% das pessoas afirmam serem cristãs e mesmo assim, “não ter deus no coração” é a resposta mais escolhida para quem deseja terceirizar suas responsabilidade ou reduzir o outro a nada. Como dito antes, quem acusa outro de não ter deus, indiretamente estar afirmando ser superior ao acusado, do mesmo modo que um antigo primitivo se vangloriava de fazer uso de uma clava para demarcar território e subjugar inimigos!
Parem que está feio! Cada vez que alguém repete argumentos como esses, só deixa claro que sua fé ou o seu deus não tem utilidade nenhuma, são apenas instrumentos de ataque e de defesa para estabelecer domínio sobre outros.
Nesse vasto país cristão, cheio de gente rezando e orando sem parar, cresce a cada dia o número de crimes praticados por cristãos, aumenta-se a população carcerária cristã, e a corrupção nos mais diversos níveis parece ser moda, inclusive em nosso congresso, exatamente por aqueles que jugam ser a nata da santidade gospel no Brasil! Tudo isso tem acontecido apesar de todo dia dezenas de novas igrejas entrarem em funcionamento, centenas de atos proféticos serem impetrados, milhões de bugigangas ungidas serem comercializadas, e dezenas de milhões de pessoas cultuando nas mais diversas horas do dia em igrejas diferentes. Será que não percebem que tem alguma coisa funcionando errado ou que literalmente não funciona?
Se não fosse as poucas pessoas ajuizadas que continuam procurando fazer o bem e a justiça independentemente de estarem sendo ou não supervisionadas por um ser invisível as coisas seriam bem piores.
Muita gente vive o tempo inteiro dizendo: “ENQUANTO DEUS FOR MEU CHÃO, NÃO HÁ QUEM ME DERRUBE”! Acho que ao usarem essa frase, as pessoas querem dizer o seguinte: “Enquanto eu puder pôr em deus a responsabilidade de meus atos, poderei viver de modo irresponsável e eternamente no mundo da fantasia, e para não assumir que fui eu quem fracassei eu uso #DEUSNOCOMANDOSEMPRE#. Pronto! Bonitinho e todo mundo aceita uma frase que tenha deus no meio!
As piores épocas da história humana não foram quando as pessoas “andaram sem deus”, antes sim, foi quando “deus” estava no comando, “dirigindo” as pessoas por meio dos seus representantes.
Para os que tem coragem de “meter a cara” em pesquisas livres de um direcionamento político-eclesiástico proposital, irão perceber que as coisas mais absurdas que as pessoas já fizeram e ainda fazem até hoje não é pela falta de deus, mas por alegarem estarem cheias dele e estarem dispostas a cumprir sua vontade. Parecem que nunca leram na bíblia, que a vontade de deus ou o modo de servi-lo era sempre baseado na truculência e na submissão forçada a ele.
Há pouquíssimos relatos de pessoas que cometeram loucuras alegando estarem cheias do “capeta”, mas diariamente a cada instante, nos mais diversos cantos do globo pessoas são insultadas, humilhadas, excomungadas, menosprezadas, torturadas ou mortas em nome de deus ou a mando dele. Estatisticamente uma pessoa “com deus” é mais perigosa, ou potencialmente agressiva do que uma pessoa “sem deus”. Os que se dizem monoteístas também são mais propensos a intolerância religiosa dos que fazem parte de culturas politeístas.
Finalizaremos esse raciocínio na terceira e última parte desse texto. Fiquem conosco!
CONTINUA...
Texto escrito em 15/11/17
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.
Por António Ferreira
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