domingo, 31 de dezembro de 2017

Desmontando a bíblia - Os dizeres de Jesus





"Eu sou o caminho a verdade e a vida"

Serão essas palavras exclusivamente cristãs?

Este versículo joanino(João 14:6), um dos mais citados em todas as literaturas cristãs, é dos mais arrogantes e superexclusivistas da bíblia cristã.

Imaginem quanta discriminação por parte dos cristãos, ao longo de toda a sua história, contra as outras religiões, exatamente com base em interpretações literalistas e exclusivistas dos escritores do Novo Testamento (NT), a respeito de palavras inautênticas atribuídas a Jesus, como as desse famoso versículo joanino.

Se Jesus é literalmente o caminho, não há outro caminho, ou seja, ficam excluídas automaticamente todas as pessoas que seguem outros líderes religiosos e outras religiões.

Imaginem que dois terços da humanidade (hoje cerca de 4 bilhões de seres humanos não cristãos) ficariam todos excluídos, caso passagens evangélicas exclusivistas como essa fossem realmente autênticas. Em outras palavras, para os cristãos exclusivistas, baseados num Evangelho também superexclusivista, como o de João, só há um caminho e uma só religião. Se Jesus é a verdade, todos os outros caminhos tornam-se automaticamente “falsos”. Se Jesus é a vida, quem não o segue está “morto”, está “perdido” e “condenado” às penas eternas, conforme a interpretação apocalíptica da maioria dos cristãos.

Aqui começa a maior arrogância na história do cristianismo, o que gerou as maiores guerras da história da igreja e que até hoje é base da desunião de muitos povos.

Esse famoso versículo foi (e continua sendo) a grande lógica para o slogan exclusivista: FORA DE CRISTO, NÃO HÁ SALVAÇÃO (ou, mais restritamente, FORA DA IGREJA, NÃO HÁ SALVAÇÃO), uma vez que Jesus não apenas seria o caminho, a verdade e a vida, e ninguém iria ao Pai a não ser por ele, mas também teria fundado uma Igreja e entregue exclusivamente a Pedro as chaves do Reino dos Céus (cf. Mateus 16,18-19). A interpretação exclusivista desse versículo joanino tem apoiado a pretensão do cristianismo institucional de ser “a única fé verdadeira para toda a humanidade” (DRCO, verbete cristianismo), todas as demais religiões sendo automaticamente classificadas como “marginais” ou “falsas” (cf. DRCO, p. 379).

Apesar da tamanha arrogância do versículo, nada tem de exclusivo como veremos posteriormente.

É preciso esclarecer com base na história das religiões, que o conteúdo do versículo joanino (João 14,6) já havia sido atribuído a outros líderes religiosos do mundo, quatro ou cinco mil anos antes de Cristo. Por exemplo, na literatura sagrada do hinduísmo, Krishna, o filho de Deus, o verbo encarnado, o primeiro salvador do mundo, nascido miraculosamente (de um parto virginal), cerca de cinco mil anos antes de Cristo, também declarava ser O CAMINHO, A VIDA E A LUZ DA VERDADE: “Eu sou o caminho [...]; eu sou a vida [...]; sou eu mesmo a luz da Verdade [...]” (ROHDEN, Bhagavad Gita, p. 92, n. 18-19; p. 101, n. 11).Hórus (divindade egípcia), quatro (ou cinco) mil anos antes de Cristo, também declarava ser A LUZ DO MUNDO, O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA (cf. HARPUR, 2008, p. 93).

O livro dos hindus séculos antes do cristianismo e a religião egípcia milênios antes do cristianismo já ostentaram os mesmos dizeres. Seria arrogante demais achar a mensagem de Jesus exclusivista.

O cristianismo dogmático precisa mudar. Do contrário, dificilmente poderá haver verdadeira fraternidade entre cristãos e não cristãos e, menos ainda, a existência do diálogo inter-religioso de igual para igual. 



"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".

Quem nunca se encantou com esse texto joanino?
Será que este dizer é exclusivamente cristão?

Não. Para ser justo, e a bem da verdade histórica, é preciso saber que cerca de cinco mil anos antes de Jesus supostamente ensinar que o conhecimento da verdade liberta o homem, “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8, 32), no Bhagavad Gita dos hindus – correspondente ao Evangelho dos cristãos – Krishna (deus hindu, salvador do mundo, nascido de um parto virginal) já ensinava que se alguém se apoderar da Verdade, entrará na mansão da suprema beatitude e repousará na paz da divindade. [...] Quem se integra no Ser Supremo e nele repousa está livre da incerteza e trilha caminho luminoso, do qual não há retorno, porque a luz da verdade o libertou do mal (apud ROHDEN, Bhagavad Gita, p. 57, 62). 


"Eu sou o princípio e o fim, o alfa e o ômega".

Será que esse texto só existe na bíblia cristã?

Também não. Essa mesma verdade religiosa, expressa no Apocalipse cristão, “Eu sou o princípio e o fim, o Alfa e o Ômega” (Apocalipse 1,8), já havia sido expressa, cerca de cinco mil anos antes de Cristo, na Escritura Sagrada da Índia, no livro Bhagavad Gita: “Eu sou o princípio dos mundos e sou o seu fim” (ROHDEN, Bhagavad Gita, p. 78). 


A chamada "regra de ouro" é da autoria de Jesus?

Jesus também não é o autor exclusivo da chamada “regra de ouro”: “Tudo aquilo, portanto que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles...” (Mateus 7, 12). Esta máxima de comportamento já era muito conhecida em religiões bem mais antigas do que o cristianismo, por exemplo, no judaísmo: “Não faças a ninguém o que não queres que te façam” (Tobias 4,15); no hinduísmo: “Não faças aos outros aquilo que, se a ti fosse feito, causar-te-ia dor” (apud RAMATIS,1996, p. 9); no confucionismo: “Não faças aos outros aquilo que não queres que te façam” (ibid.).

Por conseguinte, eu deixo uma advertência para os meus queridos leitores, conheçam a verdade e ela vos libertará.

Obs: o adágio não é de minha autoria.😉


Texto de Gil Yossuf

Bibliografia:

Bhagavad Gita.
HARPUR, Tom. O Cristo dos pagãos: a sabedoria antiga e o significado espiritual da Bíblia e da história de Jesus. São Paulo: Pensamento, 2008.
SOUZA, JOSÉ PINHEIRO DE. Mentiras sobre Jesus. Fortaleza(2011).
ROHDEN, Huberto. Bhagavad Gita. 11. ed. Ilustrada. São Paulo: Martin Claret. [s.d]
RAMATIS. Missão do Espiritismo. Psicografia de Hercílio Maes. 6. ed. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1996.

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