quinta-feira, 23 de novembro de 2017

A analogia do relógio



A analogia do relógio é mais uma daquelas totalmente forjada para parecer que estabelece uma relação biunívoca entre um relógio e um ser vivo.

Mas apenas o consegue no que respeita à aparente complexidade.

De resto, falha miseravelmente ao descartar elementos chave que anulam completamente qualquer relação que se possa tentar estabelecer entre um relógio e um ser vivo.

Os seres vivos são compostos de bases orgânicas com a capacidade de fazerem cópias de si próprias através de processos químicos básicos. 
O relógio não.

Os processos químicos dos seres vivos são baseados em bases de aminoácidos que podem perfeitamente surgir em condições naturais como já foi demonstrado desde os anos 50 do século passado. 
Os relógios não.

Os seres vivos são unidades de carbono que têm uma dinâmica orgânica e que se ajusta e reage ao ambiente. 
O relógio não.

Os seres vivos podem sofrer alterações por mutação, seja através de alterações ambientais, erros no processo de cópia, radiação, etc. 
O relógio não.

Alterações fortuitas que façam com que, naturalmente, exista uma maior probabilidade de sucesso reprodutor, são transmitidas e tornadas dominantes e as que piores a probabilidade de sucesso reprodutor tornam-se recessivas. 
Nos relógios isso não acontece.

Os seres vivos, ao longo dos tempos, têm vindo a sofrer alterações graduais (e há um registo disso). Os relógios (mecânicos, pois era esse o exemplo), funcionam todos fundamentalmente da mesma maneira, desde que foram inventados até hoje.

O exemplo do Boeing 747 é ainda mais ridículo porque descarta tudo o que disse acima acerca dos processos naturais e considera que os seres vivos resultariam apenas de uma roleta russa de elementos químicos, sem considerar o modo como eles reagem e se combinam, de acordo com as suas características químicas.

Portanto, como sempre, analogias idiotas, apesar de apresentadas de uma forma aparentemente erudita, ignorando pontos chaves fulcrais ou deliberadamente escamoteando-os, de modo a forçar apenas a ideia que se pretende passar.


Por Rui Batista

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