Dirijo-me a todos os crentes religiosos.
E, primeiro, acho que é importante deixar bem claro o que quero dizer com "crente religioso".
Refiro-me a todas as pessoas que acreditam na existência de uma entidade superior que, apesar de ser invisível e indetectável, consideram ser a responsável por tudo o que existe, que supervisiona tudo o que existe e que tem poder ilimitado; aquilo a que designam por omnipotência, omnisciência e omnipresença.
Portanto, se acreditas na existência de tal "arquitecto universal", é a ti que este texto se destina. Ainda estou, no entanto, indeciso acerca de se devo usar a designação de "crentes" ou "crédulos". Até que se justifique, usarei a palavra "crentes", por uma questão de facilidade.
Também, sempre que me referir à divindade em que acreditam, assumirei neste texto que se trata do deus abraâmico Jeová e irei designá-lo apenas por "deus", pois a utilização do "D" (maiúsculo) é uma reverência artificial por parte dos crentes, para tentar dar um valor especial a uma divindade que é apenas uma de entre cerca de 2870 outras divindades e que teve a sorte de ter uma maior "campanha publicitária", levada a cabo - e imposta - por regimes poderosos e totalitários.
A palavra-chave, à volta da qual se vai desenvolver este texto já foi apresentada no parágrafo anterior: ACREDITAR
Vocês apenas e simplesmente ACREDITAM que deus existe.
Não conseguem provar que existe.
Não conseguem demonstrar que tem uma existência factual, para além da vossa imaginação e credulidade.
Conseguem, no entanto, inventar desculpas para não se conseguir provar que deus existe.
E fazem-no com um desespero ridículo.
Inventam argumentos (todos refutados) e apresentam interpretações vossas, influenciadas pelas superstições em que acreditam, como se fossem provas para tentar justificar o injustificável: a existência de uma divindade que foi inventada por povos ignorantes e supersticiosos que viviam no deserto, na Idade do Ferro e do Bronze, e que nem sabiam para onde o Sol ia quando se punha a Oeste, no fim do dia.
Sentem-se apoiados por uma comunidade de confrades crentes, achando que "se tantos acreditam no mesmo, tem de ser verdade".
Só que:
Acreditar não é método válido para avaliar ou definirá a verdade.
Nenhum dos milhões de crentes consegue provar que deus existe e limita-se a acreditar.
Se 10 pessoas acreditam numa coisa estúpida, essa coisa continua a ser estúpida, mesmo que acreditada por 10 milhões. Não se altera a estupidez da crença. Apenas aumenta o número de idiotas que acreditam numa coisa estúpida.
Acreditar em algo e achar que basta a crença para que esse algo seja verdade, é ser-se voluntariamente ingénuo e ignorante.
Mesmo que se seja céptico e inteligente para tudo o resto.
Existem crentes que são pessoas dotadas de uma grande inteligência.
Todavia, no que respeita à sua crença, abdicam voluntariamente dos critérios racionais com que pautam todos os outros aspectos da sua vida.
Suspendem a lógica para poder aceitar, sem questionar, aquilo que é inverosímil e implausível, apenas para poderem sustentar a sua crença.
Por isso é que se assiste a demonstrações ridículas de tentativas de racionalização da crença, por parte dos crentes inteligentes.
Porque são pessoas que usam a tua inteligência para tentar arranjar argumentos e justificações para sustentar aquilo em que acreditam por motivos nada inteligentes.
Os crentes mais inteligentes, nem tentam racionalizar a sua crença, porque sabem que, se o fizerem, entram em conflito directo com a lógica e serão obrigados a admitir que a crença é totalmente irracional. Portanto, para não abdicarem da crença, tratam-na como uma excepção, onde as leis da lógica e os processos racionais não podem - nem devem - intervir.
Infelizmente, a esmagadora maioria do mundo é, hoje em dia, constituída por crentes.
Porquê?
Porque é fácil e eficiente criar crentes.
Basta que um crente (usualmente um casal de crentes, ou toda uma família de crentes) comece a formatar um jovem crente quando ainda está na idade em que não sabe ainda distinguir a fantasia da realidade e não desenvolveu os mecanismos de análise crítica e racional da informação que lhe é fornecida.
Então, ensopam a criança com fantasias, crenças, dogmas, regras e ameaças, de modo a que isso faça parte da sua formação de base, criando os alicerces para um adulto que também não sabe distinguir a fantasia da realidade.
E assim, a crença em divindades propaga-se e mantém-se, como se de uma epidemia incontrolável se tratasse.
Porque, se os conceitos associados à crença de divindades fossem apenas apresentados aos indivíduos numa idade em que já conseguem pensar de uma forma racional e sabem fazer distinções entre valores reais e abstractos, poucos seriam os que levariam a sério a ideia de um deus com as características do deus abraâmico.
Ou seja, se as crianças não fossem doutrinadas na infância e os pais fossem honestos e justos, deixando os filhos escolherem por si próprios se queriam acreditar ou não, quando já tivessem capacidade para entender o que significa a crença dos pais... a crença em divindades desapareceria - ou diminuiria substancialmente - em poucas gerações.
Caros crentes...
Querem acreditar em fantasias que lhes foram ensinadas, nas quais gostam de acreditar e nas quais lhes foi ensinado a ter medo de deixar de acreditar?
Óptimo! Continuem.
Mas façam-no na intimidade do vosso lar e não tentem convencer outros das vossas fantasias.
Fantasias que NÃO CONSEGUEM PROVAR que são mais do que meras fantasias.
E, acima de tudo, NÃO AFIRMEM que as vossas fantasias são a realidade, PORQUE NÃO CONSEGUEM PROVAR QUE SÃO A REALIDADE.
E parem de arranjar desculpas para não conseguirem provar que deus existe.
Fazem uma figura ridiculamente patética quando apresentam essas desculpas.
Não conseguem provar que deus existe, porque NÃO SE PODE PROVAR A EXISTÊNCIA DE ALGO QUE NÃO EXISTE.
E fazem uma figura mais ridícula ainda quando pedem para PROVAR QUE DEUS NÃO EXISTE.
Se tivermos de considerar a possibilidade da existência de deus só porque não há provas que não existe, então temos de considerar a possibilidade da existência de TODOS OS 2870 deuses registados ao longo de toda a história da humanidade.
E também de entidades que correspondam à definição de centauros, fadas, orcs, dragões, etc... porque NÃO SE PODE PROVAR que algures no universo não haverá algo que lhes corresponda.
Claro que não se pode provar que deus não existe porque é impossível provar uma inexistência universal de algo que não seja puramente conceptual.
Por exemplo, não posso provar que não existem unicórnios. Algures no universo pode existir algo que corresponde ao que definimos como unicórnio.
No entanto, posso provar que não existem unicórnios no meu quarto. Ou posso provar que no topo da árvore que tenho aqui fora na rua, não há unicórnios.
Só é possível provar não-existências locais e em condições específicas e bem definidas.
Mas é totalmente impossível provar uma inexistência universal.
Para tal, eu teria de ter TODO o conhecimento de TUDO o que existe no universo para provar uma inexistência por "reductio ad absurdum".
Mas o facto de não poder provar que não existem unicórnios, não me leva a assumir que possam existir e a agir como eles possam existir.
Se não há provas da existência deles, assumo que não existem.
E é por isso que, quando saio de férias, levo uma máquina fotográfica mas nunca me passa pela cabeça que uma das possibilidades fotográficas que vou ter será a de poder fotografar um unicórnio. Simplesmente não contemplo essa hipótese porque, devido à total ausência de provas, assumo a não existência.
Até que me provem o contrário, claro.
O mesmo se passa com deus. Não existem provas nenhumas. Nada que se possa testar, que se possa confirmar, nada que se possa experimentar e cujo resultado seja coerente seja qual for o número de testes.
Portanto, assumo a não-existência de deus, até que me provem o contrário.
E porque digo "até que me provem o contrário"?
Porque, como expliquei acima, é impossível provar a não-existência de algo. Mesmo que esse algo não exista mesmo.
Mas quando algo existe, pode-se provar que existe.
Mas as características que apontam a deus, para justificar a impossibilidade de lhe provar a existência: é invisível, inaudível, intocável, inodoro, intestável, indetectável... correspondem à definição de algo QUE NÃO EXISTE.
Por Rui Batista
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