quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Evolução versus criação



Há anos que assisto a diálogos sobre criação e evolução. Estou a ser particularmente simpático ao classificar de “diálogos” aquilo que, na maioria das vezes, é mais um chorrilho de disparates provenientes, na sua maior parte, dos defensores da criação.

De certo modo, não é de admirar, pois a posição que defendem não tem qualquer base lógica ou racional, recorrendo a refutações pueris e com a mesma estrutura lógica que a base temática que defendem.

Muitos dizem que a Teoria da Evolução não é mais que isso mesmo, uma teoria. Falhando, claro está, em entender que embora no dicionário o termo “teoria” se refira a uma “hipótese”, no seio do mundo científico “Teoria” é muito mais que isso. Uma teoria científica apoia-se numa vasta quantidade de dados, em inúmeras observações, em testes realizados muitas vezes resulta até na possibilidade de criar “leis” que se postularam em resultado da análise desses dados, observações e resultados obtidos nos testes.

Outros dizem que os defensores da teoria da evolução falham constantemente em demonstrar uma prova factual de um ser vivo que se transforma noutro, salientando que todos os exemplos de evolução apresentados ocorrem sempre na mesma espécie. Ou seja, uma bactéria evolui para outra bactéria, um peixe evolui para outro peixe, etc. Pois, meus amigos “criacionistas” o processo evolutivo é assim mesmo. São alterações muito, muito pequenas, ínfimas, que ao fim de muito, muito tempo, acabam por se revelar em alterações grandes o suficiente para podermos distingir entre indivíduos da mesma espécie.

Nunca um “evolucionista” minimamente inteligente afirmou que uma espécie se transforma noutra. Esse tipo de afirmações idiotas só se ouvem vindas dos “criacionistas” que, em desespero de causa, tentam atribuir tais afirmações aos “evolucionistas”.

Quero aqui sublinhar o “muito, muito tempo” que referi atrás. Quando disse “muito, muito tempo” referia-me a mesmo MUITO, MUITO tempo. Muito aqui será algo na ordem dos milhões, dezenas de milhões ou mesmo centenas de milhões de anos. Para quem não costume usar relógio, devo salientar que isto é mesmo MUITO tempo. Se de uma geração para outra podem ocorrer pequenas alteração (e, paralelamente, por “pequenas” refiro-me a alterações MESMO MUITO PEQUENAS), ao longo de vários milhões de anos, as alterações podem ser muitas e de grande dimensão, resultando numa vasta diversidade de variações.

Mas os “creacionistas” parecem não conseguir perceber estas escalas macroscópicas de tempo e microscópicas de variações.

Do mesmo modo que olhando para uma nuvem, é complicado aperceber-mo-nos da alteração da sua forma, ao fim de algum tempo percebemos que, de facto, a nuvem mudou de forma.

Claro que os “creacionistas” irão sublinhar o facto de que a nuvem apenas mudou de forma mas continua a ser uma nuvem.

Pois bem, eu também nunca vi uma vaca transformar-se num hamburguer mas, através de vários processos “subtis”, ao longo de algum tempo, uma vaca consegue realmente transformar-se em algo que nada tem a ver, aparentemente, com o estado e forma original.

Os processos que governam (e definem) a evolução são processos subtis e que sucedem ao longo de muito tempo. São mudanças demasiado subtis e que demoram demasiado tempo para que se consigam percepcionar de um modo óbvio, tal como o movimento dos ponteiros de um relógio. Mas as evidências de que ocorrem são factuais e evidentes. Para perceberem que há coisas que podemos intuir com um grau elevado de certeza e confiança sem ter de presenciar todo processo, tomem por exemplo o período de revolução do ex-planeta Plutão (que parece que vai voltar a ser promovido a planeta). Desde que foi descoberto (18 de Fevereiro de 1930), Plutão ainda não completou uma revolução completa em torno do Sol mas sabemos quantos anos leva a dar uma volta completa (247.7 anos). Devido às observações feitas a Plutão e aos outros planetas, puderam criar-se “leis” que permitem intuir, prever ou calcular qual o seu período de revolução.

Do mesmo modo, através da observação dos vestígios fósseis, de análises comparativas, de observações laboratoriais, etc, foi possível intuir e criar um modelo “evolutivo” que se verificou ser fiável e que permite inclusivamente prever o comportamento a longo prazo de um determinado sistema biológico.

Falemos então agora nos factos em que se baseia a teoria criacionista. Na realidade, não há quaisquer factos sobre os quais se edificou a teoria criacionista. A única base em que se apoia é num texto claramente mitológico que mais não é que a súmula de vários mitos de criação de outras culturas. E esses mitos da criação são apenas a manifestação do folclore popular dessas culturas sem conhecimentos científicos e que se limitavam a criar estórias fantástica para tentar explicar o que não compreendiam.

Portanto, perante uma teoria que assente na total inexistência de provas e numa estória de cariz mitológico, não me parece que haja muito mais a dizer.

É uma teoria com mais buracos que uma rede. De facto, é um favor quase piedoso chamar-lhe sequer… teoria.

Texto de Rui Batista

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