terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Ficção bíblica



1. O povo hebreu cresceu, diferenciou-se a partir da cultura de Canaã, cerca de 1200AEC. Não conquistaram violentamente os cananitas.

2. Tudo o relatado antes disso na Bíblia, é pura ficção. Os hebreus nunca estiveram no Egito e muito menos fugiram de lá. O Êxodo nunca aconteceu. A Páscoa é pura lenda. Todo o Génesis é lenda. Abraão, Sara, Isaac, José, Moisés..., apenas personagens lendárias.

3. Evoluindo da cultura cananita, os judeus ficaram fãs de um dos seus deuses, Jeová, deus da guerra, cuja esposa era Asherah. Depois começaram a ser exclusivos com Jeová e eliminaram Asherah. Mas existem menções a ela na Bíblia.

4. Os reinos poderosos de David e Salomão são exageros insanos, a partir de entidades políticas muito modestas, de umas quantas aldeolas governadas por um chefe local. Muitos povos gostam de dourar e engrandecer as suas histórias, mas os judeus estão inteiramente noutro nível.

5. Como se sabe isto? Arqueologia. Ao fim de muitos anos de busca, há consenso entre os arqueólogos de que tudo aquilo é um embuste.

6. Jeová é assim um deus tribal que foi promovido pelos hebreus a deus nacional, e depois pelos cristãos a deus cósmico. Mesmo assim, é uma pobre fantasia.

7. Saber-se a história real da Palestina, em vez da lenda, é mau para os judeus e para a sua pretensão a Israel, mas também para todas as religiões cristãs e até para o Islão, pois o Corão está quase todo assente na tradição hebraica e cristã.


Artigo completo em Patheos

domingo, 25 de fevereiro de 2018

A vida humana tem algum significado?



Tanto quanto sabemos, de um ponto de vista meramente científico, a vida humana não tem qualquer significado. 

Os seres humanos são o resultado de processos evolutivos cegos, que operam sem objetivo ou propósito. As nossas ações não fazem parte de um qualquer plano cósmico divino e se a Terra explodisse amanhã de manhã seria provável que o Universo continuasse o seu percurso habitual. 

Tanto quanto sabemos neste momento, a subjetividade humana não deixaria saudades. Como tal, qualquer significado que as pessoas atribuam às suas vidas não passa duma ilusão.


Yuval Noah Harari

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Se você perguntar, pode desmontar!



Poderosa o suficiente para criar universos inteiros, sensíveis o bastante para se dissolverem diante de simples perguntas. A controversa personalidade das divindades cristãs.

Filho: Mamãe porque as pessoas estão de joelhos chorando e falando com a imagem de um homem pendurado numa cruz?
Mãe: Aquele é o filho de Deus, o todo poderoso, o próprio deus em pessoa que desceu dos céus para perdoar nossos pecados e nos livrar da condenação!
Filho: Se ele é todo poderoso por que estar preso e todo machucado em uma cruz? E quem vai nos condenar de que?
Mãe: Por que pessoas malvadas fizeram isso com ele meu filho! Ele quem se deixou capturar e ser torturado por que tinha de morrer por nossos pecados, mas ele reviveu ao terceiro dia! Quem vai nos condenar...bom, isso não sei ao certo, acho que é deus, o pai dele se pecarmos!
Filho: O que é pecado? Como ele pode nos condenar se ele mesmo queria que fôssemos salvos da condenação? Ele também não podia vencer esse tal de pecado com seus poderes já que ele pode tudo? Se ele reviveu dos mortos por que ainda estar ali pregado naquela cruz?
Mãe: Menino, fique calado! Estamos numa igreja! Essas coisas não se perguntam, apenas se acredita! Todos fazemos isso, veja quanta gente fazendo a mesma coisa! Ninguém pergunta nada, apenas faz o que todo mundo faz, entende? Deus pode nos castigar se perguntarmos muito sobre o que não entendemos a cerca dele, por isso temos de acreditar e não perguntar! O que o pregador ou esse livro de capa preta diz não questionamos, apenas obedecemos! Tem sido assim há séculos!
Filho: Não mamãe! Não estou entendo! Qual o propósito disso tudo? Por que somos proibidos de perguntar? Por que ele nos castiga se perguntarmos sobre ele já que ele nos ama? Ele não deveria estar feliz por eu estar interessado em conhece-lo melhor? O que eu fiz para ser castigado por ele? O papai ou professor da escola não me castiga quando pergunto coisas que ainda não entendo... É errado perguntar sobre deus?
Mãe: Cale essa boca menino! Você estar me envergonhando! As pessoas já estão começando a olhar pra mim, fique calado! Um dia você vai entender os profundos mistérios da fé...

Será que vai mesmo...? 
Se é uma coisa que ninguém nunca entendeu de verdade, é como funciona as divindades, seus atributos, seu estado de humor e sua base julgamento para decidir quem deve ser abençoado ou quem deve ser punido se levarmos em conta os vários exemplos descritos no próprio livro qual os seguidores afirmam ser a fonte da maior verdade de todos os tempos.

Todos fingem entender de verdade, mas estão apenas mentindo a si mesmos, pois o medo de ser antiquado, ou sofrer represálias pelos mais diversos segmentos sociais faz com que muita gente finja entender tudo que se é dito sobre as divindades e seus controversos gostos e atributos. Quanto mais confuso for um fiel religioso, de igual modo será o retrato desse deus que ele representa.

Aposto que a maioria dos que leram o diálogo acima entre mãe e filho já passou pela mesma situação desse garotinho quando foi a igreja a primeira vez ou quando foi sugerido que rezasse para uma estatueta representando um santo, ou quando fora ensinado a orar ao deus invisível.

Um tapa na boca, um beliscão, um puxão de orelha ou uma repreensão dura na frente de outras pessoas foram os “aplicativos” usados para iniciar um processo de programação mental que duraria por toda uma vida.

Para uma pequeníssima parte dos que hoje conseguiram se livrar desse nível de consciência autodestrutiva e autodepreciativa, se não fosse alguns “acidentes de percurso” que fizeram com que os tais pudessem tomar coragem e expor tudo que pensam ou sentem sobre as incoerências dos vários sistemas de crenças da fé cristã e seu derivados, os mesmo ainda estariam lá.

Se existe males que vem para bem, sofrer decepções nesses agrupamentos é o maior deles. É uma excelente oportunidade para alguém se corrigir e tomar o rumo da própria vida mais uma vez! Tomar vergonha na cara é o principal passo para se reerguer após constatar por conta própria a “utilidade” desses sistemas de crenças, a “eficácia” dos deuses representados, e a “honestidade” de várias das lideranças que representam esses seres perfeitos.

Os que tiveram a sorte de “zerar” o sistema operacional e fazer uma nova programação, sabe que a promessa de “um dia você entenderá” nunca funcionou realmente, mas devido ao medo de repressão pública constante para os que não “entendiam os assuntos sagrados”, ou em troca de uma convivência pacifica resolveram estar calados ou fazer de conta que estavam entendendo os mistérios da fé anunciadas nos círculos onde o deus judaico cristão é cultuado.

Se não fosse por ameaças, o próprio deus hoje cultuado pelos cristãos não teria tantos seguidores como atualmente conseguira. As dez pragas emanadas por ele sobre o Egito foi apenas o começo para que ele viesse estabelecer um ritual de culto e servidão baseado no medo e grave ameaça a todos quantos esse modelo de fé se espalhar. A construção do deus filho é apenas um paliativo para suavizar a má imagem do deus pai.

Já se perguntaram sobre o que seria da fé cristã e de outras linhas de crença que dizem seguir o deus de Abraão, se fosse permitido que seus membros fizessem perguntas simples sobre os princípios da própria fé e sobre os principais personagens do presente e do passado, bem como a origem do próprio ser cultuado que diz estar acima de tudo?

Certamente esse modelo de rito litúrgico e essas variedades de ramificações da mesma crença teriam morrido antes mesmo de nascer. Seria como um aborto, que não dava para prever ao certo seu futuro, apenas fazer uma probabilidade baseado na história pessoal de seus genitores, e do ambiente em que esses vivem. Fora isso, só especulação.

Muitas “seitas” religiosas e de linhas cristãs sofreram “aborto” espontâneo ou intencional logo que foram criadas por lideranças políticas e religiosas, que visaram nas linhas de crenças que ainda hoje se propagam uma facilidade maior de controle das massas. Bem mais fácil seria para lideranças políticas manipular uma população que apenas acredita no que se diz como se é visto até os dias de hoje, do que dominar linhas de pensamentos com tendências filosóficas, a exemplo dos agnósticos do primeiro século da era cristã. Por esse e outros motivos essa linha que hora seguimos ganhou mais espaço. Alguns preferem acreditar que foram os planos de deus que fez com que tal linha prevalecesse(risos).

Se não fosse pela imposição forçada dos líderes políticos e religiosos e a proibição de questionamentos dentro dos círculos de servidão dessa fé, haveria acontecido um desmantelamento das principais estruturas que regem esse modelo de crença. O mesmo provavelmente aconteceria com praticamente todos esses ramos de crenças que dizem seguir o antigo deus da mesopotâmia adotado por cristãos, judeus e mulçumanos. Medo, terror e ameaças de excomunhão social são as ferramentas usadas para manter vivas esse tipo de crença, doutrinada desde os berço por essas três religiões que dizem seguir a esse deus.

Diferente de outras linhas de pensamentos e filosofias já criadas pela humanidade, a fé crista pode entrar em colapso se for permitido o questionamento livre sem repressões sociais atuais e promessas de castigo vindouro.

Métodos filosóficos comuns, desde os mais antigos tempos permitem que seus “usuários” se questionem, questionem os outros ao seu redor, questionem o mundo inteiro se preciso for, e se necessário pode ser descontruído toda uma linha de raciocínio para se adequar a outra caso perceba-se a inconveniência dos fatos.

A filosofia procura sempre compreender o homem e sua relação com outras pessoas e com o mundo. O pensamento religioso cria seres fictícios, valoriza os que procuram se relacionar com tais seres e seus representantes, e despreza ou persegue qualquer um que não se enquadre em tal perfil ou que venha a resistir suas imposições.

A filosofia não teme a questionamentos, pois considera que o questionar é a ferramenta principal para elevar a essência do indivíduo, e esse por sua vez poderá influenciar toda uma sociedade do presente ou do futuro.

O pensamento religioso enaltecer o crer obedecer cegamente ainda que sejam comandos auto destrutivos e condena a liberdade de expressão e o pensamento livre dos envolvidos nesse sistema de crença. Questionar é vergonhoso, querer saber detalhes é um pecado grave! Tais ações podem condena suas relações sociais do presente e compromete seu futuro!

Na bíblia, há dezenas de exemplos de pessoas que foram mortas ou amaldiçoadas simplesmente por questionarem uma ordenança ou liderança divina. Esse método de repressão é usado até hoje vários líderes religiosos para intimidar, extorquir e manipular os que ainda vivem nesse baixo nível de consciência.

Por outro lado, métodos científicos podem ser constatado por qualquer pessoa que seja capaz o suficiente para experimentá-los. Cada vez que novos aparatos científicos são inventados para examinarmos o macro ou o micro cosmos, cientistas se despem de seus antigos conceitos para recomeçar do zero e se necessário for, criar um novo caminho, um novo método de pesquisa, um novo ponto de abordagem e não veem problema nenhum em assumirem que estavam errados em seus conceitos, antes sim, sentem-se jubilosos pelas novas conquistas. Para a ciência, admitir que estava errado é uma conquista. Para a religião é uma vergonha.

A humanidade tem uma dívida enorme com tais indivíduos que trocam os apelos de uma vida comum por uma vida pacata e solitária em constantes pesquisas que contribuem constantemente para a evolução de nossa espécie.

A antropologia, a sociologia, a química, a física, a engenharia...todos são capazes de admitirem erros e reverem seus conceitos, mudarem o rumo de suas pesquisas ou pelo menos os métodos aplicáveis para consultas. Já os métodos aplicados pelos religiosos continuam os mesmos: obediência cega aos líderes religiosos, proibição de questionamentos sobre dúvidas relacionadas a própria crença, e maximização do medo ou da ganancia dos fiéis para obter mais lucros ou fidelidade de público.

A fé cristã não é uma ciência exata, mas se comporta como se fosse. O objeto de culto, apesar de invisível e imensurável, pode adquirir o formato e as proporções que cada líder político ou religioso desejar ou que cada fiel movido pelo medo, ganancia ou ignorância vier a conceber.

Quem questiona as divindades de um povo ou o meio pelas quais elas agem, pode estar fazendo ruir toda uma base sobre a qual determinada sociedade fora montada. Os deuses, caso tivessem os atributos quais a igreja afirmam ter, jamais se irritariam com nenhum tipo de pergunta ou suspeita que os fiéis pudessem ter ou fazer ao seu respeito, antes sim, laços de afeições verdadeiras poderiam surgir entre o que pergunta e o que responde.

Quem fica irritado com os questionamentos acerca das divindades, são acima de tudo aqueles que dependem exatamente de tal crença para continuarem sendo o que são, ganhando o que ganham, ou fazendo o que fazem! Deuses verdadeiramente poderosos e seguros de si, jamais se irritariam com perguntas feitas por meros mortais ao seu respeito. Só seres idiotas, estúpidos e desconfiados dos próprios poderes poderia punir seres indefesos e confusos tentando buscar a verdade. A estupidez e a ganancia de um líder reflete exatamente o retrato do deus que ele representa.

Se a religião não fosse um meio pelo quais autoridades políticas e religiosas obtém lucro e influência sobre o povo, qualquer divindade seria desprezada e esquecida! Tão verdade isso é, que na maioria dos casos boa parte dos líderes políticos e religiosos vivem exatamente o oposto daquilo que dizem ser sagrado, daquilo que dizem agradar aos deuses. Boa parte deles não vivem uma vírgula do que pregam ou dizem acreditar, mas obrigam o povo a seguir, por que sabem que a fé serve também como anestésico natural para retardar possíveis reações populares coletivas e individuais. Quanto mais fé em deus e mais devoto um indivíduo for, menos incomodo essa pessoa será para os que tem planos avessos as suas falas.

Deus, e seus derivados podem ser usados para os fins mais variados possíveis, principalmente para manter uma população em estado constante de letargia e servidão. É ferramenta de controle mais eficiente já inventada por aqueles que controlam e produzem as guerras, que geram problemas para depois venderem a solução. A vinda de jesus por exemplo, é a propaganda mais lucrativa e duradoura que se tem feito no ocidente nos últimos 2 mil anos. Nenhuma campanha publicitária tem faturado tanto nem permanecido no ar por tanto tempo assim, mesmo sem obter os resultados oferecidos. A propaganda da volta de jesus por outro lado pode tornar rico qualquer indivíduo que resolva abrir uma franquia desse tipo de negócios, mesmo sendo um iletrado, ou de procedência moral duvidosa.

Para uma sociedade que diz ser a bíblia e o deus representado nela ser a mais pura verdade do universo, o maior crime que um indivíduo pode cometer é procurar saber mais e mais sobre esse mesmo deus.

Livros de histórias e outros métodos científicos não são apoiados pelos que comercializam a fé como aparato de pesquisa para conhecer sobre a origem da própria crença. Se quiseres conhecer mais sobre deus, dobre seu joelho e fale sozinho a vida inteira e depois faça cara de contente para mostrar aos outros que foi atendido. Leia somente versículos isolados da bíblia sugerida pelo seu grupo e diga entender tudo para ser aceito publicamente pelo grupo qual decidiu fazer parte, e jamais pergunte nada sobre o que você tem dúvida a quem quer que seja, principalmente a professores de filosofia, sociologia, antropologia e biologia. A santa igreja agradece! Você pode fazer o castelo de sonhos de muita gente ruir se tiveres intuito de mostrar as coisas como realmente elas são.

Toda vez que você quiser saber sobre deus usando métodos convencionais, você vai receber um tapa na boca, um beliscão, ou um puxão de orelha. Pode vir de qualquer direção, você nunca sabe. Esteja preparado para isso.

A sociedade cristã pode até te perdoar por ser um genocida, estuprador ou um eterno parasita social, mas provavelmente nunca irão te perdoar se levares a fundo ideia de querer saber a origem de sua própria crença e dos deuses quais você cultua. É o mesmo que assinar sua sentença de morte ou exclusão social. Na maioria dos casos vale a pena, desde que o sujeito tenha coragem de rastejar se preciso for, a depender de muletas.

Ninguém pode abraçar o novo segurando o velho! Há crianças crescidas esperando um presente do bom velhinho por ter sido uma boa pessoa. Há outras porém que não precisam do reconhecimento coletivo para se sentirem seguras e amadas. Você decide se cresce ou se estagna onde estar. Certos tipos de presente, só você pode dar a você mesmo! A libertação de sua consciência é uma delas.

Saúde e sanidade a todos.



Texto escrito em 21/1/2018,
Por Antônio F. Bispo, graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

O legado de Jesus, o Cristo



Jesus, se ele alguma vez viveu, foi um revolucionário. Ele pregava o amor e o perdão, a redistribuição da riqueza e o mesmo respeito por todos, independentemente do gênero ou da sua posição social. E ele fez isso num momento em que tais ideias pareceram profundamente ultrajantes e chocantes.

Mas sua mensagem inspiradora veio com algumas condições. E havia duas condições monstruosas. Primeiro, tinha-se que acreditar no deus maldoso e genocida e em segundo lugar, tinha-se que acreditar que se estaria sujeito a um julgamento quando se morrer e, se não se passar nesse julgamento, acabar-se-ia sendo torturado para sempre.

Talvez, naquela época, essas condições fossem necessárias. Criar um novo deus (ou dizer que não existe um deus) é repleto de perigos. Então, é sempre mais fácil modificar o que existe do que inventar algo novo de raíz. Sem dúvida que é por isso que Maomé e Joseph Smith seguiram esta mesma fórmula já testada e provada centenas e milhares de anos depois.

A ideia duma vida após a morte, das mais variadas formas, já existia por ali há milénios pelo tempo que se diz que Jesus pregou. Tornou-se uma crença profundamente enraizada. Jesus refinou-a e transformou-a eficazmente numa "cana com uma cenoura pendurada num anzol" para estimular as pessoas supersticiosas da época a seguir a sua nova religião.

Ou seja, foram essas as condições e não a mensagem central, que mais impacto teve no mundo. O legado real de Jesus, não é sua mensagem de amor e comunhão, mas a mensagem do Deus judaico odioso, ciumento e vingativo.

Desde as cruzadas, passando pelas inquisições, pela queima de bruxas e até terroristas suicidas, satisfazer Deus e ganhar um lugar no céu, provaram ser mensagens mais atraentes do que amar os nossos vizinhos.

É uma grande pena que, se Jesus fosse real, isto não era o que ele esperaria.


Traduzido e adaptade de Bill Flavell

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Era uma vez...



Deus esteva só por um tempo infinito e estava bastante feliz assim sozinho (ou ele teria feito algo caso não estivesse feliz). 
Então, um dia, ele decidiu criar um universo e preenchê-lo com cerca de um milhão, milhões, milhões de milhões de estrelas (10^24) e milhões de milhões de planetas. E num pequeno planeta, orbitando uma estrela menor, ele criou coisas vivas. Ele criou milhões de espécies e uma em especial, agora conhecida por espécie humana.

Os humanos eram umas coisas primitivas com capacidades limitadas e com um mínimo de inteligência. Na verdade, os humanos não tinham nada para se orgulhar. Eles eram muitas vezes desonestos, ciumentos, gananciosos, odiosos e com fáceis acessos de raiva. E assim, eles discutiam, lutavam e se matavam aos milhões nas guerras. Sempre que eles usavam a sua pequena inteligência para inventar coisas, normalmente eles procuravam maneiras de usar essas suas invenções para explorar, dominar ou matar os outros.

Entre os humanos, sempre se pode encontrar aqueles que amavam e criavam beleza e alegria, mas a dor, o sofrimento e a morte nunca estavam longe. Na melhor das hipóteses, os humanos devem ter sido um desapontamento, provavelmente dizer um desastre seria mais preciso.

Algumas pessoas acreditam que deus criou tudo isso para que ele pudesse ter um relacionamento com os humanos. 
Mas, se os seres humanos fossem deuses, isso seria como se nós criássemos um universo enorme e tivéssemos colocado uma espécie particularmente desagradável de bactérias num planeta para com elas nos relacionarmos.

Mas será que alguém acredita seriamente nesta história?


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

A Ciência e a Ignorância




Os seres humanos têm procurado compreender o Universo pelo menos desde a Revolução Cognitiva. (...) Contudo, a ciência moderna difere de todas as tradições de conhecimento anteriores em três aspetos críticos:
 
a) A disponibilidade para admitir a ignorância. A ciência moderna tem por base a sentença latina ignoramus ("não sabemos"). Presume que não sabemos tudo. Ainda mais importante, aceita como possível que se prove estarem erradas as coisas que pensamos saber à medida que obtivermos novos conhecimentos. Nenhum conceito, ideia ou teoria é sagrada ou está vedada ao desafio.

b) A centralidade da observação e da matemática. Tendo admitido a sua ignorância, a ciência moderna procura obter novos conhecimentos. Fá-lo reunindo observações e usando ferramentas matemáticas para ligar essas observações através de várias teorias abrangentes.

c) A aquisição de novos poderes. A ciência moderna não se satisfaz com a criação de teorias. Usa essas teorias para adquirir novos poderes e, sobretudo, para desenvolver novas tecnologias.

A Revolução Científica não tem sido uma revolução de conhecimento. Tem sido, acima de tudo, uma revolução de ignorância. O grande acontecimento que lançou a Revolução Científica foi a descoberta de que os seres humanos não conhecem as respostas para as perguntamos mais importantes.(...)

A ciência dos dias de hoje é uma tradição de conhecimento única, no sentido em que admite abertamente a ignorância coletiva em relação às perguntas mais importantes. Darwin nunca afirmou ser o "O Selo dos Biólogos"* nem ter resolvido o enigma da vida de uma vez por todas. Passados séculos de extensa investigação científica , os biólogos admitem que ainda não têm uma boa explicação para o modo como os cérebros produzem consciência. Os físicos admitem que não sabem o que provocou o Big Bang ou como reconciliar a mecânica quântica com a Teoria Geral da Relatividade.

Noutros casos, teorias científicas concorrentes são aguerridamente debatidas com base no constante surgimento de novas evidências. Um bom exemplo são os debates sobre a melhor forma de gerir a economia.(...)


Ainda noutros casos , determinadas teorias são sustentadas de forma tão consistente pelas evidências disponíveis, que todas as alternativas foram há muito abandonadas. Tais teorias são aceites como verdades - no entanto, todos concordam  que, se emergissem novas provas  que a contradissessem, a teoria teria de ser revista ou abandonada. Bons exemplos são a teoria das placas tectónicas e a teoria da evolução.

* Analogia com Maomé e o Selo dos Profetas


In Sapiens, História Breve da Humanidade, de Yuval Noah Harari

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Superstição e Ciência




A quantidade de coisas que os humanos aprenderam nos últimos 500 anos é simplesmente impressionante. Basta pensar em algumas destas coisas:

- Não só descobrimos os átomos que compõem todas as coisas materiais no universo, mas entendemos como é que os átomos são, como eles se comportam e até já se descobriram as partículas fabulosamente pequenas das quais os átomos são feitos.

- Agora já sabemos que os nossos corpos são feitos de células extraordinariamente complexas, e sabemos como elas funcionam com detalhes primorosos, até ao nível molecular.

- Sabemos como as moléculas formam um modelo genético a partir do qual novos seres humanos podem se desenvolver. Nós podemos até mexer no arranjo de moléculas para corrigir erros que de outra forma causariam defeitos genéticos.

- Sabemos como a crosta da Terra se move e cria continentes e montanhas, e podemos descrever com alguma confiança, a história do nosso planeta ao longo de dezenas de milhões de anos.

- Sabemos do que é que as estrelas são feitas, a quantidade de massa que elas contêm e como elas nascem, vivem e morrem. Entendemos os processos pelos quais elas geram luz e calor. Sabemos até o que acontece com elas quando morrem.

- Entendemos a força que mantém o universo unido e mantém os planetas em órbita nos respetivos sóis e podemos calcular as órbitas com uma precisão incrível.

- Construímos dispositivos que retratam mais de 13 mil milhões de anos, bem perto do início dos tempos.

Todas estas coisas são uma pequena fração de tudo o que aprendemos, mas neste tsunami de descobertas, não encontramos uma única coisa que tenha uma explicação sobrenatural. Em vez disso, centenas de explicações estabelecidas anteriormente como sobrenaturais, foram provadas como falsas.

Temos feito isto o tempo suficiente para ver um padrão claro: não entendemos as coisas até abandonarmos as explicações sobrenaturais e aplicarmos uma abordagem científica. Se houver explicações sobrenaturais para qualquer coisa, deixe aqueles que acreditam nelas chegarem-se à frente e mostrarem que são reais.
Nós estamos esperando.
E já esperamos há muito tempo.

Enquanto isso, o conhecimento real é encontrado num rio de rápidas correntes a que chamamos de ciência. Já o sobrenatural permanece numa lagoa estagnante cada vez mais encolhida, a que chamamos de superstição.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

A moral objetiva e deus




Mais do que manter crenças equivocadas, os religiosos cometem comumente erros lógicos e inversões de pensamento que são indesculpáveis... 
Vejam por exemplo o argumento da moral para tentar explicar que deus seria necessário.

Então a pessoa fala:
Se existem valores morais objetivos, então deus existe... 
Há valores morais objetivos... 
Logo, deus existe...

E daí seguem em discussões enormes sobre se há ou não valores morais objetivos...

Ora, isso de fato é o que menos importa (claro que valores morais objetivos só existem como construção da humanidade, mas não vou tratar disso agora).

De fato, a inversão inadmissível, que deveria lançar esse argumento por terra de uma vez por todas, reside não na moral, mas no próprio conceito de deus...

Vejamos pois... 
A moral, para ser de algum valor neste argumento, precisa ser impositiva e categórica... O mesmo tipo de moral apontada por Kant, caso fosse diferente, de nada valeria a moral como indicativo de deus ou seja lá do que fosse...

Sendo portanto a moral impositiva e categórica, nada pode se opor a ela, nada pode legislar de forma diferente do que ela diz que seja certo ou errado, bem ou mal...

Sendo a moral assim, ela precisaria então ser eterna e absoluta, não poderia mudar nunca...
Até já vi pessoas repetindo isso... 
Acontece é que estas pessoas não se dão conta do que isto significa...

Se é assim, então deus não tem escolha! Ele não pode ter criado a moral, pois esta seria objetiva, impositiva e categórica, e eterna. Portanto não poderia ter sido criada, nem mesmo por deus...
E se ela não foi criada por deus, e sendo como é, impositiva e categórica, deus esta subordinado a ela, ele não pode mudá-la, ou mesmo contestá-la... 
É obrigado a segui-la!

Deus portanto não poderia ser seu criador, logo, deus não é deus, pois ele está preso de forma inescapável de algo superior a ele: à lei moral...

Tomando que deus tenha de fato criado a lei moral, coincidindo com seus próprios imperativos de conduta, ainda assim o problema persistiria. E pior, pois se deus criou a lei moral, ele agiu de forma arbitrária, por seu próprio arbítrio e escolha, e transformou tais leis em referência absoluta para tudo... 
Ora, ao fazer isso ele não apenas agiu como déspota, como também se limitou a si mesmo, pois partindo dali, nada mais pode mudar... 
Deus, a moral, o universo, tudo se tornaria uma prisão absoluta sob a égide da lei moral, e o próprio deus seria seu maior prisioneiro...

Esta inversão é clara e inquestionável, e não cede nem mesmo aos argumentos de que a lei seja boa e pura e santa, como gostam de afirmar, pois seja ela o que for, ela acima de tudo será absoluta, impositiva, categórica e arbitrária... 
Sendo, portanto, autoritária e má, por seus próprios princípios...

Como se vê, deus diante dela não pode existir e subsistir como deus... 
Logo, a existência de uma lei moral objetiva e absoluta, seria a mais forte evidência e constatação de que deus não poderia existir como deus...

Ainda bem que esta lei moral objetiva, imperativa e categórica não existe a não ser como mais um conceito criado pelo homem...


Texto de Nairan Ballesta

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Qual a origem dos valores morais e éticos?




A ética e a moral são valores adquiridos por evolução, com origem em relações de mutualismo ou de simbiose dos nossos antepassados que, quando aplicados ao macro-cosmos da sociedade de indivíduos da mesma espécie resultavam em situações de inter-ajuda ou que simplesmente favoreciam a vida em grupo e, em última instância, potenciavam a proliferação da espécie.

Este tipo de comportamentos pode ser observado noutros animais (em particular nos mamíferos). Leoas que cuidam e alimentam as crias de outras leoas, cães da pradaria que ficam de vigia e avisam os outros quando um perigo é detectado, primatas que organizam caças em grupo para alimentar o bando, etc. 
Este tipo de situações básicas, por comportamento repetitivo e por verificação dos resultados positivos que daí adviriam, por puro bom senso, deram origem a um conjunto de regras que podemos classificar de "regras de conduta". Coisas como "aquilo que é bom para todos e acaba por ser bom para mim, deve ser repetido e incentivado" ou "se eu fizer isto, existe uma repercussão que é negativa para mim ou para os outros (e em última instância, para mim, por ser mau para os outros), portanto devo evitar fazê-lo", etc.

Portanto, qualquer pessoa "normal" - e neste caso, "normal" significa que será considerado o comportamento mais aceite pela maioria de indivíduos que constituem uma sociedade e que condiz com um comportamento que leva a que haja mais condições positivas para a maioria e menos condições negativas - consegue facilmente identificar e compreender o que será considerado pela maioria como algo bom ou algo mau.

E como se pode classificar algo de bom ou mau?

Há várias maneiras, mas posso apontar algumas.
Se algo resulta numa vantagem para a maioria, sem que haja factores negativos ou pejorativos a contrabalançar, podemos considerar que é algo bom.

Outra maneira de avaliar o que é bom ou mau é através da capacidade humana de abstracção do indivíduo, que nos permite colocar no lugar dos outros. Se eu for fazer algo que, se fosse feito a mim, resultasse em angústia, tristeza, dor, sofrimento, etc, da minha parte, então posso assumir que muito provavelmente teria o mesmo resultado em outrem.

Portanto, é fácil para qualquer pessoa, através do mais puro bom senso, avaliar o que é bom ou mau, sem ter de recorrer a um "manual de instruções" baseado em textos de povos ignorantes e supersticiosos da Idade do Ferro e do Bronze.

O que nos leva a uma vertente mais específica da avaliação e aplicação de valores morais. Uma pessoa que não sabe identificar por si própria o que é bom e o que é mau, apenas tendo como referência um texto que retrata os valores morais de uma sociedade que usava o apedrejamento como justiça contra "crimes" tão graves como "desobediência aos pais", será que uma pessoa com bons valores morais?

Quer-me parecer que um ateu, sendo usualmente uma pessoa perfeitamente racional e que analisa de uma forma lógica cada situação sem se pautar por valores obsoletos e altamente questionáveis, será uma pessoa que mais facilmente fará uma clara distinção entre o que é bom e o que é mau. Já um crente, que tem como base as regras vigentes para uma sociedade arcaica, violenta, ignorante e supersticiosa, demonstra ser altamente questionável, na sua capacidade de aferir aquilo que é realmente bom ou mau.


Texto de Rui Batista

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Os cristãos e as perseguições



O único deus que os romanos se recusaram a tolerar durante muito tempo foi o deus monoteísta e evangelizador dos cristãos. O Império Romano não exigia que os cristãos abdicassem das suas crenças e rituais, mas esperava que respeitassem os deuses protetores do império e a divindade do imperador. Isto era encarado como uma declaração de lealdade política. Quando os cristãos se recusaram veementemente a fazê-lo, e rejeitaram todas as tentativas de chegar a um compromisso, os romanos reagiram perseguindo aquilo que entendiam ser uma fação politicamente subversiva. E mesmo assim isso foi feito com pouca convicção. Nos 300 anos entre a crucificação de Cristo e a conversão do imperador Constantino, os imperadores politeistas romanos iniciaram apenas quatro perseguições gerais aos cristãos, apesar dos administradores e governadores locais incitarem a alguma violência anticristã. Ainda assim, se combinarmos todas as vítimas das perseguições durante esses três séculos, os romanos politeistas mataram alguns milhares de cristãos. Por outro lado, ao longo dos 1500 anos seguintes, os cristãos chacinaram milhões de cristãos para defenderem interpretações ligeiramente diferentes da religião do amor e da compaixão.

As guerras religiosas entre católicos e protestantes, que varreram a Europa nos séculos XVI e XVII, foram particularmente notórias. Todos os envolvidos aceitavam a divindade de Cristo e o seu evangelho de compaixão e amor. No entanto, discordavam quanto à natureza desse amor. Os protestantes acreditavam que o amor divino era tão grande, que deus tinha encarnado e permitido que fosse torturado e crucificado, assim redimindo o pecado original e abrindo os portões do céu a todos os que professassem a sua fé nele. Os católicos defendiam que a fé, ainda que essencial, não era suficiente. Para entrarem no céu, os crentes tinham de participar nos rituais da igreja e praticar boas ações. Os protestantes recusavam-se a aceitar isso, argumentando que este quid pro quo aviltava a grandiosidade e o amor de deus. Todos os que acreditam que entrar no céu depende das suas boas ações, realçam a sua própria importância e dão a entender que o sofrimento de Cristo na cruz e o amor de Deus pela humanidade não são suficientes.

Estas disputas teológicas tornaram-se tão violentas, que, durante os séculos XVI e XVII, católicos e protestantes mataram-se uns aos outros às centenas de milhares. A 23 de agosto de 1572, os católicos franceses, que realçavam a importância das boas ações, atacaram comunidades de protestantes franceses que enalteciam o amor de Deus pela humanidade. Neste ataque, o dia do massacre de São Bartolomeu, foram chacinados entre 5000 e 10000 protestantes em menos de 24 horas. Quando o papa, em Roma, soube o que tinha acontecido em França, ficou de tal forma feliz, que organizou orações festivas para celebrar a ocasião e contratou Giorgio Vasari para decorar uma das salas do Vaticano com um fresco do massacre (a sala está hoje encerrada). Foram mortos mais cristãos por outros cristãos nessas 24 horas do que pelo Império Romano politeista durante toda a sua existência.


De Sapien, História Breve da Humanidade, de Yuval Noah Harari


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

A relatividade da moral teísta.




Certo dia um cristão me perguntou porquê nós ateus discriminamos tantas atitudes do deus da bíblia( como matar crianças e mais).

A pergunta era para confrontar, ou seja, porquê discriminam a moral do nosso deus se vocês apoiam a moral relativa?

Admito que fiquei meio emudecido no momento.

Mas longe de responder essa questão, eu gostaria de levar os teístas a refletir que a moral teísta é também relativa. Calma, eu explico.

Pensar que pôr um deus no assunto vai solucionar a questão da relatividade da moral é pura ingenuidade.

Pode se dar o caso que a moral teísta seja bem mais relativizada. Apesar que as definições de Deus não variem tanto de religião pra religião, os caprichos das divindades variam.

Por exemplo, os cristãos defendem a monogamia sob alegação de que essa é a mais perfeita vontade do seu deus relativamente ao matrimónio. Muçulmanos não vêm problemas em ter múltiplas parceiras, afinal, até o grande profeta Mohamed também foi polígamo. Então teístas, a poligamia é ou não relativizada? Existem várias outras discrepâncias entre o Islamismo e o Cristianismo, discrepâncias estas que um cristão chega a ser imoral e perverso para um muçulmano e vice-versa.

Agora temos que também decidir qual deus tem a melhor moral.

E vejam, só falei ainda de duas religiões, e se abrangermos todas as religiões teístas da terra? Se a moral teísta é a perfeita, porquê dar ouvidos ao teu deus e não a outro?

E se aquilo a que vocês chamam leis de Deus sejam leis de homens mascarados de Deus? Já pensaram nisso?

Hamurabi trouxe o seu código sob a alegação de que o Deus Marduque lhe deu tais leis. Que diferenças há entre Hamurabi e Moisés?

Hamurabi é o "Moisés" sumério e Moisés é o "Hamurabi" hebreu. Só isso.

Quem aqui diz que a moral que Hamurabi trouxe é a mais perfeita para a humanidade porque tinha como base um Deus?

Então, antes de qualquer deus nos repreender ou fazer qualquer coisa, o tal deve se revelar pra humanidade (explicitamente), coisa que nenhum deus fez até agora.


Texto de Gil Yossuf.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

O politeísmo das religiões monoteístas



  "As religiões monoteístas expulsaram os deuses pela porta da frente com grande fanfarra, apenas para voltar a recebê-los pela janela lateral. O cristianismo, por exemplo, desenvolveu o seu próprio panteão de santos, cujos cultos pouco diferem da veneração dos deuses politeístas.

Tal como Júpiter defendia Roma e Huitzilopochtli protegia o Império Asteca, também todos os reinos cristãos tinham o seu santo, que os ajudava a superar dificuldades e a vencer guerras. Inglaterra era protegida por São Jorge, a Escócia por Santo André, a Hungria por Santo Estêvão e França por São Martinho. Cidades e vilas, profissões e até doenças, todas têm o seu próprio santo. A cidade de Milão tinha Santo Ambrósio, enquanto São marco protegia Veneza. São Floriano protegia os limpa-chaminés, enquanto São Mateus dava uma mão aos cobradores de impostos em apuros. se sofresse de dores de cabeça, devia rezar a Santo Acácio, mas se as dores fossem de dentes, então, Santa Apolónia teria muito mais audiência.

Os santos cristãos não se assemelhavam apenas aos deuses politeístas. Muitas vezes, eram esses mesmos deuses dissimulados. Por exemplo, a principal deusa da Irlanda celta, antes da chegada do cristianismo, era Brigid. Quando a Irlanda foi cristianizada, também Brigid foi batizada. Transformou-se em Santa Brigite, até hoje a santa mais adorada da Irlanda Católica.

De facto, o monoteísmo, tal como se desenvolveu ao longo da história, é um caleidoscópio de legados monoteístas, dualistas, politeístas e animistas, que se misturam sob uma só proteção divina. O cristão comum acredita no Deus monoteísta, mas também no Demónio dualista, nos santos politeístas e nos fantasmas animistas. Os estudiosos da religião têrm um nome para esta confissão de ideias retiradas de várias fontes: chamam-lhes sincretismo. O sincretismo talvez seja, de facto, a única grande religião do mundo."


Texto de Sapiens, História Breve do Humanidade, de Yuval Noah Harari

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Sendo tocado por deus...




Alguns dos crentes mais convencidos são aqueles que estão completamente seguros de que deus se revelou para eles. Tais pessoas geralmente dizem que falam com deus todos os dias e, às vezes, dizem que deus transformou as suas vidas. Eu suspeito que essas pessoas amam deus tão profundamente quanto outras pessoas amam os seus pais, irmãos, cônjuges e os melhores amigos.

Mas há uma pergunta que essas pessoas certamente não devem ter perguntado a si mesmas: se essas pessoas realmente foram tocadas pelo criador do universo, por que algumas delas mudam de ideia e abandonam as suas crenças em deus? Como isso poderia ser possível para alguém que realmente falou com deus?

Se se falar com alguns ateus, não demorará muito para encontrar alguém que admita que ele estava totalmente certo de que se comunicou com deus. Tais pessoas perdem a crença em deus. Mas como?

Na verdade, é bastante fácil responder. As pessoas perdem a crença em deus quando concluem que não falaram com deus, mas consigo mesmas. Elas percebem que ficaram enganadas pela sua imaginação.

A imaginação é uma coisa poderosa e é uma das coisas que torna os seres humanos tão inteligentes. A imaginação pode conceber deuses extraordinários, e pode até fazê-los chegar à "vida" de forma incrivelmente convincente.

Ninguém que realmente escalou o Monte Everest negaria que a montanha exista, e ninguém que realmente foi tocado por deus negaria que deus existisse. 
Mas eles negam. Porque eles não foram tocados por deus, nem tu.



Traduzido e adaptado de Bill Flavell

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Afinal, onde e qual foi a primeira religião monoteísta?




Não raro, leio o argumento de que foram os judeus que inventaram o monoteísmo, e sendo assim, eles foram os primeiros monoteístas da história. Esquecem que os judeus, primeiro adoraram o deus El, e depois, substituíram esse deus pelo deus Yhwh (Yahveh). Além disso, no velho testamento, não faltam referências a vários deuses, tanto indiretamente como de forma direta. Ou seja, os judeus adoraram dois deuses "únicos", um de cada vez, enquanto aceitavam a existência de outros deuses.
 
Na verdade, não foi muito longe do pequeno mundo por onde os judeus passeavam os seus rebanhos, que surgiu a primeira religião monoteísta. Retiro um pequeno texto do livro Sapiens, História Breve da Humanidade que nos esclarece:

"A primeira religião monoteísta conhecida surgiu no Egipto c.1350 AEC, quando a faraó Akhenaton declarou que uma das divindades menores do panteão egípcio, o deus Aton, era, na verdade, o poder supremo que controlava o Universo. Akhenaton institucionalizou a adoração de Aton como religião oficial do império e tentou controlar a adoração de todos os outros deuses. Esta revolução religiosa, contudo, não foi bem-sucedida. Depois da sua morte, a adoração de Aton foi abandonada em prol do antigo panteão."

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Foi o cristianismo que criou a Ciência?




Há várias formas de refutar essa falácia usada por cristãos, então dividirei em tópicos.

1 - Os cristãos tentam sustentar essa afirmação, porque muitos cientistas importantes no passado eram cristãos ( eles ficam fazendo listinhas com nomes de cientistas renomados como Newton por exemplo ). Ou seja, a " lógica " da afirmação dos cristãos, tem como base cientistas importantes que eram cristãos, sendo assim se tais cientistas não fossem cristãos... tal afirmação se tornaria automaticamente falaciosa. Por tanto, se supormos que todos os cientistas importantes da história eram hindus, com base na mesma " lógica " da afirmação dos cristãos, o Hinduísmo se tornaria a religião criadora da ciência. Logo se o Hinduísmo é oposto ao cristianismo e esta religião se tornaria criadora da ciência, isso demonstra que a ciência nunca poderá ser criação do cristianismo, pois se a ciência fosse de fato criação do cristianismo, ela não passaria a ser fruto de algo oposto.

Conclusão: A ciência não se torna criação de uma religião apenas porque cientistas importantes eram adeptos de tal religião.

2 - Se os maiores cientistas da história tivessem sido de fato cristãos, mas se a ciência considerar diversas coisas uma verdade e o cristianismo considerar tais coisas uma mentira, como a ciência seria criação do cristianismo ?
R - Seria impossível ser sua criação, pois ambos ( ciência e cristianismo ) se opõem em diversas coisas.

Conclusão: O cristianismo não pode ser considerado criador da ciência apenas porque existiu no passado cientistas cristãos.

3 - A ciência em toda a sua totalidade não pode ser criação do cristianismo, pois ela não se desenvolveu através da bíblia, oração ou indo a igreja. Um médico por exemplo não se formou em medicina estudando a bíblia, tecnologias como o computador não foram possíveis de existir consultando a bíblia ou indo a igreja, o conhecimento nos livros científicos não foram possíveis de ser escritos por causa de uma oração.

Conclusão: Dizer que o cristianismo criou a ciência, é tão idiota como dizer que o livro do Harry Potter criou o foguete espacial, pois ambos são constantemente descartados quando se faz algo na ciência.

4 - Se toda a ciência fosse fruto do cristianismo, a nossa ciência atual já teria de existir desde os primórdios do cristianismo na idade média, pois bastaria o cristianismo existir para a ciência automaticamente se desenvolver. 
Mas como isto não aconteceu, pode-se então concluir que a ciência é independente do cristianismo e não é sua criação.

5 - O cristianismo é um conjunto de idéias contidas em um livro e essas idéias não possuem vida e consequentemente nem uma consciência. Ou seja, o cristianismo é incapaz de tomar uma decisão para criar algo, já que não possui consciência própria. Por tanto o cristianismo não criou a ciência ( mesmo que haja cientistas cristãos ).

Conclusão: Dizer que o cristianismo criou algo que "ele" não decidiu criar por conta própria, seria tão insano como dizer que uma pedra criou sozinha uma Ferrari.

6 - Os documentos médicos e históricos mais antigos são oriundos do Egito Antigo ( Papiro Ebers e o Papiro Edwin Smith ). Também há o Corpus Hippocraticum da Grécia Antiga. E como sabemos a medicina faz parte da ciência. Ou seja, se havia conhecimento sobre medicina em épocas em que o cristianismo era inexistente, prova-se então que o cristianismo não criou a ciência, pois não há como o cristianismo ter criado algo que já existia antes da sua existência, assim como eu não posso ter criado o computador quando não era nascido. Inclusive a matemática também é mais antiga que o cristianismo e isto está documentado no Papiro de Rhind ou Papiro de Ahmes como é chamado ( onde um escriba detalha a solução de 85 problemas de aritmética, frações, cálculo de áreas, volumes, progressões, repartições proporcionais, regra de três simples, equações lineares, trigonometria básica e geometria ).

Imagem acima: Eratóstenes, Grécia antiga. 



Texto de Sávio Sales

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Desmontando a bíblia - O nascimento de Jesus em Belém.




As narrativas evangélicas segundo as quais Jesus nasceu em Belém são exemplos de “profecia historicizada”, para fazer-se cumprir forçadamente a profecia de Miqueias do Antigo Testamento, a qual dizia que o esperado Messias nasceria em Belém: “Mas tu, (Belém), Éfrata, embora pequena entre os clãs de Judá, de ti sairá para mim aquele que será dominador em Israel. Suas origens são de tempos antigos, de dias imemoráveis” (Miqueias 5,1). A versão de Mateus é esta: “E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre os cidades de Judá, pois de ti sairá um que será o guia que apascentará Israel, o meu povo” (Mateus 2,6).

Primeiramente, o caro leitor deve notar a proposital modificação da linguagem dessa profecia que o escritor do Evangelho segundo Mateus fez. Miquéias diz "Belém Efrata" que muito provavelmente seja um clã (grupo de certos indivíduos), ainda que esse clã seja de judeus. Mateus substitui "Belém Efrata" para "Belém da Judeia" o que seria uma grave distorção da linguagem, quiçá para casar com doutrinas cristãs previamente estabelecidas.

A esse respeito, há contradições nos próprios Evangelhos acerca da cidade onde Jesus nasceu: enquanto para Mateus e Lucas, Jesus nasceu em Belém, para João, ele nasceu em Nazaré. O Evangelho de João afirma textualmente que os seguidores de Jesus ficaram surpresos com o fato de ele não ter nascido em Belém:
"Diziam outros: “É este o Cristo!” Mas alguns diziam: Porventura pode o Cristo vir da Galileia? A Escritura não diz que o Cristo será da linhagem de Davi e virá de Belém, a cidade de onde era Davi? (João 7,41-42)".

Embora Mateus e Lucas afirmem que Jesus nasceu em Belém, existe uma famosa contradição entre eles: enquanto para Mateus, Maria e José residiam em Belém, desde sempre, tendo ido morar em Nazaré só muito tempo depois do nascimento de Jesus, na volta do Egito, para onde tinham fugido do rei Herodes e do massacre dos inocentes, Lucas, ao invés, admite que Maria e José moravam em Nazaré antes de Jesus nascer, tendo ido para Belém, somente para cumprir a profecia de Miqueias, na época em que Quirino era governador da Síria, e quando César Augusto tinha ordenado a realização de um censo, e todo mundo tinha de ir “para a sua cidade”. José era supostamente “da casa e da linhagem de Davi” e, portanto, tinha de ir para a “cidade de Davi, que é chamada de Belém.

Do ponto de vista histórico, é uma grande mentira afirmar que César Augusto ordenou a realização de um censo, e todo mundo tinha de ir “para a sua cidade”. Um recenseamento parcial, ordenado por Quirino, governador da Síria, realmente aconteceu, mas somente seis anos depois do suposto nascimento de Cristo em Belém, quando Herodes, o Grande, ainda era rei (cf. Mateus 2,16). Acontece que Herodes morreu no ano 4 antes de Cristo, portanto, cerca de uma década antes do recenseamento ordenado por Quirino.

É um grande erro acreditar que os romanos teriam exigido que José voltasse para a cidade de Belém, onde um ancestral remoto (o rei Davi) havia "vivido" um milênio antes.

Sem deixar aqui de realçar que muitos estudiosos atestam que a cidade de Nazaré no primeiro século da nossa era nem existia. Agora ficou feio, mas pela natureza polêmica desse assunto, isso não será aqui discutido, e deixo aqui essa curiosidade pra que você que acompanha a minha série possa investigar a respeito.

Continuando...

A genealogia de Jesus rastreada por Mateus e Lucas é muito contraditória: Enquanto para Mateus, a descendência de José do rei Davi é feita por 28 gerações intermediárias, Lucas fala em 41 gerações, sem que haja coincidências nos nomes das duas listas. De qualquer jeito, se Jesus nasceu mesmo de uma virgem, por obra e graça do Espírito Santo, conforme a crença mítica no nascimento virginal e miraculoso de Jesus, os ancestrais de José seriam irrelevantes e não poderiam ser usados para fazer cumprir, a favor de Jesus, a profecia de Miqueias de que o Messias deveria ser descendente de Davi.

Como disse num post anterior, os cristãos nunca aceitam de bandeja serem desnudados (falo por experiência). A maior defesa pra as contradições destas genealogias é de que Mateus fala da genealogia de José e Lucas fala de Maria. Discordo veementemente com essa alegação, mas deixo isso pra um outro possível post.


Texto de Gil Yossuf