A ética e a moral são valores adquiridos por evolução, com origem em relações de mutualismo ou de simbiose dos nossos antepassados que, quando aplicados ao macro-cosmos da sociedade de indivíduos da mesma espécie resultavam em situações de inter-ajuda ou que simplesmente favoreciam a vida em grupo e, em última instância, potenciavam a proliferação da espécie.
Este tipo de comportamentos pode ser observado noutros animais (em particular nos mamíferos). Leoas que cuidam e alimentam as crias de outras leoas, cães da pradaria que ficam de vigia e avisam os outros quando um perigo é detectado, primatas que organizam caças em grupo para alimentar o bando, etc.
Este tipo de situações básicas, por comportamento repetitivo e por verificação dos resultados positivos que daí adviriam, por puro bom senso, deram origem a um conjunto de regras que podemos classificar de "regras de conduta". Coisas como "aquilo que é bom para todos e acaba por ser bom para mim, deve ser repetido e incentivado" ou "se eu fizer isto, existe uma repercussão que é negativa para mim ou para os outros (e em última instância, para mim, por ser mau para os outros), portanto devo evitar fazê-lo", etc.
Portanto, qualquer pessoa "normal" - e neste caso, "normal" significa que será considerado o comportamento mais aceite pela maioria de indivíduos que constituem uma sociedade e que condiz com um comportamento que leva a que haja mais condições positivas para a maioria e menos condições negativas - consegue facilmente identificar e compreender o que será considerado pela maioria como algo bom ou algo mau.
E como se pode classificar algo de bom ou mau?
Há várias maneiras, mas posso apontar algumas.
Se algo resulta numa vantagem para a maioria, sem que haja factores negativos ou pejorativos a contrabalançar, podemos considerar que é algo bom.
Outra maneira de avaliar o que é bom ou mau é através da capacidade humana de abstracção do indivíduo, que nos permite colocar no lugar dos outros. Se eu for fazer algo que, se fosse feito a mim, resultasse em angústia, tristeza, dor, sofrimento, etc, da minha parte, então posso assumir que muito provavelmente teria o mesmo resultado em outrem.
Portanto, é fácil para qualquer pessoa, através do mais puro bom senso, avaliar o que é bom ou mau, sem ter de recorrer a um "manual de instruções" baseado em textos de povos ignorantes e supersticiosos da Idade do Ferro e do Bronze.
O que nos leva a uma vertente mais específica da avaliação e aplicação de valores morais.
Uma pessoa que não sabe identificar por si própria o que é bom e o que é mau, apenas tendo como referência um texto que retrata os valores morais de uma sociedade que usava o apedrejamento como justiça contra "crimes" tão graves como "desobediência aos pais", será que uma pessoa com bons valores morais?
Quer-me parecer que um ateu, sendo usualmente uma pessoa perfeitamente racional e que analisa de uma forma lógica cada situação sem se pautar por valores obsoletos e altamente questionáveis, será uma pessoa que mais facilmente fará uma clara distinção entre o que é bom e o que é mau.
Já um crente, que tem como base as regras vigentes para uma sociedade arcaica, violenta, ignorante e supersticiosa, demonstra ser altamente questionável, na sua capacidade de aferir aquilo que é realmente bom ou mau.
Texto de Rui Batista
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