quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

A moral objetiva e deus




Mais do que manter crenças equivocadas, os religiosos cometem comumente erros lógicos e inversões de pensamento que são indesculpáveis... 
Vejam por exemplo o argumento da moral para tentar explicar que deus seria necessário.

Então a pessoa fala:
Se existem valores morais objetivos, então deus existe... 
Há valores morais objetivos... 
Logo, deus existe...

E daí seguem em discussões enormes sobre se há ou não valores morais objetivos...

Ora, isso de fato é o que menos importa (claro que valores morais objetivos só existem como construção da humanidade, mas não vou tratar disso agora).

De fato, a inversão inadmissível, que deveria lançar esse argumento por terra de uma vez por todas, reside não na moral, mas no próprio conceito de deus...

Vejamos pois... 
A moral, para ser de algum valor neste argumento, precisa ser impositiva e categórica... O mesmo tipo de moral apontada por Kant, caso fosse diferente, de nada valeria a moral como indicativo de deus ou seja lá do que fosse...

Sendo portanto a moral impositiva e categórica, nada pode se opor a ela, nada pode legislar de forma diferente do que ela diz que seja certo ou errado, bem ou mal...

Sendo a moral assim, ela precisaria então ser eterna e absoluta, não poderia mudar nunca...
Até já vi pessoas repetindo isso... 
Acontece é que estas pessoas não se dão conta do que isto significa...

Se é assim, então deus não tem escolha! Ele não pode ter criado a moral, pois esta seria objetiva, impositiva e categórica, e eterna. Portanto não poderia ter sido criada, nem mesmo por deus...
E se ela não foi criada por deus, e sendo como é, impositiva e categórica, deus esta subordinado a ela, ele não pode mudá-la, ou mesmo contestá-la... 
É obrigado a segui-la!

Deus portanto não poderia ser seu criador, logo, deus não é deus, pois ele está preso de forma inescapável de algo superior a ele: à lei moral...

Tomando que deus tenha de fato criado a lei moral, coincidindo com seus próprios imperativos de conduta, ainda assim o problema persistiria. E pior, pois se deus criou a lei moral, ele agiu de forma arbitrária, por seu próprio arbítrio e escolha, e transformou tais leis em referência absoluta para tudo... 
Ora, ao fazer isso ele não apenas agiu como déspota, como também se limitou a si mesmo, pois partindo dali, nada mais pode mudar... 
Deus, a moral, o universo, tudo se tornaria uma prisão absoluta sob a égide da lei moral, e o próprio deus seria seu maior prisioneiro...

Esta inversão é clara e inquestionável, e não cede nem mesmo aos argumentos de que a lei seja boa e pura e santa, como gostam de afirmar, pois seja ela o que for, ela acima de tudo será absoluta, impositiva, categórica e arbitrária... 
Sendo, portanto, autoritária e má, por seus próprios princípios...

Como se vê, deus diante dela não pode existir e subsistir como deus... 
Logo, a existência de uma lei moral objetiva e absoluta, seria a mais forte evidência e constatação de que deus não poderia existir como deus...

Ainda bem que esta lei moral objetiva, imperativa e categórica não existe a não ser como mais um conceito criado pelo homem...


Texto de Nairan Ballesta

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