Mais do que manter crenças equivocadas, os religiosos cometem comumente erros lógicos e inversões de pensamento que são indesculpáveis...
Vejam por exemplo o argumento da moral para tentar explicar que deus seria necessário.
Então a pessoa fala:
Se existem valores morais objetivos, então deus existe...
Há valores morais objetivos...
Logo, deus existe...
E daí seguem em discussões enormes sobre se há ou não valores morais objetivos...
Ora, isso de fato é o que menos importa (claro que valores morais objetivos só existem como construção da humanidade, mas não vou tratar disso agora).
De fato, a inversão inadmissível, que deveria lançar esse argumento por terra de uma vez por todas, reside não na moral, mas no próprio conceito de deus...
Vejamos pois...
A moral, para ser de algum valor neste argumento, precisa ser impositiva e categórica... O mesmo tipo de moral apontada por Kant, caso fosse diferente, de nada valeria a moral como indicativo de deus ou seja lá do que fosse...
Sendo portanto a moral impositiva e categórica, nada pode se opor a ela, nada pode legislar de forma diferente do que ela diz que seja certo ou errado, bem ou mal...
Sendo a moral assim, ela precisaria então ser eterna e absoluta, não poderia mudar nunca...
Até já vi pessoas repetindo isso...
Acontece é que estas pessoas não se dão conta do que isto significa...
Se é assim, então deus não tem escolha! Ele não pode ter criado a moral, pois esta seria objetiva, impositiva e categórica, e eterna. Portanto não poderia ter sido criada, nem mesmo por deus...
E se ela não foi criada por deus, e sendo como é, impositiva e categórica, deus esta subordinado a ela, ele não pode mudá-la, ou mesmo contestá-la...
É obrigado a segui-la!
Deus portanto não poderia ser seu criador, logo, deus não é deus, pois ele está preso de forma inescapável de algo superior a ele: à lei moral...
Tomando que deus tenha de fato criado a lei moral, coincidindo com seus próprios imperativos de conduta, ainda assim o problema persistiria. E pior, pois se deus criou a lei moral, ele agiu de forma arbitrária, por seu próprio arbítrio e escolha, e transformou tais leis em referência absoluta para tudo...
Ora, ao fazer isso ele não apenas agiu como déspota, como também se limitou a si mesmo, pois partindo dali, nada mais pode mudar...
Deus, a moral, o universo, tudo se tornaria uma prisão absoluta sob a égide da lei moral, e o próprio deus seria seu maior prisioneiro...
Esta inversão é clara e inquestionável, e não cede nem mesmo aos argumentos de que a lei seja boa e pura e santa, como gostam de afirmar, pois seja ela o que for, ela acima de tudo será absoluta, impositiva, categórica e arbitrária...
Sendo, portanto, autoritária e má, por seus próprios princípios...
Como se vê, deus diante dela não pode existir e subsistir como deus...
Logo, a existência de uma lei moral objetiva e absoluta, seria a mais forte evidência e constatação de que deus não poderia existir como deus...
Ainda bem que esta lei moral objetiva, imperativa e categórica não existe a não ser como mais um conceito criado pelo homem...
Texto de Nairan Ballesta
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