terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A difícil arte de conviver em sociedade, parte II



PAROLA
PARASITAS SOCIAIS MODERNOS INVOCANDO ANTIGAS LEIS DA PIRATARIA

“Quando um pirata é preso por outro, o capturado detêm o direito de Parola, este deve ser levado ao capitão do navio inimigo e não pode sofrer nenhum tipo de agressão até o fim da negociação” (http://www.dicionarioinformal.com.br/parola/- definição de parola no dicionário virtual).

Sem querer de modo algum comparar a piratas nossa corte ou magistrados em geral, ressalto que indivíduos antagônicos a ordem social e avessos a qualquer tipo de leis, desejam fazer valer as leis que protegem cidadãos e seus direitos somente quando são eles mesmos os surpreendidos cometendo crimes. Comparo os tais aos que viviam do ramo da pirataria no passado, que após serem pegos exigiam julgamento sob parola, vivendo fora como fora da lei, mas desejando ser julgado por uma que lhe favorecesse quando fosse necessário.

Tais piratas do presente vivem a causar desordem e balburdia, bem como são fonte de todo tipo de prejuízo aos demais por onde passam. Não usam antigas embarcações de madeira nem tapa olho, nem tão pouco usam perna de pau ou mãos em forma de gancho, mas vivem a apelar pela velha lei da pirataria por muitos séculos invocada entre a irmandade do crime nos sete mares. PAROLA! Dizem estes o tempo todo indiretamente toda vez que são presos ou investigados por seus delitos.

Tais piratas podem estar infiltrados na política, na religião ou em grandes corporações. Podem possuir títulos de respeito e serem tratados como verdadeiros lordes por sua aparente conduta de retidão ou podem até cometer abusos abertamente por achar que o título que portam dá direito a isso, enquanto a sociedade foi ensinada a assistir de modo servil a tal demonstrações de abuso, como faziam os povos do passado quando os bandidos dos mares chegavam em suas praias causando terror com seu poderio de fogo e capacidade de destruição.

Outros desses personagens atuais da pirataria moderna são figurinhas carimbadas da justiça, da mídia e da sociedade em geral, qual desejando se portar de modo civilizado e ordeiro concordam ainda que indiretamente que tais indivíduos façam com que as ruas de nossa cidade sejam tão perigosas quanto foram os trajetos marítimo mercantil do passado. Para não sermos retratados pela lei como possíveis infratores por resistirmos aos abusos cometidos pelos tais piratas, temos nossas liberdades cerceadas, nossas vidas ameaçadas e parte do que produzimos direcionado para manter um sistema prisional falido, onde delinquentes avessos a lei quando são apanhados não cansam de dizer: PAROLA!

A exemplo disso temos vários adolescentes infratores, alguns desses “fregueses” de policiais e de varas da infância, que quando são detidos em flagrante delito por autoridades civis ou pessoas comuns logo começam a verbalizar insultos e impropérios contra quem o está detendo. Logo dizem: “conheço meus direitos, se você tocar em mim, vai se ver com a justiça”!

Quem ensinou a esses bandidos em miniatura que eles tinham direitos resguardados na constituição, esqueceu de dizer que todos os indivíduos da sociedade também o tem, incluindo o que ele estava tentando fazer o mal no ato da detenção. Para intimidar, esse tipo de gente usa de ameaças com a velha e repetida frase de que se alguém os tocar ou insultar verbalmente vai ser punido pela justiça. Não deveria ser ao contrário? Novos piratas apelando para velhas leis da pirataria. Será que eles interpretam que a justiça apoia somente bandidos em fase de crescimento, ou será que é pelo fato de cidadãos comuns esquecerem que também tem direitos que eles agem assim?

Estelionatários, assaltantes e políticos mal intencionados que roubaram pessoas indefesas, que levaram empresas a falência ou destruíram estados e países inteiros subtraindo dos outros para si mesmo, quando são presos querem fazer valer a lei que diz respeito a propriedade privada. A lei que protege o patrimônio pessoal dos indivíduos só é considerada como válida por eles quando é pra proteger o próprio patrimônio ilegalmente adquirido que eles juntaram. Quando eles estavam subtraindo dos outros, essa lei não valia nada e sentiam-se à vontade para subtrair o quanto possível!

Meliantes reincidentes e criminosos confessos com apenas um ou dezenas de homicídios nas costas, invocam a lei da liberdade, da vida e da proteção contra torturas físicas e psicológicas quando estão sendo presos ou julgados pelos seus crimes. Essa mesma lei não teve valor algum quando estes estavam a cometer latrocínios ou executavam de modo frio e calculista a morte de outros indivíduos.

Será que existe uma lei feita apenas para resguardar bandidos? Será que as leis universais dos direitos humanos só é válida para punir pessoas com capacidade de se portar de modo servil e respeitoso? Por que enquadrar dentro dos direitos humanos indivíduos que tem apenas um corpo humano com mentalidade de monstro?

O que torna um indivíduo apto para conviver em sociedade é sua estrutura físico biológica humana ou sua capacidade de ser cidadão? Acho que se tivessem a capacidade de votar e escolher um candidato nas urnas, cães, gatos e vários animais de estimação já seriam enquadrados no quesito de leis que protegem humanos, já que socialmente alguns destes se portam de modo mais civilizados que muitos humanos.

A grande pergunta é: por que indivíduos reincidentes, frios e calculistas, que planejam com exatidão todas as suas ações maléficas sem se importar com a lei ou constituição, ou que não estão nem ai para o quanto possa causar de prejuízo individual ou coletivo, por que esses mesmos indivíduos devem ser julgados ou protegidos pelos “rigores” da leis como se fossem meros anjinhos ou pessoas indefesas, já que nunca respeitaram a lei e só agora as invocam apenas para benefício próprio?

Esperar que indivíduos que não respeitam as leis e agem de modo premeditado o tempo inteiro no intuito de causar prejuízos a outros venham se corrigir automaticamente seria o mesmo que colocar lobos famintos e cordeirinhos indefesos em uma mesma sala fechada, e exigir que todos eles se respeitassem mutuamente sem provocar danos uns aos outros só por que na porta da sala tem um aviso escrito exigindo respeito mútuo. Será que funciona?

Por que a sociedade de modo geral precisa ter um custo mensal de aproximadamente 4 mil reais por cabeça desses indivíduos, para mantê-los alimentados e protegidos em presídios com todos os seus direitos resguardados, quando os indivíduos prejudicados por eles tiveram seus direitos invalidados por tais pessoas? Por que temos de manter vivos e seguros os que pregam a morte e violência explicita o tempo inteiro, que não demonstram nem um tipo de arrependimento depois de cometerem crimes e que em qualquer saidinha concedida pela justiça em datas comemorativas aproveitam para trazer ainda mais prejuízos? Será que a vida destes valem mais que a de outros? Será que a lei que garante a liberdade de ir e vir bem como a de propriedade privada e respeito a vida só tem serventia aos que andam armados e aos bandos saem diariamente à caça?

Pior que perder um ente querido em um assalto ou em um crime premeditado por pessoas irreparáveis, é saber que você estar sendo obrigado pelo estado a pagar para que tal individuo esteja protegido e alimentado com seu dinheiro e que logo logo, em questão de dias ou meses eles estarão livres, reinseridos na sociedade para dar seguimento a sua carreira de terror.

Nosso povo precisa seriamente rever seus conceitos de aplicação da lei para com reincidentes para evitar que indivíduos até então equilibrados sejam tomados pela revolta e passem a agir de modo igual a criminosos confessos por não haver punição adequadas para os tais. O rigor de uma lei não faz com que o crime sejam evitados em sua totalidade, mas pode inibir o que estar em cima do muro a andar por caminhos sem volta, sem falar que o senso de justiça cresce entre o povo quando veem pessoas irreparáveis pagando pelos seus atos.

Pior do que ver uma família que hoje sofre privações financeiras por ter perdido o chefe da família em um assalto por um meliante sem jamais ter recebido nenhum tipo de ajuda do estado ou da família do assassino, é saber que o criminoso que cometeu tal crime estar recebendo mensalmente auxilio reclusão do governo para manter a família dele alimentada e protegida enquanto ele mesmo se aperfeiçoa ainda mais na escola do crime enquanto tira férias forçadas atrás das grades. Nesses casos os que contribuem para o equilíbrio social tem direitos inferiores aos que causam danos a sociedade. Se faz necessário com urgência rever tais valores.

Quando acabar o rum que rola solto para entreter os “marujos” que fazem inflar as velas que conduzem essa grande embarcação chamada sociedade civil organizada, pode ter certeza que um motim se aproxima e não há lei de parola que possa fazer valer os “direitos” dos piratas.

O direito de parola é invocado todos os dias em nossa sociedade pelos mais diversos segmentos. Em se tratando de pessoas que tomam decisões baseadas em conceitos puramente teológicos podem estar cometendo um grande erro e vivendo uma vida totalmente antagônica ao que eles mesmos chamam de amor e justiça divina. O “amor cristão” por exemplo, é confuso, incoerente e na maioria das vezes irracional quando diz respeito a aplicar métodos coercitivos para manter funcionando as estruturas sociais. Os evangélicos de certa forma até superam em muito essa forma estranha de “amar”. São capazes de perdoar, abraçar e colocar no púlpito de imediato para ser um pastor ou pregador um sujeito com mais de 40 homicídios nas costas, que pegou mais de 500 anos de cadeia ou que cometeu prejuízos irreparáveis a dezenas de pessoas ou famílias inteiras e agora só por que o cara levantou a mão e “aceitou a jesus”, a igreja o considera como santo líder de um rebanho, enquanto que esses mesmos irmãos “amorosos” são capazes de dizer publicamente que ateus merecem morrer de forma trágica e serem enviados direto ao inferno só por que não acreditam em deus apesar de os tais nunca terem feito mal a ninguém, e inclusive boa parte dessas “pessoas sem deus” são os responsáveis direto pelos maiores avanços científicos e tecnológicos que a humanidade já conheceu. Amor, estranho e confuso amor é o amor cristão propagado pela maioria dos religiosos. A lei que rege a pirataria agradece vossa cooperação!

Não estou incentivando com isso um retrocesso nas construções das leis que procuram de certo modo administrar para o bem o complexo convívio entre os humanos. A lei do olho no olho teve sua validade e serventia em sua época. A sociedade evolui, a mentalidade das pessoas evoluíram, e o modo de cometer crimes e se esquivar deles também é aperfeiçoado todos os dias pelos peritos nessa arte. Isso a sociedade precisar notar e se corrigir também.

É necessário decidir-se também se fazem os julgamentos dos seus indivíduos baseados em uma constituição federal válida a todos os homens de um país ou se o fazem numa bíblia ou em qualquer outro livro dito sagrado. Se basear simultaneamente nos dois vai gerar conflito e injustiças sem fim.

Cometer crimes reais e desejar ser julgado por um júri imaginário é a coisa mais sem noção que podemos admitir. Nesse aspecto, a lei de parola também é invocada diariamente por líderes religiosos corruptos, gananciosos e abusivos, quando dizem que pastor ou outro líder religioso qualquer só podem ser julgados por deus e mais ninguém e quem tocar no “ungido do senhor” morre! Os membros temerosos, imaturos e ignorantes engolem isso de modo natural sem reagirem enquanto dão 10% de tudo que produzem a eles, e se tornam subservientes incondicionais a um sujeito que o irá comandar com mão de ferro prometendo um paraíso imaginário enquanto os explora.

Esse mesmo tipo de pensamento retrógrado tem sido transmitido e implantado sorrateiramente ainda que de forma disfarçada em nossos tribunais toda vez que o “amor cristão” é invocado como lei de parola para julgar uma pessoa que “aceitou a jesus” ou se diz uma pessoa cheia de fé em deus.

Valores sociais diferentes produzem indivíduos diferentes com diferentes percepções do mundo e diferentes noções de responsabilidades para com os que o cercam. Enquanto uns acham que cada erro do mundo se corrige com uma simples bronca dada por seu genitor, patrão ou chefe de comando, um puxão de orelha, uma multa ou um pagamento de fiança sem nenhum efeito colateral, outros entendem que para cada ação existe uma reação no presente e o efeito dessa reação pode ser estendido por tempo indeterminado no futuro e outras vezes até incorrigíveis.

Um pai que teve seu filho preso por ter assassinado outra pessoa durante um assalto conclama as leis vigentes, diz a todos que seu filho agora solto já pagou pelo que fez depois de cumprir determinada pena, que a justiça já foi feita e que ninguém pode comentar nada a respeito desse feito. Já o pai que perdeu seu filho em um assalto por esse mesmo meliante sabe que justiça nenhuma trará seu filho de volta, e que no mínimo o assassino deveria ser eliminado de forma integral da sociedade caso o ato tenha sido premeditado e consciente por parte de um reincidente. Não é questão de vingança irracional, apenas questão de justiça! A falta dela é que torna os homens semelhantes a bestas.

As prisões brasileiras e de vários países cristãos estão cheias de pessoas que cresceram acreditando que um tapa de um policial, uma sentença de um juiz ou uma boa defesa de um advogado serão suficiente para os eximirem de seus atos cometidos de forma premeditada, inclusive de seus pecados diante do seu deus imaginário.

Pior que essas pessoas não lotam apenas as prisões e cadeias públicas. Elas vivem entre nós, solapando toda estrutura social, sendo comparsas inconscientes daqueles que dependem do caos para manterem suas estruturas de poder funcionando. Poderia dizer sem sombra de dúvida que boa parte dos nossos representantes políticos se tornaram exemplos máximos de como se valer das brechas da lei para cometerem crimes contra o a ordem social enquanto pagam de gente boa.

Ao permanecerem em convivência livre, os reincidentes que já conhece as brechas das leis não provocam apenas crateras que engolem as estruturas sociais, eles são também aqueles que com a força de um asteroide querem trazer algum tipo de extinção em massa enquanto sobrevivem para contar história na versão deles como sendo heróis de uma tragédia que eles mesmo causaram.

Como prova disso, podemos observar que quase todos os produtos fabricados, transportados ou consumidos que precisamos, temos de pagar em média 30% a mais do que deveríamos pagar, devido aos custos para amenizar os prejuízos de quem os produz ou os transporta por conta dos assaltos e arrombamentos constantes que acontecem nas linhas de produção, armazenamento e logística causado por esse tipo de pirataria moderna. A cada dia novos tipos de seguros são introduzidos no mercado para compensar os riscos que as “bestas sociais” tem produzido em todos os níveis. Os cidadãos civilizados e bem comportados é quem paga toda a conta! Além dos valores absurdos de impostos que pagamos sem vermos o devido retorno que merecíamos em segurança, saúde e educação, ainda temos que pagar um percentual enorme para as mais variados tipos de seguradoras se não quisermos ver parar por completo nossas engrenagens sociais. No mercado de capital livre, ninguém produz ou comercializa nada quando o risco de perca é maior que os de ganho. Ser capitalista não é ser trouxa. É oferecer um produto ou serviço útil a outra pessoa e ser remunerado por isso.

Em prisões de países com regimes mais fechados existem formas diferentes de dizer para os tais que 5 dias ou 5 anos de cadeia não fazem renascer o que fora morto em um assalto, não faz reerguer uma empresa ou país vítima de operações fraudulentas e nem faz corrigir o incorrigível. Em nosso país, há meliantes que chegam a cometer os mesmos crimes 50, 60 e até 80 vezes sem o devido enquadramento, ou políticos que desviam dinheiro público por toda uma vida, para somente serem punidos perto ou depois dos 80 anos de idade como recentemente tem sido mostrado pelos meios de comunicação. Nesses outros lugares, em certos casos eles teriam apenas 1 chance e nada mais! A questão da reincidência de indivíduos é um assunto de estrema importância para qualquer sociedade que deseja ser realmente justa com todos. A hipocrisia do “amor cristão” contribui em muito para que leis severas sejam aprovadas nos congressos.

Deus e o diabo tem sido um álibi, um auxílio e um escudo para gente sem caráter e sem valor se esconder nas sociedades cristãs. Não se pode esperar muita evolução social de um país que sai em defesa de certos indivíduos e diz em alto e bom som que um sujeito que estuprou e matou uma menina de apenas 6 anos só pode ser julgado e condenado por deus, enquanto poderíamos nós mesmo evitar que outros crimes desse tipo venham acontecer.

Nossa capacidade de evoluir ou regredir não dependem exclusivamente de uma intervenção divina como muitos acreditam. Se a lei que vale para uns vale para outros, os cidadãos de bem precisam sair também em defesa de seus direitos, com a mesma ousadia que um pequeno infrator sai quando é pego cometendo crimes. Se nos valemos de uma constituição, se faz necessário invoca-la se levamos em conta a lei de parola ou a lei de livros sagrados para manter nossa sociedade de pé. A precisão de nossas respostas refletirá no futuros que teremos.

Saúde e sanidade a todos!

Texto escrito em 7/1/18 por Antônio F. Bispo, graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

A difícil arte de conviver em sociedade, parte I



HONRA, LEI E VALORES SÓCIO-CULTURAIS

O que para alguns é extremamente vergonhoso, para outros é necessário e salutar

Depois que os grupos humanos começaram a se organizar em sociedades, as suas chances de sobrevivência aumentaram muito. Depois de aprenderem a verbalizar palavras de modo oral e escrito, expressando assim seus sentimentos e ideias, ficou mais fácil então manter unidos por mais tempo indivíduos com propósitos semelhantes. A construção da civilização só foi possível quando leis foram introduzidas para policiar os indivíduos agrupados e gerir os recursos ou a falta destes gerado pelo aglomerado de pessoas compartilhando de um mesmo território.

Apesar de milhares de anos de evolução, alguns indivíduos da atualidade parecem ter nascido como se estivessem deslocados no tempo e no espaço, vivendo em um corpo de um homem moderno com uma mentalidade de um homem das cavernas ou do período medieval. Se unem em bandos para matar, roubar, estuprar, destruir ou se apropriarem dos bens produzidos por outras pessoas como isso fosse um pleno direito destes.

A ideia de que um dano causado a apenas um membro de uma sociedade pode desencadear uma série reação maléfica em cadeia é algo que esses não levam em conta. Querem mais do que os seus bolsos possam caber, seus estômagos possam digerir, ou sua luxúria pudesse consumir ainda que viessem a viver 2 mil anos seguidos num mesmo corpo. Na natureza, os animais “irracionais” usam apenas o que precisam para consumo diário ou familiar. Alguns indivíduos de nossa sociedade tentam a todo instante direcionar todos os recursos produzido pelo grupo em função própria, sem falar dos danos colaterais que causam para conseguir o que desejam.

Alguns fazem isso de modo aberto, declarado e intencional como predadores que se juntam para aumentar suas chances de abater uma vítima, outros porém o fazem de forma sorrateiro e meticuloso, valendo-se de suas posições sociais que ocupam e ainda assim sendo chamados de vários títulos honoríficos pagando de heróis quando na verdade não passam de vilões.

Na maioria dos casos a definição de um indivíduo que pode ser considerado como um grande marginal e outro que pode ser tratado como vossa excelência não estar basicamente em suas ações de construção ou desconstrução da ordem social e sim, na função que ocupa ou em um título conquistado. A exemplo do nosso atual estado político em que vivemos é possível cometer um prejuízo enorme ou desserviço a uma sociedade inteira, ser muito bem remunerado por isso e continuar ocupando uma cadeia de comando, e cometer o mesmo ato e ser duramente penalizado por tais ações. Nesses casos o que define um “mocinho” de um “bandido” não são os atos e sim os títulos.

Diferente dos predadores convencionais que a natureza produz para dirigir um bando ou ocupar cadeias de comando nas demais espécies animais, nossa sociedade produz predadores que se destacam não pela sua capacidade física e estratégica de caça, mas pela capacidade argumentativa para construir discursos de defesas surreais ao mesmo tempo em que constroem alianças com outros indivíduos da mesma índole que também ocupam posições sociais de destaques. Se pudéssemos medir o quesito honra nas espécies animais, muitos dos indivíduos que vivem entre nós teria que ser introduzido numa posição abaixo destes.

Será que muitos interpretam a capacidade de mentir, ludibriar e articular para o mal como sendo um traço positivo de nossa evolução? Considerando que a manutenção das leis baseia-a na ideia de que indivíduos confiam em regras preestabelecidas para se manterem unidos em sociedade, não seriam esses que cultivam capacidades acima citadas um tipo de ferrugem social? Apesar de serem como ferrugens que corrói e destrói as estruturas, muitos desses se consideram com uma ponte, de cola super aderente que faz manter mais segura as estruturas sociais.

Não se pode esperar que indivíduos avessos a ordem social, escolham por si só a reparação dos danos causados a uma sociedade. Na maioria dos casos ações coercitivas de maior energia se fazem necessário para enquadrar os tais não importando sua posição social. Esperar que certos indivíduos que solapam as estruturas de uma sociedade façam juízo benéfico aos outros em suas ações, é o mesmo que entregar um piano e a Quinta Sinfonia de Beethoven a um suíno e esperar que essa bela melodia seja executada.

Muitos indivíduos ainda vivem avessos a ideia de sociedade ou pelo menos ao seu sentido, pouco ou nada fazendo para manutenção da mesma, exigindo muito sem nada dar em troca ou se aproveitando das brechas das leis, da diplomacia nas relações por pessoas civilizadas, da generosidade dos que tem boas intenções e da inércia causada por sistemas políticos e religiosos ultrapassados. Tais indivíduos agem como ancoras que servem para fazer com que grupos inteiros fiquem parados no tempo, ou até mesmo como uma alavanca de marcha ré, fazendo regredir as conquistas que por muitos esforços temos conseguido como um todo.

Conviver com milhares de indivíduo não é tarefa fácil. Viver na solidão é mais difícil ainda. O progresso da civilização acontece exatamente quando conseguimos aprimorar nossas relações por meio do verbo, e quando esse não surte efeito se faz necessário o uso das leis ou da força para que indivíduos que agem como bestas descontroladas venham ser domesticados de algum modo.

Para indivíduo civilizados um simples aviso de proibição pregado em uma porta ou um alerta por meio de sinais cognoscíveis por exemplo, já são capazes de fazer com que essa pessoa recue, mude seu comportamento, escolha outra opção ou se ponha em seu devido lugar. Outros porém, nem com a presença de um batalhão inteiro, a certeza de uma condenação judicial ou torturas físicas e psicológicas o fazem mudar de ideia ou de atitude no quesito respeitar a vida e a liberdade de outros. São como bestas indomáveis usando uma roupagem humana.

É um desafio conviver com esse tipo de gente. Indivíduos assim desencadeiam uma série de eventos que afetam os mais variados setores. Uma empresa inteira pode vir a falência e várias pessoas ficarem desempregadas por uma fraude cometida por alguém desse tipo enquanto pais ficam sem filhos e também filhos ficam sem pais todos os dias por gente assim.

Em uma cidade com 20 mil pessoas vivendo por exemplo, apenas dois ou três indivíduos que não respeita a vida ou nenhum tipo de leis estabelecidas já são capazes de manter em pleno funcionamento permanente policiais e viaturas nas ruas, advogados de acusação e defesa, juízes, promotores, corpo de bombeiros, médicos, fabricantes de armas, de entorpecentes, etc. Uma sociedade civil organizada perde muito tempo e recursos preciosos produzidos por outros cidadãos para manter funcionando as estruturas sociais que esses tentam desestabilizar.

Um falso moralismo baseado simplesmente no conceito vago de “amor cristão” ou de linhas de pensamento sem nexo por exemplo, fazem com que os rigores da não sejam aplicadas como deveria em certos casos. Preferimos em certos casos dizer que o quanto “amamos” uma pessoa jogando flores em seu caixão ou dizendo palavras bonitas eu seu funeral, vítimas de ações de meliantes, do que expressar esse mesmo amor extirpando do convívio social de uma vez por todas reincidentes confessos e conscientes que já se tornaram “clientes” dos mesmo policiais, dos mesmo juízes e dos mesmo carcereiros que nesse vai-e-vem de prender e soltar já se é conhecido quase que por completo todas as suas características físicas e psicológicas de tais indivíduos bem como onde, quando e de que modo eles costumam agir.

A sociedade cristã costuma dizer que somente deus pode matar e dar a vida a quem quer que seja, e que ninguém pode condenar outra pessoa a morte por maior que seja um crime cometido. Será que um marginal, estuprador, ou latrocina pensa do mesmo modo? Acho que não! Será que eles não condenam a morte diariamente várias pessoas? Será que eles exercem a função de policiais, juízes e deuses simultaneamente? Será que eles tem um código de lei próprio? Ou eles não são cristãos, ou eles não são sociedade! Acho que eles não merecem tanto “amor” assim. Se nenhuma vida vale mais que outra, a vida do que tira a vida de modo intencional não tem maior valor do que a vida de quem a perdeu.

Se queremos basear nossas ações de julgamento em supostos valores religiosos que podem ser interpretado de modo pessoal, me pergunto por que ainda usamos uma constituição como regra máster para dirigir todo um povo. Será que alguém conseguiria extirpar do próprio corpo um parasita lumbricoide apenas mostrando trechos da constituição para esse ser? Acredito que não! É uma questão de escolha! Ou ele te consome ou você o retira usando os meios necessários. Mostrar trechos da bíblia para carrapatos que infestam um cachorro tem tanto efeito quanto dizer para um leão faminto no meio de uma selva prestes a te devorar, que você é cristão e que só deus dá a vida e só deus pode tirar. Tente fazer isso e depois volte para contar a experiência!

Somente ações populares energéticas somadas a de magistrados que fazem uso do bom senso para fazer com que códigos de leis ultrapassados sejam corrigidos e um novo método seja usado para punir com efetividade reincidentes e “profissionais do crime”. Isso não envolve apenas o marginal que vive a bater carteira, vender entorpecentes e cometer pequenos delitos, pois em todas as classes os parasitas sociais estão a corromper as estruturas da civilização, inclusive nos três poderes que governam uma democracia. Em certos casos as leis já existem, basta só fazer funcionar!

A questão dos valores sociais aprendíveis e ensináveis é algo de extrema importância para um equilíbrio na convivência entre os povos. Algumas pessoas literalmente se transformam, quando tem a certeza de que não estão sendo vigiadas, mostrando que são pessoas de caráter duvidoso e que se não fosse pela força da lei seriam semelhantes a membros de uma alcateia. São os humanos que criam as leis para serem civilizados ou são as leis que nos tornam humanos? As leis como mecanismo de controle tem conseguido de certa forma manter nossa sociedade rumo ao processo evolutivo. O afrouxamento da mesma ou a interpretação individual delas para fins pessoais, podem promover o caos social.

Outros indivíduos porém, se não fosse pela ideia de um ser superior os vigiando o tempo inteiro, alguns assumidamente chegam a confessar que seriam o oposto do que são. Mas uma vez notamos algum tipo de lei, ainda que seja no campo da metafisica ou imaginaria como uma maneira de controlar pessoas que assumidamente confessam que agiriam como se fossem bestas descontroladas caso não fossem mantidas sob coação psicológica de um ser do inconsciente coletivo.

A promessa de castigo e recompensa difundida pelas crenças religiosas fazem com que de certa forma algumas pessoas usem máscaras o tempo inteiro. O ideal seria que as religiões incentivassem a busca pelo conhecimento próprio e melhoria nas relações com todos os povos aos invés de ficarem em ritos religiosos inúteis e desnecessários, adorando, enaltecendo e oferecendo dádivas a seres imateriais e completos que de nada precisam. Pelo menos 170 milhões de pessoas em nosso país por exemplo, passam anos e anos de suas vidas desenvolvendo técnicas de relacionamento com seres surreais que foram criados pela religião, enquanto poderiam gastar o mesmo tempo e recurso financeiro para melhorar suas relações pessoais no intuito de fortalecer o conceito de civilização. Disso depende nossa Ascenção coletiva!

Por incrível que pareça, depois de tantos anos de evolução, ainda vivemos rodeados de “monstros”. Em algumas outras ocasiões nós mesmo podemos ser comparados a eles. Para vivermos em sociedade o limite de um indivíduo começa quando o do outro termina e muitos não queram entender isso ainda e vivem apenas como se possuíssem apenas direitos sem a obrigação dos deveres. Uma greve de policiais ou um leve afrouxamento das leis é o suficiente para demonstrar o quanto ainda existe indivíduos que poderiam ser considerado como verdadeiros animais vivendo entre nós. Tais indivíduos são capazes de roubar, matar, estuprar, vandalizar ou destruir o que quer que seja se tiverem a certeza de que não serão punidos. Outros porém acreditam que entre dar um prejuízo a alguém e levar um prejuízo preferem a segunda opção.

Como exemplo dessa bestialidade causada pelo oportunismo e má interpretação da lei, um meliante juvenil de apenas 14 anos portando uma arma, se sente o rei da floresta quando consegue render 10 ou 20 pessoas em uma loja e tomar todos os seus pertences enquanto profere palavras de insultos e humilhações aos que estão rendidos. Sua sanidade é recobrada imediatamente quando alguém preparado entre os reféns consegue desarmá-lo com facilidade e subjuga-lo com rapidez. Então, esse mesmo indivíduo que antes se portava como um rei leão agora passa a se comportar como um indefeso gatinho! Toda a fúria, toda a ira, toda a capacidade argumentativa esvaiu-se deste como se fosse um pneu furado sem condições de rodar. Isso acontece todos os dias em quase todos os cantos do planeta. Policiais que o digam.

O chamado para o caos é prontamente obedecido por boa parte dos indivíduos. Desde tomar um doce de uma criança indefesa a um atentado terrorista de grandes proporções. Cada uma dessas criaturas recebem o “chamado” e se junta ao bando. Para construir, argumentar, defender e proteger o interesses sociais a resposta é mais lenta. A maioria balança conforme as ondas e pode pender para o lado que tiver mais adeptos.

A maneira mais fácil e menos dolorosa de fugir da complexa possibilidade de respostas mediante sérios e longos estudos feitos para entender o comportamento humano é dizer que tudo foi criado por deus, incluindo o mal. Mas depois ele mesmo deixou o mal para o capeta, seu assistente e parceiro de longas datas e ficou encarregado de tratar apenas com pessoas boazinhas e subservientes a todo tipo de capricho indicada pelos representantes desse mesmo deus. Outra forma inutilmente abobalhada de dar respostas para os problemas sociais é dizer que tudo que de ruim acontece nesse mundo é sinal da volta de Jesus e que nada podemos fazer para mudar isso. Nesse ponto o grau de insanidade chega a beirar o grau de bestialidade de outros acima citado.

Já moramos nas savanas, nas geleiras, nos desertos, em regiões alagadas e tivemos comportamentos diversos, ora nos protegendo, ora nos destruindo. Agora residimos em grandes centros urbanos onde os recursos básicos para nossa sobrevivência estão acumulados em pequenos estabelecimentos comerciais. Isso parece fazer aumentar a tensão nas diversas relações entre os indivíduos. O medo da escassez e do desconhecido nos acompanha sempre.

Há recursos porém em abundância no planeta capaz de suprir o dobro da população que hoje temos por mais de 200 anos seguidos. Os que controlam os veículos de comunicações desejam que pensemos de modo oposto a isso, pois os tais também administram a distribuição dos tais recursos para fins puramente comerciais e de controle das massas. A maior parte dos meios de produção e dos bens produzidos ainda é possuída e controlada por um punhado pequeno de pessoas no mundo inteiro. Isso também é um entrave que precisa ser superado para que nossa civilização prospere.

A cultura do medo, da desgraça, da miséria, do castigo-recompensa e da subserviência incondicional é amplamente difundida por meio das propagandas políticas, religiosas e comerciais, ainda que de modo indireto. Nos ensinam mantermos relações de submissão incondicionais e idolatria a pessoas iguais a nós, a encararmos todo tipo de abuso como se fosse um direito adquirido pelo abusador após passar em um concurso ou ser promovido a algum cargo como se isso fosse um estilo saudável de viver.

Enquanto não enxergamos a nós mesmos e a outros como peças igualmente importantes de um mesmo mecanismo no funcionamento das engrenagens sociais, iremos continuar paparicando, temendo ou bajulando líderes políticos e religiosos bem como “celebridades” para conseguirmos que queremos. Relações corruptas geram resultados corrompidos. Esse nível de mentalidade deve ser absolvido por aqueles que defendem os pais por meio das armas, das leis e do voto. Todos somos iguais perante a lei, esse é um dos pontos Áureos de nossa constituição. O respeito nas relações não enfraquecem as hierarquias de comando, antes sim as fortalece. Subjugar, ludibriar ou explorar o outro por uma função social ocupada é coisa de quem anda avesso a ideia de sociedade.

CONTINUA...Aguardem a parte 2 desse texto.

Texto escrito em 1/1/2018 e corrigido em 3/1/18

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

domingo, 28 de janeiro de 2018

Preocupas-te se as tuas crenças são verdadeiras?




Os crentes preocupam-se se as suas crenças são verdadeiras? Eu acho que não.

Há algumas centenas de religiões que são praticadas hoje em todo o mundo com dezenas de milhares de denominações. As religiões e as sub-religiões têm diferentes crenças. Existem algumas diferenças fundamentais, como o deus ou os deuses adorados e há muitas diferenças não tão importantes, mas ainda assim vitais, como a natureza da vida após a morte e a forma como o seu comportamento na vida afeta o seu destino após a morte.

Como é que as pessoas se comportariam se elas realmente se importassem se a sua religião fosse verdadeira? Penso que haveria um constante diálogo aberto entre religiões. Eles debateriam, buscariam evidências e eliminariam implacavelmente as falsas religiões. As religiões financiariam em conjunto pesquisadores independentes nas grandes universidades para descobrir qual a verdadeira religião. Quando uma religião fosse considerada falsa, os seus adeptos logo a deixariam em favor de uma que melhor resistisse à análise crítica.

A maioria das religiões que vemos hoje são antigas. Muitas têm raízes vindo de há 3500 a 4.000 anos. Algumas religiões foram criadas a partir de material novo, mas a maioria, como o cristianismo, o islamismo e o mormonismo, evoluiram a partir de religiões mais antigas. O ponto é que as pessoas tiveram já muito tempo para resolver qual a religião é que seria a verdadeira. Mas eles falharam. 
Na verdade, eles nem tentaram.

O que vemos é que as pessoas tentam espalhar a sua própria religião através de missionários, recrutamento porta-a-porta e em alguns casos, através da violência. Vimos reis e imperadores declarando uma nova religião por meio de decreto e obrigando a população a segui-la.

As pessoas acreditam na religião em que foram ensinadas a acreditar enquanto crianças, e depois assumem que todos os outros estão errados. A verdade é que essas pessoas não podem ter certeza de que sua própria religião está correta e não podem ter certeza de que todas as outras religiões estão erradas.

A verdade é difícil, mas eles simplesmente não se importam.

Traduzido e adaptado de Bill Flavell


sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Desmontando a bíblia - A profecia da virgem (Is 7:14)



Como já redatei nos capítulos antecedentes, histórias em que os salvadores nascem de uma virgem são comuníssimas em variadas mitologias anteriores ao Cristianismo, por conseguinte não é uma doutrina excluisavamente cristã. E como tenho também demonstrado, o cristianismo é uma espécie de sincretismo entre o judaísmo e as antigas Religiões de Mistérios. O problema desse sincretismo é que histórias de virgens que concebiam de Deus não faziam parte da literatura hebraica. Mas como sempre, os cristãos arcaicos arranjaram um jeito.

Argumentarei, a seguir, que esta profecia de Isaías, considerada pelos cristãos dogmáticos como uma das maiores provas do nascimento virginal e da divindade de Jesus, é, ao contrário, uma das maiores mentiras sobre Jesus. O versículo básico dessa profecia de Isaías (Isaías 7,14) é este: “A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel [= Deus conosco]”, passagem essa que Mateus quis ver cumprida no suposto nascimento virginal de Jesus (ver Mateus 1,23).

Esclareço, com o teólogo e ex-padre católico Franz Griese (GRIESE, 1957, p. 237-240), que essa profecia não se refere a Jesus, nem à sua mãe, mas ao próprio Isaías, que se casou com uma jovem (“almah” na versão original hebraica de Isaías), e não com uma virgem (como na tradução errada da versão grega dos Setenta de Isaías), da qual teve um filho, cujo nome, Maer-Salal-Has-Baz (que significa “Pronto-saque-próxima-pilhagem”), foi dado pelo próprio Javé (cf. Isaías 8,3), também chamado pelo profeta Isaías de Emanuel (= Deus conosco) (cf. Isaías 8,8 e 8,10). 
Além disso, a tradução de Mateus, “... e o chamarão com o nome de Emanuel” (Mateus 1,23), está totalmente errada, pois, no texto grego mais antigo de Isaías, como se encontra no Códice Sinaítico, a frase correta é esta: “kai kalesei to onoma Immanuel”, que siginifica: “E Emanuel [=Javé] por-lhe-á o nome”, com a forma verbal (kalesei) na 3ª pessoa do singular, e não na 3ª pessoa do plural (kalesousin), como erroneamente foi alterado e traduzido por Mateus, para provar que a referida profecia se referia a Jesus, nascido de um parto virginal e, por isso, chamado de Emanuel (= Deus conosco), invertendo assim completamente o sentido do texto grego original de Isaías. Esse é, portanto, um exemplo clássico de texto bíblico mal traduzido e alterado para contemplar interesses cristãos.

Mateus, para defender o mito do nascimento virginal de Jesus, bem como o mito de sua divindade (Deus encarnado, Deus conosco), traduziu erroneamente a famosa profecia do profeta Isaías (Isaías 7,14): “A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel".
Eis a passagem de Mateus em que ele traduz e comenta erroneamente esse texto de Isaías:
"Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão com o nome de Emanuel, o que traduzido significa: “Deus está conosco.” (Mateus 1,22-23)"

Na Bíblia de Jerusalém, o versículo de Isaías (Isaías 7,14) é este: “Eis que a jovem concebeu e dará à luz um filho e por-lhe-á o nome de Emanuel". Nessa versão da Bíblia de Jerusalém, não aparece mais a palavra “virgem” da versão grega de Isaías (o texto dos Setenta), a qual já é uma tradução errada da versão original hebraica “almah”, que significa “moça”, “jovem”, “donzela”, o que significa dizer que o texto hebraico de Isaías não usa a palavra “virgem”, mas a palavra “almah”, que significa simplesmente “uma jovem”, sem nenhuma implicação de virgindade. Os dogmas do nascimento virginal de Jesus e da sua divindade (Deus conosco) são, portanto, produtos desta tradução errada do termo “almah”, bem como dos outros erros cometidos por Mateus. A igreja católica também se rendeu a está verdade, razão pela qual a edição Paulina também usa "jovem" em vez de "virgem".

Mas não pensem que os cristãos vão aceitar isso de bandeja. Boa parte dos cristãos já se aperceberam disso e o argumento de "ouro" pra essa situação é que o texto de Isaías admite duplo cumprimento, e desse aspecto quero me ocupar nesse post.

É do consenso dos estudiosos da bíblia que os escritos de Mateus tinham como destinatário os judeus, com a intenção de demonstrar que Jesus era o messias por eles esperado, razão pela qual, é o evangelho que mais usa a fórmula "pra que se cumprisse". Vê-se claramente a preocupação do evangelista de ver cumpridas em Jesus as antigas profecias, coisa que ele falha miseravelmente em demonstrar. Vê-se que Mateus não apela ao duplo sentido da profecia, ele apenas recita a profecia pra mostrar que Jesus cumpriu, sendo que o contexto era totalmente diferente. Pra que se considere uma profecia com duplo sentido, o próprio texto ou alguma outra parte do tannach deveria retratar desta possibilidade, mas isto nunca aconteceu.

Porquê buscar duplos sentidos em profecias quando existiam profecias que sempre foram consideradas messiânicas e Jesus nem cumpriu as tais?
Quer convencer os judeus que Jesus é o messias com uma profecia que os próprios judeus nunca consideraram messiânica? E depois querem apelar à falácia do duplo sentido, coisa que nenhum judeu em sã consciência concorda?
Uma profecia para o consolo de Acaz terá duplo sentido com o Jesus? O texto garante isso ou Mateus com rudeza recita o texto ainda por cima adulterando "jovem" pra "virgem"?
E também, o tannach deixa bem claro que o messias seria descendente de David, e sabe-se que a descendência(na tradição judaica) foi sempre de pai pra filho. Portanto o messias teria de ter um pai[ humano] pra que fosse considerado descendente de David. A profecia de Isaías nada tem a ver com o messias, ainda que insistirmos tradução de "almah" pra virgem. 

Tenhamos em conta que o cristianismo já existia com essa doutrina do nascimento virginal, só depois foi procurar texto no tannach pra sua justificação.


Texto de Gil Yossef


terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Punindo as vítimas




Quando critico algumas comunidades e famílias muçulmanas por intimidar as suas meninas e mulheres para cobrir os seus cabelos, toda a cabeça e rosto, ou corpo inteiro, muitas vezes é me dito pelos muçulmanos que cobrir é um benefício para as mulheres. Eles dizem-me que reduz o risco de violação (estupro).

Claro que nenhuma mulher quer ser vítima de violação. Mas é extremamente injusto colocar o ónus de prevenir a violação nas potenciais vítimas! O que devemos é colocar o ónus sobre os potenciais violadores e os potenciais violadores são homens e não as mulheres.

Isso equivale a forçar os condutores de carros desportivos a manter os seus carros numa garagem fechada por medo de serem roubados se conduzirem na via pública. Isso seria retirar os direitos dos proprietários dos carros desportivos para ajudar a evitar que os ladrões de carros possam infringir a lei. Assim está a punir-se as potenciais vítimas e recompensando os possíveis infratores.

Se é verdade que os homens muçulmanos perdem todo o seu autocontrole se verem uma madeixa de cabelo, uma orelha ou lábios femeninos, então são os homens que são o problema. Os muçulmanos devem concentrar-se em educar os seus filhos a respeitar as mulheres, para as tratar como iguais, para os fazer entender que é errado tocar ou bater numa mulher sem seu consentimento (mesmo se essa mulher for sua esposa). Acima de tudo, os rapazes devem ser ensinados que a violação é um crime muito perverso.

Mas, ao olhar para uma face feminina destapada não faz os muçulmanos perderem o seu autocontrole, então qual a necessidade de a encobrir?

Esta não é a única maneira pela qual as nações islâmicas punem as vítimas. É horrívelmente difícil para elas provarem que uma mulher foi violada num tribunal islâmico. A violação só pode ser comprovada se o suposto violador confessar, ou se pelo menos quatro testemunhas HOMENS testemunharem que ocorreu a violação (os tribunais islâmicos irão condenar um violador existindo o testemunho dum homem e de SEIS mulheres). Já dá para imaginar o quão difícil é para provar uma violação. Se não houver quatro testemunhas masculinas, as mulheres não podem obter justiça. Se houvesse quatro testemunhas homens, quais as chances de que todos estariam dispostos a testemunhar a favor dela (e já agora, por que não impediram a violação)?

Mas a coisa ainda piora. Se a vítima é uma mulher casada e o violador não é considerado culpado, ela corre o risco de ser sentenciada por adultério porque admitiu ter relações sexuais com um homem que não é seu marido. Se as mulheres são solteiras, ela poderia ser condenada por fornicação. As punições por adultério e fornicação variam de acordo com o tribunal, mas geralmente são severas: até 100 chicotadas E lapidação até a morte.

É difícil imaginar como tudo está feito para ser contra as mulheres. A violação é um crime pouco denunciado na maioria dos países porque as mulheres se sentem profanadas e envergonhadas. E quando é tão difícil obter uma condenação e quando as consequências de falharem essa condenação são tão altas, é surpreendente que qualquer violação seja relatada.

Então, quando um muçulmano se vangloria de que a violação é menos frequente em países islâmicos do que em países cristãos (o que é verdadeiro), podes ter certeza de que ele apenas está a fantasiar. Ou, como eu prefiro dizer, uma conversa de merda. 


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Não peçam demais aos crentes




Para ser honesto, eu arrepio-me quando ouço os ateus a desafiarem os crentes a provarem que os seus deuses existem.

As provas são reservadas para as disciplinas que lidam com a lógica dedutiva e nada mais. Matemática é uma dessas disciplinas e é por isso que as provas de Euclides de há 2 300 anos atrás são tão verdadeiras hoje como eram então. Uma PROVA é para sempre.

As coisas começam a ficar confusas assim que apresentamos essa necessidade de provas. As provas nos leva ao domínio do pensamento indutivo e é por isso que as explicações das ciências físicas talvez precisem ser revisadas ocasionalmente, pois novas provas podem mudar as nossas conclusões.

Então, eu não peço o impossível. Não peço aos crentes para provarem que o seu deus existe. Peço evidências. Na verdade, ficaria encantado de receber o menor fragmento de evidências. O problema é que os crentes não têm nada. 
Absolutamente NADA!

Sim, mantenha o ónus da prova em cima dos crentes, mas não vamos pedir coisas que eles não nos poderiam dar. Vamos apenas pedir coisas que eles DEVEM ser capazes de nos dar, como se algum dos seus amigos invisíveis seja real.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

domingo, 21 de janeiro de 2018

Teologia




As várias "...logias" são áreas de estudo com objectos de estudo específicos e bem definidos.

Por exemplo, a neurologia estudo o sistema nervoso. O sistema nervoso é algo real, palpável. Sabemos que existe e podemos estudá-lo, testá-lo, executar experiências com ele, tirar conclusões baseadas em observação, etc.

A antropologia estudo a Homem ou da Humanidade. O modo como evoluiu no passado, como evolui no presente, como interage, etc. O objeto de estudo da antropologia é o Homem, e matéria de estudo não falta. Matéria real, palpável, testável, etc.

A zoologia estuda os animais. Mais uma vez, material de estudo não falta. Material real, palpável, testável, etc.

E a TEOLOGIA? Estuda o quê?
Se disserem que estuda as religiões e o modo como o homem cria ou reage perante o conceito religioso, não é mais que filosofia, sociologia, antropologia e até mesmo neurologia, dependo de qual a vertente que se estuda. Portanto, se formos por esse lado, a teologia não vale por si só como uma área de estudo por direito próprio porque não passa de uma vertente de outras áreas. Então a teologia estuda o quê? Deus?
Mas, deus é real? Palpável? É testável?
Se não o é, então a teologia não tem um objecto de estudo concreto. Apenas é um conceito concreto, mas sem existência real comprovável.
Se deus só pode ser "provado" filosoficamente ou não passa de um conceito, entramos no ramo da filosofia pura ou até mesmo na neurologia (por se tratar de um caso comparável à esquizofrenia).

Sempre que alguém me vem falar de teologia, não deixo a pessoa continuar até que me explique muito bem qual o seu objecto e área de estudo. Normalmente a conversa não avança mais porque começam a patinar.

Portanto, ter um curso de teologia é o equivalente a ter um mestrado em fadas ou um doutoramento em unicórnios.


Texto de Rui Batista.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

O Concílio de Niceia e os Evangelhos



O Concílio

Voltemos ao ano de 325 da nossa era. Naquele tempo foi realizado o Concílio de Niceia, a atual cidade de Iznik na província da Anatólia, a parte asiática da Turquia em tempos designada Ásia Menor. Este foi o primeiro de dois concílios realizados na cidade, o segundo ocorreu em 787.

O primeiro concílio foi convocado pelo Imperador Flavius Valerius Constantinus (285-337), ou Constantino, filho de Constâncio I. Constantino, de quem se diz ser o primeiro imperador cristão, assumiu o poder aquando da morte do pai, em 306, e logo passou a ser a autoridade máxima, inicialmente, na Bretanha, na Gália e na Hispânia.

Aos poucos, assumiu o controlo total do Império Romano. Alguns anos antes, ainda no reinado de Domício Aureliano (270-275), os regentes romanos abandonaram a unidade religiosa que se verificou até à renúncia, por esse imperador, em 274, aos seus direitos divinos, próprios de tal governo. Constantino, porém, sempre almejou relançar essa unidade religiosa e viu no cristianismo, que então ganhava força e influência, uma oportunidade para alcançar esse objetivo.

Muitos são hoje os historiadores que analisaram o seu governo e que se manifestam unânimes em dizer que a sua conversão não foi tão completa quanto se supôs, pois Constantino não abdicou da sua posição como sumo-sacerdote do culto ao “Sol Invictus”, representação do deus persa Mitra, e só foi batizado no leito da morte. De facto, alguns elementos deste culto seriam depois absorvidos pelo cristianismo, como a comemoração do Natal no dia 25 de Dezembro.

Assim, o interesse principal de Constantino no cristianismo seria mesmo o do seu uso para fortalecimento da sua própria monarquia. O Imperador tinha um certo conhecimento da doutrina cristã e observou, durante o ano de 303, as perseguições impostas por Diocleciano. Tinha a noção dos cristãos, embora sendo uma minoria, chegarem a, no máximo, 10% da população do império e estarem concentrados nos grandes centros urbanos, principalmente em territórios inimigos.

Foi então que, em 325, convocou mais de 300 bispos para o Concílio de Niceia. O imperador, sempre de olho na unidade religiosa como um fator que o ajudaria a manter o poder, tinha a plena noção da existência de cisões no âmago da nova religião. O concílio deveria, portanto, cimentar de uma vez por todas os seus poderes. Entre os participantes constavam bispos orientais, que, como era costume, estavam em maioria. Entre eles contavam-se pelo menos três arcebispos – Arcebispo de Alexandria, Eustáquio de Antioquia e Macário de Jerusalém -, além das presenças de Eusébio de Nicomédia e de Eusébio de Cesareia. Representando o Ocidente estavam Marcus de Calábria (Itália), Cecilian de Cartago (África), Hosius de Córdova (Espanha), Nicasius de Dijon (França) e Domnus de Estridão (pelos territórios do Danúbio).

Os debates começaram. Entre os vários pontos discutidos na ocasião, estavam a questão ariana, que negava a equivalência entre Jesus e Deus, colocando Cristo como um homem e não como uma divindade; a celebração da Páscoa; o cisma de Milécio, fundador da Igreja dos Mártires; o batismo de hereges e o estatuto dos prisioneiros na perseguição realizada sob o comando de Licínio, o imperador romano destronado e condenado à morte pelo próprio Constantino.

A escolha dos Evangelhos canónicos

Foi durante este mesmo concílio que foram reveladas as versões da escolha dos Evangelhos canónicos. No arranque do cristianismo, havia o absurdo número de 315 textos! A versão oficial de como foi feita a sua escolha está registada em alguns documentos. Porém, mesmo que se trate de versões históricas, quando alguém as lê sente como era difícil ser-se prático e direto naqueles dias, sem que se deixasse o fanatismo ganhar força sobre as decisões a tomar.

Vejamos como terá acontecido. Na difícil missão de escolher quais seriam os textos “inspirados por Deus”, os bispos teriam espalhado os diversos textos no chão e reuniram-se para rezar. Nessa altura, durante a cerimónia, os quatro Evangelhos que hoje conhecemos (Mateus, Marcos, Lucas e João) levantaram-se por sim mesmos e foram depositar-se no altar.

Outra versão: todos os textos foram deixados sobre o altar e apenas os não inspirados - os apócrifos – caíram por si mesmos ao chão. Uma terceira versão fala da mesma passagem pela oração, o momento no qual o Espírito Santo entrou no recinto sob a forma de uma pomba e atravessou uma janela sem que esta se quebrasse. Em seguida, segredou-lhes ao ouvido os Evangelhos canónicos.

Misteriosamente, a Igreja escolheu quatro textos que, fechados em si mesmos, comportam diversas contradições. Mas parece simplesmente desconsiderar tal detalhe e insiste em manter o seu cânone neles baseado. A julgar pela explicação dos religiosos da época, é de crer que nem eles saberiam explicar-se de maneira convincente. Veja-se a declaração que Ireneu, bispo de Lyon, aventou para explicar a seleção:

“O Evangelho é a coluna da Igreja; a Igreja está espalhada por todo o mundo; o mundo tem quatro regiões; convém, portanto, que haja também quatro Evangelhos. O Evangelho é o sopro do vento divino da vida para os homens, e, pois, como há quatro ventos cardeais, daí a necessidade de quatro Evangelhos. […] O Verbo criador do Universo reina e brilha sobre os querubins, os querubins têm quatro formas, eis porque o Verbo nos obsequiou com quatro Evangelhos.”

Mas há registos históricos que mostram que nem tudo foi inspirado por Deus nesta escolha. Há, por exemplo, um texto que fala de um tal bispo Flávio, morto, durante os debates, vítima dos ferimentos causados pelos pontapés desferidos por um tal bispo Diodoro, ocorrido no Concílio de Trento, considerado o mais longo da história da Igreja. Isto entre outros incidentes registados. A autora Lorraine Boetner cita, na sua obra Catolicismo Romano:

“O Papa Gregório, o Grande, declarou que, primeiro, Macabeus, um livro apócrifo, não é canónico. O cardeal Ximenes, na sua Bíblia poliglota, exatamente antes do Concílio de Trento, exclui os apócrifos e a sua obra foi aprovada pelo papa Leão X. Será que estes papas se enganaram? Se estavam certos, a decisão do Concílio de Trento estava errada. Se estavam errados, onde fica a infabilidade do papa como mestre da doutrina?”

Obviamente, os concílios, longe de serem palco para uma unidade de opiniões, eram um campo de batalha de ideias e, por vezes, de socos e pontapés, semelhantes aos debates vistos no livro e no filme O Nome da Rosa, de Umberto Eco. Porém, ao contrário do que se lê em O Código da Vinci, de Dan Brown, no houve nenhum tipo de concurso para a escolha dos Evangelhos, mas sim debates acalorados e por vezes confusos, cujo objetivo era mesmo o de diferenciar os textos entre os inúmeros oriundos de escolas gnósticas.

Lembremo-nos disto: falamos de uma época de grande conflito de interesses de ambos os lados, tanto da parte do imperador, que pretendia a unidade religiosa, quanto da dos próprios cristãos, cansados de perseguições e desejosos de dar à sua religião uma melhor e mais sólida estrutura.


In Os Arquivos Secretos do Vaticano, de Sérgio Pereira Couto

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Desmontando a bíblia - Jesus, o Deus




Nesse capítulo eu quero falar sobre o Cristo ser Deus e demonstrar a falsidade desse dogma cristão que é responsável pelo dogma da Trindade.

Antes do mais, realçar que, nas religiões de mistérios e em muitas outras antigas religiões, os deuses poderiam possuir filhos, e esses filhos poderiam ser envidados pra salvar os humanos. Esses filhos poderiam ser deuses ou semi-deuses, dependendo dos dois progenitores serem no seu todo deuses. Nessas religiões é totalmente compreensível que o filho de um deus seja também um deus, pois essas religiões eram politeistas. Mas o que não se entende, é quando uma religião dita monoteísta conceba que o filho de seu deus também seja deus. Bom, quanto ao ser filho de deus, isso já foi falado nas anteriores publicações. Mas admitindo que seja de facto o filho de um deus numa religião que só possui um deus, isso é uma gritante discrepância. Eu não posso ser o meu filho!

"No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito de tudo o que existe. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam” (João 1,1-5). 
Essa passagem evangélica joanina foi certamente copiada da literatura sagrada da Índia, ou seja, do livro Rig-Veda: “No princípio era Braman [=Deus, o Absoluto], com quem estava o Verbo [=Krishna] , e o Verbo era Braman” (apud LEWIS, 2008, p. 45).

Os cristãos dogmáticos, fundamentados em interpretações literalistas de várias passagens do Evangelho de João, por exemplo: “Eu e o Pai somos um” (João 10,30), “Quem me viu, viu o Pai” (João 14,9) e “Não crês que estou no Pai, e o Pai está em mim?” (João 14,10), argumentam que Jesus realmente declarou “ser Deus".

Mas, os que seguem a interpretação literal desses versículos joaninos deveriam notar que, em várias outros trechos do mesmo Evangelho de João, ele se contradiz, porquanto, como ressalta Andrade (1995, p. 59), ele mostra em várias outras passagens que Jesus não era Deus, mas um “enviado de Deus” (João 4,34; 5,24; 6,44; 7,29; 8,26; 12,45; 17,3) e que chegou a afirmar: “Porque eu desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a daquele que me enviou” (João 6,38). E, como conclui Andrade (ibid.), “é claro que um enviado é sempre inferior àquele que o enviou”. 
Jesus também teria afirmado: “O Pai é maior do que eu” (João 14,28); “Subirei ao meu Pai e ao vosso Pai, ao meu Deus e ao vosso Deus” (João 20, 17); e também teria dito: “Eu rogarei ao Pai” (João 14,16 e 16,26) e o que roga é obviamente inferior ao rogado.

A própria Bíblia judaico-cristã declara também que alguém pode ser chamado “deus” ou “filho de Deus”, não no sentido natural, mas no sentido metafórico ou honorífico, principalmente quando exerce uma função importante na sociedade. 
Exemplos:
"Eu declarei: Vós sois deuses, todos vós sois filhos do Altíssimo." (Salmo 82, 6)
"Não está escrito em vossa Lei: Eu disse: Sois deuses?" (João 10,34)

A Bíblia de Jerusalém elucida, nas notas de rodapé referentes a essas duas passagens bíblicas, o sentido metafórico (e não literal) de alguém ser chamado “deus” ou “filho de Deus” na Bíblia: "Os príncipes e os juízes são comparados aos “filhos do Altíssimo”, membros da corte divina." (A Bíblia de Jerusalém, Salmo 82, 6, nota g) "Esta palavra dirige-se aos juízes, chamados “deuses” metaforicamente, por causa de seu ofício, pois “o julgamento cabe a Deus”. (A Bíblia de Jerusalém, João 10,34, nota c). 

Como já tenho demonstrado, o Cristianismo está atapetado de ideias das religiões rotuladas como pagãs e do Judaísmo. E essa fusão trouxe consigo ideias controvertidas, pois é uma fusão de politeísmo com monoteísmo. Dizer que Jesus é filho de Deus numa religião supostamente monoteísta, é o mesmo que dizer que o pai do Gil é o próprio Gil!

Fonte: Gil Yossuf

Bibliografia:
A BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Edições Paulinas, 1981. 
ANDRADE, Jayme. O Espiritismo e as igrejas reformadas. 4. ed. São Paulo: EME, 1995. LEWIS, H. Spencer. A Vida mística de Jesus. 7. ed. Curitiba-Paraná: Biblioteca da Ordem Rosacruz – AMORC, 1997.