sábado, 6 de janeiro de 2018

Desmontando a bíblia - O nascimento virginal & A mãe de deus




O nascimento virginal

A crença literal no nascimento virginal e miraculoso de Jesus, mesmo tendo grande significação espiritual para os cristãos paulinistas, não é um fato histórico, de acordo com as pesquisas atuais de todos os estudiosos críticos do cristianismo.

Como afirmam todos os historiadores das religiões, o mito de partos virginais e miraculosos é antiquíssimo, encontrando-se em muitas religiões anteriores ao cristianismo e que, segundo os historiadores das religiões, nascer de uma mãe virgem significava, na antiguidade, que a criança seria um personagem importante. Por isso, os evangelistas, tendo que anunciar aos primeiros cristãos que Jesus era o Messias prometido pelos profetas ao povo de Israel, explicaram-no dizendo que ele nascera de uma mulher virgem, por obra e graça do Espírito Santo.

No dizer do renomado escritor espanhol Pepe Rodríguez, em seu referido livro Mentiras Fundamentais da Igreja Católica:

"nascer de uma virgem fecundada por Deus foi um mito pagão difundido em todo o mundo antigo anterior a Jesus. [...] Quando o personagem anunciado era de primeira ordem, a mãe era sempre fecundada diretamente por Deus, através de um procedimento milagroso que, fosse ele qual fosse, confirmava claramente o mito da concepção virginal. [...] Todos os grandes personagens, tenham sido eles reis ou sábios como, por exemplo, os gregos Pitágoras (570-490 a.C.) ou Platão (427347 a.C.) –, ou se tenham tornado o centro de alguma religião e acabado por ser adorados como “filhos de Deus” (Buda, Krishna, Confúcio ou Lao Tsé) foram mitificados pela posteridade como filhos de uma virgem. Jesus, surgido muito depois, mas destinado a desempenhar um papel semelhante ao que os seus antecessores haviam desempenhado, não podia ter um estatuto inferior ao deles (RODRÍGUEZ, 2001, p. 98; 100-101; 103)."

Como tenho demonstrado, o cristianismo é uma fusão de judaísmo[distorcido] e as outras religiões rotuladas como pagãs, os cristãos tiveram que encontrar uma passagem no Tannakh [Antigo testamento] que apoiasse a doutrina. E pasmem! Existe um texto, um só texto do Antigo testamento que apoia essa doutrina supostamente. Esse texto é o de Isaías 7:14 que terá um capítulo inteiro nas próximas publicações. Vou demonstrar o quão distorcida é a interpretação cristã desse texto.

Em primeiro lugar, é importante saber que as narrativas sobre o nascimento de Jesus só se encontram nos Evangelhos de Mateus e Lucas, escritos por volta dos anos 80 ou 90 d.C., mas não se encontram nos escritos cristãos mais antigos, como as Epístolas de Paulo, escritas na década de 50 d.C. e o Evangelho de Marcos (o mais antigo de todos), escrito mais ou menos no ano 70 d.C., o que prova que as histórias do nascimento de Jesus não tinham muita importância histórica nem teológica para a cristandade dos primeiros tempos (cf. BORG &CROSSAN, 2008, capítulo 2, p. 39-41).

Em segundo lugar, argumento (com John Dominic Crossan) que as passagens de Mateus e de Lucas que narram o nascimento e a infância de Jesus não são narrativas históricas, mas metafóricas, simbólicas, parabólicas e, portanto, não devem ser interpretadas ao pé da letra, como fatos históricos, mas como parábolas e alegorias.

Dizer, por exemplo, que Herodes mandou matar as crianças em Belém, para matar Jesus, não é uma verdade histórica, mas é, no correto dizer de Crossan, uma parábola, para afirmar que Jesus é o novo Moisés e Herodes é o novo faraó do Antigo Testamento (cf. John Dominic Crossan, Revista SUPER Interessante, edição 250, março/2008, p. 17-18). Nesse sentido, todas as histórias e cenas que Mateus e Lucas narram acerca do nascimento e da infância de Jesus, por exemplo, a manjedoura, a estrela de Belém, os três reis magos, os pastores, os anjos, os cantores, o massacre das crianças pelo rei Herodes, a fuga para o Egito etc., são parábolas e, logo, não podem ser interpretadas ao pé da letra. Interpretá-las literalmente como fatos históricos é transformar em mentiras as histórias sobre o nascimento e a infância de Jesus. Em seu livro “O Nascimento do Cristianismo”, John Dominic Crossan afirma que “os Evangelhos foram escritos pela fé, para a fé e a partir da fé. [...] Os Evangelhos são teologia em vez de história” (CROSSAN, 2004, p. 61).


Vamos agora falar um pouco da "mãe de deus".

Maria não pode ser considerada a “Mãe de Deus”, conforme o velho dogma católico, proclamado no terceiro Concílio Ecumênico, realizado no ano 431, em Éfeso (local, na época, do maior templo urbano, no Império Romano, da deusa Ártemis, ou Diana). Conta-se que, enquanto o Concílio estava reunido, discutindo a maternidade divina da mãe de Jesus, o povo de Éfeso se aglomerou ao redor do templo da deusa Ártemis, ou Diana, e começou a gritar: “A Deusa. A Deusa, certamente ela é a Deusa” (CAMPBELL, 2007, p. 190). Sabemos, pela história das religiões, que o mito da “Mãe de Deus” era muito comum entre as religiões bem mais antigas do que o cristianismo. As religiões pagãs costumavam dar uma mãe às suas divindades, por exemplo, na Babilônia, existiu “Istar” (ou ‘Ishtar”), a mãe virgem do deus Tamuz. Segundo esclarece o escritor José Reis Chaves, “a palavra inglesa Easter (Páscoa) é derivada de Istar (mãe virgem de Tamuz imolado)” (CHAVES, 2006b, p. 103).

Na Grécia, existiu “Deméter” (a “mãe” de Deus) e “Dioniso” (o “filho” de Deus), duas das divindades mais populares da Grécia antiga, cuja história, ritos e festas antecipam efetivamente, sob muitos aspectos, a religião cristã (cf. DONINI, 1965, p. 145)

Aliás, o termo “Dioniso” (da língua trácio-frígia, “dioniso”) significa etimologicamente “filho de deus” – “dio-niso” (cf. DONINI, ibid, nota 26). A história de Dioniso, o deus libertador, o “filho de deus”, é muito semelhante à história do “Jesus mítico” (o “Cristo da fé”), o Filho de Deus e o único libertador (salvador) da humanidade, segundo o mito exclusivista cristão.

Conforme já defendiam, corretamente, os chamados “hereges” nestorianos da Igreja primitiva (século V), os quais afirmavam, contrariamente ao dogma católico, que Maria não é “Mãe de Deus” (em grego, “Theotókos”), mas apenas “Mãe do homem Jesus Cristo” (em grego, “Cristotókos).

O monge Nestório de Antioquia, num de seus sermões, afirmava:

"Ninguém venha me dizer que Maria é mãe de Deus, ela foi mulher e Deus não pode nascer de mulher. Sustentar o contrário é imitar os pagãos que dão uma mãe às suas divindades (FRANGIOTTI, 1995, p. 128)." Nestório foi condenado no terceiro Concílio Ecumênico, realizado em Éfeso, no ano 431 (o qual proclamou o dogma mítico da maternidade divina de Maria), e, porque se recusou a submeter-se às definições dogmáticas desse Concílio, foi enviado para o exílio, onde morreu.

Mas vocês não acham absurdo Deus ter mãe?


Texto de Gil Yossuf

Bibliografia: 
CAMPBELL, Joseph. As Máscaras de Deus: mitologia primitiva. São Paulo: Palas Athena, 1992. v. 1. Chaves, José Reis. A Face oculta das religiões: uma visão racional da Bíblia. 2. ed. São Paulo: Editora Bezerra de Menezes, 2006b. 
DONINI, Ambrogio. Breve história das religiões. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1965. 
FRANGIOTTI, Roque. Histórias das heresias: conflitos ideológicos dentro do cristianismo. São Paulo: Paulus, 1995. .

2 comentários:

  1. É risível. E curioso ao mesmo tempo. Ela é (seria) mãe do filho de Deus, já que temos a trindade. Mas não são, segundo eles, os hilários, 3 deuses, são apenas Um.Então qdo o Pai enviou o Filho para o pseudo sacrifício - já que ele teria ressuscitado no 3º dia, o sacrifício não foi tão grande - sendo ele , o filho tb deus, ela seria então mãe do Deus.Como disse no início, só rindo.

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  2. Excelente artigoe tudo provado com referências bibliográficas o GPS foi dado para conscientizar os crentes e testar a fé deles!

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