segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

A difícil arte de conviver em sociedade, parte I



HONRA, LEI E VALORES SÓCIO-CULTURAIS

O que para alguns é extremamente vergonhoso, para outros é necessário e salutar

Depois que os grupos humanos começaram a se organizar em sociedades, as suas chances de sobrevivência aumentaram muito. Depois de aprenderem a verbalizar palavras de modo oral e escrito, expressando assim seus sentimentos e ideias, ficou mais fácil então manter unidos por mais tempo indivíduos com propósitos semelhantes. A construção da civilização só foi possível quando leis foram introduzidas para policiar os indivíduos agrupados e gerir os recursos ou a falta destes gerado pelo aglomerado de pessoas compartilhando de um mesmo território.

Apesar de milhares de anos de evolução, alguns indivíduos da atualidade parecem ter nascido como se estivessem deslocados no tempo e no espaço, vivendo em um corpo de um homem moderno com uma mentalidade de um homem das cavernas ou do período medieval. Se unem em bandos para matar, roubar, estuprar, destruir ou se apropriarem dos bens produzidos por outras pessoas como isso fosse um pleno direito destes.

A ideia de que um dano causado a apenas um membro de uma sociedade pode desencadear uma série reação maléfica em cadeia é algo que esses não levam em conta. Querem mais do que os seus bolsos possam caber, seus estômagos possam digerir, ou sua luxúria pudesse consumir ainda que viessem a viver 2 mil anos seguidos num mesmo corpo. Na natureza, os animais “irracionais” usam apenas o que precisam para consumo diário ou familiar. Alguns indivíduos de nossa sociedade tentam a todo instante direcionar todos os recursos produzido pelo grupo em função própria, sem falar dos danos colaterais que causam para conseguir o que desejam.

Alguns fazem isso de modo aberto, declarado e intencional como predadores que se juntam para aumentar suas chances de abater uma vítima, outros porém o fazem de forma sorrateiro e meticuloso, valendo-se de suas posições sociais que ocupam e ainda assim sendo chamados de vários títulos honoríficos pagando de heróis quando na verdade não passam de vilões.

Na maioria dos casos a definição de um indivíduo que pode ser considerado como um grande marginal e outro que pode ser tratado como vossa excelência não estar basicamente em suas ações de construção ou desconstrução da ordem social e sim, na função que ocupa ou em um título conquistado. A exemplo do nosso atual estado político em que vivemos é possível cometer um prejuízo enorme ou desserviço a uma sociedade inteira, ser muito bem remunerado por isso e continuar ocupando uma cadeia de comando, e cometer o mesmo ato e ser duramente penalizado por tais ações. Nesses casos o que define um “mocinho” de um “bandido” não são os atos e sim os títulos.

Diferente dos predadores convencionais que a natureza produz para dirigir um bando ou ocupar cadeias de comando nas demais espécies animais, nossa sociedade produz predadores que se destacam não pela sua capacidade física e estratégica de caça, mas pela capacidade argumentativa para construir discursos de defesas surreais ao mesmo tempo em que constroem alianças com outros indivíduos da mesma índole que também ocupam posições sociais de destaques. Se pudéssemos medir o quesito honra nas espécies animais, muitos dos indivíduos que vivem entre nós teria que ser introduzido numa posição abaixo destes.

Será que muitos interpretam a capacidade de mentir, ludibriar e articular para o mal como sendo um traço positivo de nossa evolução? Considerando que a manutenção das leis baseia-a na ideia de que indivíduos confiam em regras preestabelecidas para se manterem unidos em sociedade, não seriam esses que cultivam capacidades acima citadas um tipo de ferrugem social? Apesar de serem como ferrugens que corrói e destrói as estruturas, muitos desses se consideram com uma ponte, de cola super aderente que faz manter mais segura as estruturas sociais.

Não se pode esperar que indivíduos avessos a ordem social, escolham por si só a reparação dos danos causados a uma sociedade. Na maioria dos casos ações coercitivas de maior energia se fazem necessário para enquadrar os tais não importando sua posição social. Esperar que certos indivíduos que solapam as estruturas de uma sociedade façam juízo benéfico aos outros em suas ações, é o mesmo que entregar um piano e a Quinta Sinfonia de Beethoven a um suíno e esperar que essa bela melodia seja executada.

Muitos indivíduos ainda vivem avessos a ideia de sociedade ou pelo menos ao seu sentido, pouco ou nada fazendo para manutenção da mesma, exigindo muito sem nada dar em troca ou se aproveitando das brechas das leis, da diplomacia nas relações por pessoas civilizadas, da generosidade dos que tem boas intenções e da inércia causada por sistemas políticos e religiosos ultrapassados. Tais indivíduos agem como ancoras que servem para fazer com que grupos inteiros fiquem parados no tempo, ou até mesmo como uma alavanca de marcha ré, fazendo regredir as conquistas que por muitos esforços temos conseguido como um todo.

Conviver com milhares de indivíduo não é tarefa fácil. Viver na solidão é mais difícil ainda. O progresso da civilização acontece exatamente quando conseguimos aprimorar nossas relações por meio do verbo, e quando esse não surte efeito se faz necessário o uso das leis ou da força para que indivíduos que agem como bestas descontroladas venham ser domesticados de algum modo.

Para indivíduo civilizados um simples aviso de proibição pregado em uma porta ou um alerta por meio de sinais cognoscíveis por exemplo, já são capazes de fazer com que essa pessoa recue, mude seu comportamento, escolha outra opção ou se ponha em seu devido lugar. Outros porém, nem com a presença de um batalhão inteiro, a certeza de uma condenação judicial ou torturas físicas e psicológicas o fazem mudar de ideia ou de atitude no quesito respeitar a vida e a liberdade de outros. São como bestas indomáveis usando uma roupagem humana.

É um desafio conviver com esse tipo de gente. Indivíduos assim desencadeiam uma série de eventos que afetam os mais variados setores. Uma empresa inteira pode vir a falência e várias pessoas ficarem desempregadas por uma fraude cometida por alguém desse tipo enquanto pais ficam sem filhos e também filhos ficam sem pais todos os dias por gente assim.

Em uma cidade com 20 mil pessoas vivendo por exemplo, apenas dois ou três indivíduos que não respeita a vida ou nenhum tipo de leis estabelecidas já são capazes de manter em pleno funcionamento permanente policiais e viaturas nas ruas, advogados de acusação e defesa, juízes, promotores, corpo de bombeiros, médicos, fabricantes de armas, de entorpecentes, etc. Uma sociedade civil organizada perde muito tempo e recursos preciosos produzidos por outros cidadãos para manter funcionando as estruturas sociais que esses tentam desestabilizar.

Um falso moralismo baseado simplesmente no conceito vago de “amor cristão” ou de linhas de pensamento sem nexo por exemplo, fazem com que os rigores da não sejam aplicadas como deveria em certos casos. Preferimos em certos casos dizer que o quanto “amamos” uma pessoa jogando flores em seu caixão ou dizendo palavras bonitas eu seu funeral, vítimas de ações de meliantes, do que expressar esse mesmo amor extirpando do convívio social de uma vez por todas reincidentes confessos e conscientes que já se tornaram “clientes” dos mesmo policiais, dos mesmo juízes e dos mesmo carcereiros que nesse vai-e-vem de prender e soltar já se é conhecido quase que por completo todas as suas características físicas e psicológicas de tais indivíduos bem como onde, quando e de que modo eles costumam agir.

A sociedade cristã costuma dizer que somente deus pode matar e dar a vida a quem quer que seja, e que ninguém pode condenar outra pessoa a morte por maior que seja um crime cometido. Será que um marginal, estuprador, ou latrocina pensa do mesmo modo? Acho que não! Será que eles não condenam a morte diariamente várias pessoas? Será que eles exercem a função de policiais, juízes e deuses simultaneamente? Será que eles tem um código de lei próprio? Ou eles não são cristãos, ou eles não são sociedade! Acho que eles não merecem tanto “amor” assim. Se nenhuma vida vale mais que outra, a vida do que tira a vida de modo intencional não tem maior valor do que a vida de quem a perdeu.

Se queremos basear nossas ações de julgamento em supostos valores religiosos que podem ser interpretado de modo pessoal, me pergunto por que ainda usamos uma constituição como regra máster para dirigir todo um povo. Será que alguém conseguiria extirpar do próprio corpo um parasita lumbricoide apenas mostrando trechos da constituição para esse ser? Acredito que não! É uma questão de escolha! Ou ele te consome ou você o retira usando os meios necessários. Mostrar trechos da bíblia para carrapatos que infestam um cachorro tem tanto efeito quanto dizer para um leão faminto no meio de uma selva prestes a te devorar, que você é cristão e que só deus dá a vida e só deus pode tirar. Tente fazer isso e depois volte para contar a experiência!

Somente ações populares energéticas somadas a de magistrados que fazem uso do bom senso para fazer com que códigos de leis ultrapassados sejam corrigidos e um novo método seja usado para punir com efetividade reincidentes e “profissionais do crime”. Isso não envolve apenas o marginal que vive a bater carteira, vender entorpecentes e cometer pequenos delitos, pois em todas as classes os parasitas sociais estão a corromper as estruturas da civilização, inclusive nos três poderes que governam uma democracia. Em certos casos as leis já existem, basta só fazer funcionar!

A questão dos valores sociais aprendíveis e ensináveis é algo de extrema importância para um equilíbrio na convivência entre os povos. Algumas pessoas literalmente se transformam, quando tem a certeza de que não estão sendo vigiadas, mostrando que são pessoas de caráter duvidoso e que se não fosse pela força da lei seriam semelhantes a membros de uma alcateia. São os humanos que criam as leis para serem civilizados ou são as leis que nos tornam humanos? As leis como mecanismo de controle tem conseguido de certa forma manter nossa sociedade rumo ao processo evolutivo. O afrouxamento da mesma ou a interpretação individual delas para fins pessoais, podem promover o caos social.

Outros indivíduos porém, se não fosse pela ideia de um ser superior os vigiando o tempo inteiro, alguns assumidamente chegam a confessar que seriam o oposto do que são. Mas uma vez notamos algum tipo de lei, ainda que seja no campo da metafisica ou imaginaria como uma maneira de controlar pessoas que assumidamente confessam que agiriam como se fossem bestas descontroladas caso não fossem mantidas sob coação psicológica de um ser do inconsciente coletivo.

A promessa de castigo e recompensa difundida pelas crenças religiosas fazem com que de certa forma algumas pessoas usem máscaras o tempo inteiro. O ideal seria que as religiões incentivassem a busca pelo conhecimento próprio e melhoria nas relações com todos os povos aos invés de ficarem em ritos religiosos inúteis e desnecessários, adorando, enaltecendo e oferecendo dádivas a seres imateriais e completos que de nada precisam. Pelo menos 170 milhões de pessoas em nosso país por exemplo, passam anos e anos de suas vidas desenvolvendo técnicas de relacionamento com seres surreais que foram criados pela religião, enquanto poderiam gastar o mesmo tempo e recurso financeiro para melhorar suas relações pessoais no intuito de fortalecer o conceito de civilização. Disso depende nossa Ascenção coletiva!

Por incrível que pareça, depois de tantos anos de evolução, ainda vivemos rodeados de “monstros”. Em algumas outras ocasiões nós mesmo podemos ser comparados a eles. Para vivermos em sociedade o limite de um indivíduo começa quando o do outro termina e muitos não queram entender isso ainda e vivem apenas como se possuíssem apenas direitos sem a obrigação dos deveres. Uma greve de policiais ou um leve afrouxamento das leis é o suficiente para demonstrar o quanto ainda existe indivíduos que poderiam ser considerado como verdadeiros animais vivendo entre nós. Tais indivíduos são capazes de roubar, matar, estuprar, vandalizar ou destruir o que quer que seja se tiverem a certeza de que não serão punidos. Outros porém acreditam que entre dar um prejuízo a alguém e levar um prejuízo preferem a segunda opção.

Como exemplo dessa bestialidade causada pelo oportunismo e má interpretação da lei, um meliante juvenil de apenas 14 anos portando uma arma, se sente o rei da floresta quando consegue render 10 ou 20 pessoas em uma loja e tomar todos os seus pertences enquanto profere palavras de insultos e humilhações aos que estão rendidos. Sua sanidade é recobrada imediatamente quando alguém preparado entre os reféns consegue desarmá-lo com facilidade e subjuga-lo com rapidez. Então, esse mesmo indivíduo que antes se portava como um rei leão agora passa a se comportar como um indefeso gatinho! Toda a fúria, toda a ira, toda a capacidade argumentativa esvaiu-se deste como se fosse um pneu furado sem condições de rodar. Isso acontece todos os dias em quase todos os cantos do planeta. Policiais que o digam.

O chamado para o caos é prontamente obedecido por boa parte dos indivíduos. Desde tomar um doce de uma criança indefesa a um atentado terrorista de grandes proporções. Cada uma dessas criaturas recebem o “chamado” e se junta ao bando. Para construir, argumentar, defender e proteger o interesses sociais a resposta é mais lenta. A maioria balança conforme as ondas e pode pender para o lado que tiver mais adeptos.

A maneira mais fácil e menos dolorosa de fugir da complexa possibilidade de respostas mediante sérios e longos estudos feitos para entender o comportamento humano é dizer que tudo foi criado por deus, incluindo o mal. Mas depois ele mesmo deixou o mal para o capeta, seu assistente e parceiro de longas datas e ficou encarregado de tratar apenas com pessoas boazinhas e subservientes a todo tipo de capricho indicada pelos representantes desse mesmo deus. Outra forma inutilmente abobalhada de dar respostas para os problemas sociais é dizer que tudo que de ruim acontece nesse mundo é sinal da volta de Jesus e que nada podemos fazer para mudar isso. Nesse ponto o grau de insanidade chega a beirar o grau de bestialidade de outros acima citado.

Já moramos nas savanas, nas geleiras, nos desertos, em regiões alagadas e tivemos comportamentos diversos, ora nos protegendo, ora nos destruindo. Agora residimos em grandes centros urbanos onde os recursos básicos para nossa sobrevivência estão acumulados em pequenos estabelecimentos comerciais. Isso parece fazer aumentar a tensão nas diversas relações entre os indivíduos. O medo da escassez e do desconhecido nos acompanha sempre.

Há recursos porém em abundância no planeta capaz de suprir o dobro da população que hoje temos por mais de 200 anos seguidos. Os que controlam os veículos de comunicações desejam que pensemos de modo oposto a isso, pois os tais também administram a distribuição dos tais recursos para fins puramente comerciais e de controle das massas. A maior parte dos meios de produção e dos bens produzidos ainda é possuída e controlada por um punhado pequeno de pessoas no mundo inteiro. Isso também é um entrave que precisa ser superado para que nossa civilização prospere.

A cultura do medo, da desgraça, da miséria, do castigo-recompensa e da subserviência incondicional é amplamente difundida por meio das propagandas políticas, religiosas e comerciais, ainda que de modo indireto. Nos ensinam mantermos relações de submissão incondicionais e idolatria a pessoas iguais a nós, a encararmos todo tipo de abuso como se fosse um direito adquirido pelo abusador após passar em um concurso ou ser promovido a algum cargo como se isso fosse um estilo saudável de viver.

Enquanto não enxergamos a nós mesmos e a outros como peças igualmente importantes de um mesmo mecanismo no funcionamento das engrenagens sociais, iremos continuar paparicando, temendo ou bajulando líderes políticos e religiosos bem como “celebridades” para conseguirmos que queremos. Relações corruptas geram resultados corrompidos. Esse nível de mentalidade deve ser absolvido por aqueles que defendem os pais por meio das armas, das leis e do voto. Todos somos iguais perante a lei, esse é um dos pontos Áureos de nossa constituição. O respeito nas relações não enfraquecem as hierarquias de comando, antes sim as fortalece. Subjugar, ludibriar ou explorar o outro por uma função social ocupada é coisa de quem anda avesso a ideia de sociedade.

CONTINUA...Aguardem a parte 2 desse texto.

Texto escrito em 1/1/2018 e corrigido em 3/1/18

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Sem comentários:

Enviar um comentário