quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Desmontando a bíblia - Jesus, o Deus




Nesse capítulo eu quero falar sobre o Cristo ser Deus e demonstrar a falsidade desse dogma cristão que é responsável pelo dogma da Trindade.

Antes do mais, realçar que, nas religiões de mistérios e em muitas outras antigas religiões, os deuses poderiam possuir filhos, e esses filhos poderiam ser envidados pra salvar os humanos. Esses filhos poderiam ser deuses ou semi-deuses, dependendo dos dois progenitores serem no seu todo deuses. Nessas religiões é totalmente compreensível que o filho de um deus seja também um deus, pois essas religiões eram politeistas. Mas o que não se entende, é quando uma religião dita monoteísta conceba que o filho de seu deus também seja deus. Bom, quanto ao ser filho de deus, isso já foi falado nas anteriores publicações. Mas admitindo que seja de facto o filho de um deus numa religião que só possui um deus, isso é uma gritante discrepância. Eu não posso ser o meu filho!

"No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada foi feito de tudo o que existe. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam” (João 1,1-5). 
Essa passagem evangélica joanina foi certamente copiada da literatura sagrada da Índia, ou seja, do livro Rig-Veda: “No princípio era Braman [=Deus, o Absoluto], com quem estava o Verbo [=Krishna] , e o Verbo era Braman” (apud LEWIS, 2008, p. 45).

Os cristãos dogmáticos, fundamentados em interpretações literalistas de várias passagens do Evangelho de João, por exemplo: “Eu e o Pai somos um” (João 10,30), “Quem me viu, viu o Pai” (João 14,9) e “Não crês que estou no Pai, e o Pai está em mim?” (João 14,10), argumentam que Jesus realmente declarou “ser Deus".

Mas, os que seguem a interpretação literal desses versículos joaninos deveriam notar que, em várias outros trechos do mesmo Evangelho de João, ele se contradiz, porquanto, como ressalta Andrade (1995, p. 59), ele mostra em várias outras passagens que Jesus não era Deus, mas um “enviado de Deus” (João 4,34; 5,24; 6,44; 7,29; 8,26; 12,45; 17,3) e que chegou a afirmar: “Porque eu desci do Céu, não para fazer a minha vontade, mas a daquele que me enviou” (João 6,38). E, como conclui Andrade (ibid.), “é claro que um enviado é sempre inferior àquele que o enviou”. 
Jesus também teria afirmado: “O Pai é maior do que eu” (João 14,28); “Subirei ao meu Pai e ao vosso Pai, ao meu Deus e ao vosso Deus” (João 20, 17); e também teria dito: “Eu rogarei ao Pai” (João 14,16 e 16,26) e o que roga é obviamente inferior ao rogado.

A própria Bíblia judaico-cristã declara também que alguém pode ser chamado “deus” ou “filho de Deus”, não no sentido natural, mas no sentido metafórico ou honorífico, principalmente quando exerce uma função importante na sociedade. 
Exemplos:
"Eu declarei: Vós sois deuses, todos vós sois filhos do Altíssimo." (Salmo 82, 6)
"Não está escrito em vossa Lei: Eu disse: Sois deuses?" (João 10,34)

A Bíblia de Jerusalém elucida, nas notas de rodapé referentes a essas duas passagens bíblicas, o sentido metafórico (e não literal) de alguém ser chamado “deus” ou “filho de Deus” na Bíblia: "Os príncipes e os juízes são comparados aos “filhos do Altíssimo”, membros da corte divina." (A Bíblia de Jerusalém, Salmo 82, 6, nota g) "Esta palavra dirige-se aos juízes, chamados “deuses” metaforicamente, por causa de seu ofício, pois “o julgamento cabe a Deus”. (A Bíblia de Jerusalém, João 10,34, nota c). 

Como já tenho demonstrado, o Cristianismo está atapetado de ideias das religiões rotuladas como pagãs e do Judaísmo. E essa fusão trouxe consigo ideias controvertidas, pois é uma fusão de politeísmo com monoteísmo. Dizer que Jesus é filho de Deus numa religião supostamente monoteísta, é o mesmo que dizer que o pai do Gil é o próprio Gil!

Fonte: Gil Yossuf

Bibliografia:
A BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Edições Paulinas, 1981. 
ANDRADE, Jayme. O Espiritismo e as igrejas reformadas. 4. ed. São Paulo: EME, 1995. LEWIS, H. Spencer. A Vida mística de Jesus. 7. ed. Curitiba-Paraná: Biblioteca da Ordem Rosacruz – AMORC, 1997.

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