terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Desmontando a bíblia - As parábolas de Jesus






A parábola dos trabalhadores da vinha (Mateus 20,1-16) é de autoria de Jesus?

Segundo Franz Griese (cf. GRIESE, 1957, p. 112-113), esta parábola dos trabalhadores da vinha foi falsamente posta nos lábios de Jesus por Mateus, sendo uma cópia deturpada de uma autêntica parábola narrada pelo deus hindu Krishna, cerca de cinco mil anos antes de Cristo. Mateus, ao pô-la nos lábios de Jesus, fez uma série de mudanças absurdas, falsas, mentirosas, como explica, a seguir, o referido teólogo Franz Griese:

...Enquanto a parábola de Krishna é natural e humana, demonstrando compaixão para com os fracos, a transformação que, segundo a Bíblia, foi feita por Cristo dessa parábola hinduísta está cheia de absurdos. Na verdade, ninguém pagaria o mesmo salário a trabalhadores que tivessem começado a trabalhar em horas tão diferentes do mesmo dia, como se narra aqui na versão cristã dessa parábola hinduísta. Com justa razão, reclamam aqueles que, tendo trabalhado o dia inteiro, receberam o mesmo salário dos que trabalharam apenas uma hora.

Por outro lado, a versão cristã desta parábola tem uma explicação satisfatória, quando interpretada do ponto de vista de seu ensinamento moral, expresso na última frase da versão cristã da parábola: “Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos” (Mateus 20,16).

Supondo que os primeiros trabalhadores eram os judeus, os quais, segundo a crença judaico-cristã, foram efetivamente os primeiros a ser chamados ao Reino de Deus, e que os últimos significam os pagãos, por terem sido chamados ao Reino de Deus em último lugar, e levando em conta que, nos tempos dos apóstolos, os judeus convertidos ao cristianismo não queriam reconhecer a igualdade dos pagãos convertidos à religião cristã, e que esta rivalidade terminou com o afastamento dos judeus e a entrada dos pagãos ao Reino de Deus, tal como São Paulo o explica detalhadamente em sua Carta aos Romanos, afirmando que os judeus, por causa de sua conduta, somente entrarão na Igreja depois que tiverem entrado todos os pagãos (Romanos 11,25), é que se pode entender o ensinamento moral da referida parábola: que os primeiros (os judeus) passarão a ser os últimos e os últimos (os pagãos) passarão a ser os primeiros, porque muitos homens são chamados à Igreja de Cristo, mas poucos são escolhidos (os membros do povo eleito de Israel). Quanto à referida parábola, é impossível que ela tenha sido narrada por Cristo, porque no tempo em que Cristo pregou não existia aquela rivalidade entre judeus e pagãos, principalmente levando-se em conta que Cristo restringiu sua pregação aos judeus. Esta parábola, por conseguinte, não foi narrada por Jesus, mas foi produzida pelo evangelista Mateus, que transformou a parábola original hindu, adaptando-a à rivalidade de seu tempo entre judeus e pagãos (GRIESE, p.112-113).

Obs: Na verdade o autor destes dizeres admite a existência do Jesus histórico, o que é de certo modo razoável, mas contestável também. Para mais informações quanto aos dizeres da verdadeira parábola hindu, recomendo aos leitores a obra "Catecismo ecumênico" de José Pinheiro de Souza.


A parábola da viúva pobre (Marcos 12,41-44) é de autoria exclusiva de Jesus?

Não.
Esta parábola já existia em diversas outras literaturas sagradas, bem mais antigas do que o cristianismo, particularmente na literatura budista, conforme argumenta muito bem o escritor Holger Kersten, nos seguintes termos:
"A esta altura, gostaria de apresentar um dos mais surpreendentes paralelos entre as escrituras hindus e o Novo Testamento: a parabola da viúva pobre. Nos textos budistas é costume que pessoas abastadas façam generosas doações a uma congregação religiosa. Uma pobre viúva, entretanto, não possuía mais que duas moedas. É tudo que tem, mas mesmo assim o dá com prazer. O sacerdote, diante de tão nobre atitude, a louva, deixando de mencionar a contribuição dos outros. É este o paralelo que encontramos no Evangelho de São Marcos: “E, sentado frente ao Tesouro do Templo, Jesus observava como a multidão lançava o dinheiro nos cofres; muitos ricos depositavam grandes quantias. Chegando uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, no valor de um quadrante. E, chamando a si os discípulos, lhes disse: ‘Em verdade eu vos digo que esta pobre viúva lançou mais do que todos os que ofereceram moedas ao Tesouro. Pois todos os outros deram do que lhes sobrava; ela, porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver” (Marcos 12,41-44). Além da correspondência da ideia básica, mencionamos agora a extraordinária semelhança entre as duas situações: em ambos os casos, trata-se de uma mulher, de uma mulher pobre; a de uma oferta feita na igreja em meio a gente rica; ambas as mulheres dão tudo o que tinham, isto é, duas moedas; ambas são louvadas por um observador e o sacrifício delas é muito mais apreciado que as doações dos ricos. E logicamente, por ser mais recente, o texto bíblico depende daquele budista (KERSTEN, 1986, p. 88)."

Em face do incontestável paralelo entre a parábola da viúva pobre, supostamente narrada exclusivamente por Jesus, e a existência dessa mesma parábola em outras literaturas sagradas, como na literatura budista, na literatura rabínica e na literatura grega antiga, os pesquisadores do SJ concluem que ela não pode ter sido narrada exclusivamente por Jesus. No dizer desses pesquisadores, “esta parábola é um belo exemplo de como um sentimento ou um costume antigo era falsamente atribuído exclusivamente a Jesus pelos autores dos Evangelhos, quando sabemos que, em qualquer cultura antiga, as doações dos pobres sempre eram vistas como mais agradáveis a Deus do que as exageradas contribuições dos ricos (FUNK, HOOVER & THE JESUS SEMINAR, p. 106-107).

Quero aqui realçar que independentemente se a parábola é um plágio ou não, a verdade é que esses dizeres da parábola em questão já existiam antes do Cristianismo. Esse olhar apaixonante que as pessoas têm dos dizeres da bíblia como se fossem os únicos é utópico. E isso eu quero deixar bem patente em cada publicação. Se o cristianismo se assumir como verdade, então ele é só mais uma entre as outras. 
Nunca existiu uma só verdade.


A parábola dos vinhateiros homicidas (Marcos 12,1-12; Mateus 21,33-46, Lucas 20,9-19)

Eis um resumo comentado da referida parábola feita pelos pesquisadores do SJ:

"Deus plantou uma vinha, arrendou-a a vinhateiros (=o Seu Povo Eleito, Israel) e partiu para o estrangeiro. Chegada a época da colheita, enviou os seus servos aos vinhateiros, para receberem os seus frutos. Os vinhateiros (=os judeus), porém, agarraram os servos (=os profetas), espancaram um, mataram outro e apedrejaram o terceiro. Deus enviou outros servos (=outros profetas), em maior número do que os primeiros, mas eles (=os judeus) os trataram da mesma forma. Por fim, enviou-lhe o seu Filho (=Jesus Cristo), o qual foi morto pelos arrendatários, ou seja, pelo Seu Povo Eleito (os judeus), [o que não é verdade, pois Jesus não foi morto pelos judeus, mas pelos romanos] (FUNK, HOOVER & THE JESUS SEMINAR, p. 101)".

A parábola do rico e o Lázaro.

Esta é das parábolas mais esquisitas da bíblia de onde os cristãos interpretam literalmente a história do inferno.

Primeiro, cabe relevar que histórias de ricos e pobres cujos destinos se invertem após a morte são comumíssimas na literatura do Oriente Próximo.

Em segundo lugar, caso interpretemos literalmente a parábola, iremos cair em aspectos estranhos até para a doutrina cristã:
1-Em nenhuma parte a parábola menciona a perversidade do rico nem a benignidade de Lázaro. Parece até que a perversidade do rico é de ser rico, e a benignidade do Lázaro é de ser pobre. 
2-É a única parábola em que um dos personagens recebe um nome próprio.[apenas curiosidade]. 
3-O destino do Lázaro não é o "céu" mas um tal de "seio de Abraão" que por sinal, em mais nenhuma parte da bíblia é mencionado. Afinal, o que é seio de Abraão, onde está localizado? Essas perguntas divergem de igreja à igreja, dependendo da doutrina[cada uma interpreta de modo que se tenha benefício próprio]. Por estas razões, até eu não me sinto seguro em levantar juízo sobre o tal "seio de Abraão". 
4-A parábola sugere que o tal "seio de Abraão" e o tão famoso inferno são vizinhos e que há possibilidade de um contacto visual e auditivo entre os integrantes de ambos os lados. Esse aspecto é de longe o mais pertubador de todos, caso se interprete literalmente a referida parábola. 
5-O texto sugere que o rico foi pra o inferno imediatamente após a morte, o que gera várias questões. Será que as pessoas vão pra o inferno com o seu corpo físico imediatamente após a morte? Claro que não, pois o corpo fica apodrecendo no túmulo. Se admitirmos que a doutrina do inferno é correcta, então só poderia ser o lugar da tal "alma". Por outro lado, se o que estava no inferno é a alma do rico, porquê estava com sede e pediu pra que lhe refrescassem a língua? É óbvio que a expressão "língua" e "sede" fazem alusão ao corpo físico.

Por tantas incongruências gritantes resultante da interpretação literal da parábola, só nos resta o sentido metafórico. E quanto ao seu sentido metafórico, cada um é livre pra entender como quiser. Eu por exemplo, interpreto as chamas do inferno como água[risos].

Obs: não há referência bibliográfica pois, para além dos primeiros dizeres do post, a análise é excluisavamente minha.


Texto de Gil Yossuf


Bibliografia:
GRIESE, Franz. La Desilusión de un sacerdote: la verdad científica sobre la religión cristiana. 2. ed. reformada y aumentada. Buenos Aires: Editorial Cultura Laica, 1957. 
KERSTEN, Holger. Jesus viveu na Índia: a desconhecida história de Cristo antes e depois da crucificação. 17. ed. São Paulo: Best Seller, 1986. 
 FUNK, Robert W.; HOOVER, Roy W., and THE JESUS SEMINAR. The Five Gospels: what did Jesus really say? The search for the authentic words of Jesus. New York: Macmillan Publishing Company, 1993.

2 comentários:

  1. Já reparei há muito que as religiões são cópias umas das outras; algumas são mesmo cópias mal elaboradas, como é o caso do Corão.......

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  2. Caro, não é problema nenhum na vida real alguém se servir de uma história ou estória conhecida para ilustrar alguma coisa que se pretende. Não acreditar Deus-cristão, ou na Bíblia, não elimina o fato da total possibilidade de um personagem histórico re-contar, ou, até adaptar, ensinos que ele queira trazer para seu público.

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