sexta-feira, 10 de março de 2017

A blasfémia e a criatura no seu sótão



Imagina que tu conheces alguém que acreditava fortemente que havia uma criatura vivendo no seu sótão. Uma criatura que viu cada um dos seus movimentos e poderia influenciar a sua vida para melhor ou para pior. E ele acreditava que esta criatura precisava ser apaziguada de modo que realizava rituais regulares como cantar e louvar.

Naturalmente, tu serias céptico. Tu irias gostar de descobrir se havia alguma verdade nessa sua crença. E a tua conversa poderia ser algo como isto:

Tu: Podes mostrar-me essa criatura?

Ele: Não. Não posso fazer isso. Não pode ser vista.

Tu: Então, como é que tu sabes que ela está lá no sótão?

Ele: Eu ouvi-a. Ele fala comigo e eu respondo-lhe.

Tu: Ok, eu posso ouvir a vossa conversa?

Ele (balançando a cabeça): Não. Não funciona assim. Tu tens que acreditar que é real antes que possas falar com ele.

Tu: Mas como é que eu posso acreditar que é real se eu não posso vê-lo ou falar com ele, e apenas tenho a tua palavra que ele está lá?

Ele: Oh, é definitivamente real. É tão real para mim como tu estás aqui e agora.

Tu: Eu entendo que tu acreditas, mas como posso acreditar tendo apenas a tua palavra?

Ele: Tu podes duvidar de mim, mas não podes provar que ele não está lá em cima, ou podes?

Tu: Eu acho que não posso ...

Ele: Tens que ter fé. Junte-te a mim nos meus louvores diários e logo tu vais acreditar também. Tu verás a luz e tua vida será alterada. Essa é a única maneira!

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Se esta história te parece um tanto louca e familiar, tens razão, pois ela é. Há apenas uma diferença entre o personagem desta história e os milhares de milhões que acreditam em deuses invisíveis. A diferença é que o interlocutor da história acima, é a única pessoa que acredita na criatura invisível no seu sótão.

Por causa disso, não só não acreditarias na sua história, mas também concluirias que ele precisava de ajuda profissional para a sua desordem psicológica delirante. E tu estarias certo!

Esta história ilustra a verdadeira natureza das religiões. As religiões são desordens delirantes institucionalizadas. É por isso que eles tentam tão fortemente se certificar de que todos são crentes, pois cada descrente é uma ameaça! Quanto mais descrentes há, mais os crentes que estão mais próximos, começam a ficar como o homem nesta história: indivíduos isolados acreditando em coisas altamente improváveis ​​que não podem ser evidenciadas como verdadeiras.

As religiões empregam várias técnicas para nos desviarem desta conclusão tão óbvia. Mais importante ainda, eles ensinam as crianças a acreditar numa idade quando são impressionáveis ​​e acríticas, a chamada doutrinação. Os líderes religiosos também costumam usar roupas espalhafatosas ou impressionantes, e afirmam ter um relacionamento privilegiado com essa sua criatura invisível.

Assim, eles procuram isolar as suas crenças fantasiosas ​​e não fundamentadas, da crítica. Tentam promulgar o respeito pelas crenças religiosas, como uma norma cultural. Às vezes, eles ainda procuram tornar a crítica às suas crenças religiosas, como uma ofensa legalmente punível.

Não consigo pensar em nada mais condenatório da crença religiosa do que a existência das leis de blasfémia. É uma admissão de que essas crenças são tão frágeis e indefensáveis que deveria ser um crime desafiar a sua verdade ou realidade.

A verdade e a realidade não precisam ser defendidas por lei. Eles podem cuidar de si mesmas.


Traduzido e adaptado de Bill Flavell

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