segunda-feira, 20 de março de 2017

Como fundamentamos a moralidade?



Recentemente, um teísta perguntou-me como fundamentamos a moralidade. Ele perguntou assim: 

"Qual é o padrão moral que é aparentemente absoluto e universal?" 
Os teístas propõem Deus como a âncora, o fundamento, a base. Mas se tu discordas, qual é o teu fundamento da moralidade objetiva?

Aqui está a minha resposta.

Concordo que existe um sentido em que a moralidade seja absoluta, mas nenhum ser hipotético sobrenatural é necessário para que isso seja verdade. Pense na moralidade como algo que temos de descobrir, da mesma forma que a velocidade da luz é absoluta, mas não o sabíamos que o era até que o descobríssemos. Ou como na informática, onde a segurança não existe, o que existe é o objetivo de a conseguir, o que leva a que haja a criação de novos processos ou o aperfeiçoamento de processos existentes, para a tentar atingir.

A moralidade faz referência ao efeito do nosso comportamento sobre outros seres humanos (ou a outros seres sencientes). As ações que prejudicam os outros são ditas imorais e as que beneficiam outras pessoas (ou não as prejudicam) são ditas morais ou moralmente neutras.

Existem algumas ações que são claramente e objetivamente imorais. Por exemplo, prender uma pessoa qualquer e cortar sua cabeça é objetivamente imoral. Mas há muitas coisas que não são assim tão claras. Por exemplo: será moral lutar numa guerra para salvar as pessoas dum genocídio ou será moral adicionar flúor à água potável? 
Existem centenas de exemplos de dilemas morais como estes.

Há também o problema das consequências não desejadas. Alguns comportamentos podem ser destinados a ter consequências benéficas, mas acabam por fazer mais mal do que bem.

Na realidade, é difícil encontrar uma resposta objetiva a muitas questões morais porque não temos dados suficientes, ou o poder de computação suficiente. É por isso que a moralidade é algo que temos de aprender. Como uma espécie que somos, temos evoluído muito bem ao longo dos últimos 3.000 anos. Aprendemos muito e, em linhas gerais, nossas leis, convenções e comportamentos melhoraram muito neste período, embora com algumas excepções.

Curiosamente, as religiões têm uma tendência a nos reter alegando que as leis morais objetivas vêm de um deus da Idade do Ferro e, portanto, não podem ser mudadas, deixando-nos presos a uma moralidade que há muito superámos. O Islão é o melhor exemplo disso. O Cristianismo também foi assim durante a maior parte de sua existência, mas tornou-se mais flexível nos últimos 200 anos.

Uma vez que a moralidade é algo que tem de ser aprendida, é crucial que a aprendamos e que mudemos. E já mudámos, mas ainda temos espaço para melhorar. A religião apenas ficou pelo caminho.

Precisamos da razão e da ciência para progredir, não da superstição.



Traduzido e adaptado de Bill Flavell




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