terça-feira, 26 de junho de 2018

Como a trindade foi adotada no cristianismo para transformar Jesus em deus



Divindades que se corporificam (avatar) para salvar a humanidade, imortalidade da alma, ressurreição, assim como trindades divinas, são doutrinas de origens pagãs, introduzidas gradativamente no cristianismo. Para entender o que foi o cristianismo primitivo, é necessário conhecer o significado do termo “Cristo ou Messias”. Cristo é o termo usado em português para traduzir a palavra grega Χριστός (Khristós) que significa "Ungido". O termo grego, por sua vez, é uma tradução do termo hebraico מָשִׁיחַ (Māšîaḥ), transliterado para o português como Messias. Portanto, Cristo como nome próprio ou sobrenome de Jesus (Jesus Cristo), é uma das primeiras fraudes cristãs. No mundo antigo, um rei teria que passar pelo ritual de aprovação, ministrados pelos representantes dos deuses na terra, ou seja, os sacerdotes.

Após a cerimônia religiosa, o rei tinha a sua cabeça aspergida com água ou óleo sagrado, e só então estava qualificado e consagrado rei. No antigo Israel ungiam-se os reis com o óleo sagrado (1Sa 10:1 e 1Rs 1:39). Cristianismo vem de “cristo”, significando que os primeiros cristãos eram judeus messiânicos que aguardavam a vinda de um ungido, ou melhor, de um legítimo rei de Israel, já que o país estava sendo governado por estrangeiros. O que diferenciava essa nova vertente do judaísmo do tradicional, era a crença na imortalidade da alma e na vinda do messias dos últimos dias para reunir os judeus do mundo todo em um novo Israel.

Essas crenças foram levadas para a Judeia por judeus nascidos na Babilônia, e que tiveram contatos com as religiões persas e indianas. No entanto, para eles, só havia um único e indivisível Deus (YHVH) responsável pela lei que foi dada a Moisés. “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. ” Deuteronômio 6:4. O movimento messiânico surgiu no seio do judaísmo, devido às condições político-religiosas da Judeia ocupada. Ezequias de Gamala, um descendente dos Macabeus, pretendia fundar uma teocracia na Galileia, livre dos romanos e dos seus aliados na região.

Derrotado, foi crucificado por Herodes, o Grande, e Judas bar Ezequias teve que liderar as forças da resistência. No entanto, Judas foi morto durante a rebelião do senso de Quirino, então, Jesus bar Judas liderou os galileus até ser morto como mártir. Os Judeus messiânicos aguardavam dois messias. Um que seria um guerreiro descendente de Davi para reunir as doze tribos, e outro, descendente de José, para restaurar a linhagem sacerdotal araônica. Foi nesse ambiente que surgiu a quarta seita descrita por Josefo em “guerra dos judeus”. Os helenistas, autores do Novo Testamento transformaram sinagogas em igrejas, e judeus em cristãos, vítimas do seu próprio povo, e não dos romanos. Eram antissemitas que não pertenceram ao ambiente judaico, e que faziam parte da nova ordem, a dos vencedores.

Ebionitas e nazarenos, eram seitas judaico-cristãs do século II, formadas por judeus palestinos que seguiam a lei mosaica. Falavam e escreviam em hebraico. São os últimos exemplos do que era o cristianismo primitivo. Para eles, Jesus não teria nascido de uma virgem, e nem tão pouco era filho de Deus. Eles tinham Jesus como o messias, na qualidade de profeta restaurador da lei. Portando, a trindade era desconhecida no cristianismo primitivo. E não poderia ser diferente, pois esse conceito é de origem pagã. Tertuliano, cristão semipagão, viveu entre os séculos II e III, foi quem criou a filosofia que se denominou de Trindade: “Tres Personae, una substantia” (texto original em latim). A doutrina se desenvolveu gradualmente através dos séculos, e passou por muitas controvérsias.

A necessidade de interpretar os ensinamentos bíblicos para o paganismo Grego-Romano, confrontavam com o monoteísmo herdado do judaísmo. Então, os filósofos cristãos foram forçados a mudar o conceito da ruach. Originalmente, ruach era um adjetivo feminino para a “sabedoria divina”, (Sofia em grego) e não o fragmento de uma trindade. Porém, ruach ha kodesh tornou-se adjetivo masculino nos evangelhos, para designar o “espirito santo” e incluir Jesus como um deus, em uma trindade exclusivamente masculina para diferenciar das trindades pagãs, que incluíam a figura feminina.


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