sexta-feira, 22 de junho de 2018

Nossa imagem e interesses pessoais refletidas nos deuses



Seres “divinos” com roupagens humanas

O seu deus vive o tempo inteiro te espionando e com um caderninho anotando todos os seus erros para ver quando você sai da linha e te fazer barganhas em troca de perdão? Ele vive com raiva desnecessária de sua própria criação o tempo todo? Ele sofre de uma ira descomunal incontrolável? Ele tem sede de vingança contra pessoas indefesas e que nunca lhe fizera mal algum? Ele garante eliminar seus “inimigos” se você o venerar? Ele te cobre de ameaças para garantir que você o “ame” e não esqueça do quanto ele é grande? Ele exige louvor e adoração incessantemente? Ele tem pragas apocalípticas programada para todos os que não se rendam a ele? Ele garante ser o mais certo entre todos os outros? Ele garante no seu livro sagrado que só o grupinho em que você estar inserido atualmente vai alcançar heranças celestiais...?

Se você venera um deus assim, não se preocupe! Você não está sozinho! Se você vive em alguma região cuja herança de crença nos deuses vieram das antigas tradições mesopotâmicas, você encontrará milhões de pessoas que mantém a mesma linha de crença que você. Que maravilha não é? A gente se sente mais seguro quando todos estão seguindo o mesmo rumo que o nosso, não é mesmo? Dá-nos a impressão que estamos no caminho certo, fazendo a coisa certa...

Ninguém nos perturba a não ser nossa própria inteligência que tenta dar sinais de vida ao questionar toda essa loucura. Mas para isso te ensinaram um truque que funciona perfeitamente por algum tempo, que inibe sua vontade de fazer perguntas, procurar respostas e voltar a ser racional. Algumas das frases de efeito que te ensinaram para calar sua consciência: “Tá repreendido satanás”! “Pensa que me enganas”? “Eu sei que você quer entrar em minha mente e me fazer duvidar de tudo que deus diz por meio de seus santos ungidos”! Sangue de Jesus tem poder” ...

Quem nunca se pegou dezenas de vezes repetindo essas frases, com um sentimento de culpa enorme, como se tivesse cometido um crime hediondo, toda vez que passou a se questionar nem que fosse por alguns poucos segundos os argumentos que sustentam a própria fé? Todos os que tentam sustentar a dualidade e os conceitos auto anulatórios das crenças nos seres metafísicos cultuados no mundo ocidental, terão de enfrentar constantemente esse calvário interior.

Um pouco mais difícil ainda é encontrar alguém que não se comporte assim, ou que se rebele contra princípios milenares seguidos de forma mecânica e impostas quase que por leis marciais. Até hoje muitos dos que mentalmente não mantém esse padrão de pensamento, preferem não se expor publicamente, pois há vários efeitos colaterais para quem decide se desconectar desses fluxos de padrões doentios que oprimem e minimizam o potencial de nossa espécie e nos jogam uns contra os outros o tempo inteiro, fazendo com que sejamos carrascos de nossa própria existência, escravizando e sendo escravizados, oprimindo e sendo oprimidos, tudo em nome de seres surreais, que de nada precisam para existirem. Torturas, perseguições e mortes foi e ainda é o lema principal em várias culturas do mundo para quem decide evitar padrões de pensamento como o da veneração aos deuses.

A maioria dos deuses já criados pelos agrupamentos humanos tem as mesmas características quase sempre e todos eles se parecem! Eles são sempre irados, imprevisíveis, insensíveis ao sofrimento humano e mesmo não tendo um corpo físico e sendo imortais, estão mais preocupados em receber donativos do que em desviar apenas uma minúscula parte do poderio que lhes são atribuídos para amenizar as mazelas humanas. Todos eles egoístas e mal resolvidos!

Em uma de suas mãos eles trazem a condecoração para os “bonzinhos” e na outra mão o castigo para os infiéis, pecadores e perversos. Castigo e recompensa para adestrar seus súditos e torná-los criaturas dóceis e obedientes como se fossem meros animais de um circo barato.

Os bonzinhos e dignos de suas benesses segundo a concepção comum não são exatamente os que vivem na prática do bem e da promoção da justiça entre os povos, mas são todos aqueles que acreditam piamente na imagem desses deuses, construídas pelos sacerdotes que os representam.

Ainda nessa concepção desonesta os maus e pecadores, não são exatamente os que vivem na prática de delitos e dos mais diversos crimes contra seus semelhantes, mas são os ateus, os hereges, os da crença ou igreja alheia e todos aqueles que ainda ousam fazer uso de suas faculdades mentais e não se deixam ser massa de manobra.

Do mesmo jeito que os deuses se ajustam ao gosto do “freguês” o conceito de pecado, santidade e salvação se ajustam também de acordo com o preço que você possa pagar para alcançá-las ou se livrar delas.

Se você deseja conforto interno e aceitação social, o caminho da veneração aos deuses talvez seja para ti (apenas para ti) o caminho certo. Não se ache estranho! Este é o caminho certo daqueles que precisam manter um diálogo interno constante sobre as características surreais do seres mitológicos venerados para se sentirem seguros e protegidos, bem como desenvolver um diálogo externo com todas as demais pessoas que também foram domesticadas a manter o mesmo padrão mental.

Se por acaso fosse possível uma dessas criaturas surreais cultuadas aparecer de alguma forma e dialogar com seus seguidores, acredito que a primeira coisa que eles diriam, caso fossem realmente honestos seria isso: “PAREM! PAREM QUE TA FEIO! PAREM TUDO! ESTÃO ESTRAGANDO A MINHA IMAGEM! DE TANTO ME ENFEITAREM, ACABARAM ME ESTRAGANDO...”

Na busca desenfreada por respostas que a igreja costuma silenciar, as pessoas criaram características tão antagônicas para os seres que veneram, que nem percebem que algumas delas chegam a ser hilárias, que ultrapassam o senso do ridículo, da improbabilidade e que destroem por si só a própria ideia de divindade. Nesses casos, para se justificarem e continuarem nesse estado inebriante de ser, seus líderes ensinaram a repetir frases de efeitos que parecem silenciar todas as perguntas. Uma delas é que é” loucura para os homens, sabedoria para os que crêem”... O oposto disso é que seria a resposta mais sensata.

Um dicionário...apenas um dicionário para se verificar os sentidos das palavras e atributos surreais ao seres venerados já seria o suficiente para mudar a lógica dos fatos. Não seria necessário nesses casos um curso de teologia, filosofia ou antropologia para entender o porquê de tantos comportamentos e falas antagônicas. Pensar sobre o sentido daquilo que se profere como verdade absoluta já resolveria metade do problema. A outra metade seria feita pela mudança de postura.

Então dizem que deus é amor e que seu amor é incondicional, mas ao mesmo tempo dizem que o único meio de alcançar o amor de deus é adorando-o senão ele te castiga, obedecendo os textos de um livro dito sagrado, aceitando o seu filho como salvador e professando-o como sendo o próprio deus encarnado. Pois “quem não crer no filho já estar condenado”! Desse modo, conclui-se que não há amor incondicional nenhum por parte desse mesmo deus, e que a sujeição total ao que dizem seus representantes a cerca dele é o único meio de alcançar esse “amor” divino.

A ira e raiva por exemplo, é o resultado interior de pessoas que se frustram facilmente por que são desequilibradas ou por que não conseguem ter controle das coisas ao seu redor. Quem é onisciente jamais poderia ficar frustrado, pois nada o surpreenderia, pois por antecipação poderia “calibrar” os próprios sentimentos. Deus é onisciente e mesmo assim estar o tempo inteiro irado...

A vingança... Aff! De todas as características que os fiéis atribuem ao seu deus, essa é a pior de todas! Vingança é coisa de gente medíocre, gente pobre, de gente baixa ou que ainda não teve tempo o suficiente para amadurecer os próprios sentimentos ou se pôr no lugar dos outros. Como pode um ser eterno, que preexiste desde a fundação do próprio cosmo possuir ainda esse sentimento vulgar? Pior ainda, como pode ele se vingar das pessoas que nem se quer ouviram falar dele por que não foram “evangelizadas” como apregoa a crença popular? O mundo seria outro se esse deus tivesse ao menos 1% da compaixão que a ele é atribuída. O antigo testamento prova que ele era possuído por 99% de vingança, ira, e falta de controle pessoal e apenas o 1% de compaixão nessa época que ele nutria por alguns, era na base da troca de favores.

Necessidade de culto, de adoração, de bajuladores...isso é herança dos antigos reis, ditadores e senhores de escravos e não de uma divindade! Um deus que se preze “vomitaria” de nojo cada vez que alguém tentasse lhe render louvores, principalmente pela morte dos “inimigos”. A necessidade de culto é nula quando seu “patrão” é bem resolvido, sabe o que quer e onde quer chegar. Somente pessoais baixas e inseguras almejam o culto, pois nesse ato mentem para si mesmas que são amadas por todos, mesmo sabendo que na verdade não o são. Um dos atributos de deus é a sua completude, ou seja ele é completo. Se é completo dispensa qualquer forma de culto, pronto!

Há dezenas de outros conceitos controversos e antagônicos que tornam nulas toda e qualquer ideia de divindade que queiram atribuir ao deus cristão por exemplo. Todos esses conceitos não foram formados de um dia pra uma noite, alguns levaram séculos para serem introduzidos sistematicamente, mas que para os “transeuntes da fé” acreditam que as coisas sempre foi assim.

Um deus onisciente e eterno, que cria pessoas com uma vida curta mesmo sabendo exatamente quais iriam “amá-lo” e as quais iriam “pecar”, e que estas apenas por alguns segundos de “pecados” irão padecer eternamente num tormento infernal sem fim, para todo o sempre...Isso não cola, não condiz com a ideia de amor e justiça que dizem ser um dos atributos principais de do deus cristão.

Um paraíso celestial que só poderá ser alcançado se formos capachos de pessoas maliciosas, mal intencionadas, gananciosas ou sedentas de poder...quer dizer... melhor dizendo... um céu que só poderá ser alcançado mediante uma vida de privações, penitencias, negação da própria natureza humana criada por ele mesmo, e pela confissão pública de que um suposto galileu assassinado aos 33 anos é o deus filho, encarnado em forma humana...Já vi isso em outro lugar, onde mesmo? Já sei: nos vários outros “messias” e deuses da cultura “pagã” que alguém resolver tomar para si e registrar como se fosse dono da patente.

Fora isso tem a ideia do purgatório, do celibato, da celebração ritualísticas diárias pessoais e coletivas, da obediência aos sacramentos, dos ritos de passagens, das festividades para lembrá-lo o quanto ele é grande, forte e poderoso, ou lembrá-lo de sua própria morte e ressurreição bem como dos rituais e orações para lembrá-lo que ele precisar se lembrar dos órfãos, dos pobres, famintos e necessitados do mundo inteiro...Tudo isso anula a ideia do sagrado nesse deus e as pessoas nem se dão conta.

Entre tantas ideias que anulam o conceito da própria divindade no mundo ocidental, a ideia de entregar 10% de tudo o que você ganha “ao senhor” seja quem sabe a mais ridícula de todas, desde que se levem em conta que um ser auto existente e auto suficiente de nada precisa para existir, muito menos de 10% dos rendimentos de qualquer pessoa para manter “sua obra”, já que todo o universo por completo seria obra, já que ele tudo criou.

Esse conceito talvez seja um dos mais difíceis de se questionar, pois como dizem: “quem estar pagando não estar reclamando...” Na verdade não estão reclamando por dois motivos: o primeiro é o de que se deixaram de pagar dezenas de maldições cairão sobre si e toda sua família até o sétimo grau. A outra questão que é que muitas foram ensinados a fazer esse tipo de pagamento como se fosse uma casa de apostas, onde você paga um percentual e receber o dobro. A direção agradece!

Se fizéssemos um paradoxo do desejo de obtenção desse percentual por parte de alguns líderes religiosos com aquele filme O senhor dos anéis, não veríamos a divindade sendo cultuada nesse rito ou lutando por esse percentual, mas veríamos muitos líderes religiosos embriagados pelo poder, conforto e luxo que esse percentual representa a sussurrar vorazmente: “meu precioso, meu precioso, não podem tirar meu precioso” ...Se fecharmos bem os olhos, poderemos imaginar muitos desses “ungidos”, engravatados, bem vestidos, trancados na secretaria da igreja depois da “colheita principal”, que acontece até o quinto dia útil do mês, com os olhos vidrados nas cédulas, e interiormente sussurrando: “meu precioso...meu precioso”...

Como na representação cinematográfica, muitos destes seriam capazes até de traçar planos diabólicos ou até matar seus “concorrentes” para continuar como esse “preciso” percentual arrecadado em nome dos deuses. A história secular da igreja mostra isso em qualquer livro de história secular. Reportagens diárias sobre crimes praticados para manutenção do monopólio em nomes dos deuses provam isso também. Quem for inteligente e sábio vai se manter longe dessa ideia...Quem se deixar embriagar pelo poder desse “precioso” percentual, acaba sendo dominado por ele...

Há quem diga que muitos filósofos e pensadores liberais procuram ridicularizar algumas crendices no modelo de deus adotado pelos ocidentais. Isso não é verdade! Quem mais ridiculariza e reduzem ao zero o conceito da própria divindade são os próprios fieis quando procuram enfeitar demais a personalidade do ser cultuado, ou quando estão fazendo da ideia de deus armas de ataques ou de defesas para subjugar seus “inimigos”. É como se tentassem maquiar no escuro total uma mulher que por natureza já é extremamente bonita: vão acabar fazendo palhaçada e ridicularizando a imagem de tal personagem.

Assim também todos os que querem se exibir com seus deuses como se fossem carros luxuosos ou empurrar nos outros de goela abaixo, acabam diminuindo a ideia e imagem do ser que tanto veneram e quando alguém tentam apresentar isso a eles mesmos então dizem: estão desrespeitando a minha fé...

Claro que não indivíduo! Há uma diferença entre aquele que relata os fatos e aquele que pratica a ação.

Quando as pessoas aprenderem a trabalhar os próprios sentimentos e emoções, quando conhecerem mais sobre si mesmo e o ambiente que os cercam irão produzir deuses com características mais louváveis. Na verdade nem produzirão deuses algum, pois essa necessidade será suprida. Quem sabe nesse dia alguns poderão admitir o inverso dessa frase: “os deuses criaram os homens conformem sua imagem” ...

Saúde e sanidade a todos!


Texto de Antônio Ferreira Bispo, graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

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