sexta-feira, 8 de junho de 2018

"Verdades" que prendem uma pessoa na "casa de deus"



O que seria da “igreja do senhor” se não fosse a imposição de castigos? 


Análise parcial do modelo ocidental de igreja como a conhecemos.


Em nosso país, a liberdade de expressão religiosa é um direito concedido pela nossa constituição. O mesmo direito é concedido também aos “revoltados”, aos “frustrados”, aos “hereges” e aos “desviados” de não mais fazer parte de rituais religiosos nenhum. Todos tem seus motivos de permanecer ou não na “casa de deus”.

O direito de cultuar ou não a uma divindade é concedido a ambos, porém a imposição do culto a seres metafísicos e subserviência incondicional aos seus representantes, torna-se quase uma exigência social, ainda que de modo disfarçado e o não cumprimento de tais ritos faz com que o não praticante de ritos litúrgicos ou não filiado a denominações religiosas sejam retratados de modo pejorativo, quase sempre visto como sendo uma pessoa má.

“Fulano é uma pessoa sem deus, não acredita nas divindades nem vai a igreja alguma. Tome cuidado com ele”! Aposto que a maioria de nós já ouviu milhares de vezes frases como essa.
Se afiliar a igrejas, render cultos, fazer peregrinações, visitar locais “sagrados” ou dizer palavras vãs e repetitivas é sempre associado a “pessoas do bem”. Um engano profundo pode residir nesse tipo de concepção principalmente quando o estilo de vida da pessoa não condiz com aquilo em que ela prega ou acredita.


“É deus quem conhece meu coração. Vocês não podem me julgar! Fiz isso por que o diabo me usou e sou pecador(a)...” Também já ouvimos essa frase um milhão de vezes por pessoas “cheias de deus” que são pegas “vacilando” de alguma forma, ou até mesmo cometendo crimes hediondos como estupros de vulneráveis, homicídios ou envolvidas até o pescoço no crime organizado.

A fé, tanto pode ser uma máscara para ocultar nossos intentos mais sinistros, como também pode ser um caminho pelas quais pessoas realmente integras usam-na para se chegar a fins realmente humanitários, entendendo como o conceito de servir a deus como sendo o de servirmos uns aos outros, ajudarmos uns aos outros e crescermos uns com os outros. O primeiro fator citado nesse parágrafo é o mais usual entre os “servos de deus”.

Se na matemática a ordem dos fatores não altera o produto, no conceito de fé, o interior de cada pessoa é que faz o mundo ficar pior ou melhor e não o contrário! Caráter, respeito e honestidade não se adquire em igrejas! São fruto de decisões pessoais próprias ou de uma boa base familiar ou ainda resultado do afrouxamento das leis vigentes no país qual a pessoa estar inserido.

Deus será sempre do tamanho da inveja, ganância, ignorância ou intelectualidade de cada um dos que dizem representá-lo ou segui-lo. Ele nunca foi visto nem ouvido pessoalmente, apenas representado pelos mais diversos modo, pelas mais diversas pessoas, proporcionando os mais diversos resultados. Uma arma que pode ser usada para o bem ou para o mal. O interior de cada um será refletido quase sempre no deus que professa. Deus será sempre um conceito vago, passível de qualquer tipo de interpretação, sujeito as piores intenções dos que lhe professam. Não há e nunca ouve um conceito universal quanto a ideia de deus. A igreja criou dogmas para tentar dimensiona-lo, mas quando um interpreta-o como bem entender.

O direito de sustentar os motivos pelos quais não acreditar-se nesse ou naquele deus assim como a defesa de se explicar os motivos pelos quais se acredita nestes, também devem ser respeitados, se bem que na maioria dos casos para se crer nas divindades não precisa-se de motivo algum. A fé exclui a necessidade de qualquer explicação lógica do que quer que seja. Se fosse explicável não seria fé: seria ciência, filosofia ou qualquer outro campo do saber humano. A racionalidade porém exige coerência naquilo do que se tem dito com o que se tem feito, dos resultados obtidos, bem como do processo cultural histórico e cientifico daquilo que diz ser a verdade absoluta e inquestionável de tais fatos.

Apesar disso, nossa sociedade aplaude quase que em todos os níveis a irracionalidade, cultua e enaltece a loucura. O deus cristão e as hierarquias das igrejas constituídas por exemplo, são os assuntos mais proibidos de serem questionados suas origens e aplicações práticas em nossa sociedade. Qualquer um que tome uma linha de raciocínio que não seja aquela padronizada milenarmente por aqueles que vivem desse ofício, corre sérios riscos no convívio social, desde boicotes em todos os níveis ou até ter um retrato pessoal de si mesmo feito pelos outros, como se fosse o ser mais hediondo do mundo. As heranças da inquisição nunca foram extirpada de fato do nosso convívio social.

As perguntas a seguir por exemplo, podem desencadear uma séries de punições silenciosas ou audíveis a qualquer um que intente fazer tal pergunta de modo aberto: por que se afiliar e permanecer filiado a um grupo religioso? Qual a necessidade disso? Os deuses realmente precisam se cultuados? Devemos submeter nossas vidas e personalidade a qualquer um que portando uma bíblia se diga ungido do senhor? Qual o resultado disso? ...

Faça uma pergunta dessa de modo escrito ou verbal e mesmo que uma única pessoa venha ver ou ouvir tal pergunta, um turbilhão de efeitos colaterais podem se desenrolar contra você e você pode passar a ser visto como uma pessoa má, das trevas, um candidato a terrorista, um pessoa em que não se deve confiar, mesmo que seu estilo de vida seja o de uma pessoa equilibrada e na maioria dos casos com um nível de conduta mais elevado do que os que vivem “cheios de deus”, “exalando deus” por ai. Nem prestam atenção que mais de 90% dos presídios superlotados de nosso país são compostos por cristãos, enquanto que as maiores graduações acadêmicas nas universidades de todo o mundo e os maiores benefícios tecnológicos já produzidos pela nossa espécie foram concebidos ou conquistados por “pessoas sem deus”.

As pessoas podem se afiliar e permanecer ou não em uma igreja pelos mais diversos motivos: falta de opção cultural no ambiente em que vivem, necessidade afetiva, interesses políticos, ocultar o real caráter para que possam continuar aprontando sem levantar suspeitas, “apagar” uma imagem “suja” do passado e ser considerado uma nova criatura zerando o “contador de pecados” se auto intitulando nova criatura a partir disto, etc., etc...Se o coração tem razão que a razão desconhece como dizia um grande filósofo, as razões para “servir a deus” varia de acordo com o bolso, gosto e grau cultural da cliente.

Mas o que mais faz com que alguém permaneça mesmo na maioria das unidades de agrupamento religioso cristão é a lavagem cerebral feita e repetida diariamente por meio de inúmeras ameaças e mentiras valendo-se de um livro dito sagrado e de uma suposta autoridade divina concedida a qualquer um que já tenha passado anteriormente pelos ritos de ascensão a hierarquia e saibam reproduzir de modo fiel o modelo litúrgico e comportamental que faz com que um agrupamento de pessoas comuns sejam considerados como sendo escolhidos que vão morar nos céus.

Se houvesse realmente honestidade de retórica, respeito verdadeiro aos membros, liberdade de questionamentos e possibilidade de diálogo interno e externo para se debater sobre deus, sobre a história da igreja em geral, sobre a história daquele agrupamento religioso qual o indivíduo se envolveu e a capacidade de questionar os argumentos da própria fé sem represálias, não haveria esse modelo de deus nem de igreja qual muitas pessoas acreditam piamente ser a verdadeira e o único modelo a ser seguido apesar de cada uma delas ter estilos próprio e antagônicos e todas procurarem inculcar na cabeça dos fiéis que estão seguindo a bíblia, que estão certas e as demais erradas.

Não é deus nem seu espirito quem sustentam a igreja nos moldes em que conhecemos: são as ameaças, os dogmas e proibições de questionamentos que fazem as engrenagens de tais sistemas girar. Sem chicotes e sem ameaças não haveria fiéis nem a ideia de deus como a concebemos hoje. Sem a invenção do diabo e do inferno, a igreja não lucraria tanto, nem se quer existiria de fato pois eles não teriam com que ameaçar as pessoas.

Em outras palavras se não fosse a lavagem cerebral para fins de controle das massas, “deus” nesses modelos de igreja que conhecemos, provavelmente jamais seria cultuado, lembrado ou temido. Jamais ouviria falar dos seus feitos e de seus “milagres”, nem tão pouco do seu “plano de salvação” para a humanidade. Todos os deuses que a humanidade já esqueceu e parou de cultuar também eram “poderosos” e ameaçadores até serem substituídos por um outro com roupagem diferente mas com características principais iguais. A necessidade de submissão irracional é uma delas. Nenhum deus é poderoso até que os que os representam usem de repressão pública aos insubmissos ou manipulem fatos culturais ou histórico para provar que eles o são. Todos os deuses perdem seus poderes à medida que os fiéis entendem como tudo foi esquematizado para parecer ser o que não é.

O poder de deus, sempre se expressa por meio dos seus representantes. Como dito, as ferramentas para que qualquer lavagem cerebral continue funcionando nesses ambientes são ameaças constantes de inferno, castigo, maldições, pragas, humilhações em público, excomunhão, perseguições e boicote a vida social de qualquer pessoa que ouse enfrentar os dogmas de qualquer igreja. Qualquer um pode dizer o que quiser usando um “livro sagrado” e deus dirá amem! Ele não se mexe, não se incomoda e nem faz nada. Só no dia do juízo mesmo é que dizem que ele vai julgar a todos. Até lá, quem quiser que se lixe!

É muito estranho o fato de que o lugar em que se diga ser o lugar da verdade, justiça paz e amor, só exista por meio de mentiras, distorção da realidade e ameaças de castigo. Não julgo que a igreja seja o berço da moralidade humana nem casa de deus algum. Acredito que pessoas boas, com moralidade equilibrada, respeitosas e pacificas podem refletir em qualquer ambiente em que estão seu estilo de vida, não importa que estejam usando uma bíblia, uma toga, um terno, uma farda ou uma roupa de bruxo! As poucas pessoas sensatas que já assumiram ou fizeram parte de agrupamentos religiosos foi quem fizeram locais como esses parecerem o receptáculo da verdade e justiça que alguns ainda hoje visualizam. Tais pessoas fariam o mesmo estando em qualquer outro ambiente que estivessem.

A imagem vendida pelos próprios líderes religiosos faz com que na maioria do casos os agrupamentos cristãos sejam considerados como sendo “casa de deus”. No meio de 100 pessoas, por causa de 9 ou 10 delas que realmente sejam pessoas evoluídas e amadurecidas e que realmente tenham um estilo de vida honesto e sem hipocrisia, faz com que ambientes assim ainda sejam considerado seguro para se estar, apesar dos pesares.

A igreja é um ambiente comum, repleto de pessoas comuns, mas que foram levadas a crer que são melhores que todas as demais todas as vezes que entram por aquelas portas e permanecem um pouco naquele ambiente, ou tem seus nomes como afiliados no rol de membros de tal agrupamento. Visitar igrejas não torna ninguém mais santo. Apenas mais submisso e com uma visão distorcida da realidade. Não os tornam nem mais feios nem mais bonitos.

Tais pessoas, para serem considerados como sendo pessoas cheias de deus ou “cidadãos dos céus” deveriam antes de tudo aprender a respeitar e conviver umas com as outras aqui na terra, e não subjugá-las ou convencê-las a esse ou aquele ponto de vista. A pessoa mal sabe o que comeu no ultimo café da manhã, mas acredita ser parte de uma verdade universal e inquestionável só por que “aceitou a jesus” e faz parte agora de um agrupamento religioso comum.

Vale lembrar que as pessoas deixam o rastro de sua luz e suas trevas em qualquer lugar que passam. Vale lembrar também que não somos exatamente aquilo que cada indivíduo de modo pessoal ou coletivo projeta ao nosso respeito. Pessoas “cheias de deus” por exemplo, costuma achar que qualquer pessoa que não esteja filiada a uma igreja seja necessariamente seja uma pessoa má, diabólica e pervertida. Em vários casos se tem provado pelos mais diversos meios, que o oposto disso é que tem se mostrado como verdadeiro.

Pessoas de caráter e respeito não precisam estar filiadas à entidades religiosas nenhuma para fazerem o bem apesar de nem sempre serem reconhecidas ou consideradas santas. Porém, em certos casos, gente medíocre, mesquinha, mal intencionada e de caráter duvidoso praticamente exige ser tratado como se fossem superiores, só por que se afiliaram a determinado agrupamento religioso.

“Me respeite por que sou de deus...” Diz o sujeito arrogante quando tem sua “autoridade” questionada quando tenta fazer proselitismo forçado e encontra obstáculos. Acho que muita gente já ouviu tal ameaça. “Servo de deus”, “ungido”, “missionário”, “profeta” e “cidadão” dos céus são apenas alguns dos títulos que os tais costumam estampar para exigirem tratamento especial, sem falar nas “carteiradas” que alguns tentam dar quando são pegos tentando infringir a lei. Fora isso, tem mais de uma dezena de títulos hierárquicos oferecidos nas igrejas para fazer com que gente comum, de carne e osso e “cheia de pecados” igual a qualquer outra pessoa se ache melhor do que todas as demais pessoas no mundo todo só por que “aceitaram a jesus”, permanecem filiado a uma igreja ou são portadores de títulos e funções eclesiásticas.

Jamais qualquer pessoa no mundo deve ser idolatrada ou temida por assumir ter ou não ter fé em alguma divindade nem por estar filiado a determinada igreja ou possuir títulos ou funções eclesiástica. Todos os homens são iguais perante a lei! É isso que estar escrito na maiorias das constituições ou textos importantes que defendam a paz entre os povos.

Na idade média, as pessoas que mais infringiram dor e sofrimento a humanidade bem como inibiram de certa forma nosso avanço tecnológico e cientifico, usavam deus como escudo e pretexto para cometer tais barbaridades. Se não fosse os “rebeldes”, “desviados”, “hereges” e “pessoas sem deus”, talvez a humanidade ainda estivesse mergulhado nesse período denso e monstruoso. A mesma cena se repete atualmente hoje nos países de fé islâmica. Trocou-se apenas o nome da divindade cultuada, mas o tratamento “especial” oferecido aos cidadãos é o mesmo.

Vamos então apontar as “verdades” contadas para “fidelizar” pessoas nas igrejas, contrapondo com a lógica dos fatos tendo como “baliza” e balança medidora a própria concepção cristã da crença de que deus é o criador de todas as coisas, que ele é justo, bondoso, amoroso, fiel, verdadeiro, onipotente, onipresentes, onisciente, eterno, auto existente e auto suficiente.

Suponhamos nem que seja por um minuto que tudo que se diz a respeito dos atributos de deus sejam verdades para desse modo chegarmos a uma conclusão. Não existe logica na aceitação total dos argumentos nem negação total de qualquer fato, quando se diz respeito a chegar a uma conclusão de um ponto de vista justificável. Negar tudo sem avaliar é falta de inteligência. Aceitar tudo sem questionar é burrice! Para não sermos desonestos, precisamos contrapor as “verdades” proferidas pelas lideranças para manter uma pessoa filiada a uma igreja, utilizando-se dos próprios argumentos que eles usam como sendo verdades universais, inquestionáveis e os pilares da própria fé.


Texto de Antônio F. Bispo, graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

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