segunda-feira, 25 de junho de 2018

Estorinhas bíblicas - Páscoa



Ah, a Páscoa, esse feriado onde as pessoas comem ovos de chocolate para celebrar o dia em que deus ( Jeová ) matou milhares de inocentes... 
Senta que lá vem estória, e hoje vamos ver como surgiu a Páscoa, de acordo com a tradição judaica.

Todo mundo sabe que a Bíblia conta que os judeus foram escravos no Egito. É claro que não existe nenhuma evidência arqueológica ou documental de que os eventos do livro do Êxodo tenham ocorrido da maneira como foram descritos, mas sabem como é: “se tá na Bíblia, é porque é verdade!”

O livro de Êxodo conta que os descendentes de Israel começaram a se multiplicar no Egito, até que se tornaram tão numerosos que os egípcios ficaram com medo deles. Quando assumiu um Faraó uma espécie de Donald Trump da época, viu que seu país estava ficando hebreu demais para o gosto dele, adotou o slogan “MAKE EGYPT GREAT AGAIN!”, e resolveu tomar uma atitude bem xenofóbica: colocar os hebreus como escravos para construir coisas (incluindo muralhas) e fazer eles pagarem por isso. Mas mesmo assim (igualzinho hoje em dia) quanto mais eles eram oprimidos, mais eles transavam e mais eles aumentavam em número.

Segundo a Bíblia, desde a chegada da família de Israel ao Egito, até a sua saída, foram 430 anos (Êxodo 12:40). Imagine só a situação dos israelitas de clamarem a seu deus dia e noite por um livramento, e Javé levou 400 anos para finalmente “lembrar-se” da sua promessa à Abraão. Daí deus olhou para os israelitas e finalmente viu a situação deles. “M***a, eu não devia ter cochilado tanto! Acabei de lembrar de alguma coisa importante, mas o quê mesmo? Eita p**a, o Faraó está escravizando meu povo! Isso é muito errado, o correto é que o povo de deus é que tem que oprimir e não ser oprimido!” (Êxodo 2:23-25).

Imaginem só, Moisés nasceu, foi colocado num cesto no rio Nilo, encontrado e adotado pela filha de Faraó e quando completou 40 anos, teve que fugir do Egito. Passou 40 anos vivendo em Midiã para só depois ter uma visão do tal arbusto em chamas onde Yahweh (Javé ou Jeová) falou com ele e mandou ele ir ao Egito para libertar seu povo, e passou mais 40 anos liderando os israelitas até a sua morte aos 120 anos.


Isso está cheirando a conto de fadas. Os autores dessas lendas bíblicas gostam muito do número 40, e usam a esmo para todo tipo de contagem de tempo.

As chuvas do Dilúvio duraram 40 dias e 40 noites
Moisés esteve 40 anos no Egito, 40 anos em Midiã, e no Monte 40 dias.
Israel vageou no deserto 40 anos.
Os espiões estiveram em Canaã por 40 dias.
Elias jejuou 40 dias.
Foram dados 40 dias a Nínive.
Jesus jejuou 40 dias
Jesus esteve com os seus discípulos durante 40 dias após a sua ressurreição


A impressão que dá é que os caras ficavam contando na folhinha 40 dias ou anos exatos. Pode conferir quantos eventos na Bíblia tem duração de exatos 40 dias ou 40 anos. Pelas barbas do profeta, até vários reis esperavam que seus reinados completassem 40 anos exatos para finalmente baterem as botas.

É claro que seria muita coincidência tanto 40 dias e tanto 40 anos. Primeiramente: 40 tem significado místico para o povo hebreu, e por causa disso, eles tacavam um quarentinha nas estorinhas deles toda vez que narravam um período de tempo indeterminado. Tipo assim, precisou inventar uma estória e quer dizer que foram muitos dias ou muitos anos? Bota 40 redondinho!

Então, Deus enviou as famosas Dez Pragas do Egito. Sim, deus revelou seu plano a Moisés que consistia no seguinte:

- Primeiro ele mandaria Moisés para falar ao Faraó para libertar seu povo para adorá-lo no deserto por 3 dias. Mas Javé já SABENDO que o Faraó não concordará, a não ser pelo uso da força bruta.

- Então Javé, invés de usar a força bruta contra o Faraó, vai ferir e matar O POVO EGÍPCIO (Êxodo 3:18-20).

Como deus sabe que o Faraó vai se negar a cooperar? Por causa de sua onisciência divina? Nãããããão! Ele vai deliberadamente endurecer o coração do Faraó para não deixar o povo ir embora! (Êxodo 7:3).

Sim, você que é religioso fervoroso que nunca leu a Bíblia mas a defende com cascos e dentes, o deus que você crê é um babaca tão colossal, que prefere fazer um monte de gente sofrer à toa do que usar seus grandiosos superpoderes para fazer um teletransporte em massa de israelitas ou, ao menos amolecer (invés de endurecer) o coração do Faraó para deixá-los ir pacificamente.

E mais, f***-se livre arbítrio!!!

Como se as pragas sozinhas não fossem o bastante para convencer o Faraó de que os israelitas eram uma batata quente, Javé decidiu fazer de sua última praga a sua obra-prima de sadismo e crueldade.
Esse relato de horror está descrito em Êxodo 11 e 12.

Deus chegou com Moisés e falou que a sua última praga seria tão terrível e psicopática que o Faraó literalmente expulsaria o povo hebreu do Egito e que os egípcios entregariam tudo que tem para que o povo não ficasse nem um minuto a mais. Sério! Deus fala bem assim para Moisés: “Diga ao povo, tanto aos homens como às mulheres, que peça aos seus vizinhos objetos de prata e de ouro". Imagina um israelita chegando todo cheio de marra pro seu vizinho egípcio dizendo: "Bom dia, vizinho, como passou a noite? Falando nisso, será que você não tem nada de valor tipo prata ou ouro para me dar? Sabe como é, né? Vamos sair para servir nosso deus e ele vai querer ofertas, né? E você sabe como ele fica quando está zangado, né? Eu odiaria ter que chegar de mãos vazias e dizer que eu pedi para o meu estimado vizinho e ele não quis dar nada. Que me diz, hã, HÃ?"

Eita, mas que tipo de praga horrenda seria essa que deus estava preparando? Tipo, ele já transformou águas em sangue matando peixes, daí enviou sapos que morreram às pilhas trazendo doenças, mandou insetos para trazer mais doenças, moscas trazendo doenças, doenças e mais doenças, sem falar em gafanhotos que devoraram plantações, furunculos na pele, e até escuridão. Um monte de pessoas e animais já está ou morta ou doente e sofrendo,, o que mais esse p***a louca divino tem planejado?

"Todos os primogênitos do Egito morrerão, desde o filho mais velho do faraó, herdeiro do trono, até o filho mais velho da escrava que trabalha no moinho, e também todas as primeiras crias do gado."

. . .

Sim, segundo a mente doentia do deus dos israelitas, matar pessoas e animais inocentes era a resposta para um problema que ele mesmo tinha criado. Então ele vai abater todos os primeiros filhos tanto das pessoas quanto de animais. É isso vai mostrar aos egípicos o quanto você é misericordioso e bondoso (Êxodo 34:6,7).

É claro que o deus dos israelitas faz uma clara distinção entre os hebreus e os egípcios, mostrando que a vida de uma criança egípcia inocente não vale nada para Javé. E não estou inventando isso, a Bíblia diz claramente que deus é extremamente xenofóbico e adepto discriminação (Êxodo 11:7). Afinal de contas. DEUS ACIMA DE TUDO! EGÍPCIO BOM É EGIPCIO MORTO, E SE TÁ COM PENA, LEVA PRA CASA! E eu por acaso já mencionei que deus endureceu propositavelmente o coração de Faraó só para ter um pretexto para se poder usar seus poderes para matar mais pessoas? (Êxodo 11:9,10)

Então Javé passou instruções bem específicas aos israelitas para que eles matassem um cordeiro ou cabritinho para comer assado com ervas amargas e pão não fermentado. Na hora que fossem matar o animal, deveriam pegar um pouco do sangue dele e espalhar nas vigas laterais e superiores das portas das casas onde eles fossem comer. Eles deveriam comer assado, e já arrumados para partir no dia seguinte, porque naquela noite ele mataria todos os primeiros filhos das casas onde não houvesse sangue na porta, e essa noite de terror seria comemorado anualmente pelo povo israelita.

Páscoa, vem do hebraico "pessach", que significa passagem. Essa passagem que a Páscoa se refere, é a passagem de deus pelo Egito matando todos os filhos mais velhos, mas poupando os filhos dos israelitas. Daí, quando você ouvir alguém falando m***a sobre Páscoa significar libertação, pode corrigir essa ignorância mandando ele ler Êxodo 12:27: "É o sacrifício da Páscoa ao Senhor, que passou sobre as casas dos israelitas no Egito e poupou nossas casas quando matou os egípcios".

Portanto, a Páscoa é uma festa que celebra o genocídio de pessoas e animais, incluindo crianças inocentes, que foram sacrificadas porque deus endureceu o coração do Faraó. Qual o pecado desses primogênitos mortos? Serem de uma nacionalidade diferente. (Êxodo 12:29,30).

É, para qualquer pessoa racional, isso é uma tremenda injustiça e uma paulada no saco do bom senso. Para você defensor ferrendo da Bíblia e das atrocidades descritas nela, raciocine: você tem filhos? Ama seus filhos? Supondo que deuses existissem, como se sentiria se um deus de uma nação estrangeira matasse seu filho mais velho? Aceitaria essa m***a numa boa? E se você pensou: "Ah, mas isso é apenas uma estória com uma lição de moral, deus não matou primogênitos de verdade!" QUE LIÇÃO DE MORAL?! Lembre-se que vivemos em um planeta bizarro onde pessoas utilizam contos e lendas de povos antigos para justificar todo tipo de absurdo! Homofobia, guerras, genocídio, discriminação, estelionato, enriquecimento ilícito, mentiras, estupro, pedofilia, assassinato, ódio, discriminação, suicídio e até (pasmem) vender ovos de chocolate!!! OVOS DE CHOCOLATE, que são entregues por um COELHO MÁGICO e...
* pop *

. . .

Perdão, minha mente explodiu.

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Pronto, voltando ao assunto. OK, vamos devagar agora. Páscoa! OK? Como é que uma festa para celebrar um massacre virou uma festa onde se comemora um coelho mágico que entrega ovos de chocolate? Não há uma resposta simples. Sabe-se que os povos do Oriente Médio e do Crescente Fertil já comemoravam o início da Primavera no hemisferio norte, que ocorre nessa época do ano. Sabe-se que os hebreus também seguiam essa tradição de celebrar a nova estação, e que esse mito do Êxodo foi escrito muito, mas muuuuito posterior aos eventos que ele supostamente descreve. O que os arqueólogos descobriram é que não há nenhuma evidência de uma fuga em massa de hebreus do Egito. Sequer há evidências ou qualquer registro de que tenham sido escravos em suas passagens por lá. O mais provável (e isso sim, possui alguma evidência) é que houve uma crise econômica e política no Egito e outros lugares no planeta, ocasionados por uma drástica mudança climática, que resultou entre outras coisas, em fome, conflitos internos, invasões, e... mortes, muitas mortes (que depois foram glamurizadas como uma espécie de epopéia divina no livro de Êxodo). No século 14 AEC, já existiam hebreus vivendo na região de Canaã, e eles NÃO VIERAM DO EGITO, eles já estavam lá, mas viviam como comunidades de pastores nômades nas regiões montanhosas. Segundo as pesquisas de campo do arqueólogo Israel Finkelstein (esse nome é tão judeu, que dá vontade de cantarolar Hava Nagila Hava), é categorico em afirmar que o tal Êxodo de hebreus vindos do Egito nunca existiu! (FINKELSTEIN, Israel & SILBERMAN, Neil Asher. A Bíblia não tinha razão; tradução Tuca Magalhães. São Paulo: A Girafa Editora, 2003, pg.94-95)

Tirando a parte sobrenatural (que obviamente é inventada), o relato do Êxodo foi possivelmente baseado nas fugas de vários povos estrangeiros (mas não de hebreus) do Egito que acabaram se instalando na região de Canaã e trouxeram consigo relatos das catástrofes climáticas que assolavam o Egito, ou seja, a fome, a maré vermelha, os insetos, rãs, e as subsequentes doenças e mortes, como sendo resultante de cólera divina. Certamente, devido às estiagens severas que ocorreram na região, muitos rios e lagos devem ter se secado ou seu nível baixou tanto, que os refugiados conseguiram atravessá-los a pé. Todas esses relatos fantásticos de caos, desordem, fuga e sobrevivência transmitidas oralmente, inspirou os sacerdotes judeus de séculos posteriores a imaginar uma origem divina para o povo judeu que justificasse suas crenças e consolidasse a religião judaica sobre um estandarte mais definido. Uma evidência disso é que os hebreus adoravam muitos deuses cananeus como El, Baal (que significa "Senhor"), Asherá, e que posteriormente foram todos fundidos num só e chamados apenas pelo nome Yahweh (ou Javé), que em hebraico significa "Ele é o Cara!"

É por causa dessa fuga de povos de várias nacionalidades do Vale no Nilo à procura de terras mais pacíficas e férteis, para Canaã, que hoje em dia temos essa amálgama de tradições que chamamos de Páscoa. Eles estavam comemorando o fim do inverno e o início da temporada de colheitas na região, especialmente depois de terem passado por um aperto tão grande com a crise climática.

E hoje nós celebramos isso tudo comendo chocolate em forma de ovos, porque dane-se! Chocolate é muito mais gostoso do que ervas amargas e pão sem fermento.

"Eu adoro as estorinhas bíblicas"

Escrito por Israel Gonçalves.

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