terça-feira, 3 de julho de 2018

Matadouros judaicos




No início,a teologia, a mitologia e a liturgia de religiões como o Judaísmo, o Cristianismo e o Hinduísmo centravam-se nas relações entre os humanos, as plantas domesticadas e os animais de criação.

Por exemplo, o Judaísmo bíblico que vigorou até o ano 70 AEC, quando os romanos destruíram o templo de Jerusalém, era dirigido a camponeses e pastores. A maior parte dos seus mandamentos estava relacionada com a agricultura e a vida na aldeia e as suas principais celebrações eram as festas por altura das colheitas. Hoje, as pessoas pensam no templo de Jerusalém como uma grande sinagoga onde os sacerdotes envergando túnicas brancas de um branco imaculado, acolhiam os peregrinos devotos, na qual coros entoavam salmos e o perfume do incenso se espalhava pelo ar.

Na verdade, era mais uma espécie de cruzamento entre um matadouro e uma churrasqueira. Os peregrinos não chegavam de mãos vazias. Traziam com eles filas infindáveis de ovelhas, cabras, galinhas e outros animais, que eram sacrificados no altar divino e posteriormente cozinhados e comidos. Os coros de salmistas mal se ouviam no meio dos mugidos e balidos de bezerros e cabritos. Os sacerdotes com as vestes manchadas de sangue degolavam as vítimas, recolhiam o sangue a jorrar para recipientes e aspergiam-no sobre o altar. O odor a incenso misturava-se com o cheiro de sangue coagulado e da carne assada enquanto enxames de moscas zumbiam um pouco por todo o lado (ver, como exemplo, Números 28, Deuteronómio 12 e I Samuel 2). 

Uma moderna família judaica que festeje um feriado religioso com um churrasco no quintal está muito mais perto do espírito dos templos bíblicos do que uma família ortodoxa que passe o tempo a estudar as escrituras numa sinagoga.


Excerto de Homo Deus, de Yuval Noah Harari

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