quarta-feira, 4 de julho de 2018

Pela culpa te aprisionam, por histórias inventadas te conduzem e se um dia despertares, te condenarão



Um dia te contaram que pelos seus pecados um justo, um ser imortal morreu para te salvar! Te salvar das próprias ameaças que ele mesmo dirigiu a você. Te fizeram sentir culpa por atos que você nunca cometeu, a sentir nojo e vergonha de si mesmo, de sua sexualidade, e a reprimir os próprios instintos de sobrevivência e reprodução comuns a todo ser vivo.

Te disseram que tudo que acontece no universo é plano de um ser superior que tem todo controle e poder das coisas em suas mãos e que nada pode frustrar os seus planos. Ao mesmo tempo te disseram que devido a uma rebelião iniciada no reino celestial há milhares de anos pelo auxiliar mais importante do ser que tudo controla, todo o universo padece, e mesmo assim, ele estar no controle de tudo e que se você não o adorar, cedo ou tarde ele vai te matar e te lançar num tormento sem fim junto com esse “anjo mau” que iniciou toda rebelião.

Histórias como essas, todas elas tiveram sua origem e proposito ocasionais. Foram feitas para determinado povo, em determinada cultura, numa determinada época, para um determinado fim. Os oportunistas viram nisso uma ferramenta de controle. Seria apenas um história comum, como a Odisseia e tantos outros contos populares se alguns não tivessem mistificado o assunto e colocado um valor superior ao que realmente deveria. Contar histórias é uma das características que definem a nossa espécie, seja para o bem ou para o mal.

O ato de contar história sempre foi em quase todas as culturas do passado e do presente, um meio para que pudéssemos conceber novos mundos e sermos inseridos neles. Tantos acontecimentos reais quantos fictícios podem se internalizados na mente do ouvinte por um bom contado de histórias. No reino animal, o garanhão consegue copular ou fertilizar as fêmeas pelo uso da força e porte físico. No reino dos homens um bom contador de história consegue o mesmo apenas com a “lábia”. Há sempre quem goste de iludir e quem goste de ser iludido. Quando alguns não podem dar o céu, a lua e as estrelas a fêmea que intenta seduzir, podem fazer tudo isso criando reinos encantados fictícios e fazendo com que as tais se sintam princesas nesse mesmo conto. Não importa se é real. Tudo se torna real ao que se deixa iludir ou de quem estar profundamente carente de afeto.

A linha que separa o real do imaginário nem sempre pode ser vista por todo os olhos. Grandes sociedades secretas, corporações, sistemas políticos e religiosos se valem muito bem desses preceitos, permitindo ou conduzindo as pessoas como gado, como objeto de lucro, poder ou prazer enquanto as fazem acreditar que há um ser superior controlando tudo. De fora fica mais fácil de observar e controlar essas coisas.

Você praticamente nunca vai ver um traficante consumindo a própria droga, do mesmo modo que é muito raro ver um líder de um dos segmentos acima fazendo o que manda os outros fazerem. O antagonismo é o companheiro de quase todos eles. Enquanto pregam ao público o desapego pelas “coisas do mundo” constroem impérios financeiros para si e seus familiares. Enquanto demonizam sua sexualidade, as escondidas muitos deles tem a luxúria, os vícios e orgias sexuais como hobby cotidiano. A lista de antagonismo é gigantesca. Sentem prazer em saber que vocês sofrem com a culpa que eles mesmo inventaram.

O ser inconsciente ao ouvir uma narração envolvente, pouco discernirá entre o real e o imaginário. Irá apenas reproduzir em si ou para os outros o conteúdo internalizado. Esse reflexo se dará na sociedade qual ele estar inserido, quando julga ser algum tipo de valor ou virtude as ideias acerca do surreal que lhe fora introduzido.

Os maiores mitos e arquétipos que servem como referencias sociais tomaram corpo quando por meio de uma boa narrativa alguém os fez surgir. Uma criança que joga pedras ao longo do caminho numa estrada de chão por exemplo é algo normal e corriqueiro. Dizer que com essa pedra um menino matou um gigante de 3 metros cria instantaneamente um mito. Acrescente a essa narração uma pitada de misticismo, e diga que era o próprio deus guiando a mão do menino e você constrói um “herói da fé”.

Diga que essa mesma pedra atirada pelo garoto, era o próprio deus que derruba gigantes e destrói muralhas e você será capaz de arrancar glorias e aleluias se estiver num rito religioso. Diga ainda nesse ambiente as mesmas coisas com um tom de voz compassada e detalhada e trejeitos corporais que acompanhem sua fala e você irá pôr uma congregação inteira em estado de transe hipnótico, falando em línguas, tendo visões, revelações e todo tipo de “unção do espírito” que aqueles que se julgam pentecostais afirmam possuir. Um fato é apenas um fato! O modo como internalizamos ou externalizamos esse fato é que faz toda diferença. A fala ainda continua sendo o principal meio para fazer com que mundos imaginários possam surgir do nada e fazer com que algumas pessoas se insiram neles, que tenham suas vidas dirigidas por essas ideias e que farão de tudo para inserir tantas outras nessa linha de raciocínio.

Nesse novo mundo construído por meio do falar e do ouvir, tudo pode ser construído e absolvido. Desde valores morais e mitos a serem venerados, a todo tipo de sentimento que possam elevar ou diminuir a autoestima das pessoas, tornando-as livres ou escravas de suas próprias concepções.

Os líderes religiosos do passado quem sabe tenham tropeçado nesse fato sem nem se darem conta disso. Os líderes religiosos do presente em sua grande maioria sabem muito bem o que estão fazendo e usam esses recursos para construção de impérios pessoais como se estivessem prestando serviços a alguém superior a eles. A politicagem (normalmente confundida com política) vive exatamente da criação de mundos fictícios em campanhas eleitorais, para depois trazer de volta as pessoas ao mundo real logo após o fechamento das urnas e contagens dos votos.

Os líderes religiosos de todas as culturas sempre gozaram de privilégios extraordinários que outras pessoas não dispõem, simplesmente pelo ofício que ocupam. A confiança do público tem sido até então o maior de todos eles. Pela cega fé que tem sido depositada nas palavras daqueles que dizem intermediar o contato entre os homens e o mundo metafísico ao longo dos séculos, muitos conceitos sociais que servem como um entrave a evolução de nossa espécie tem sido difícil de mudar graças a “autoridade da igreja”.

O exército precisa de armamento pesados, estratégias de guerras e uma boa liderança para conquistar territórios. Policiais na maioria dos casos precisam usar a força física para conter cidadoes que perturbam a ordem social. Juristas e advogados precisam se valer de leis escritas para fazer cumprir os direitos e obrigações dos cidadãos. Comerciantes precisam enfrentar toda burocracia do estado, oscilações de mercado além de estarem atento as lei da oferta e da procuram para manterem seus negócios funcionando, produzindo bens ou serviços úteis a toda uma sociedade. Um líder religioso pode obter tudo isso, além de poder, dinheiro e autoridade simplesmente dizendo: “deus me falou que” ...

Mesmo que aquilo que ele diga seja contraditório ao estilo de vida que segue ou que seja contraditório a todo tipo de logica, razão ou princípios científicos. Mesmo que os “usuários” de seus serviços passem 50 anos no mesmo ambiente fazendo as mesmas coisas sem obter resultado algum. Ainda assim eles de certo modo continuam tendo credibilidade por que desde o berço muitas pessoas crescem sendo ensinadas a serem sujeitas a tais pessoas e jamais questionarem sua “autoridade” ou a veracidade do que eles dizem, bem como a maioria delas ficam terminantemente proibidas de denunciar qualquer tipo de atitude imoral que esses venham apresentar. “A mão de deus pesa contra todos os que se levantam contra os ungidos do senhor...” Essa é sem dúvida a maior de todas as mentiras mantida entre estes e que aprisionam as pessoas em suas próprias duvidas e medos.

Iludir-se, quem sabe seja a maior de todas as virtudes de uma mente ainda não evoluída. Quem sabe a falta de ilusão seja a maior de todas as penitencias que alguns tenham de suportar numa sociedade que vive á base de contos de fadas.

Não há poder extraordinário algum naqueles que dizem representar essa ou aquela divindade, esse ou aquele deus, a não ser o poder da persuasão! Todo poder emana do povo, para o povo, para o bem ou para o mal do próprio povo, por meio das ideias principais que unem os indivíduos duma mesma sociedade!

Da confiança em que as pessoas depositam nas palavras dos que dizem ser representantes dos deuses é que estes acreditam possuir poderes especiais. Perdendo-se a crença nos deuses, todos esses homens “ungidos”, que antes conseguiam meter medo em suas ovelhas por meio de ameaças e conjurações místicas, os tais podem passar até ser interpretado como mentirosos, ridículos, salafrários e manipuladores exatamente por aqueles que um dia se borraram de medo e respeito diante deste. O jogo vira toda vez que o conhecimento ocupa o lugar da ignorância. De escravo temeroso e obediente o sujeito passa a ser senhor e dono do próprio destino e até comandar aqueles que antes lhes escravizavam.

Do mesmo modo que um simples interruptor elétrico é o limiar entre a luz e as trevas numa casa fechada a noite, o recobrar da própria consciência é o interruptor que faz clarear os caminhos de uma pessoa, sem que para isso seja necessário guias cegos, ou pessoas comuns que querem ser tratados como se fossem divindades. FIAT LUX! Essa expressão latina deveria ser internalizada em cada um de nós todas as vezes que nos acharmos na escuridão que a ignorância e o temor exagerado por seres que só existem no imaginário coletivo nos trazem! “Homens de deus”, “ungidos do senhor”, “heróis da fé” e qualquer outro título místico ou eclesiástico que almejem dar, independente da cultura ou religião, são apenas pessoas comuns, mortais, perecíveis e sujeitas a todo tipo de corrupção iguais a quaisquer humano.

Na grande maioria dos casos desde os mais antigos tempos, a corrupção faz parte do ofício destes, quando ensinam aos homens que estes podem ter privilégios acima de outros se fizerem algum tipo de devoção a uma divindade. A mesma divindade que de nada, absolutamente nada precisaria dos seus súditos, eles dizem que elas precisam ser aliciada ou subornada para poder agir em favor de alguém, na maioria dos casos trazendo prejuízos a outros. O que é isso senão um ato de corrupção? A não ser que queiram chamar isso de “uma mistura de mal com atraso, com doses de psicopatia”. O termo também vale!

Assim, julgando ser intermediadores da bondade, tais sacerdotes estimulam os piores sentimentos nos seres humanos, como a inveja, a preguiça, a ganancia e a soberba, pois indiretamente estão ensinando aos homens a serem corruptos, que a divindade também é corrupta e que é mais recompensador subornar uma divindade para se dar bem na vida do que trabalhar, ser honesto ou manter o princípio da coletividade e altruísmo. Que coisa feia! Deveriam se envergonhar dessa atitude, no entanto sentem orgulho disso!

Quem sabe nos próximos 200 anos da história da humanidade nos dicionários a serem impresssos, o termo líder religioso deixe de significar “aquele que intermedia o contado com as divindades” para “aquele que ensinavam os homens a fazer barganhas com deuses imaginários”!

Para que isso aconteça vários “galileus”, várias “joanas d’arcs” e vários outros “loucos”, “hereges” e “filhos da perdição” terão de pagar com suas próprias vidas e carreiras, mas é um preço que vale a pena pagar. Melhor viver uma vida plena e ser morto aos 40, do que viver 100 anos vegetando ou operando no modo zumbi...

Até que isso aconteça “Napoleão” ainda terá que tomar muitas vezes a coroa das mãos do papa e se auto proclamar imperador. “Um pequeno gesto para o homem, um grande passo para a humanidade”! Essa deveria ser a legenda embaixo do quadro do pintor francês Jacques Louis David que retratou a majestosa cena da coroação de Bonaparte quando desprezou a “autoridade divina” que esse mero mortal jugava ter sobre todo tipo de vida que se move nessa terra ao se interpor em todo tipo de relação humana.

Desde uma simples bactéria até o maior de todos os animais, homens como esses (os sacerdotes) decidiam quem morria ou quem vivia, bem como destinos de nações inteiras. Essa cena de desprezo á pessoas comuns que se acham divinas terá de se repetir dezenas de vezes ainda para que o império das trevas venha ruir e as relações entre os povos possam melhorar. Várias espécies só puderam povoar o planeta quando os dinossauros foram extintos. Enquanto os houver representantes das divindades agindo como lagartos gigantes, nossa evolução sofrera fortes atrasos.

Onde mais podemos ver os efeitos das “histórias que nos contaram” e os reflexos das relações homem-deus? No segundo texto continuaremos esse assunto.

Texto escrito por Antônio F. Bispo, graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

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