sexta-feira, 13 de julho de 2018

Perfil do ateu e do crente



O perfil de um ateu (e vou generalizar, assumindo um ateu que o é por ter concluído que não existem divindades, e não meramente um "ateu modinha", que o é só para ser do contra e ser diferente) é o que uma pessoa que analisa tudo logicamente e que não aceita uma ideia ou uma afirmação sem que existam bases coerentes e sólidas para ser aceite. E, no caso do ateísmo, aplica esse "modus operandi" à questão das divindades.

O perfil de um religioso é bem mais complexo. Há muitas razões para a pessoa ser crente.
Pode resultar de uma influência familiar desde a mais tenra infância, numa altura em que o cérebro imaturo é incapaz de distinguir entre a fantasia e a realidade (o motivo mais usual).
Pode resultar da necessidade de obter respostas simples para as questões que se tem, respostas essas que não requerem estudo e que são inquestionáveis.
Pode resultar de uma sensação de revelação após uma situação traumática.
Pode resultar de uma incapacidade de distinguir casualidade com causalidade associada a uma necessidade de sentir que existe um propósito superior na vida.
Etc...

No entanto, algo que é comum a todo o tipo de crente é a capacidade de se auto-autorizar a lidar com a crença de um modo especial, em que as regras lógicas do raciocínio analítico são suspensas para poder preservar a crença.

A relação com uma suposta doença mental seria a de o crente ter a capacidade de se auto-sugestionar ao ponto de agir como um esquizofrénico, acreditando que realmente existe uma entidade invisível que é impossível de provar (porque não existe), falando com ela telepaticamente e acreditando obter respostas.


É como uma criança com amigos imaginários. Só que o crente convence-se MESMO que esse amigo imaginário é real e, pior que isso, tenta convencer outros de que é real.
E, ao ser apoiado por uma comunidade de outros crentes que acreditam na mesma coisa, sente-se ainda mais suportado nessa ideia.


Para suportar essa ideia, aceita (desligando o raciocínio analítico, através daquilo a que chama de "fé") as ideias mais mirabolantes que lhe são acessórias (os dogmas religiosos).
Quando confrontado com factos e provas, entra usualmente em negação, um dos processos que resultam das dissonâncias cognitivas associadas à dissecação da crença. Outras vezes entra mesmo em conflito directo.


São tudo processos mentais, psicológicos. Não tenho conhecimentos de psicologia e neurologia para poder dizer se esta patologia pode ser considerada uma "doença" do foro mental.
Mas é, pelo menos, um processo de entorpecimento, de alienação voluntária e de negação aos processos normais de raciocínio.



Texto de Rui Batista

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