Imaginemos, por um momento, um mundo em que o Deus supremo das religiões (mais ou menos) monoteístas existisse.
Uma entidade com esta importância cósmica e até quotidiana seria impossível de ignorar. Toda a gente saberia da sua existência, toda a gente teria experimentado o contacto com a divindade. Não seriam necessários missionários, e talvez nem sequer sacerdotes. Qualquer escrito com a palavra divina seria de uma beleza arrebatadora. Qualquer discurso também. A moralidade exigida pela divindade seria evidente e cumprida sem discussão nem incerteza. Evidentemente que haveria só uma religião, porque qualquer erro de entendimento da vontade divina seria prontamente corrigido.
Mas o mundo em que vivemos não é assim. Não há nele quaisquer sinais da existência de deuses. Os que querem acreditar nas fantasias religiosas têm que se dedicar a divindades escondidas. Não se sabe porquê, os deuses não aparecem. Só existem relatos mitológicos sem credibilidade. As escrituras onde é suposto encontrar-se a sabedoria divina são textos obscuros, cheios de erros e de incoerências, que refletem a ignorância das tribos que os escreveram em vez de qualquer sabedoria intemporal.
Perante a falta de uma mensagem clara, as religiões e cultos multiplicam-se, ou com interpretações divergentes, ou com simples invenções dos padres dissidentes. Os crentes procuram o seu deus como um enigma de romance policial, atentos a pequenos indícios, lendo as folhas de chá ou, simplesmente, convencendo-se uns aos outros que as suas fantasias são reais.
Mas a verdade é que vivemos num mundo em que os deuses não existem. E tal como num mundo em que os deuses existissem todos saberiam disso, também no nosso mundo real todos sabem que os deuses não existem. Por isso os crentes não têm pressa de morrer para irem para o céu, nem deixam de fazer a sua vidinha normal assim que saem da igreja.
Texto de Carlos Cabanita
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