Um livro sagrado original, um deus original, vários “grupos escolhidos” e uma eterna briga pelo direito de registro da “patente sagrada” e filiação original!
Bíblia debaixo do braço para ir à igreja ou empoeirada em cima de uma estante sem quase nunca ter lido?
Ok, confere!
Véu na cabeça antes de orar ou usando dentro da igreja para que não se mostre desnuda diante de deus?
Ok, confere!
Sábado guardado de um pôr do sol a outro entre sexta e sábado? Ok, confere! Panfletos com versículos da bíblia entregues nos fins de semana para arrependimento dos “pecadores”?
Ok, confere!
Aquisições de bugigangas ungidas pra dar sorte? Ok, confere! Penitencias pagas à rainha dos céus e a todos os santos?
Ok, confere!
Orações nos montes, jejuns, ofertas e dízimos tudo em dias para se prevenir do migrador e devorador?
Ok, confere!
Abstenção de bebidas alcoólicas, carne de porco, mariscos e uma infinidade de outras comidas proibidas por deus?
Ok, confere!
Checando...Pronto!
Seu kit de santidade estar atualizado! Só permanecer assim a vida toda esperar um pouco mais para ir morar nos céus...
Seria cômico se não fosse trágico! Cada igreja vende o seu kit próprio de salvação ou pacotes no que diz respeito ao quesito “servir a deus” por preços e condições variadas e todas elas entre si, lutarão até os últimos recursos para transformar a você e a todos quantos sejam possíveis em clientes fiéis, consumidores desses kits e defensores dessas ideias, atraindo assim mais seguidores para esse ou aquele nível de conduta ou pensamento, tentando padronizar e domesticar o homem, que por natureza foi feito para estar em constante evolução em todos os sentidos.
Toda agremiação religiosa diz ter recebido de deus a missão de espalhar a “verdade” ao mundo e combater as “mentiras” que as outras agremiações ou pessoas propagam e a desmascarar as artimanhas do diabo que luta para tragar a alma do homem do “caminho verdadeiro” apontado por tal igreja. Todas elas dizem aos seus membros que estes são escolhidos por deus para determinado propósito, enquanto as outras não, e que terão de comprar delas o mesmo kit de padronização se quiser ir para os céus.
Uma batalha infinita tem início todos os dias dentro e fora desses grupos com o instituto de te padronizar, te rotular e ter o controle de sua vida entre esses que dizem ser os mensageiros de deus, e os mais variados efeitos dessa luta poderão ser vistos diariamente na vida de cada um desses que são domesticados por esse ou aquele sistema de crenças. Somente castigos severos e ameaças em nome do sagrado e do profano para anestesiar o homem, esse ser em evolução constante com sede da verdade e do conhecimento. A igreja sabe muito bem como fazer.
“Quando as perguntas começarem a surgir e os questionamentos começarem a florescer, use de sua “autoridade religiosa” meu filho! Humilhe o questionado em público, ameace o herege com pragas, crie boicotes individuais ou em massas para os “filhos do diabo”, enquadre aquela pessoa que resiste ao que você diz, isole-a, e a faça parecer ridícula e demoníaca pois só assim poderá manter funcionando esse grupo que você criou ou que te dei para você dirigir, filho meu!” Essa parece ser a mensagem secreta e individual que a maioria dos líderes religiosos parecem receber de “deus” quando são “chamados para sua obra”, para abrir uma nova igreja ou um novo ministério.
Assim, muitos por esse “chamado divino”, tem conduzido o “rebanho do senhor” e cada um fazendo do seu próprio jeito, criando suas próprias normas, seus próprios conjuntos de regras e dizendo:” estamos servindo a deus... E todos dizem ter razão!
Todos os que entram nesses seguimentos, não percebem que estão apenas seguindo padrões comportamentais do grupo já estabelecidos previamente e não vontade de deus algum, pois entre as linhas que dizem servir a determinado deus, quase todas elas são antagônicas, contraditórias e auto anulatórias entre si, concordando apenas no fato de que os súditos sejam ovelhas mudas, proibidas de questionar, imbuídas apenas de obedecer ao líder e fazer o rebanho crescer. Fora isso, todas elas travarão batalhas terríveis para dizer que estão servindo a deus e que se você não estiver do lado desse ou daquele seguimento, estará lutando contra o próprio deus! Que loucura...
Por intuição ou por orientação, muito desses líderes sabem que desde os mais remotos tempos, uma preocupação colossal e angustiante paira sobre a maioria dos homens em praticamente todas as culturas que tem nos seres metafísicos uma das “pernas” que sustenta tal sociedade. Essa preocupação na maioria dos casos é sobre estar ou não servindo e agradando aquela divindade enraizada na cultura popular.
Nos povos alcançados pela crença no deus mesopotâmico denominado como é o caso do deus de Abrãao por exemplo, essa preocupação tem sido mais latente, pois quem não estiver servindo a deus corretamente sofrerá severas penas, incluindo a pena de morte. Em toda história bíblica do passado esses fatos estão registrados pra quem quiser ver, bem como na história secular, onde o islamismo, judaísmo e cristianismo tem sido apresentado por imposição ou por opção tem sido de igual modo implantado quase que totalmente pela força tal sistema de crenças.
Há uma crença demonstrada de modo explícito entre os seguidores dessas três crenças e de praticamente todas as milhares de ramificações que dessas derivaram, que entre milhares de pessoas servindo a esse deus, se tiver alguém entre o povo servindo-o de modo errado, a ira desse deus todo poderoso e furioso (e ao mesmo tempo piedoso e justo) virá não apenas sobre o infame “herege”, mas sobre toda uma cidade, estado ou nação onde ele estiver inserido.
Eles assumem desse modo ainda que sem perceber que apenas 1 pessoa servindo a deus de modo “errado” invalida as ações de mais 1 milhão de pessoas que estão fazendo as coisas de modo certo diante de deus.
Não te é estranho isso? Uma gota de leite em um balde de café não é capaz de alterar o sabor do balde inteiro, mas apenas uma única pessoa “errada” em um “oceano” de tantas outras pessoas santas e que não esteja dentro dos padrões estabelecidos de como servir a deus por determinado agrupamento, será capaz de trazer os mais variados tipos de agouros divinos para esse grupo.
O velho testamento estar recheado de histórias assim. Então mata-se, apedreja-se, persegue-se, exclui ou faz boicotes àqueles que estão trazendo tais consequências desastrosas. Na idade média, a igreja católica costumava atribuir qualquer surto de doença, calamidades ou fenômenos da natureza a uma pessoas ou grupos “pagãos” que estavam desagradando a deus e de acordo com esta mesma igreja eram eles que estavam deixando deus irado e trazendo consequências terríveis.
A peste negra? Culpa dos infiéis!
A gripe espanhola? Culpa dos hereges!
Varíola, rubéola, carbúnculo, sarampo? Maldições por que servimos a deus de forma errada!
Terremotos, furacões e maremotos? Sinais da ira divina e da volta de jesus que virá julgar esses esse povo pecador!
A nós não! Nós somos as pessoas certas, no grupo certo, servindo a deus de modo certo e por isso estamos salvos, aleluia!
Então...Morte aos infiéis! Morte aos ciganos! Morte aos judeus! Morte aos mulçumanos! Morte as bruxas! Morte as rezadeiras! Morte aos celtas, aos vândalos, aos bárbaros, a todos os que não comem do corpo e do sangue de cristo! Morte, morte, morte...Morte aos incircuncisos (ah não, isso foi no velho testamento)! Em nome do deus da vida vamos matar a todos e conquistar essa terra para o nosso deus!
Não te é estranho esse fato? Por que um único pecador é capaz de desvirtuar toda uma congregação de justos? Que tipo de deus justo é esse que pune toda uma população por causa de uma simples pessoa que estar “fora da caixinha”? Que tipo de justiça é essa? Nem no mundo dos mortais encontramos juízes que hajam assim o tempo inteiro sem amadurecer e sem viver eternamente e ter tempo para se arrepender de feitos tão maldosos!
A grande verdade como dito logo acima é que tudo isso não passa de padrões de comportamento! Nenhum religioso dentro de uma comunidade religiosa, sob a égide de uma bandeira ou símbolo sagrado segue a deus nenhum! TODOS eles seguem apenas padrões de comportamentos pré estabelecidos e para não serem perturbados por questionamentos que possam surgir, querem converter a todos a esse mesmo ponto de vista! Praticamente TODOS eles querem padronizar os outros ao seu próprio entendimento de servir a deus e assim começam as guerras desnecessárias e seus derivados que afetam todo o globo.
Judeus versus mulçumanos! Protestantes versus católicos! Congregação A versus congregação B...Todos preparando missionários para converter “pecadores” e a ensinar o modo correto de servir a deus. Todos matando e morrendo pela mesma causa. Todos condenando ou invalidando os ritos litúrgicos uns dos outros. Todos tem um inferno preparado para os “não salvos” e para todos da religião alheia!
Do alto de sua inércia, aquele dizem ser o pai de todos nada faz para mudar isso....
Se realmente existe uma possibilidade de alguém servir a ideia do sagrado, essa possibilidade estaria fora dos currais religiosos, livres dos interesses espúrios e egoístas dos criadores e mantenedores de tais agremiações, e estaria bem distante da padronização oficial que todos recebem ao nascer em um lar religioso ou quando se associam a tais agremiações depois de um certo tempo.
Se existe alguma divindade justa e bondosa realmente, a única maneira de agradá-la seria servindo-nos uns aos outros, ajudando-nos uns aos outros para um estado maior de ser, e não reduzindo aos homens a um estado vegetativo de “dependência divina” quando na verdade estão formatando pessoas para serem dependentes de sistemas de crenças dizendo a essas que estarão servindo a determinado deus. Esse comportamento é tão prejudicial quanto os que criam e sustentam os mercados de entorpecentes.
Não é feio e nem vergonhoso deixar de pertencer a um “grupo de fé”! Feio e vergonhoso é tornar o mundo diariamente um lugar pior de se viver em nome de um deus imaginário, enquanto enriquecem e mantem no poder opressor, aqueles que vivem da ignorância das massas. Isso sim é feio, vergonhoso e ridículo.
A maior independência que alguém pode adquirir não é a independência financeira, dos pais, dos conjugues ou dos filhos. É a independência de nossa consciência escravizada a maior de todas as conquistas pela qual devemos lutar.
Não é da aceitação da crença pela crença ou da ausência da crença pela crença que encontraremos essa liberdade de consciência. Ela será um processo contínuo e duradouro, capaz de construir e reconstruir as próprias verdades quantas vezes for necessária. Capaz de analisar a verdade do outro e reter o que é bom, se realmente houver algo de bom. A nossa capacidade manter a sanidade por uma maior tempo possível será nossa “baliza” nessa prazerosa jornada.
Abaixo as verdades inquestionáveis! Não aos abusos cometidos em nome da fé! Um salve aos que por meio de sua “heresia” tem combatido os efeitos nefastos das padronizações oficiais que todo homem estar destinado a ter.
Texto de Antônio F. Bispo, graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.