segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Em nome duma divindade qualquer...



A teocracia como forma disfarçada de usurpar o poder valendo-se das crendices populares.

O que se passa pela cabeça de um indivíduo quando diz que seu maior desejo é que seu povo seja governado por uma divindade metafísica? Será que alguém que faz um enunciado desses estar realmente falando sério ou será que é uma piada de mau gosto? Ou será que tal pessoa estar querendo apenas se promover, aproveitando-se da cultura popular e da ingenuidade alheia para tirar proveito?

E o que dizer quando esse desejo (insano) vem exatamente de um político em função de exercício, candidato a um cargo ainda maior? Difícil levar a sério atitudes como essas. Deve ser mesmo brincadeira...

“Deus vai governar essa nação”! “Deus deseja governar esse pais”! “O governo dos justos irá se estabelecer... Será que alguém pode definir isso por favor? Como isso se sucederá? De que forma isso será feito? Que palhaçada é essa?

Governo de justos feito por religiosos...Me parece que alguém que diz isso nunca leu a bíblia que diz ser sua fonte de regra e prática, não estudou sobre a história da igreja ou é muito cara de pau para negar os fatos ocorridos, não mora em um país onde existe uma bancada evangélica, ou vive em algum tipo de planeta onde líderes do cristianismo e de outras religiões baseado em seres metafísicos ainda não propagaram suas crendices. Justamente no meio religioso onde cada um quer puxar brasa pra própria sardinha o sujeito vem falar de governo do justos...Isso não pode ser real. É piada de mau gosto mesmo!

O sujeito faz parte de um agrupamento religioso que precisar ameaçar as pessoas com pragas e inferno, ou vender bugigangas ungidas para conseguir arrecadar dinheiro e se manter funcionando e conseguir fortuna; uma igreja que concorda que a subserviência incondicional dos fieis as lideranças religiosas faze parte dos mandamentos do senhor; uma comunidade que persegue, humilha ou tortura os que pensam diferentes ou grupos de minoria e que teve na escravidão humana sua concordância, omissão ou participação em toda história mundial e depois vem falar de governo dos justo...Como pode isso?

Como pode haver um governo de justos se a base para tal governo é justamente a utopia (negando ou demonizando a natureza humana), a ganancia, mentiras e a distorção dos fatos para manter um povo alienado?

Verifiquem nas condutas pessoais daqueles que em nome de sua própria crença religiosa defendem um “governo dos justos” e provavelmente encontrarás o oposto do conceito de justiça e retidão. Apenas interesses pessoais ou grupais serão notados.

Enquanto estudiosos, legisladores e pessoas de diferentes classes sociais tem dedicado suas vidas em todos os cantos do mundo e até vieram a serem assassinadas nos últimos milhares de anos com o objetivo de aperfeiçoar as relações sociais entre os povos e tornar o mundo um lugar melhor para se viver, tem tantos outros que estão o tempo inteiro querendo levar nações inteiras para um abismo profundo, onde em estado vegetativo e operando no modo zumbi as pessoas viveriam eternamente adorando a um ser surreal, matando e morrendo em nome dela e ainda ousam chamar isso de “governo dos justos” ou sociedade perfeita!

Que absurdo! Parece que estamos regredindo 2 mil anos atrás na história cada vez que um congressista atual deseja um governos de modo. Parece filme de ficção cientifica! Algumas pessoas parecem estar em estado eterno de transe, tendo dificuldade em diferenciar o mundo em que se vive e o mundo das fantasias de sua fé. Um sujeito desejar um governo em que o deus de sua crença sente em um trono e governe somente para si e para o seu grupo e castigue as demais crenças e etnias, é quem sabe a pior atitude infantil que um adulto crescido possa vir demonstrar.

Alguma vez, em qualquer época ou lugar da história alguém já viu deus algum, de religião alguma sentado no trono governando um povo em favor do povo? Claro que não! Quem senta no trono para julgar e oprimir o povo (e sentir-se como um deus) é justamente aqueles que criaram e mantém ainda hoje a ideia desse mesmo deus em atividade. São os que tiram sua fonte de renda e poder em cima de uma ideia enraizada no inconsciente coletivo que defendem fortemente essa ideia de teocracia, ou aqueles que tendo suas consciências cauterizadas pela repetição cotidiana do absurdo deixaram de fazer uso de suas faculdades mentais.

Será que se que se houvesse um deus poderoso, justo e soberano com todas as características surreais a ele atribuída por seus súditos, acham que ele iria pedir licença para governar ou dar jeito nesse pais? Claro que não! Iria fazer sem nossa permissão por que sua sede de justiça o impeliria a isso!

Acham que seria necessário da sete voltas no congresso e tocar 7 vezes o chifre de um carneiro para ele atender a um clamor de um povo injustiçado e sofrido? Claro que não! Nem seria necessário pedir nada nem fazer papel de trouxa. Ele saberia o que fazer.

Acham que se houvesse mesmo um “deus de responsa” ele iria deixar que acontecesse toda essa “cachorrada” que vemos bem embaixo dos seus narizes todos os dias utilizando-se do seu nome? Claro que não! Até um deus de mármore frio, nos confins gelado universo já teria se “derretido” com o fervor incessante daqueles que clamam por eles todos os dias enquanto servem de massa de manobra e fonte de riqueza e poder para os que vendem a ideia de um deus irado.

E se por acaso se deus realmente sentasse num trono para governar, acha que seria em seu favor ou em favor de seu grupo? Claro que não seu bobo! Vai crescer bebezinho! O que te faz pensar que um deus adotado pelo seu povo mas que fora plagiado de outras culturas e subdividido em várias oligarquias ao longo dos séculos iria servir de marionete justamente pra você e os desejos medíocres do seu grupo? Antes de propagar a ideia de um deus justo, veja no dicionário primeiramente o sentido da palavra justiça e verás que atitudes egocêntricas e infantis não combinam com esse termo.

Não esqueça que se houvesse a materialização de um ser realmente justo e poderoso, o primeiro ato dele seria o de por uns pingos nos “is”, em todas as religiões, inclusive na sua. Ele sendo justo não teria favoritismo a ninguém, cortando pelas raízes os desejos infantis e egoístas que cada um apresenta em particular em suas orações.

Se houvesse um deus justo, você que defende seu grupinho de fé ideal seria o primeiro a levar um “pé na bunda” ou um “sacode pra vida”. Seus dízimos e suas ofertas seriam vomitados diante dele e suas bajulações diárias nas orações e louvores com o intuito de receber favores preferenciais ou de se esquivar de suas responsabilidades pessoais e sociais seria uma ofensa imperdoável a sua santidade. Você iria tomar uma bronca tão grande por essa ideia besta de se achar escolhido...ira ficar no “cantinho da disciplina” por um bom tempo!

Nos mundo dos humanos “pecadores”, quem tenta subornar um juiz justo leva cadeia na hora! No mundo de fantasia dos “santos” as pessoas acham que com 10% de seus rendimentos e com falsas bajulações podem corromper aquele que dizem ser santos dos santos, reis dos reis e senhor dos senhores. É muita loucura pra uma mesma fé! Quem mais profana a ideia dos sagrados são os próprios “servos de deus”!

Numa hora dessas, se um deus justo sentasse no trono para governar, uma das medidas emergenciais seria a de desfazer as ilusões e mentiras que a própria crença religiosa criou e se isso fosse mesmo possível, se realmente um deus qualquer chegasse para despertasse um povo, esse deus já não iria mais prestar, pois só presta aquele deus que diante de toda nossa insanidade não diz nada e deixa seus súditos fugirem da realidade o tempo inteiro como adultos que serão para sempre pessoas infantis.

Nesse estado de eterna criancice, qualquer deus para ser realmente bom, tem de ser cego, mudo e surdo, por que se falar e dizer o que realmente deseja já deixará de ser bom...

No desejo de um governo teocrático, as mais obscuras e profanas intenções podem estar escondidas. As piores crueldades já cometidas pelo homem para com o homem e para com a natureza em geral aconteceram justamente no período em que “deus” governava e ditava a “leis” aos seus servos. Existem várias formas de governo, e a teocracia foi quem sabe a pior de todas elas.

Numa monarquia por exemplo, um rei senta num trono e governa. Na dinastia uma sucessão de pessoas da mesma família ocupam as funções de poder. Na república temos um presidente que assume o país. E na teocracia teríamos o que? Um trono vazio onde as pessoas irão apresentar seus problemas e obterem o silencio como resposta? Será que irão pagar 10% de seu faturamento mensal para não serem amaldiçoadas ou mortas de forma cruel por esse governante fantástico? Será que irão resolver todos os problemas sociais na base de ritos litúrgicos, línguas estranhas e profecias?

QUE PALHAÇADA! 
Isso não existe! Em nação algum ou em povo algum que adotou a teocracia como forma de governo nunca foi visto deus algum governando, antes sim na maioria dos casos um montão de crápulas se escondendo atrás das “leis divinas” para se manterem no poder em nome da fé. E afinal, o que exatamente é essa tal da lei divina? Alguém já viu pessoalmente deus algum ditando ou escrevendo essas leis? Claro que não! Isso também não existe! Cada religião tem seu conceito de lei divina. Dentro das religiões cada denominação religiosa que surge também tem seu conceito próprio de lei divina e todas elas se atacam, se aniquilam, se odeiam e se destroem entre si...

Qualquer um pode criar a lei ou doutrina que quiser e dizer que isso é uma lei divina e a depender de quem disse e em que lugar do globo a pessoa esteja inserido, essa “lei” será mantida, sacralizada, seguida e tornada como patrimônio cultural ou religioso de um povo. Ou poderá também ser eliminada e esquecida se não for proveitosa para a classe dominante. Praticamente, quase que toda “lei divina radical” tem como função principal imbecilizar um povo, tornando-os vítimas de um próprio conceito doentio onde conceitos mentais servirão de guardas para policiar cada movimento do indivíduo, prendendo-os, julgando-os e condenando-os automaticamente. Sistema que software eficiente, não acham?

Outro fato interessante sobre essa tal de lei divina é que apesar de afirmarem categoricamente que deus não muda nunca, que ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente, podemos encontrar por exemplo em algumas das leis levíticas que dizem ter sido ditadas por ele, incitações ao estupro, a violência sexual, a escravidão, a torturas, ao genocídios e tantas outros atos desumanos. E quando perguntamos aos fiéis adoradores desse deus por que isso estar escrito como sendo uma lei divina eles logo respondem: “mas isso era no passado...era assim que eles entendiam a vontade de deus antes...”

Como assim? pra um deus que não muda nunca, ele parece mudar de acordo com o local época em que ele foi introduzido em certas culturas, provando assim que “as leis divinas” não passam de uma invenção local para atender a determinados anseios e carências populares, ou para tornar mais fácil a domesticação de um povo conquistado.

Mantem os infiéis! Essa é uma das principais leis divinas desde os tempos bíblicos, passando depois para o cristianismo e agora adotada como bandeira por alguns grupos mulçumanos. Lembrando que infiel é sempre aquele que desconhece ou discorda do deus que estar sendo apresentado no momento.

Até quando viveremos assim? Até quando teremos na infantilidade nossa base de reino ideal? Até quando iremos nos apegar a seres do imaginário coletivo esperando soluções reais para as relações humanas? Até quando desejarmos...

Cada um pode em si mesmo encontrar essa resposta, “resetar” seu sistema operacional e sair da ficção e buscar soluções reais para problemas reais. Ou pode também passar a vida inteira terceirizando responsabilidades.

É normal que até os 12 anos de idade uma criança comum acredite em certas fantasias, e se passar dessa fase acreditando nas mesmas coisas de crianças irão chama-las de retardadas. Agora um adulto passar a vida inteira tentando trazer pra vida real algo que só acontece em contos de fadas, isso ninguém acha anormal e quem questiona é duramente penalizado. A realidade é tão dura de ser encara por alguns, que jogar uma ancora no reino das fantasias é a melhor solução que encontram para nunca mais acordarem desse sono.

Um brinde aos que conseguiram emergir do oceano da ignorância mesmo estando.


Texto de Antônio F. Bispo, graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

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